O próximo domingo é conhecido internacionalmente como o Dia do Trabalhador. Mas o 1º de Maio também é dedicado à Literatura Brasileira. A pedido do portal da UFJF, o professor André Monteiro, da Faculdade de Letras e do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários, selecionou dez livros de literatura brasileira publicados a partir da década de 1970.
1 – “Muito prazer” (1971), de Chacal
Primeiro livro do poeta carioca Chacal. Sua primeira edição, mimeografada, é de 1971. Em 1997, foi reeditado pela Sette Letras em “edição comemorativa”. Trata-se de um dos grandes marcos da chamada “poesia marginal” brasileira dos anos 70 (também conhecida como “geração mimeógrafo”). Sobre ele escreveu o poeta e crítico Cacaso: “O primeiro livrinho de Chacal combina a rusticidade de seu acabamento material com outra, a de sua própria linguagem poética, o que lhe assegura enorme homogeneidade de realização e atmosfera. Esse despojamento geral, mais a impregnação de traços pessoais e afetivos, traços de intimidade, se insinuam simpaticamente na relação com o leitor, convidando-o para uma informalidade e uma proximidade maiores”.
2 – “Lero-Lero” (2002), de Cacaso
“Lero-lero” reúne a obra poética completa do mineiro Antônio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso. Além dos títulos lançados entre 1967 e 1982 e reproduções das capas da época, o livro compila poemas que permaneceram inéditos até 2002. O percurso proposto em “Lero-lero” visa permitir mapear como o poeta articulou referências e construiu estilo permeado de humor e ironia, mas crítico. Cacaso rearticulou referências do modernismo brasileiro e construiu um estilo marcado pelo humor e pela ironia.
3 – “Os últimos dias de Paupéria” (1984), de Torquato Neto
“Os Últimos Dias de Paupéria”, organizado por Wally Salomão e Ana Maria Silva de Araújo Duarte, reúne poesias, poemas e composições do jornalista, compositor e ativista da contracultura Torquato Neto. Em artigo sobre o livro, o professor Paulo Andrade, da Universidade Estadual de São Paulo, afirma: “Os textos revelam a crise do sujeito em meio à realidade estilhaçada, marcada pela intensa transformação dos movimentos políticos-culturais, pelo surgimento do AI-5 , em 68, pela falência dos movimentos de jovens na França, Alemanha e pela decadência do movimento hippie nos Estados Unidos”. Disponível para empréstimo na Biblioteca do IAD/UFJF.
4 – “Lavoura Arcaica” (1975), de Raduan Nassar
“Lavoura Arcaica” entrelaça o novelesco e o lírico, por meio de narrador em primeira pessoa – André, o filho encarregado de revelar o avesso de sua própria imagem e, consequentemente, o avesso da imagem da família. É sobretudo uma aventura com a linguagem: além de fundar a narrativa, a linguagem é também o instrumento que, com seu rigor, desorganiza um outro rigor, o das verdades pensadas como irremovíveis. Lançado em dezembro de 1975, “Lavoura Arcaica” foi imediatamente considerado um clássico, “uma revelação, dessas que marcam a história da nossa prosa narrativa”, segundo o professor e crítico Alfredo Bosi. Disponível para empréstimo na Biblioteca do Colégio de Aplicação João XXIII.
5 – “A canção do vendedor de pipocas” (2013), de Fabiano Calixto
“A canção do vendedor de pipocas” reúne a múltipla produção poética de Fabiano Calixto. A profusão de sons e tons e a variedade de registros que marcam esses poemas deixam ler nas entrelinhas a crueza da paisagem urbana – ao mesmo tempo em que explodem, em cada esquina, em versos de inesperada ternura, acidez, paixão. De ‘Oratório’ à ‘Zanga de Exu’, passando por ‘Fábrica’ ou pela série de e-mails a poetas amigos, essa é uma canção que nasce do risco – sua melodia acompanha o leitor pelas ruas, captando a multiplicidade de imagens, ruídos e rostos, celebrando a velocidade e a voracidade, a melancolia e o amor que insiste e resiste – como, em suma, a própria poesia.
6 – “Mais cotidiano que o cotidiano” (2013), de Alberto Pucheu
Para um poeta contemporâneo que não queira o retorno às fontes clássicas do lirismo e que também não se reconheça nesta abstenção de sentido, resta o difícil caminho de salvar como literatura as linguagens em circulação tumultuadas no agora. É isso que faz de Alberto Pucheu um dos poetas mais originais e intensos do Brasil.
7 – “Tropicaos” (2003), de Rogério Duarte
“Tropicaos” reúne fragmentos e reconstituições de uma extensa obra literária inédita. Rogério Duarte, uma das figuras mais interessantes da efervescência cultural dos anos 1960 e participante ativo nos principais movimentos da época: do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE) à Tropicália, deixou uma marca vigorosa, influenciando boa parte de sua geração. Duarte tornou-se conhecido também por ser um dos mentores teóricos da Tropicália, autor do cartaz do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”e de capas de disco de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Editou, em 1998, uma tradução direta do sânscrito de “Baghavad Gita”.
8 – “Toda poesia” (2013), de Paulo Leminski
Ao conciliar a rigidez da construção formal e o mais genuíno coloquialismo, Paulo Leminski praticou ao longo de sua vida um jogo de gato e rato com leitores e críticos. Se por um lado tinha pleno conhecimento do que se produzira de melhor na poesia – do Ocidente e do Oriente -, por outro parecia se comprazer em mostrar um “à vontade” que não raro beirava o improviso, dando um nó na cabeça dos mais conservadores. Pura artimanha de um poeta consciente e dotado das melhores ferramentas para escrever versos.
Este volume percorre, pela primeira vez, a trajetória poética completa do autor curitibano, mestre do verso lapidar e da astúcia. Livros hoje clássicos como “Distraídos venceremos” e “La vie en close”, além de raridades como “Quarenta clics em Curitiba” e versos já fora de catálogo estão agora novamente à disposição dos leitores. O haikai, a poesia concreta, o poema-piada oswaldiano, o slogan e a canção – nada parece ter escapado ao “samurai malandro”, que demonstra, com beleza e vigor, por que tem sido um dos poetas brasileiros mais lidos e celebrados das últimas décadas.
9 – “Mundo Palavreado” (2013), de Ricardo Aleixo
Os poemas reunidos em Mundo palavreado trazem à cena um outro Ricardo Aleixo, ao mesmo tempo similar e diferente do Aleixo vanguardista, adepto das tecnologias da voz e da escrita. Esse outro Aleixo – gestado nas entrelinhas dos debates críticos e das performances provocadoras do autor – preenche o rigor da palavra e da imagem com uma ternura juvenil, não de todo destituída de humor e fina acidez. Vê-se, neste momento, que o poeta maduro segue de mãos dadas com o menino, ambos nutridos pelas perguntas que lançam ao mundo.
10 – “Galáxias” (1984), de Haroldo de Campos
Galáxias é um livro experimental escrito por Haroldo de Campos, um dos maiores nomes da poesia concreta brasileira, entre os anos de 1963 e 1976, mas sendo integralmente publicado em 1984. Devido a seu caráter experimental, está no limite entre a prosa e a poesia, o que levou Caetano Veloso (amigo do poeta) a classificá-lo como proesia. Por um lado, apresenta uma escrita corrida e direta, característica da prosa (a obra não apresenta separação de parágrafos, nem nenhum elemento de pontuação, nem mesmo numeração de páginas), sendo, supostamente, um relato de viagens; por outro, utiliza-se de recursos e imagens poéticas. Duas das grandes influências para este livro foram James Joyce e Guimarães Rosa. Seria, por sua vez, umas das grandes inspirações para o Catatau de Paulo Leminski.