O Aedes aegypti não havia sido erradicado no Brasil durante a metade do século passado? É verdade que o mosquito só atua durante o dia e sempre pica da nossa perna para baixo? Quanto tempo demora para novos mosquitos nascerem e se desenvolverem? Para tirar estas e mais dúvidas, o doutor em Zoologia e professor de Programa de Pós-graduação em Comportamento e Biologia Animal da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fábio Prezoto, compartilhou seu conhecimento acerca do Aedes aegypti, esclarecendo mitos e verdades sobre a o vetor de contágio da dengue, zika, e das febres chikungunya e amarela. Confira também, ao final da matéria, o vídeo com a entrevista e instruções do professor.

Como o mosquito chegou ao país?

“O mosquito tem acompanhado a longa e ininterrupta trajetória de migração do ser humano”, aponta Prezoto. “Acredita-se que tenha chegado ao continente americano através do tráfico de escravos nos navios negreiros.” Após 88 anos da primeira manifestação de uma epidemia transmitida pelo Aedes, o mosquito continua sofrendo adaptações para se tornar apto a viver com o homem, a despeito da vontade deste.

O Aedes aegypti não foi erradicado no século passado?

Em 1955, o mosquito foi erradicado no Brasil, porém, não foi extinto. A erradicação permaneceu em outras áreas do continente americano e, através do fluxo cada vez maior de deslocamentos humanos, voltou a aparecer no país. “No passado, também tínhamos hábitos, como o reaproveitamento, que não propiciavam tanto lixo e plástico”, assinala Prezoto. “O descarte humano, como embalagens de plástico que se amontoam facilmente, montam pequenos criadouros para o mosquito.”

“O mosquito tem acompanhado a longa e ininterrupta trajetória de migração do ser humano”, atesta o professor

O professor também frisa que o Aedes aegypti se adaptou aos hábitos humanos e aponta o plástico como fundamental para a grande incidência do mosquito. “Atualmente, existem especialistas que dizem até que ele depende, quase exclusivamente, de criadouros artificiais para se reproduzir.” A melhor solução para o controle do vetor são seus predadores naturais (peixes, répteis, aracnídeos, insetos predadores e crustáceos), mas ainda não é uma maneira viável, considerando que o mosquito vive, predominantemente, no meio das cidades. A tarefa de combater o Aedes aegypti deve estar atrelada à uma consciência cidadã e um esforço coletivo na época em que fatores naturais exercem o papel de controle. Assim, as medidas humanas adicionais reforçariam a função natural do meio ambiente.

O mosquito voa baixo?

Segundo o professor Fábio Prezoto, os aspectos comportamentais do Aedes aegypti são diurnos e de sobrevoos baixos, alcançando até cerca de 50 centímetros, o que torna suas ações quase imperceptíveis aos olhos humanos. “Mas não quer dizer que ele não possa atingir outras alturas”, alerta.  

O transmissor só pica pela manhã?

“Normalmente, no início da manhã e no final da tarde”, afirma Prezoto. Em dias de temperaturas amenas, as picadas podem ocorrer ao longo do dia todo. As ofensivas são geralmente, dentro dos domicílios e em ambientes com pouca luz, fatores que camuflam a estrutura preta e branca do corpo do Aedes aegypti,

São apenas as fêmeas do mosquito que transmitem as doenças?

De acordo com o professor, dentre a colônia, somente as fêmeas são hematófagas e transmitem o vírus através da picada, inoculando o hospedeiro através da saliva.

A tarefa de combater o Aedes aegypti deve estar atrelada à uma consciência cidadã e um esforço coletivo.

O mosquito só se prolifera em água limpa?

As fêmeas somente depositam os ovos em recipientes de água limpa e parada, e os mesmos ficam reservados nas paredes dos reservatórios para, então, passar para a fase aquática. O desenvolvimento do mosquito na fase imatura é muito rápido, podendo chegar no estágio adulto de cinco a sete dias. “Isto em dias quentes”, declara Prezoto. “Em temperaturas mais frias, o processo pode ocorrer mais lentamente. Os ovos são depositados preferencialmente em água limpa. Em qualquer água mais poluída, com esgoto, por exemplo, eles não se reproduzem.”

Após a desova, a fêmea passa a procurar um hospedeiro para se alimentar, podendo colocar até cem ovos cerca de três dias após a alimentação. O local perfeito para a criação das larvas são recipientes deixados pelo ser humano e preenchidos com água de chuva.

Confira o vídeo com a entrevista e mais instruções do professor Fábio Prezoto:

https://youtu.be/eVQQqaAhp70