O projeto: um notebook ligado a um pequeno aparelho com duas antenas, uma envia e a outra recebe os sinais (Foto: Stefânia Sangi)

O projeto: um notebook ligado a um pequeno aparelho com duas antenas, uma envia e a outra recebe os sinais (Foto: Stefânia Sangi)

Telefonia móvel para garantir a comunicação em pequenas comunidades. E a baixo custo. Com esse projeto, três estudantes de Engenharia Elétrica – Telecomunicações da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) receberam menção honrosa no concurso nacional Campus Mobile, realizado pelo Instituto Claro no início deste mês em São Paulo. O evento buscava soluções inovadoras na área de dispositivos móveis. Isso eles tinham, e por isso participaram. Mas os critérios de avaliação estavam voltados para outra área, a de aplicativos. A maioria dos projetos participantes estava voltada para a melhoria do uso de smartphones, enquanto Mateus Carpanez, Evelyne Bernardes e Lucas Amaral trouxeram uma proposta diferente. Nas palavras de Carpanez, um dos idealizadores do projeto: “levar comunicação a pessoas que hoje não conseguem se comunicar”.

O protótipo do projeto parece simples: um notebook ligado a um pequeno aparelho, com duas antenas, uma delas envia e a outra recebe os sinais. No computador, existe um software livre que faz essa aparelhagem funcionar como uma central telefônica. O professor Álvaro de Medeiros, que auxiliou os alunos no projeto, explica que, caso aplicado em uma comunidade, os aparelhos funcionariam como uma estação rádio base de uma operadora, comumente conhecida como torre ou antena de celular. “Uma operadora tem uma rede de estações que estão conectadas a uma central, e essas centrais estão conectadas com outras centrais. Quando você faz uma ligação para qualquer pessoa distante, ela receberá a ligação através dessas centrais interligadas.”

Professor Alvaro de Medeiros e Mateus Carpanez (Foto: Stefânia Sangi)

Professor Alvaro de Medeiros e Mateus Carpanez (Foto: Stefânia Sangi)

No projeto elaborado pelos estudantes, entretanto, essa rede de estações funcionaria apenas internamente em uma comunidade, sem ligação externas. Basta configurar o chip do aparelho. Nas opções de “redes móveis”, além das quatro operadoras comerciais, uma nova aparece quando o equipamento está ligado. Ao selecionar para que o chip funcione com essa operadora experimental, é preciso cadastrá-lo na “central”, que é o computador. E pronto! Após isso já é possível fazer ligações e trocar mensagens com todos os números cadastrados.

Esse serviço apresentaria desvantagens em relação aos ofertados pelas grandes operadoras. Além de não possibilitar a troca de informações externas à comunidade, não haveria oferta de internet, por exemplo. Mas essa é uma infraestrutura que poderia ser implantada com uma economia de milhões de reais. De acordo com Carpanez, a estimativa é de que, no distrito de Torreões, para onde eles simularam a usabilidade, os custos para implantação da suas estações são de R$ 10 mil, aproximadamente.

Enquanto, para colocar em prática o serviço completo de uma operadora, seria necessário algo em torno de R$ 10 milhões. “Em uma comunidade remota isso poderia funcionar para dar avisos. Por exemplo, ida de um médico à comunidade ou uma campanha de vacinação, promoções do comércio local etc.”, acrescenta o professor.

É importante ressaltar que os alunos operam apenas para testes. Além disso, falta uma regulamentação específica do Governo Federal do para que projetos como este funcionem. De acordo com os alunos, no México há regulação específica que prevê o uso de uma frequência social. Lá uma empresa atua para atender uma comunidade indígena. Os alunos aguardam para que as conversas com o Instituto Claro avancem. “Queríamos mesmo era mostrar, dar visibilidade ao projeto e ter um retorno de uma empresa de telecomunicações para saber se estamos no caminho certo, se o projeto é promissor. Isso era muito importante, e foi o que a gente conseguiu”, ressalta Carpanez.

De acordo com o estudante, existe uma verba específica do Ministério das Comunicações para a execução de projetos semelhantes, o Fundo de Universalização do Serviço de Telecomunicações (Fust). Mas faltam projetos que se enquadrem nos critérios de uso dessa verba. “Acredito que abrimos um caminho muito grande, estamos nos comunicando com o Instituto e eles demonstraram interesse muito grande no nosso projeto. Eles realmente querem ver como funciona para, talvez, viabilizá-lo.”

Outras informações: (32) 2102-3401 (Faculdade de Engenharia-UFJF)