Técnicas utilizando o Raio X desenvolvidas por pesquisadores da UFJF trazem resultados de sucesso tanto no controle de qualidade de medicamentos feitos em laboratórios de manipulação, quanto para o desenvolvimento de novos remédios. Com foco nos anti-hipertensivos, a técnica busca, por meio da Difração do Raio X, compreender as diferentes formas cristalinas dos materiais sólidos (polimorfismo) encontrados dentro de um composto, possibilitando, assim, identificar melhor suas atividades biológicas.
A pesquisa realizada pelo Grupo de Cristalografia de Pequenas Moléculas (GCPmol/UFJF) serve como referência para o controle de qualidade dos medicamentos manipulados, além de subsidiar a definição do formato ideal de fabricação, ou seja, se o medicamento deve ser produzido na forma de comprimido, cápsula ou em suspensão. De imediato, sua maior relevância se dá em função de a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) não recomendar o uso de remédios de controle de pressão arterial fabricados por farmácias de manipulação, alegando falta de controle de qualidade. O trabalho busca justamente mostrar que algumas fórmulas produzidas por essas farmácias podem sim ter o efeito devido.
“Nossa ideia é usar técnicas que o grupo domina, como a Difração de Raio X, e tentar entender se os fármacos manipulados têm, ou não, a mesma qualidade em termos estruturais de um medicamento produzido pela indústria farmacêutica. Este ano, atingimos resultados interessantes, que deram origem ao artigo publicado no Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis. Em nossa avaliação, conseguimos algumas amostras de farmácias de manipulação e verificamos que elas estão de acordo com o esperado pela SBC”, explica a responsável pelo projeto e professora da Departamento de Química da UFJF, Renata Diniz.
Segundo ela, não é possível afirmar que todas as farmácias de manipulação seguem os padrões corretos, mas, entre as testadas, foi possível perceber que as fases observadas são biologicamente ativas e estavam na proporção que deveriam: “com esse trabalho, podemos analisar a matéria prima das farmácias de manipulação, dando um laudo dizendo se o material utilizado é de um polimorfo biologicamente ativo, determinando se o remédio será produzido em cápsulas, comprimidos ou de outras formas”.
O polimorfismo, dentro da química, é a capacidade de materiais sólidos existirem sob mais de uma forma cristalina. Logo, a técnica de Difração de Raios X utilizada pelo Grupo ajuda a compreender as diferentes formas encontradas dentro de um composto, permitindo identificar quais são biologicamente ativas. Esta técnica relaciona como essas diferenças podem afetar a biodisponibilidade de um fármaco, ou seja, um remédio pode não fazer efeito justamente porque sua forma polimórfica é outra. Segundo Renata, o propósito desse projeto é usar a Difração de Raio X para identificar o polimorfo, para que as indústrias farmacêuticas e as pesquisas em farmácia possam verificar a relação da diversidade de formas com a atividade biológica.
Renata explica que a motivação geral do Grupo foi a pouca informação, aqui no Brasil, sobre as formas polimórficas de um medicamento. Para exemplificar, ela alega que nos Estados Unidos (EUA), antes de lançar um remédio novo no mercado, é preciso saber qual a forma polimórfica é a biologicamente ativa e como manipular esse composto.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não regulamentou e exigiu o uso da técnica de Difração de Raios X na identificação dos polimorfos. A maior parte dos investimentos é destinada aos remédios genéricos. Por isso, Renata afirma que, no contexto atual, sua pesquisa tem muita utilidade para o controle de qualidade. “As indústrias brasileiras têm investido pouco em novos medicamentos, visto que o foco maior são os genéricos. É importante ressaltar que a caracterização de um polimorfo pode ser fundamental para colocar uma droga nova, um medicamento novo no mercado”.
A limitação para a implantação de um sistema como este no país é que o equipamento responsável pela Difração de Raios X ainda é muito caro e encontrado apenas em algumas universidades do país. Apesar disso, Renata acredita que dentro de um ou dois anos a Anvisa adotará os novos métodos. “Pesquisadores que criaram um grupo de discussão desse tema (polimorfismo em fármacos) já estão se comunicando com a Anvisa para autenticar essa regulamentação no Brasil.
Apesar do laboratório do GCPMol e o equipamento estarem fixados nas dependências do departamento de Química, Renata destaca a importância da colaboração de outros cursos, levando em conta a interdisciplinaridade do projeto. “Cada vez mais, trabalhos multidisciplinares são os que estão obtendo resultados mais interessantes, juntando as especificidades de cada área para ter um projeto com um objetivo maior. No nosso caso, temos colaboração da Farmácia, da Biologia e da Física”.
Outras informações: (32) 2102-3310 (Departamento de Química-UFJF)
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