O Acervo de Instrumentos Científicos do Departamento de Física do ICE
A Reforma Universitária de 1968 norteou a organização da UFJF bem como do ensino superior no Brasil num formato onde o ciclo básico dos cursos de graduação é ministrado em institutos, como o Instituto de Ciências Exatas (ICE), e o ciclo profissionalizante é ministrado nas faculdades propriamente ditas, como a Faculdade de Engenharia. Com esta divisão, materiais didáticos antes alocados em laboratórios da antiga Escola de Engenharia foram direcionados, ao longo desta mudança, aos laboratórios do Departamento de Física do ICE.
Na década de 90, a coordenação do Curso de Física, incentivada pelo Prof. José Roberto Tagliati, iniciou um trabalho de registro e descrição dos instrumentos de seus laboratórios que remontavam aos antigos laboratórios da Escola de Engenharia, disponibilizando-os em feiras e mostras escolares, para alunos do ensino fundamental e médio. Esse trabalho de resgate, liderado pelo pesquisador do Museu de Astronomia e Ciências Afins Paulo de Melo Noronha Filho, estava em consonância com as ações da Faculdade de Engenharia que, na mesma época, reunia acervo para formar o núcleo de um futuro Museu Histórico.
Desenvolveu-se o conceito de que esse espaço deveria ser um local de experimentação e estudo, o que levou a união dos esforços das duas unidades acadêmicas, que convergiram para a montagem de um espaço único para a exposição dos acervos, que em 1999 foram reunidos no Museu Dinâmico de Ciência e Tecnologia, instalado nessa ocasião em espaço disponibilizado na Faculdade de Engenharia, nas antigas instalações do Curso de Eletrotécnica do CTU.
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O Início da organização do acervo tridimensional e arquivístico do MDCT
Os acervos reunidos pela Faculdade de Engenharia e pelo Departamento de Física, ao longo da segunda metade da década de 1990 ainda estavam alocados em laboratórios destas unidades, não constituindo um museu propriamente dito até 1999. A inexistência de um espaço suficientemente amplo para a alocação conjunta destes acervos e sua pesquisa, catalogação e divulgação era o maior obstáculo.
Com a mudança do Colégio Técnico Universitário – CTU – para uma sede própria fora do Campus da UFJF, no fim de 1998, uma vasta área antes ocupada pelos laboratórios dos cursos técnicos ficou ociosa e foi incorporada à Faculdade de Engenharia. O diretor da Faculdade de Engenharia à época, Prof. Luiz Carlos Tonelli, disponibilizou então as antigas instalações dos laboratórios do curso de Eletrotécnica do CTU para a instalação do Museu Dinâmico de Ciência e Tecnologia, que foi formado nessa ocasião com a reunião dos acervos já resgatados pela Faculdade de Engenharia, pelos acervos do Departamento de Física e por acervos que o curso de Eletrotécnica não incorporou a sua nova estrutura e foram deixados nos espaços onde o Museu se instalou.
Estes acervos foram reunidos sob a curadoria e a liderança do pesquisador Paulo de Melo Noronha Filho, que foi incorporado ao MDCT através de convênio entre a UFJF e o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Sendo o Prof. Tonelli, o primeiro diretor do MDCT, a estrutura administrativa da Faculdade e seus recursos foram disponibilizados para a adequação do espaço, com execução das obras civis necessárias. O mobiliário desta primeira exposição foi o mesmo dos laboratórios de onde as peças estavam reunidas.
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A primeira exposição de longa duração do MDCT
O projeto de Constituição do MDCT foi apresentado ao CONSU e aprovado pela Resolução n° 14/2001 de Junho de 2001. Nesta ocasião, foi projetado um mobiliário específico para a exposição de longa duração do Museu. Este projeto foi feito por alunas do curso de Arquitetura da UFJF, e executado por bolsistas do Museu, utilizando recursos próprios e materiais reciclados.
O acervo, sob a curadoria de Paulo Noronha, crescia continuamente com contribuições de diversos laboratórios da Faculdade de Engenharia e também de outras unidades da UFJF. Além do espaço de exposição foi criado uma reserva técnica, onde eram guardadas as peças que não estavam expostas, e o Laboratório Didático, onde demonstrações com itens do acervo eram feitas para os alunos do ensino fundamental e médio que visitavam o museu.
Esta exposição esteve montada entre 2001 e 2006, ocasião em que o MDCT recebeu visitas de ex-alunos da Escola de Engenharia em comemoração aos seus 50 anos de formados, além de alunos de escolas que visitavam a UFJF e faziam da visita ao MDCT parte culminante da visita. O MDCT participou na ocasião das primeiras mostras da UFJF, em 2004 e 2006, e das primeiras edições da Semana dos Museus da Prefeitura de Juiz de Fora, organizadas pela Funalfa, e em 2006 organizou um seminário comemorativo dos 50 anos da indústria automobilística nacional.
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O Crescimento do MDCT
A partir de 2003, já consolidado como espaço de preservação patrimonial e divulgação científica, como um importante museu universitário de ciência e tecnologia, o MDCT se lança a participação em editais governamentais de fomento, patrocinados pela FAPEMIG e pelo CNPq, visando inicialmente adquirir equipamentos para suas atividades administrativas, como computadores, impressoras, scanners e câmeras digitais. Também com estes editais foi possível oferecer bolsas de iniciação científica, de pesquisa e treinamento profissional para alunos de graduação, que contribuíram para a catalogação do acervo, com a pesquisa, organização e digitalização do arquivo histórico da Escola de Engenharia e com a criação das primeiras páginas de divulgação on-line do Museu.
A partir de 2006, com recursos de editais da FAPEMIG, o MDCT renovou seu mobiliário de exposição, ao mesmo tempo em que, diante da necessidade de oferecer suporte adequado a um crescimento contínuo do acervo, iniciou as reformas de um novo espaço expositivo, fora do campus da UFJF. Localizado na Av. Rio Branco, junto ao Arquivo Histórico da UFJF, o MDCT pela primeira vez ocupava um espaço totalmente projetado para sua nova exposição de longa duração, contemplando não apenas o mobiliário, mas também extenso material de comunicação visual, além de obras civis de adequação do espaço. Permaneceu na Faculdade de Engenharia, porém, o arquivo histórico da Escola de Engenharia, em um espaço sob a guarda do MDCT.
Inaugurada em 2007, com o nome de “Instrumentos Científicos, Instrumentos de Conhecimento”, teve a curadoria do sociólogo Paulo de Melo Noronha Filho, do MCT, que desde 1999 e ainda antes, junto ao dep. de Física do ICE, já estava à frente destas ações, e foi a exposição mais longa do MDCT, estendendo-se até 2016. A exposição contou com visitas ilustres, como o ex-presidente e ex-aluno da Escola de Engenharia Itamar Franco. Em sua nova sede, o MDCT pode contar com um contingente ainda maior de bolsistas de apoio. Funcionários do quadro da UFJF puderam ser alocados no MDCT, profissionalizando as rotinas administrativas e de atendimento, e uma reserva técnica foi organizada e sistematizada.
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A Mudança para a terceira sede
A Faculdade de Engenharia da UFJF e a Escola de Engenharia de Juiz de Fora ocuparam diversos espaços antes de sua instalação no Campus da UFJF no inicio da década de 70. Um destes espaços era o antigo prédio da Diretoria de Higiene de Juiz de Fora, construído em 1894.
Esse prédio foi doado pelo Estado de Minas Gerais à Escola de Engenharia no início da década de 30. Foi o primeiro imóvel de propriedade da Escola. Nele foram instalados os laboratórios, para as aulas praticas dos alunos do curso de Engenharia, e uma fábrica de equipamentos científicos, que funcionou neste espaço entre as décadas de 30 e 60.
O espaço foi sede do DCE – Diretório Central dos Estudantes – entre a década de 70 e os anos 2000. Tombado desde o fim da década de 80, no início da década de 2010, foi restaurado, voltando às suas características originais de construção. No projeto de restauração, a administração da UFJF previu-se sua ocupação pelo Museu Dinâmico de Ciência e Tecnologia, o qual passaria a ter, assim, um espaço de exposição diretamente relacionado ao acervo reunido desde sua criação. Essa mudança representou um grande reconhecimento do trabalho de preservação do Museu.
A mudança ocorreu em abril de 2016. A exposição montada utiliza o mobiliário já existente, construído para a exposição de 2007. Pela primeira vez o MDCT consegue, nesse novo espaço, reunir o acervo em exposição, a reserva técnica, o acervo bibliográfico e o arquivo histórico sob sua guarda. Simbolicamente, todos estes acervos estão de volta ao espaço onde, em décadas passadas, foram produzidos e utilizados. Assim o MDCT preserva, ao mesmo tempo, acervos e espaços nesta nova sede, onde até hoje esta instalado. Todas as demais ações e projetos do MDCT tiveram continuidade nesse espaço, sendo incrementadas com ações transversais ligadas a preservação patrimonial, dada a importância histórica do prédio onde hoje está o acervo.