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Mapa da Região: Igor Knop

O Mapa da Região é uma ação do INOVAGames que busca mapear toda a comunidade e projetos de desenvolvimento de jogos da Região da Zona da Mata. Conhece alguém que deveria estar por aqui? Manda pra gente!

Você poderia fazer uma breve apresentação e compartilhar um pouco sobre sua formação?

Igor Knop é professor do Departamento de Ciência da Computação e game designer de jogos de tabuleiro. Usa jogos para ensino e entretenimento.

Eu vim de uma cidadezinha de 20 mil habitantes, São João Nepomuceno, por volta de 95 para fazer o antigo CTU de Informática. Apaixonei pela programação de computadores e acabei ficando praticamente toda a graduação trabalhando como técnico entre estágios e empresas na UFJF. Fui estudar Engenharia Elétrica, mas acabei voltando para o desenvolvimento de software indo para Modelagem Computacional para trabalhar com modelagem de sistemas dinâmicos durante o mestrado e doutorado. Lecionei no IFSudeste MG e antigo CES-JF (hoje Uniacademia) as disciplinas de desenvolvimento de software e hoje sou professor do Departamento de Ciência da Computação na UFJF.

Como você descreve brevemente a sua atuação no mundo dos jogos e quais os projetos em que você está atualmente envolvido e gostaria de compartilhar?

Creio que posso dizer que eu já ataquei em diversas áreas quando se fala em jogos (o velho jack of all trades, master of none): além de jogar sempre que posso, vivo diariamente criando e evoluindo protótipos. Como professor, os uso desde sempre em assuntos relacionados às disciplinas que leciono, já que os considero o melhor modelo que existe para aprender quase qualquer tecnologia. Amo pesquisar como eles funcionam e como nos comportamos dentro deles, tanto que hoje, na academia, eu consigo direcionar boa parte da minha pesquisa e extensão para eles. Também já organizei dezenas de eventos na cidade exclusivamente sobre jogos e já até tive um canal sobre jogos de tabuleiro que foi bem influente no nicho há uns 8 anos aqui no Brasil. Hoje estou como um dos professores organizadores do INOVAGames na UFJF, projeto de extensão que visa mapear, aproximar e apoiar todas as iniciativas em jogos de Juiz de Fora e região. E continuo o desenvolvimento autoral de jogos. Estou com dois jogos publicados pelas maiores editoras no Brasil (e mais alguns vindo por aí).

Confraternização 2023 com o INOVAGames da UFJF: projeto de extensão que visa mapear e estimular o desenvolvimento de jogos na academia e indústria da região.

Quais são os maiores desafios que você enfrentou em sua história relacionada a jogos?

Acabar os jogos. Esse é um lugar comum, mas por mais que o tempo gasto com a criação de jogos seja quase incalculável, eles sempre foram a identidade secreta, o segundo trabalho ou hobby. Nesse ponto, a melhor saída até hoje foi pegar projetos em parceria. Dei muita sorte em poder trabalhar com o Patrick Matheus e com o André Teruya pois, com mais um par de olhos, mais testes são feitos, decisões são tomadas e o jogo é finalizado. Ainda tenho bastante dificuldade em concluir os projetos que não estão vinculados a alguma editora pois falta alguém cobrando o fechamento do projeto.

Quais são as recompensas mais gratificantes que você encontrou ao trabalhar nesse campo?

Creio que o foi o lançamento do jogo Gnomopolis (2018), em coautoria com Patrick Matheus, pois foi um jogo de tabuleiro publicado em 7 línguas diferentes. Algo bem raro aqui à época.  Mas também não posso deixar de mencionar os quatro anos em que JogaJF ficou como um evento mensal sobre jogos de mesa, gratuito e gerou outra variedade de spin offs. Ambos mudaram muito como vejo os jogos como resultado de engenharia, traquejo social e como ferramenta para aproximar as pessoas.

Se você estivesse começando agora, qual conselho você gostaria de ter recebido e quais habilidades você considera importantes?

A primeira acho que é empatia. Poder se colocar na posição da outra pessoa. Imaginar o que ela sentirá nas situações de jogo e aprender a projetar essa experiência. A segunda acho que controlar a complexidade do que criar: você pode imaginar algo que seja fantástico, mas será muito difícil de ser realizado e pode acabar não realizando. Segurar a onda e começar com algo simples e manter uma evolução incremental é algo que permite entregar mais, ter uma maior sensação de conquista e prender a ansiedade no cabresto. Um dia chego lá…

E por fim, dar mais importância aos playtests: são eles que realmente avançam o jogo. Seu grupo de desenvolvedores e artistas dá o tom, mas é como seu jogo ressoa em pessoas não comprometidas com o projeto que conta. Você tem, claro, que ampliar suas capacidades técnicas, seja na programação ou nas artes, mas ter o foco no público final faz o projeto ser algo realmente marcante.

Mesa de jogatina na Campus Party 2010: palestra com do uso de prototipagem digital para jogos de mesa com Lucas Pereira e mesa redonda com Sérgio Halaban, Vanessa dos Santos e Fernando Tsukuno.

Além dos jogos, quais são seus outros hobbies e interesses e/ou existe alguma história curiosa ou engraçada que você gostaria de compartilhar?

Hoje divido o tempo livre com o kit básico de séries, filmes e livros. Tenho preferido séries aos filmes pelo tempo maior para contar a história (quando não enrolam) e vivemos uma época que estamos muito bem servidos. Filmes tenho assistido mais os de terror, que acho que cabem super bem na duração menor. A leitura anda bem mais devagar do que queria, mas é meu passatempo de busão e estou quase sempre nos livros de fantasia ou sci-fi (os últimos que gostei bastante, a ponto de recomendar, foram The Expanse, Guerra do Velho e Red Rising).

Como você vê o papel dos jogos no contexto social e cultural?

Os jogos atingiram uma dimensão que eu nunca iria imaginar lá quando tinha meus 10 anos, mesmo sendo fanático por eles. É uma indústria que movimenta centenas de bilhões de dólares e hoje provê o primeiro círculo social fora da família para várias pessoas. Eles já mudaram nossa língua, nosso cinema e nossa literatura. Há ainda muito a se avançar em segurança, igualdade de gênero e representatividade nos jogos e comunidades de jogos. Só que isso também é verdade fora delas: os jogos sempre atuaram como lupas, ampliando e dando ênfase em problemas e fenômenos que sempre existiram. Por isso estudar esses fenômenos nos jogos, é olhar para nós mesmos.

E na sua região? Como você vê o desenvolvimento e trabalhos relacionados a jogos? Em pontos positivos e pontos que gostaria que melhorassem.

Juiz de Fora tem os jogos no sangue há décadas. Daqui temos empresas com projeção nacional e internacional, a cidade sempre foi muito ativa no cenário de RPG e literatura fantástica. As pessoas estão espalhadas, muitas vezes trabalhando em grupos isolados, mas não é difícil achar alguém de Juiz de Fora, ou que morou aqui, que atua ou atuou no mercado de jogos. Temos bastante movimento na academia, mais relacionado à educação, mas os jogos já aparecem aqui e ali como atividade fim e não apenas um meio. Aqui na UFJF, eu gostaria muito que tivéssemos um Estúdio de Jogos Júnior na UFJF. Um projeto interdisciplinar onde alunos e professores pudessem criar jogos e ter um gostinho da indústria no campus. Felizmente os planetas têm se alinhado e, mesmo que a pequenos passos, espero que isso se realize em breve!

Participantes da Global Game Jam UFJF 2020: a sede é organizada desde 2018 como projeto de extensão na UFJF e recebe participantes de toda a região.

Como entrar em contato:

Você pode entrar em contato com Igor pelo e-mail igor.knop@ufjf.br, seguir o registro de jogos pelo instagram ou ele falando bobagem no @igorknop no X ou no @igorknop.bsky.social.