Ao longo dos anos, o conceito de corpo ideal ou saudável passa por diversas transformações e modificações. No início do século XX, por exemplo, o corpo feminino considerado ideal era voluptuoso e arredondado, com deposição de gorduras em quadris, coxas, barriga e mamas. Durante o período pré-industrial, devido à carência alimentar mais frequente, a mulher acima do peso era considerada uma mulher forte, com energia para proteger sua família. Ao longo do século XX e principalmente a partir da década de 60, inicia-se a busca excessiva por um corpo magro, atlético e com formas bem definidas, sendo tratado como um verdadeiro objeto de consumo.
A constante busca pela modificação da aparência pelos indivíduos pode ocasionar a utilização de medidas prejudiciais à saúde, como o uso de anorexígenos, tratamentos estéticos e práticas como a indução de vômitos, jejuns prolongados e dietas de restrição, visando obter resultados rápidos, o que aumenta os riscos para os Transtornos Alimentares (TAs), que afetam gravemente o funcionamento psicológico, físico e social do indivíduo. A incidência de TA e a insatisfação da Imagem Corporal (IC) é maior no público feminino, onde universitárias representam um grupo de risco devido ao ganho de responsabilidade acadêmica, inclusão em grupos sociais e autocrítica, em que o aumento crescente de insatisfação com o corpo atinge cerca de 20% das mulheres e aumenta para 35% em estudantes de Nutrição.
Os Transtornos Alimentares são síndromes psiquiátricas com etiologia multifatorial, sendo possível determinar esses transtornos por uma diversidade de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, socioculturais e familiares que interagem entre si para produzir e perpetuar a doença. Os principais tipos de TAs são: a anorexia nervosa, bulimia nervosa e o Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico (TCAP). A definição de transtornos, pode ser dada como mudanças do comportamento alimentar que levam a alterações de peso do indivíduo. Uma questão relevante, é que pessoas com TAs negam possuir a doença e usam várias justificativas para seus sintomas, costumam dizer que escolheram ter um estilo de vida alternativo, uma opção que tomaram conscientemente para lidar com suas preocupações com o corpo e, por consequência, minimizam os riscos potenciais, inclusive, de morte.
Anorexia nervosa
Anorexia nervosa é um dos principais transtornos alimentares na qual sua maior característica é a perda de peso de uma forma intensa a custo de dietas extremamente rígidas chegando até ficar com fome por horas, em busca sem limites pela magreza excessiva. Alguns adolescentes acometidos pela anorexia utilizam métodos para emagrecer ou tentar evitar que ganhe peso, por meio de restrições alimentares rígidas e pela prática de atividades físicas exageradas sem a orientação de um educador físico preparado para isso. O indivíduo que sofre com essa patologia têm a imagem corporal distorcida, pode evitar ir em frente ao espelho, utilizar roupas largas, induzir vômitos, tomar medicamentos como laxantes para evacuar com intuito de retirar do organismo a gordura indesejada. Quando se evacua de forma constante o que libera, na verdade, é líquido e não gordura o que traz grandes males para saúde desse adolescente com anorexia.
Bulimia nervosa
O início da bulimia nervosa é mais tardio, ocorrendo no final da adolescência e início da vida adulta, e é um transtorno alimentar de maior prevalência. A patologia se caracteriza pela grande ingestão de comida, gerando na pessoa uma sensação de perda do controle quantitativo de alimentos ingeridos, fazendo com que o adolescente afetado pratique métodos inadequados para o emagrecimento rápido como, vômito induzido, uso de medicamentos para emagrecimento rápido sem uma orientação médica, dietas e exercícios físicos inadequados e drogas. Geralmente, o paciente com bulimia apresenta inicialmente preocupação excessiva em relação ao seu corpo. Assim, através disso, iniciam-se as práticas de dietas sem a orientação de um profissional e a restrição de vários alimentos que possam engordar. Com a mudança repentina dos hábitos alimentares, o paciente passa a sentir mais fome, fazendo com que ele coma de forma exagerada.
A próxima fase da bulimia consiste no arrependimento e mal-estar físico por conta da quantidade dos alimentos ingeridos. Com isso, o adolescente faz a prática do vômito forçado que faz ele sentir satisfação e alívios momentâneos. Ao contrário do adolescente anoréxico, aquele que tem bulimia não tem desejo progressivo de perder peso. As complicações nos portadores de bulimia são calos no dorso da mão pela lesão da pele com os dentes, erosão dos dentes em função dos vômitos, irregularidades menstruais de até 3 meses em mulheres. A bulimia apresenta algumas características como a ingestão compulsiva dos alimentos seguida por um grande sentimento de culpa. O indivíduo com essa patologia utiliza-se a prática compensatória que dá uma sensação de alívio da culpa pela grande ingestão de alimentos calóricos.
Importância do Nutricionista
Diante das informações dispostas, é possível observar a importância de abordar o tema transtornos alimentares, seu tratamento, sintomas e desdobramentos, além do papel de cada profissional na doença. Por ser um transtorno com causa multifatorial, diversas especialidades são fundamentais para o tratamento. São eles os médicos, psicólogos, educadores físicos, jornalistas e nutricionistas. Quanto a este último grupo, os profissionais podem incentivar a conscientização acerca da imagem corporal, evidenciando a autoestima e a saúde. Além disso, é também papel do nutricionista fazer com que o paciente tenha novamente uma relação sadia com a alimentação e construa sua autonomia alimentar.
Diante da gravidade dos transtornos, no dia 02 de junho é conhecido como o Dia Mundial de Conscientização de Transtornos Alimentares para haver conscientização e discussão acerca do tema.