Em uma partida de futebol, quatro momentos definem a forma de uma equipe jogar, ou seja, seu “esquema tático”: o ataque, quando o time tem a posse da bola e parte em direção ao gol adversário; a defesa, quando a equipe tem de recuperar a bola do adversário; o contra-ataque, quando, uma vez recuperada a bola, o time deve partir para o ataque com o máximo de velocidade e precisão possível; e o reposicionamento, quando a bola é perdida e o time deve posicionar a defesa rapidamente, a fim de evitar o contra-ataque.
Isso é o que afirma o professor Marcelo de Oliveira da Matta, da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Segundo o docente, a forma como cada equipe lida com tais momentos define o seu “modelo de jogo”, fundamental para compreender como atuam as equipes que estarão no Brasil, este mês, para disputar a Copa das Confederações.
“Cada equipe posiciona seus jogadores de forma diferente, sempre buscando o máximo de eficácia nesses quatro momentos do jogo, aos quais acrescento um quinto: a bola parada, que são os lances de falta e escanteio. Pode haver o encurtamento dos espaços na marcação, no caso de uma equipe que privilegia a defesa. Pode existir uma equipe que prefira atacar por meio de estratégias de bola parada. Ou pode haver seleções que busquem uma maior valorização da posse de bola, o que acontece com times que praticam um futebol mais cadenciado, pensado, caso da seleção da Espanha.”
A equipe espanhola, de acordo com Matta, é a principal força do torneio, ao menos no que diz respeito à organização tática. Segundo o professor, o destaque da atual campeã do mundo, comandada pelo técnico Vicente Del Bosque, é a forma como os jogadores tocam a bola desde o meio-de-campo até o ataque, pacientemente buscando os espaços na defesa adversária para chegar ao gol.
“É um esquema tático que foi definido durante os últimos cinco ou seis anos, e ganhou reconhecimento quando a Espanha conquistou a Eurocopa de 2008. Taticamente, a Espanha está à frente, justamente por ter lapidado seu modelo de jogo por tanto tempo. Os jogadores já conhecem o esquema do treinador e sabem o que fazer quando atacam e ao defender.”
Esquemas tradicionais
Matta lembra que muitas equipes praticam há décadas um mesmo modelo de jogo, inerente à cultura “futebolística” do país. “É o caso do Uruguai, que atua de forma veemente na marcação, com jogadores dedicados e de grande vigor físico, e procura transições rápidas de jogo.” Mesmo não atuando bem nas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2014, a seleção campeã da América do Sul em 2011, na opinião do professor, pode surpreender este ano graças à sua força defensiva.
Outra equipe de tradição defensiva, segundo o professor, é a da Itália, atualmente comandada pelo treinador Cesare Prandelli. Tradicionalmente um time dedicado à recuperação da bola, a squadra azurra, como é apelidada a seleção italiana, diferencia-se do Uruguai por atuar mais focada na disciplina dos jogadores, obedientes ao esquema tático. “Apesar de a Itália ter adotado recentemente um esquema mais ofensivo, com o meio-campista Andrea Pirlo organizando o time e o atacante Mário Balotelli liderando o ataque, culturalmente a defesa está enraizada no futebol italiano”
Já o Brasil, para Marcelo Matta, é uma equipe com um modelo de jogo ainda em desenvolvimento. O talento individual dos jogadores brasileiros é reconhecido internacionalmente e se tornou responsável pela construção, desde os anos 50, de um modelo de jogo ofensivo, com ênfase no improviso. Entretanto, no momento a seleção brasileira é dependente de brilhos individuais. “A seleção brasileira está muito atrasada, taticamente e coletivamente. Tem dificuldades para superar equipes que marcam coletivamente, bem organizadas.”
Tal deficiência pode implicar dificuldades ao enfrentar times com boa disposição tática, como o Japão, equipe de muita disciplina e velocidade, ou o México, que também valoriza a qualidade individual, dispondo de jogadores talentosos como Javier “Chicharito” Hernandez e o brasileiro naturalizado mexicano Giovani dos Santos. Outra equipe de grande valor individual é a Nigéria, que representa no torneio o competitivo futebol africano.
O improviso e o preparo físico
O talento individual e o preparo físico dos atletas ocupam papel fundamental para a boa execução da estratégia de jogo. Para Matta, ambos servem ao esquema tático. “É possível preparar fisicamente um time para atuar 90 minutos com a mesma intensidade, o que implica o cumprimento mais eficaz do modelo de jogo proposto pelo treinador. Contra-ataques mais rápidos, encurtamento de espaços mais eficientes, roubadas de bola mais frequentes. Tudo isto está atrelado ao bom preparo físico.”
No caso do aspecto técnico, o talento individual é o que permite ao jogador surpreender o adversário, fazendo com que um modelo de jogo nunca seja previsível. É a conhecida arte do “improviso”, com a qual o futebol brasileiro ganhou reconhecimento internacional.
“O jogador, antes de agir, tem uma série de percepções: altura e velocidade da bola, distância em relação à bola e aos marcadores, entre tantas outras. Ele leva em sua memória o esquema tático do treinador e as possibilidades do momento: um toque lateral, um lançamento, um cruzamento ou um drible. O jogador de grande talento individual sabe tomar a decisão certa, e quando não tem opções de jogo coletivo, inova com uma jogada individual. O marco do atleta brasileiro é dispor dessas possibilidades de forma criativa e inteligente.”
Equipes começam a entrar em campo neste sábado
A Copa das Confederações 2013, que reúne as seleções campeãs continentais do período 2010-2013, bem como a atual campeã do mundo e a seleção do país sede, começa no próximo sábado, dia 15. No torneio, estarão em campo as seleções do Brasil (país sede), Itália (vice-campeã da Europa), México (campeã das Américas Central e do Norte), Japão (campeã da Ásia), Espanha (campeã da Copa do Mundo 2010 e campeã da Europa), Nigéria (campeã da África), Uruguai (campeã da América do Sul) e Taiti (campeã da Oceania).
Outras informações: (32) 2102-3602/3610 (Núcleo de Pesquisa em Comunicação, Esporte e Cultura – Nupescec)
KSR(15/06/13)