“A cadeira de rodas são meus pés e minhas sapatilhas. O palco é onde demonstro minha arte”, declara a dançarina em cadeira de rodas, Ana Patrícia de Oliveira da Costa, sem esconder a satisfação em ter exibido mais uma vez sua dança. Desta vez, as rodas brilharam na VII Mostra de Dança sobre Cadeira de Rodas, na quarta-feira, 9, à noite, no teatro Pró-Música. Cinco grupos de Santa Maria (RS), Santos (SP), Rio de Janeiro, Salvador (BA) e João Pessoa (PB) se revezaram na apresentação. O evento integra o VII Simpósio Internacional de Dança em Cadeira de Rodas, promovido em parceria com a Faculdade Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). No sábado, 12, ocorre o VIII Campeonato de Dança Esportiva dessa modalidade.
Os gaúchos do grupo Extremos mostraram a lenda indígena de Imembuí, sobre o nascimento da cultura dos primeiros habitantes do Sul do país e o processo de aculturação pelos europeus. “Trabalhamos com a dança moderna, a improvisação e técnicas de dança criativa. Todos os alunos são coreógrafos”, explica a coordenadora do grupo, Mara Antunes. Em um dos momentos marcantes da noite, Valentina Lago Paragones, de 11 anos, há três no grupo, abandona a cadeira de rodas e dança no chão, levando com rapidez as pernas com as mãos para o lado e para trás. “É mais difícil do que sobre rodas, pois tenho que me esforçar mais, mas gosto”, afirma.
Ao som da bossa nova de Tom Jobim, a companhia santista Secult trouxe seis dançarinas sobre cadeira de rodas. A estabilidade das pernas vai aos poucos sendo substituída pelo movimento da cadeira que se sintoniza com o tronco, cabeça e braços. Depois da bossa, foi a vez da salsa, em que um dançarino cadeirante entra no palco para conduzir todas as seis mulheres no gingado típico do ritmo. Com sorriso estampado no rosto, a integrante do grupo Ana Patrícia, que perdeu uma perna em acidente de carro, afirma que com esses movimentos da dança descobriu habilidades que desconhecia. “Antes achava ridículo alguém dançar dessa forma, mas não conhecia meu corpo, não tinha consciência corporal, que hoje percebo com a dança. Descobri-me como pessoa, como mulher. Não somos um bloco sobre a cadeira de rodas”, ressalta
A dupla do grupo Rodas da Inclusão, do Rio de Janeiro, demonstra em seguida que a dança de salão serve tanto a quem é capaz de se movimentar sem o auxílio de cadeiras quanto a quem tem nesse instrumento uma fonte de inspiração e superação. A dançarina na cadeira gira-a, troca passos, olhares e, em um instante, trava a cadeira, projeta-se e solta-se ao encontro do par, que está de pé, agarrando-se a ele. Os dois giram, e a plateia se emociona.
Os soteropolitanos do Rodas no Salão escolheram canções de dois conterrâneos, “A Paz”, de Gilberto Gil, e o rock “Rua Augusta”, de Raul Seixas, além do paraibano Zé Ramalho, com “Admirável Gado Novo”. Com esta música os dois artistas no palco fixam o olhar na plateia, demonstram força física em consonância com os arranjos e letra da canção. Para completar, um trio de dançarinos andantes, representando o povo “que tem vida de gado”, cruzam o palco com lata d`água na cabeça e pessoa adoentada.
Os próximos são os bicampeãos brasileiros em dança esportiva de dupla em cadeira de roda, do grupo paraibano Roda Vida, que preferiram uma canção lenta de Sara Brightman. Valdemir Tavares, 26, que aos dois anos teve poliomelite e há oito anos dança, afirma que a modalidade levanta sua autoestima, melhora o relacionamento interpessoal. “No palco, sinto-me muito feliz, esqueço de tudo, é um momento único”.
Para o dentista Jomar Mendes, que assistiu pela primeira vez a esse tipo de espetáculo, e tem paraplegia em decorrência de um acidente de carro, a dança serviu de inspiração. “A gente pode dançar”, revela.
Valdemir Tavares e sua parceira irão se apresentar, neste sábado, 12, no VIII Campeonato Brasileiro de Dança Esportiva. Na competição, os pares são constituídos por um homem e uma mulher, sendo um deles usuário de cadeira de rodas. Poderão ser apresentadas três ou cinco danças: samba, rumba, jive ou samba, chachacha, passo duble e jive. “Dançar é dez vezes melhor que futebol”, avalia o dançarino competidor, que faz par com uma cadeirante, Luan Correia dos Santos, de apenas 12 anos. O campeonato começa às 19h, no Colégio dos Jesuítas, na Avenida Independência, 1600, Centro. A entrada é franca.
Outras informações: (32) 2102-3283 – Coordenação de Acessibilidade Educacional, Física e Informacional
Programação do Seminário, Mostra e Campeonato
KSR(11-12-09)