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Ex-aluno, árbitro Marcelo Van Gasse relata trajetória e experiência na Copa

vangasseUm sonho, várias dúvidas e um árbitro reuniu 32 jovens jogadores de futebol na manhã desta quinta-feira, 7, no campo da Faculdade de Educação Física. O bandeirinha era o ex-aluno da UFJF, Marcelo Van Gasse, que atuou em três partidas da Copa do Mundo, no Brasil e, em 2013, na final do Mundial de Clubes. O profissional veio dar palestra para os adolescentes que participam da Escola de Formação Futebolista da faculdade, que anseiam serem reconhecidos em campeonatos – ou quem sabe estarem em campo com Van Gasse. O árbitro auxiliar também deu entrevista ao Portal da UFJF, leia abaixo.

 

Aos jovens futebolistas Van Gasse relatou sua trajetória de profissionalização, contando que, até chegar à Copa, trabalhou em torneios da sexta divisão e fez cursos em federações do esporte. “Foram etapas fundamentais para minha carreira. A oportunidade é aqui e agora. Não adianta entrar em uma partida sem interesse ou esforço, até em detalhes, como um meião mal arrumado, por exemplo”, afirmou o árbitro. Van Gasse destacou que também gostaria de ser jogador de futebol, mas optou por se profissionalizar na área de arbitragem, e fez uma série de recomendações, como manter assiduidade em treinos, nos estudos e ter bom relacionamento com a equipe, profissionais da área e familiares.

 

“E como é estar perto de jogadores? Algum time quis te pagar para roubar no jogo? Você já apitou a Copa Bahamas?”, seguiram as dúvidas dos adolescentes. Van Gasse explicou que havia uma expectativa maior no início da carreira de estar próximo dos grandes atletas, algo que foi sendo amenizado com o tempo, já o suborno nunca ocorreu. E os campeonatos locais serviram como fases para seu reconhecimento.

 

“O futebol exige novo perfil de jogador, que respeita o adversário, o público, a regra do jogo, o espetáculo. Aquele que fica simulando, caindo em campo ou é violento não cabe mais no jogo. Para que essa transformação aconteça, temos que começar na categoria de base. O Van Gasse é um exemplo de profissional, que veio trazer informações para que se tornem conhecimento e base para transformar a realidade”, explica o coordenador da escola, professor Marcelo Matta. Para o estudante Wanderson da Silva Franco, 15, o contato com o árbitro foi aprovado. “É bom sabermos como foi a trajetória dele para podermos fazer semelhante. Foi importante ouvir o incentivo para manter o esforço no treino, dar atenção à família e saber que ele começou na sexta divisão, errou, como tantos outros”, disse. 

 

Entrevista de Marcelo Van Gasse ao Portal da UFJF:

 

Como foi sua experiência na Copa?vangasse2

Foi super positiva, o trio brasileiro foi muito bem. Chegamos com a expectativa de fazer do primeiro jogo um jogo bom, e conseguimos na nossa estreia, apesar do nervosismo, que é natural tanto para o jogador quanto para o árbitro, que quer acertar. Tivemos retorno super positivo da Fifa sobre o nosso trabalho. Então, temos só a agradecer e falar que a arbitragem do Brasil tem condições de ser uma arbitragem top. Tentamos fazer o melhor e deu certo.

 

A imprensa brasileira em geral também avaliou a arbitragem brasileira de modo positivo.

Sim, fizemos três jogos muito bem feitos. Soubemos resolver os problemas que aconteceram no jogo. E, como experiência pessoal, destaco o fato de conviver com árbitros e instrutores do mundo inteiro do padrão Fifa. É um crescimento profissional muito grande poder trabalhar no principal evento do futebol do planeta.

 

Em geral, a arbitragem na Copa recebeu críticas.

Desde que iniciei minha carreira, ocorreram lances duvidosos. E não vai mudar muito isso porque o futebol é jogado durante o período de jogo, temos que decidir em fração de segundos. Vamos com nossa firmeza e honestidade para fazer o melhor, fazer o que vemos ali na hora. As críticas são naturais, são 64 partidas em um mês. Se for pensar bem em qual jogo que teve uma interferência assim da arbitragem? Nas fases finais, não teve nada. A arbitragrem da Copa foi considerada boa. Sei que na imprensa do Brasil falou-se muito sobre ela, mas, na visão da Fifa, ela foi boa.

 

Dos três jogos em que atuou, qual destaca pela demanda de decisões? [Van Gasse arbitrou as partidas de França e Honduras, Alemanha e Gana, ambas na fase de grupos, e Alemanha e Argélia, nas oitavas de final.]

O que deu mais trabalho para mim foi o da Alemanha e Argélia [a partida foi decidida na prorrogação]. Anulei um gol da Argélia, teve lances de impedimento, que consegui acertar. Ter de cortar um lance de gol, em Copa do Mundo, requer uma responsabilidade muito grande. Então esse jogo foi o mais difícil para mim. E, considerando o jogo contra Gana, são dois jogos do campeão da Copa. Quando for revista a trajetória da Alemanha na Copa do Brasil, teremos a arbitragem brasileira participando.

 

E o uso de tecnologias tem ajudado nesse trabalho?

O árbitro toma quase 200 decisões no campo de jogo. Meu trio utilizou a tecnologia de gol. Lembro de uma lance perfeitamente, em que o Benzema (atacante da França Karim Benzema) deu uma cabeçada, a bola bateu na trave, correu toda perto da linha de gol. Nesse instante, o goleiro de Honduras tocou na bola, e ela entrou. Mas foi no alto, não conseguimos visualizar no campo de jogo. A tecnologia deu gol. Na verdade, o gol foi da tecnologia. Verificamos porque a gente usa um relógio que avisa que a bola entrou.

 

O que recomendaria aos universitários que pretendem seguir a carreira de árbitro?

Tem que primeiro gostar porque o começo é nas divisões de base, não é tão fácil, tenho 14 anos de carreira. E procurar sempre fazer o melhor, procurar uma federação que tenha bom futebol. No meu caso, procurei a federação paulista porque visualizei esta situação: onde há um futebol e federação fortes normalmente há árbitros fortes também. Então, tentei, na minha época, escolher a federação que achava que me daria mais apoio. Procurei assim a federação paulista. Mas não tem nenhum problema em buscar a mineira, a fluminense, a paranaense. Se você gosta de arbitragem, a indicação é procurar o curso da federação e começar novo, com 19, 20, 22 anos, para chegar aos 30 anos conhecido. Não adianta querer fazer com 35 anos, porque não tem mais tempo, porque a vida útil do árbitro é de 45 anos. Quanto mais cedo chegar ao nível profissional, melhor.

 

Seu próximo compromisso é a final da Libertadores entre o Nacional, do Paraguai, e o San Lorenzo, da Argentina, na próxima quarta-feira, 13.

É um desafio grande porque é a final de um campeonato continental. Além do prazer de estar trabalhando na final de uma Libertadores, você tem o compromisso muito grande. Mais uma vez vamos ter a oportunidade de representar o Brasil, para fazer o nosso melhor, com toda dedicação e tranquilidade, para mostrar que a arbitragem do Brasil é muito forte. É isso o que a gente vai fazer. Desde 1991, um árbitro brasileiro não faz a final da Libertadores.

 

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