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Dissertação de Mestrado da Faefid discute abusos em cirurgias plásticas

Trabalho terá capítulo especial no livro que será lançado na próxima terça-feira, 18 (Foto: Géssica Leine)

Trabalho terá capítulo especial no livro que será lançado na próxima terça-feira, 18 (Foto: Géssica Leine)

Estar bem consigo mesmo nem sempre é uma tarefa fácil, ainda mais quando a mídia diariamente expõe um padrão de beleza, que poucos podem alcançar. O caso torna-se mais complicado quando o julgamento mais pesado sobre o que é belo parte do próprio indivíduo, que se torna incapaz de aceitar seu corpo como ele é. Tal desconforto faz com que alguns recorram a métodos como a maquiagem, mudança no vestuário, prática de exercícios e dietas. Mas há aqueles que apelam para as cirurgias plásticas, seja para corrigir algum “defeito” físico ou mesmo para alcançar o tão sonhado corpo socialmente aceito. A procura por esse procedimento tem crescido muito ao longo dos anos. Segundo um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas (SBCP), o Brasil é o segundo colocado nesse tipo de procedimento cirúrgico, ficando atrás dos Estados Unidos. Nesse levantamento, realizado entre 2008 e 2012, foi revelado que a lipoaspiração é a cirurgia mais realizada, seguida do implante de silicone nos seios. Mas será que os resultados provenientes da intervenção cirúrgica têm proporcionado satisfação em seus adeptos? Foi em busca de respostas para essa questão que a mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFJF, Fernanda Dias Coelho, produziu sua dissertação de mestrado.

Segundo Fernanda, o interesse pelo tema surgiu através de suas experiências como professora em academia. “Pude verificar que dentro das academias de ginástica, apesar de as mulheres estarem fazendo atividades físicas e dietas, elas também procuravam a cirurgia plástica como forma de alterar o corpo por estarem insatisfeitas com os mesmos. No entanto, verifiquei que muitas vezes a mesma mulher tinha passando por vários procedimentos cirúrgicos, até mesmo na região já operada, e isso despertou minha curiosidade”, conta Fernanda.

Para a realização de seu estudo, a pesquisadora o dividiu em duas etapas: na primeira, foi feita uma pesquisa quantitativa com 88 mulheres de Juiz de Fora, com idade acima de 18 anos, que tinham feito pelo menos uma cirurgia plástica por motivo estético. A finalidade da pesquisa foi  levantar informações em relação a variáveis como: mídia, Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) e satisfação corporal.

Na segunda etapa, de caráter qualitativo, foi elaborada uma entrevista com roteiro semiestruturado com dez mulheres para descobrir como essas mulheres que fizeram alguma cirurgia plástica sentiam-se com sua nova aparência e o motivo que as levou a fazer a cirurgia.

De acordo com Fernanda,  foram escolhidas mulheres como amostra do estudo devido ao fato de sofrerem uma pressão maior da sociedade com o corpo. “Justamente por ser um público que está mais vulnerável à questão da cobrança do corpo – que ainda é muito voltada para as mulheres apesar de os homens já estarem ficando mais preocupados e passarem a ser consumidores da cirurgia plástica – que eu verifiquei nas academias de ginástica que as mulheres estavam realizando a cirurgia plástica com muita frequência.”

Resultados

Conforme os dados coletados foi possível revelar que mesmo após passaram por uma cirurgia ou mais, as voluntárias da pesquisa não demonstraram estar totalmente satisfeitas com seu corpo alegando ter outras partes ou até mesmo a parte do corpo que passou por cirurgia como motivos da insatisfação e, por isso, há um interesse por outros procedimentos. Foi verificado que essa insatisfação com o corpo ou com partes dele podem causar prejuízos para a qualidade de vida.

Fatores como envelhecimento ou a possibilidade de o corpo sofrer alguma alteração corporal durante o período da gestação são apontados como motivadores de outros procedimentos estéticos. O período pós-operatório foi mencionado como impedimento para outra cirurgia plástica, pois foi considerado como doloroso.

A estudante, Júlia Horta, se diz satisfeita após a cirurgia plástica, pois com o procedimento cirúrgico ela obteve ganhos em sua auto estima e que só faria algum outro procedimento estético caso engordasse. “Fiz cirurgia de prótese mamária (silicone) com 18 anos. Eu era muito insatisfeita com essa parte do meu corpo. Me incomodava demais, chegando até a deixar de ir ao clube por vergonha de usar biquíni. Sou outra pessoa depois da cirurgia. Minha auto estima aumentou demais, sou muito satisfeita com meu corpo hoje. Se algum dia eu der uma engordada com certeza farei lipo ou algo assim para me manter magrinha. Além disso, não faria outra coisa, não.”

 A jovem conta que a parte mais difícil é o pós-operatório, pois o corpo fica mais delicado e impede que seja possível fazer as atividades normalmente “No pós-operatório há muitas coisas que não podemos fazer, como, por exemplo, mexer os braços. Eu ainda tive dificuldade com a cicatrização, o que fez com que a recuperação demorasse mais. Essa fase foi bem enjoada. Não conseguia fazer nada sem alguém pra ajudar.”

Além dos profissionais da Educação Física, as áreas da Medicina e Psiquiatria também podem se beneficiar do estudo. Em sua dissertação, Fernanda, concluiu que em alguns casos, pessoas que passaram por uma cirurgia plástica e mesmo assim se sentiam insatisfeitas, apresentavam traços de transtornos de imagem, sendo mais aconselhável a busca por psicólogos ou psiquiatras para tratarem desse transtorno. “Eu verifiquei que meu trabalho teve uma contribuição não só para a Educação Física, mas também para as  várias áreas da saúde porque um dos instrumentos que eu apliquei é Body Dismorphic Disorder Examination, que verifica presença de traços de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) em algumas mulheres” Para os professores de educação física, ela acredita que o estudo irá contribuir na questão da conscientização do indivíduo de que ele não vai conseguir atingir o corpo perfeito em virtude de cada um ter sua limitação biológica. “Cabe ao professor de Educação Física, orientar essas pessoas de que nem sempre a cirurgia plástica é o melhor caminho, pois elas podem estar colocando a vida em risco e também correndo o risco de nem sempre o resultado ser satisfatório.”

A orientadora, Maria Elisa Caputo Ferreira, acrescenta que a facilidade de acesso a esse tipo de procedimento faz com que as pessoas o utilizem de forma corriqueira, sem critérios. “Acho que é justamente o estudo do corpo como objeto de consumo: você querer um corpo esculpido, como se quer pintar a cor do cabelo. A cirurgia plástica está no meio das mulheres e dos homens cada vez mais como algo a ser consumido.”

O estudo já está rendendo frutos. Um deles é a publicação de um capítulo no livro ‘Imagem Corporal: reflexões, diretrizes e práticas de pesquisa’, organizado pelas integrantes do Laboratório de Estudos do Corpo (LABESC) da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid), que será lançado dia 18 de março.

Outras informações:  2102-3283 (Laboratório de Estudos do Corpo/LABESC)

KSR(17/03/14)