Com mais de 50 anos de atividades ligadas à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o professor do Departamento de Química Emanoel de Castro Antunes Felício receberá, nesta terça-feira, 20, o título de professor emérito. A homenagem é conferida pelas entidades de ensino a docentes já aposentados que atingiram alto grau de projeção no exercício da atividade acadêmica. A entrega será realizada no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), durante reunião especial do Conselho Superior (Consu), às 19h30.

No dossiê assinado pela coordenação e por docentes do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICE) e enviado ao Consu, Felício é destacado como um profissional de história ímpar na instituição. Ingressou na UFJF como aluno do curso de Farmácia e Bioquímica em 1970 e, ao final da graduação, já se tornou professor. Trabalhou como docente efetivo até 2021, ano de sua aposentadoria.

O chefe do departamento de Química, professor Maurício Pereira da Silva, que assina o dossiê junto a outros professores, afirma que “a indicação é direcionada a docentes de destaque em atividades de pesquisa, ensino, extensão e gestão. No caso do professor Emanoel, foi uma movimentação natural do nosso departamento, haja vista sua enorme contribuição em todos os setores da Universidade.”

Uma história que começa em 1970

Graduado em Farmácia e Bioquímica em 1972, no ano seguinte, exatamente na data de 21 de setembro de 1973, tornou-se docente auxiliar do departamento de Química. “O curso foi fundado em 1970, mas não existia uma coordenação, por exemplo. O diretor do ICE, professor Murilo Amaral, coordenava tudo. Então, participar desse projeto, sendo o primeiro coordenador do curso de Química, e propor uma base curricular é algo que marca minha história. Eram tempos em que a UFJF estava começando”, relembra Emanoel Felício.

Em uma época em que poucos professores universitários possuíam pós-graduação, Felício concluiu o mestrado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1980. Já o doutorado foi cursado no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), na cidade de Tolouse, na França.

“O sentimento é de enorme gratidão à UFJF. A minha vida está intimamente ligada à Universidade. Tudo o que eu sou devo à UFJF, que me propiciou fazer um mestrado na UFMG, que me possibilitou fazer meu doutorado no exterior. A Universidade, e também o povo brasileiro, possibilitaram a minha formação enquanto professor e cidadão.”

Ao retornar ao Brasil, em 1984, o docente era o único doutor em Química Inorgânica na UFJF e o segundo com a titulação no seu departamento. À época, não havia equipamentos nem laboratórios para a realização de pesquisas. Felício foi quem elaborou os croquis para montagem dos quatro primeiros laboratórios de pesquisa de Química.

“Além de sua generosidade e sabedoria, o professor Emanoel foi extremamente importante para o desenvolvimento do nosso departamento. Sendo um dos primeiros doutores, envolveu-se na montagem dos primeiros laboratórios de pesquisa e na criação do nosso curso de mestrado, além de ter participado ativamente de atividades administrativas no âmbito do nosso curso, do Instituto de Ciências Exatas e da UFJF”, ressalta Maurício Pereira da Silva.

Enquanto outros professores também buscavam aperfeiçoamento, a Universidade crescia e começava a investir na pós-graduação. Em parceria com a UFMG, nascia, então, o embrião do Programa de Pós-Graduação em Química, que, hoje, é avaliado na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com a nota 5. Felício participou da iniciativa entre 1993 e 1997. “Fui docente dos cursos fruto desta parceria. Após esta experiência, montamos nosso programa, onde pude ser docente. Esses esforços para construção de laboratórios e estrutura de pesquisa realmente marcaram minha carreira. E desejo que o curso siga progredindo, formando jovens que sirvam a nossa sociedade. E que a pós-graduação se expanda e contribua para o crescimento do nosso país.”

A professora Rosana Colombara ingressou na UFJF como docente em 1997 e recorda desse momento. “Testemunhei a forma como ele sempre tratou todo e qualquer assunto com seriedade, equilíbrio e serenidade. Certamente, deixou uma lacuna muito grande no Departamento de Química, e acredito que em vários outros segmentos da Universidade.” Ela espera que, assim como ela, muitos outros possam ter a oportunidade de conviver com Felício em seus novos projetos de vida.

Além das salas de aula 

Farmácia, Ciências Biológicas, Engenharias, Bacharelado em Ciências Exatas, Licenciatura e Bacharelado em Química. Emanoel Felício ministrou mais de duas dezenas de disciplinas em diversas unidades da UFJF, além de assumir diversos cargos dentro do ICE. Também participou da gestão nas áreas de Administração, Pesquisa, Assuntos Internacionais e Inovação.

Durante o reitorado da professora Margarida Salomão, foi secretário de desenvolvimento tecnológico. A pasta, criada em 2002, tinha por objetivo fomentar a inovação na instituição, por meio do Parque Tecnológico e dos processos de incubação de empresas. Sob sua jurisdição, entre outros, estava o Critt, que tem forte atuação em Juiz de Fora e na Zona da Mata. “Ter contribuído com este projeto, com a obtenção de recursos e com a educação de jovens para o empreendedorismo foram coisas que me surpreenderam, pois jamais esperava trabalhar neste setor na Universidade. Fizemos grandes parcerias com setores da sociedade.”

A homenagem ao professor contribui para o registro da história que ele mesmo ajudou a construir.  “Vi os passos que a UFJF foi galgando. Quando cheguei, o campus estava em plena construção, e nós, estudantes, estávamos lá, circulando no meio das máquinas e tratores. Vi no que tudo isso se transformou. Não falo só do crescimento físico, mas do investimento em recursos humanos, do trabalho, do aumento dos cursos de graduação e pós. Isso nos transformou em uma universidade regional de renome.”