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Qualidade na Ficção

Equipe
2016: Daiana Sigiliano, Leony Lima, Júlia Garcia
2017: Daiana Sigiliano, Leony Lima, Mariana Meyer, Júlia Garcia
2018: Daiana Sigiliano, Leony Lima, Mariana Meyer
2019: Daiana Sigiliano, Leony Lima, Pedro Martins, Vinícius Guida

 

A partir dos estudos sobre a qualidade na ficção televisiva, este projeto tem o objetivo de analisar as narrativas ficcionais seriadas brasileiras, produzidas entre 2000 e 2016, com base nos parâmetros de qualidade previamente definidos.

O projeto é dividido nas seguintes etapas: 1) Levantamento bibliográfico e audiovisual; 2) Metodologia de análise; 3) Análise de conteúdos audiovisuais.

Levantamento bibliográfico e audiovisual

Realizamos um levantamento das narrativas ficcionais seriadas brasileiras exibidas na TV aberta e na TV paga no período de 2000 a 2016, totalizando 206 produções. Dessas, 128 foram ao ar na TV aberta e 78 na TV paga. Além dos títulos dos programas, o levantamento também indica o período de exibição, o canal e a sinopse.

Metodologia de análise  

A metodologia utiliza a semiótica de Umberto Eco no que diz respeito à análise dos planos da expressão, do conteúdo e a mensagem audiovisual. Nesse contexto, é importante considerar também o papel dos espectadores/interagentes uma vez que estas produções analisadas contam com a interação do público, neste sentido os contornos da cultura participativa e os aspectos da literacia midiática serão de suma importância para a análise. Sendo assim, a análise abrange a reflexão sobre os elementos estilísticos intrínsecos aos produtos audiovisuais, tais como a complexidade narrativa, os temas abordados, a criação de personagens, a encenação, a dramaturgia, o uso dos recursos técnico-expressivos, o engajamento do público, entre outros.

Considerando a amplitude do levantamento e os aspectos gerais de cada produção, o corpus de análise foi dividido em quatro categorias. São elas: minisséries, séries episódicas, séries com ação transmídia e séries infantis. Posteriormente, as produções foram selecionadas a partir de dois requisitos, a disponibilidade dos conteúdos e o tempo de execução do projeto. Dessa forma, chegamos ao recorte de 16 minisséries; 14 séries episódicas, 20 séries com ação transmídia e 14 séries infantis.

Os parâmetros de qualidade foram elaborados a partir dos estudos realizados por Borges (2014); do Observatório da Qualidade no Audiovisual e das características de cada categoria definida na seleção de amostra. Nesse sentido, a análise dos programas que compõem as categorias (minisséries, séries episódicas, séries com ação transmídia e séries infantis) é norteada pela descrição do Plano da Expressão e pelos parâmetros de qualidade do conteúdo, que dialogam com os aspectos específicos das produções, e da mensagem audiovisual.

Os indicadores do Plano na Expressão levam em conta a produção de sentido a partir dos seguintes elementos estéticos: ambientação, caracterização dos personagens, trilha sonora, fotografia e edição.

Os indicadores de qualidade do Plano do Conteúdo são pautados pelos estudos de Mittell (2015) e Johnson (2012). Neste plano são considerados a intertextualidade, a escassez de setas chamativas, os efeitos especiais narrativos e os recursos de storytelling.

Intertextualidade – São elementos externos ao universo ficcional, podendo ou não interferir no desenvolvimento da trama. Nesse sentido, as referências intertextuais, apresentam camadas de significados que vão além da própria série. Entretanto, é importante compreender que a referência intertextual não precisa necessariamente interferir no desenvolvimento da trama e/ou ser fundamental para a compreensão da mesma. Nesse sentido, ao identificar a referência externa ao universo ficcional o telespectador terá uma experiência mais apurada do programa que está no ar.

Escassez de setas chamativas – Para Johnson (2012, p.61), a seta chamativa é “[…] uma espécie de cartaz narrativo, disposto convenientemente para ajudar o público a  entender o que está acontecendo”. O recurso é um guia narrativo que enfatiza os detalhes relevantes e diminui o esforço analítico necessário para o entendimento de uma história (JOHNSON, 2012). A seta chamada pode ser representada visualmente e verbalmente, ou seja, os roteiristas podem dar “pistas” para o público atráves da fotografia, do figurino,etc. ou por meio dos dialogos dos personagens. Porém, nas séries contemporâneas os personagens realizam ações ou discutem acontecimentos sobre os quais foram omitidas intencionalmente.

Efeitos especiais narrativos – Os efeitos especiais narrativos podem ser observados nas variações barrocas de temas e normas, no clímax dos programas e nas reviravoltas,  quando os roteiristas nos obrigam a reconsiderar tudo o que vimos até então.

Recursos de storytelling – Os recursos de storytelling são usados com freqüência e regularidade a ponto de se tornarem mais a regra do que a exceção. Esses recursos podem ser observados em analepses ou alterações cronológicas, quando uma história é contata a partir de  múltiplas perspectivas, no uso de sequências fantasiosas ou oníricas sem serem claramente demarcadas. Porém, é importante ressaltar que todos esses recursos são usados sem medo de causar uma confusão temporária no telespectador. Em outras palavras, “[…] a falta de indicações e sinalizações explícitas sobre a forma de contar gera momentos de desorientação, implicando que os espectadores tenham que se engajar mais ativamente na compreensão da história” (MITTEL, 2012, p.47)

As séries com ação transmídia ainda analisaram o seguinte indicador:

Transmedia literacy – segundo Scolari (2016) a transmedia literacy se refere a um “[…] conjunto de habilidades, práticas, valores e estratégias de aprendizagem e intercâmbio desenvolvidos e aplicados no âmbitoda cultura participativa” (livre tradução das autoras). Este desdobramento da competência midiática envolve tanto a capacidade interpretativa quanto a participação do público. Jenkins (2013) afirma que a transmedia literacy propicia múltiplas oportunidades de aprendizagem. O autor explica que ao navegar por diferentes plataformas e correlacionar variados contextos e linguagens a trama central (nave mãe) o público realiza uma leitura atenta e crítica das mídias.

Os indicadores de qualidade da Mensagem Audiovisual atuam no intuito de refletir sobre os dados obtidos na análise do plano da expressão em conjunto com o plano do conteúdo. “A análise da mensagem audiovisual leva em conta o modo de endereçamento do programa, ou seja, a forma como este é construído para comunicar-se com o público” (BORGES, 2014, p. 69) e abrange os seguintes indicadores: inovação / experimentação; originalidade/ criatividade e solicitação da participação ativa do público (BORGES, 2014).

Inovação / Experimentação – avaliam em que medida o programa apresenta um formato diferenciado e uma proposta estética que possa surpreender o público.

Originalidade/ Criatividade – avaliada em termos do formato, da apresentação e da abordagem do tema.

Solicitação da participação ativa do público – “os mecanismos usados para estimular a participação ativa do público” (BORGES, 2014, p. 70).

A análise dos programas infanto-juvenis ainda considera o seguinte indicador:

Apelo à imaginação – avalia se a proposta do programa apela aos sentidos visuais e auditivos e estimula o desenvolvimento das capacidades cognitivas e emotivas das crianças e adolescentes.

Análise de conteúdos audiovisuais

As análises realizadas são disponibilizadas na plataforma hipermídia do Observatório da Qualidade no Audiovisual, bem nos perfis nas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram.

 

Confira o trabalho realizado pelo grupo:

Levantamento

Análise

Referências:

BORGES; G.; SIGILIANO, D. A ficção seriada brasileira no século XXI: Interrelações entre a qualidade e a literacia midiática. In: Simone Maria Rocha; Rogerio Ferraraz. (Org.). Análise da ficção televisiva: Metodologias e Práticas. 1ed. Florianópolis: Insular, 2019, v. 1, p. 103-120.

______ . Television dialogues in Brazilian fiction: Between production and consumption. Applied Technologies and Innovations, v. 12, p. 54-68, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.15208/ati.2016.05

BORGES, G. Qualidade na TV pública portuguesa: Análise dos programas do canal 2:. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2014.

______ . Diversidade da Programação do Serviço Público de Televisão: pistas para a avaliação do contexto português. In FREIRE FILHO, João (Org.) A TV em transição – Tendências de programação no Brasil e no Mundo. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009, p. 223-246.

______; Reia-Baptista, V. Discursos e Práticas de Qualidade na Televisão. Lisboa: Livros Horizonte/Ciac-Ciccoma, 2008.

JENKINS, H. T is for Transmedia…. Confessions of an aca-fan, 2013. Disponível em: <https://goo.gl/R7u7fR>. Acesso em: 1 jun. 2018.

JOHNSON, S. Tudo que é ruim é bom para você: como os games e a TV nos tornam mais inteligentes. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

MITTELL, J. The qualities of complexity: vast versus dense seriality in contemporary television. In JACOBS, J. PEACOCK, S. (Eds.) Television Aesthetics and style. Nova York: Bloomsbury Academic, 2013.

______. Complexidade Narrativa na Televisão Americana Contemporânea. In Revista Matrizes, São Paulo, v. 5, n.2, p. 29-52, 2012. Disponível em: <http://200.144.189.42/ojs/index.php/MATRIZes/article/viewArticle/8138>. Acesso em: 9 jan. 2016.

SCOLARI, C. Transmedia Literacy: Informal Learning Strategies and Media Skills in the New Ecology of Communication. Revista Telos – Cuadernos de Comunicación e Innovación, 2016,1-9. Disponível em: <https://goo.gl/1KtnZD>. Acesso em: 1 jun. 2018