Equipe
Clara Portella
Daiana Sigiliano
Davi Barroso
Gustavo Furtuoso
Paulo Medeiros
Rebeca Telles
Vinícius Guida
De acordo com Goodwin (1992), Holzback (2016) e Soares (2013) apesar de integrar o cenário midiático desde o século XX, o videoclipe só ganhou relevância na década de 1980. A chegada do canal estadunidense MTV, em 1981, é considerada um marco na consolidação da produção e, consequentemente, dos estudos sobre a linguagem do videoclipe. Como explica Holzback (2016, p. 23) foi a partir da popularização da emissora que “[…] o termo videoclipe (ou music video, em inglês) bem como algumas expressões similares passaram a fazer parte do vocabulário midiático”.
Na contemporaneidade, o videoclipe ganha novas possibilidades criativas e mercadológicas (BEZERRA; COVALESKI, 2016). Plataformas como, por exemplo, o YouTube e o Instagram engendram modos de produção até então inéditos no cenário musical. Além da facilidade distribuição e segmentação dos conteúdos, o ambiente da cultura da convergência potencializa a criação de vídeos pautados por complexas camadas intertextuais e transmidiáticas (VELLAR, 2012; BEZERRA; COVALESKI, 2016). Estimulando a leitura minuciosa e polissêmica do público, e a formação de comunidades em rede para discutir e ressignificar os conteúdos.
Para Goodwin (1992), Vernallis (2004), Holzback (2016) e Vernallis (2004) o videoclipe se configura como uma experiência audiovisual particular. Ao ser norteada por uma estética singular o formato propicia um novo tipo de fruição audiovisual. Em outras palavras, observa-se uma expressão autônoma e ao mesmo tempo complementar de imagem e som. As propostas e abordagens teórico-metodológicas de análise do videoclipe chamam a atenção, de modo geral, para a reflexão detalhada de cada código que compõe o contéudo, não reduzindo o objeto ao algo predominante visual ou sonoro (GOODWIN, 1992; VERNALLIS, 2004). Outro ponto destacado nos estudos do campo é a importância da compreensão do contexto social, político e cultural no qual o artista e/ou o videoclipe em questão está inserido.
A influência e a inter-relação da linguagem do videoclipe no âmbito das narrativas ficcionais seriadas estadunidenses tais como, Miami Vice (1984-1990, NBC), Vinyl (2016, HBO) e Euphoria (2019 – atual, HBO), das telenovelas como, por exemplo, nas aberturas de Avenida Brasil (2012, Rede Globo) e Malhação – Viva a Diferença (2017 – 2018, Rede Globo) e a inserção destas discussões nos estudos realizados no Observatório da Qualidade no Audiovisual reforçam a pertinência deste projeto. Neste sentido, pretendemos refletir de que modo a identidade e os temas que perpassam este conceito são abordados nos videoclipes e quais elementos estéticos e intertextuais compõem estes conteúdos audiovisuais.
Percurso metodológico
Fase 1: Levantamento Bibliográfico e Audiovisual
Inicialmente realizamos o levantamento bibliográfico sobre os estudos do videoclipe no âmbito da Comunicação. A reflexão do estado da arte abrangeu os anais das edições mais recentes da Compós e Intercom e a busca da palavra-chave “videoclipe” no software Publish or Perish, que filtra as estatísticas dos índices de impacto das publicações. A partir deste recorte foram selecionados textos que discutiam questões como, por exemplo, a estética da imagem, o conceito de videoclipe e o seu percurso histórico conjuntural, e as abordagens metodológicas da área (MACHADO, 1988; HOLZBACK, 2016; SOARES, 2013; GOODWIN, 1992; BEZERRA; COVALESKI, 2016). Com base nas leituras, delimitamos os indicadores do Plano do Conteúdo, que iremos detalhar mais adiante, além de outros pontos que integram a reflexão dos vídeos, tais como contexto em que o gênero e o cenário musical e a inter-relação entre imagem e som.
O levantamento audiovisual abrangeu os videoclipes que foram produzidos entre os anos de 2017 e 2019. Os parâmetros de busca dos conteúdos foram divididos em duas etapas, num primeiro momento realizamos uma pesquisa exploratória em sites e blogs especializados em música, lineup de festivais nacionais e editoriais direcionados para a críticas e resenhas sobre os principais lançamentos da cena musical. Posteriormente, buscamos os temas relacionados da identidade em plataformas de vídeo tais como YouTube e Vimeo, além das redes sociais Facebook e Instagram. Ao todo foram encontrados 80 videoclipes abrangendo diversos gêneros musicais.
Fase 2: Categorização do corpus
Com o objetivo de sistematizar e compreender as nuances do 80 videoclipes levantados realizamos uma categorização dos conteúdos. De acordo com Soares (2013) os videoclipes podem ser divididos a partir de sua localização na indústria fonográfica. A categorização proposta por Soares (2013) é pertinente neste projeto, pois nos ajuda a compreender como os temas que tangem a identidade são trabalhados por videoclipes a partir de sua localização e de que modo o contexto social e cultural em que o artista está inserido influencia na abordagem destes assuntos. Dessa forma, foram identificados 46 clipes no centro da indústria fonográfica e 34 a margem.
Posteriormente, o corpus foi categorizado com base no seu formato. Tendo como direcionamento a metodologia de análise adotada neste projeto, os videoclipes foram classificados a partir de três formatos: 1) narrativa, 2) performance e 3) narrativa/performance. A narrativa abarcava vídeos compostos por uma série de acontecimentos encadeados, que geralmente apresentavam elementos como personagem principal, clímax, enredo, tempo, narrador e etc. Na performance os artistas interpretam livremente a canção, e o formato narrativa/performance abrangia videoclipes que apresentavam tanto ações relacionadas quanto trechos do artista encenando a música.
Fase 3: Definição dos parâmetros de análise
Os parâmetros de análise deste projeto foram elaborados a partir dos estudos realizados por Borges (2014), do levantamento bibliográfico e das características de cada categoria definidas no corpus. Nesse contexto, as análises foram norteadas a partir do Plano da Expressão, do Plano do Conteúdo e da Mensagem Audiovisual.
Fase 4: Análise dos videoclipes
Inicialmente foram analisados 18 videoclipes que compõem a categoria narrativa e narrativa/performance, respectivamente. A escolha dos conteúdos teve como justificativa o acesso ao vídeo, a pertinência na discussão da identidade e o tempo de execução este projeto.
Confira o trabalho realizado pelo grupo:
Referências:
BEZERRA, B.; COVALESKI, R. Pós-Modernidade, Entretenimento e Consumo Midiático: a Narrativa Intertextual Bad Blood. Rumores, v. 10, n. 19, p. 190-208, 2016. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/Rumores/article/view/109269> . Acesso em: 10 jun. 2020.
BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOPES, G. L. O corpo educado. Pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/1230>. Acesso em 11 jun. 2020.
BORGES, G. Qualidade na TV pública portuguesa: Análise dos programas do canal 2:. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2014.
DA SILVA, T. T. A produção social da identidade e da diferença. In: DA SILVA, T. T. (Org.). Identidade e diferença – a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2003..
GOODWIN, A. Dancing in the distraction factory: music television and popular music. Mineápolis: University of Minnesota, 1992.
HALL, S. Identidade Cultural e Diáspora. Revista do Patrimônio, IPHAN, n. 24, p. 68-75, disponível em <https://bit.ly/2VLLW1p>. Acesso em 27 abr 2020.
HALL, S. Quem precisa da identidade. In: DA SILVA, T. T. (Org.). Identidade e diferença – a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2003.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
HOLZBACH, A. A invenção do videoclipe: a história por trás da consolidação de um gênero audiovisual. Curitiba: Appris, 2016.
MACHADO, A. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1988.
SOARES, T. A estética do videoclipe. João Pessoa: Editora Universitária, 2013.
VELLAR, A. Spreading the cult body on YouTube: A case study of “Telephone” derivative videos. Transformative Works and Cultures (TWC), v.9, p. 1-11, 2012. Disponível em: <https://journal.transformativeworks.org/index.php/twc/article/view/313/300>. Acesso em: 10 jun. 2020.
VERNALLIS, C. Experiencing music video: aesthetics and cultural context. Nova York: Columbia University Press, 2004.
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: DA SILVA, T. T. (Org.). Identidade e diferença – a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2003..