Fechar menu lateral

Ásia Pop: estudo sobre as produções audiovisuais japonesas e sul-coreanas e seus desdobramentos no contexto brasileiro

Equipe
2020: Hsu Ya Ya e Júlia Garcia
2021: Hsu Ya Ya, Júlia Garcia, Lucas Vieira e Mariana Albuquerque

Este projeto procura mapear e estudar os produtos audiovisuais provenientes de países do leste e sudeste asiáticos, especialmente produções japonesas e sul-coreanas. Nosso intuito é explorar o seu interesse junto aos jovens brasileiros e estudar de que forma este público se engaja e se comunica, tendo em conta as diferenças e as proximidades culturais em relação ao nosso país.

Mangás e Animês

De modo geral, o termo “mangá” faz referência às histórias em quadrinhos japonesas, que também se popularizaram no ocidente. As características que marcam os mangás atuais começaram a ser desenvolvidas na década de 50 por Osamu Tezuka, que mesclou técnicas cinematográficas à estrutura narrativa e se inspirou em personagens da Disney para a construção visual das produções (NAGADO, 2007). A exibição de animês na TV e no cinema propulsionou a difusão dos mangás, cujas histórias se estendem, dentre outras, às plataformas audiovisuais (LUYTEN, 2014).

Os animês, frequentemente inspirados em mangás, são as animações japonesas, dentre séries de TV e filmes longa-metragem. No Brasil, essas produções ganharam espaço na década de 90, com a exibição, na extinta TV Manchete, de Cavaleiros do Zodíaco, o que popularizou o formato junto à mídia e ao público (FARIA, 2008). Outras séries de animê também encontraram grande aceitação no Brasil – e em outros países ocidentais – como Pokémon, Dragon Ball e Naruto, que possuem até jogos derivados. Além da exportação de animês e mangás, o Japão também investiu na produção de dramas de TV – formato que é trabalhado por outros países da região, como a Coreia do Sul.

Dramas de TV

Urbano (2017) define os Dramas de TV como produções seriadas das indústrias televisivas do leste e sudeste asiáticos. Um formato híbrido entre telenovela e séries televisivas que surgiu no Japão na década de 1950 a partir dos doramas – pronúncia japonesa para a palavra drama. O termo não caracteriza o gênero, mas sim o formato, sendo que cada obra costuma apresentar grandes arcos que abrem o primeiro episódio e se encerram no último, dando pouco espaço para que se estendam para outras temporadas. As tramas também apresentam poucos personagens, o que facilita o fechamento dos arcos após alguns episódios. Com o passar do tempo, cada país acabou adquirindo sua identidade regional: os dramas japoneses são conhecidos como doramas, enquanto as produções de Taiwan são conhecidas com TW-dramas, os chineses como c-dramas, os tailandeses como lakorns e os coreanos como k-dramas.

Segundo Vinco, Mazur e Urbano (2014) as temáticas abordadas nessas produções são caracterizadas por relacionamentos românticos e familiares, contextos históricos e nacionais, além do dia-a-dia no trabalho e na escola. Os temas são influenciados por gêneros, formatos, linguagens locais e transnacionais, mas com fortes características da cultura do próprio país onde são produzidos os dramas. Somadas ao advento do “Japão-mania”, tais produções se tornaram “manias nacionais”, gerando uma maior aceitação das culturas asiáticas pelos brasileiros (URBANO, 2017).

Cultura de fãs

Na cultura participativa, o público interage com os produtos audiovisuais, reagindo crítica e criativamente aos conteúdos que consome (JENKINS, 2012). Nesse contexto, os fãs são capazes de ampliar, ressignificar ou reescrever arcos narrativos através de fanfics, ou seja, histórias fictícias em prosa que se inspiram em um universo pré-existente (JAMISON, 2017).

A cultura otaku possui considerável presença nesse meio, sendo que uma das maiores plataformas de fanfictions no Brasil – a Spirit – começou como um espaço voltado aos fãs de animês. De acordo com Azuma (2009), a palavra “otaku” faz referência aos japoneses, geralmente entre 18 e 40 anos, que consomem, produzem e colecionam fanaticamente mangás e animês. No ocidente, o termo se popularizou como referência aos fãs da cultura pop japonesa. Também é possível identificar, hoje, enorme produção de fics relacionadas à Hallyu, ou onda coreana. A K-Wave se refere à popularidade de produtos pop sul-coreanos, os quais englobam não somente produções audiovisuais, mas também música e idols (ALBUQUERQUE E CORTEZ, 2015).

Nesse contexto, a produção de fanfics pode se relacionar diretamente ao domínio da competência midiática por permitir que os fãs se engajem criativamente, desenvolvendo, assim, as suas capacidades de análise, escrita e interpretação. Jenkins (2012, p.23) pontua que esse processo “fortalece os jovens a pensar por si próprios como autores e, portanto, a encontrar suas próprias vozes expressivas, especialmente no contexto da atual cultura participatória”.

Sendo assim, este projeto tem como um de seus principais objetivos o levantamento e a análise de produtos audiovisuais de origem asiática disponibilizados no Brasil, bem como das produções criativas deles advindas, como é o caso das fanfics. Nosso interesse é perceber em que medida estes produtos estimulam o desenvolvimento, pelos fãs, da competência midiática, tendo em conta os seus possíveis desdobramentos.

Percurso metodológico

Primeira fase: Levantamento de animês e doramas

Na primeira fase do projeto, foram levantados manualmente todos os animês disponíveis nas principais plataformas de streaming no Brasil. Foram encontradas 139 séries de animê na Netflix e Amazon Prime Video. Posteriormente, levantou-se quais animês com publicação de mangá no Brasil estão disponíveis na Crunchyroll, plataforma que distribui, principalmente, animações japonesas. Nessa etapa, foram levantados mais 44 animês que não estavam disponíveis nos outros serviços de streaming.

Tanto os mangás como animês são classificados por demografia, ou seja, faixa-etária e público ao qual se destinam. Esse tipo de classificação é utilizado principalmente em revistas de publicação de mangás, como a Weekly Shounen Jump. Embora frequentemente utilize-se o termo “gênero” para se referir à demografia, os gêneros se relacionam mais à temática da narrativa, como ação, comédia e slice of life. Entretanto, as fronteiras entre gênero e demografia frequentemente se esmaecem. As principais classificações de demografia são: Kodomo, Shounen, Shoujo, Seinen e Josei. A divisão dos animês por demografia foi feita com base no mangá de origem, ou seja, em que tipo de revista houve publicação da obra. As produções que não possuíam demografia clara, por não serem baseadas em mangá, foram encaixadas na classificação demográfica de acordo com os temas trabalhados e a classificação indicativa.

Levantou-se, ainda, os doramas e dramas baseados em mangá disponíveis nas plataformas de streaming, já que, em um primeiro momento, buscou-se relacionar animês, mangás e dramas de TV, com foco na experiência japonesa. Para a pesquisa, utilizou-se as tags “dramas japoneses” e “baseados em mangá” na plataforma Netflix, enquanto a coleta na Amazon Prime Video foi feita manualmente devido à ausência de categorias no motor de busca.

Segunda fase: Levantamento e análise de fanfics

Buscando abranger as ligações entre obra e fãs, bem como as relações entre a escrita criativa e a competência midiática, optou-se por iniciar a pesquisa mediante a análise de fanfics. De modo a interseccionar os dois levantamentos realizados, foram selecionados os títulos que possuíam tanto animês quanto dramas: Hana Yori Dango (Boys Over Flowers/Boys Before Flowers), Mob Psycho 100 e Erased (Boku Dake ga Inai Machi). Posteriormente, foram levantadas as fanfics relacionadas a tais produções nas principais plataformas de publicação dessas histórias no Brasil: Spirit Fanfics, Nyah! Fanfiction, Fanfics Brasil e Fanfic Obsession. Devido à grande quantidade de fics disponíveis para análise, decidiu-se trabalhar com as produções envolvendo Hana Yori Dango.

Dessa forma, dentre as fanfics levantadas, foram selecionadas seis histórias one-shot (capítulo único) para integrar o escopo de análise. O estudo das histórias foi orientado pelas pontuações de Jenkins (2012) sobre escrita crítica e criativa de fanfics e pelas relações entre produções de fãs e as dimensões propostas por Ferrés e Piscitelli (2015) no âmbito da competência midiática.

Terceira fase: Levantamento e análise de dramas do leste e sudeste asiáticos

A terceira fase do projeto utiliza como base a metodologia de análise da qualidade no audiovisual em desenvolvimento no Observatório. Com o objetivo de ampliar os estudos relativos à Ásia no que tange produções audiovisuais, foi realizado um levantamento de dramas no MDL – MyDramaList –, uma comunidade online de usuários ao redor do mundo que trabalha de forma colaborativa para a atualização de produções de dramas e filmes asiáticos, além da criação de um banco de dados também de atores e atrizes. Foram levantados os dramas de TV lançados no período de 2020 a 2021, considerando as produções de China, Tailândia, Japão, Filipinas, Taiwan, Coreia do Sul e Hong Kong. Selecionou-se os três dramas de cada país com as melhores avaliações da comunidade no MDL e no IMDb – ou Internet Movie Database, que, assim como o MyDramaList, também funciona como um banco de dados, com foco em filmes, séries, programas de TV, dentre outros. Devido à ausência de dramas de Hong Kong no período analisado e ao grande número de episódios e à consequente impossibilidade de análise dos dramas chineses, tais produções foram desconsideradas nessa fase. Desse modo, dos dezoito dramas levantados, onze foram selecionados para análise, de acordo com a disponibilidade da produção, número de episódios e país de origem.

 

Confira o trabalho realizado pelo grupo:

Levantamento

Análises

 

Referências

ALBURQUERQUE, Afonso; CORTEZ, Krystal. Cultura Pop e Política na Nova Ordem Global: lições do Extremo Oriente. In: CARREIRO, Rodrigo; FERRARAZ, Rogério; SÁ, Simone Pereira de (Org). Cultura Pop. Salvador: Edufba, 2015.

AZUMA, Hiroki. Otaku: Japan’s Database Animals. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2009. 144 p.

FARIA, Mônica. História e narrativa das animações nipônicas: algumas características dos animês. In: Actas de Diseño: Diseño en Palermo/III Encuentro Latinoamericano de Diseño, v. 3, n. 5, 2008, p.150-157. Disponível em: https://fido.palermo.edu/servicios_dyc/publicacionesdc/archivos/1_libro.pdf. Acesso em 12 fev. 2019.

FERRÉS, J.; PISCITELLI, A. Competência midiática: proposta articulada de dimensões e indicadores. In Lumina, Juiz de Fora, v. 9, n. 1, p.1-16, jun. 2015. Disponível em: https://lumina.ufjf.emnuvens.com.br/lumina/article/view/436. Acesso em: 17 jun. 2020.

JENKINS, H. Lendo criticamente e lendo criativamente. In Matrizes, v.9, n.1, p. 11-24, 2012. Disponível em: < https://bit.ly/2I9TWnn>. Acesso em: 17 jun. 2020

LUYTEN, Sonia. Mangá e animê: Ícones da Cultura Pop Japonesa. 2014. Disponível em: https://fjsp.org.br/estudos-japoneses/artigo/manga_anime_sonia_luyten/. Acesso em: 12 fev. 2019.

NAGADO, Alexandre. Almanaque da cultura pop japonesa. São Paulo: Via Lettera, 2007.

VINCO, A, MAZUR, D, URBANO, K. Fãs, Mediação e Cultura Midiática: Dramas Asiáticos no Brasil. Anais… I Jornada Internacional Geminis: Entretenimento Transmídia, São Carlos, 2014. Disponível em: https://www.academia.edu/9152520/Fãs_Mediação_e_Cultura_Midiática_Dramas_Asiáticos_no_Brasil. Acesso em: 3 jun. 2019.

URBANO, K. Entre japonesidades e coreanidades pop: da Japão-Mania à Onda Coreana no Brasil. Anais… INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação: 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Curitiba, 2017. Disponível em: https://www.academia.edu/34330553/Entre_japonesidades_e_coreanidades_pop_da_Japão-Mania_à_Onda_Coreana_no_Brasil. Acesso em: 3 jun. 2019.