Fechar menu lateral

Informativo 152 – Efeito estufa e vegetação

1 – Emissão de gases de efeito estufa no Brasil sobe 62% em 15 anos

2 – Clima faz vegetação da Amazônia subir os Andes, diz estudo

 

1 – Emissão de gases de efeito estufa no Brasil sobe 62% em 15 anos

 

Aumento entre 1990 e 2005 é mais de duas vezes maior que a média mundial, indicam dados do 2º inventário do país

Marta Salomon escreve para a “Folha de SP”:

 

Puxadas pelo desmatamento da Amazônia e do Cerrado, as emissões de gases de efeito estufa no Brasil aumentaram 62% em 15 anos, entre 1990 e 2005, segundo o inventário oficial de emissões, cujos dados preliminares foram apresentados nesta quarta-feira (25/11) pelo ministro Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia). A previsão era de que o inventário só fosse sair em 2010. 

“O aumento é muito inferior ao da Índia e da China: nesses países as emissões mais do que dobraram”, avaliou o ministro. Mas o percentual brasileiro é mais do que o dobro da média mundial de aumento do lançamento de gases responsáveis pelo aquecimento global, que foi de 28% no período.

Supera também, ainda que bem ligeiramente, a média do crescimento das emissões da parte não desenvolvida do planeta, de 61,3%.

O país lançou carbono na atmosfera num ritmo mais acelerado do que o crescimento da economia. No mesmo período de 15 anos, o PIB brasileiro cresceu 47,4%. O aumento das emissões teria sido maior caso o Ministério de Ciência e Tecnologia não tivesse corrigido o volume de emissões registrado em 1990 e anunciado no primeiro inventário nacional, em 2004. “A correção foi significativa, de mais de 10%”, contou Sergio Rezende.

Em 2005, de acordo com o novo inventário, os gases de efeito estufa lançados na atmosfera somaram pouco mais de 2,2 bilhões de toneladas.

Tudo somado, o Brasil continua sendo o quinto maior poluidor do planeta, atrás de China (7,5 bilhões de toneladas), Estados Unidos (6 bilhões), União Europeia (4,6 bilhões) e Indonésia (2,3 bilhões).

Esse número é maior do que a estimativa preliminar feita pelo Ministério do Meio Ambiente em mais de 200 milhões de toneladas de carbono. Supera também estimativa feita recentemente pelo grupo de Carlos Cerri, da USP de Piracicaba, diante do atraso na divulgação de dados oficiais.

Segundo Tasso Azevedo, responsável pela elaboração da estimativa do Ministério do Meio Ambiente, a discrepância se deve ao fato de que o inventário divulgado nesta quarta-feira (25/11) alterou para cima a quantidade de gás carbônico contida em cada hectare de floresta. O primeiro e único inventário brasileiro, referente a 1994, considerava apenas 98 toneladas por hectare em toda a Amazônia -um número conservador. “Já era esperado que quando se fizesse a conta mais precisa esse valor fosse mudar”, afirmou Azevedo.

Florestas

O desmatamento responde, no inventário, por mais da metade da emissão de gases de efeito estufa no Brasil em 2005. Em 15 anos, o lançamento de carbono pelo uso do solo aumentou a participação do bolo total de 54,8% para 57,5%. O aumento entre 1990 e 2005 foi de 70%. Mas esses números ainda refletem o auge do ritmo de desmatamento da Amazônia, registrado em 2004.

Depois do desmatamento, a queima de combustíveis fósseis na geração de energia, nos transportes e na indústria também registrou aumento no período alcançado pelo inventário, de 68%. Diferentemente das emissões causadas por desmatamento, a tendência na área de energia é registrar novos aumentos. A participação do setor energia aumentou de 15,8% para 16,4% em 15 anos.

Ao divulgar o inventário, o Ministério de Ciência e Tecnologia ponderou que os diferentes gases de efeito estufa têm pesos diferentes no aquecimento global. Nota do ministério diz que as projeções de emissões convertidas ao equivalente em gás carbônico “propiciaria políticas de mitigação inadequadas” -embora esse tenha sido o parâmetro usado pelo governo nas metas anunciadas duas semanas atrás.

O objetivo oficial é cortar entre 36,1% e 38,9% dos 2,7 bilhões de toneladas de gás carbônico que o país lançaria na atmosfera em 2020 caso não tomasse nenhuma medida de corte nas emissões. Em relação a 2005, esse corte estava sendo estimado em 15% pelo Ministério do Meio Ambiente, mas sobe para 25% com o dado do inventário -superando a meta anunciada pelo governo de São Paulo, de cortar 20% em relação aos níveis de 2005.

Política nacional

A meta nacional de corte entre 36,1% e 38,9% aprovada nesta quarta-feira (25/11) em votação no Senado como parte da Política Nacional de Mudanças Climáticas. Vai agora à Câmara, a tempo de ser convertida em lei antes do encontro de Copenhague.

Com apoio de representantes da indústria e do agronegócio, governo e oposição rejeitaram emenda da senadora Marina Silva (PV-AC), que propunha corte de pelo 20% das emissões até 2020, com base nos números do inventário divulgados nesta quarta-feira.

Segundo Rezende, o documento completo ainda passará por nova checagem e por consulta pública antes de ser publicado oficialmente, até março. (Folha de SP, 26/11)

 

2 – Clima faz vegetação da Amazônia subir os Andes, diz estudo

 

Doenças como malária também estariam avançando; espécies sobem até 25 metros por década

As mudanças climáticas parecem estar levando árvores típicas da Floresta Amazônica e doenças antes limitadas a regiões mais baixas a subir as encostas dos Andes, no sudeste do Peru.

As plantas sobem a uma taxa média de 25 metros por década de acordo com uma pesquisa da universidade britânica de Oxford, coordenada pelo professor Yadvinder Malhi, diretor do Centro de Florestas Tropicais.

Ao mesmo tempo, algumas autoridades sanitárias peruanas afirmam ter constatado um aumento no número de casos de malária, dengue e bartonellose em altitudes em que as doenças não eram comuns, e a taxa de mortalidade das doenças nestas “novas” áreas é de 30%.

Entre as plantas, 37 das 115 espécies de vegetação amazônica identificadas na região estão subindo ainda mais rapidamente, a uma taxa de 3,78 metros por ano.

“A Amazônia está se aquecendo rapidamente, e para garantir a sua sobrevivência, algumas espécies já começaram a migrar para cima”, disse Malhi.

Na altitude

A área estudada fica entre a floresta amazônica próxima a Puerto Maldonado, no Peru, e os bosques a cerca de 3,45 mil metros de altitude, nos arredores da reserva biológica de Wayquecha.

Os estudiosos realizaram um levantamento inicial em 2003, repetindo-o em 2007.

“A Cyathea, uma árvore de samambaia, é o gênero que mais migrou, mas outros também migraram, como o Hedyosmum, Clethra, Clusia, Schlefflera, Miconia e Virola”, disse a pesquisadora Natividad Rauran Quisiyupanqui, que integra a equipe no Peru.

“Começamos a notar essas mudanças com mais força a partir de 98, com o fenômeno do El Niño. A partir de então, começamos a ver uma espécie de ruptura e uma mudança ecológica nas enfermidades”, afirmou.

No entanto, há também vários estudos que questionam uma relação direta entre mudança climática e distribuição geográfica de doenças.

Para a especialista em Epidemiologia Ambiental da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Sari Kovats, faltam provam científicas que indiquem uma maior incidência de doenças tropicais nos Andes provocadas por um aumento de temperaturas.

Escalada lenta

No caso das plantas, a relação parece ser direta, mas os cientistas descobriram que a velocidade de migração das plantas não acompanha as estimativas de aquecimento, que variam entre conservadores 2ºC nos próximos cem anos a até 4ºC ou 5ºC.

“As árvores estão avançando em média 25 metros por década. É um passo largo, mas se fosse manter o ritmo das mudanças climáticas, a velocidade deveria dobrar”, afirmou Malhi.

Além disso, a estratégia de migração não é tão eficiente para todos os gêneros e espécies. Ela depende de como as sementes são dispersadas. Aquelas dispersadas por aves ou pelo vento podem chegar mais longe, mas as que dependem de animais podem correr mais riscos.

Para os cientistas, no entanto, um dos principais obstáculos é o fator humano. Para que as plantas possam, seria necessário um corredor natural para que elas se dispersassem.

De acordo com o estudioso Timothy J. Killeen, entretanto, aos pés dos Andes “há petróleo, biocombustíveis, pessoas com fome em busca de terras para cultivar, além de homens ambiciosos que querem se encher de dinheiro com o ouro depositado durante milhões de anos nos sedimentos aluviais da Amazônia”.

‘Fim de espécies’

Killeen é o autor do livro “A Perfect Storm in the Amazon Wilderness” (Uma Tempestade Perfeita na Amazônia Selvagem, em tradução livre), que debate as mudanças que ameaçam a biodiversidade na região amazônica.

Mas, na opinião dos cientistas, mesmo que se possa “auxiliar” na migração das espécies Andes acima, existem limites naturais para tal migração.

Ou seja, independentemente do que possa ser feito “as comunidades de plantas como as conhecemos hoje não existirão no futuro. Serão destruídas e veremos novas comunidades como resultado da adaptação de cada espécie”, afirmou Malhi.

O destino final de diversas delas é o garimpo. A atividade muitas vezes visa garantir o sustento de famílias acuadas pela falta de oportunidades em cidades mais altas, como Puno, Cuzco e Arequipa, mas é uma das principais causa dos desmatamento na região.

O desmatamento na Amazônia é tido como uma das principais causas do aquecimento global, que, por sua vez, estaria levando a vegetação e as doenças Andes acima.

Garimpo

Para explorar o ouro, os garimpeiros dragam trechos de lagos e rios, revolvendo e destruindo o solo de praias e florestas.

No passo seguinte, ao separar o ouro da areia, eles usam mercúrio, que por sua vez contamina o solo, a água e a atmosfera.

Organizações não-governamentais que trabalham em Puerto Maldonado, a capital da região, afirmam que cerca de 30mil pessoas trabalham informalmente no garimpo.

O Ministério do Meio Ambiente admite que das 2,8 mil concessões de exploração existentes na região, apenas 16 apresentaram estudos de impacto ambiental.

Na tentativa de brecar este crescimento desordenado, os ministérios do Meio Ambiente e das Minas e Energia suspenderam a concessão de licenças por dois anos.

O próprio ministro do Meio Ambiente, Antonio Brack, classificou a atividade mineradora informal de “câncer” reconheceu que “é um dos maiores problemas ambientais do país”. (BBC, 26/11)