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Informativo 113 – Atlântico e fungos

1 – Cientistas iniciam censo da vida nas profundezas do Atlântico Sul

2 – Descobertos novos fungos luminescentes

 

1 – Cientistas iniciam censo da vida nas profundezas do Atlântico Sul

Estudo vai propiciar conhecimento sobre a vida submarina da área mais inexplorada do planeta
O programa mundial de Censo da Vida Marinha (Census of Marine Life), que consiste no levantamento da biodiversidade das regiões de cordilheiras de montanhas submarinas no Oceano Atlântico Sul, por meio do programa Mar-Eco Atlântico Sul, já tem data para iniciar suas pesquisas de campo.
No próximo mês pesquisadores brasileiros, uruguaios, sul-africanos e russos embarcam no navio oceanográfico russo Akademik Yoffe, do Instituto Shirshov de Oceanologia, para a primeira viagem de estudos sobre a biodiversidade profunda da cordilheira meso-oceânica do Atlântico Sul.
A expedição, capitaneada, no hemisfério sul, pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), de Santa Catarina, inicia no dia 26 de outubro em Las Palmas, Gran Canária, na Espanha, encerrando no dia 2 de dezembro na Cidade do Cabo, África do Sul.
Nos cerca de 4,3 mil quilômetros de percurso da embarcação, dados físico-químicos, peixes, microorganismos e invertebrados associados ao fundo do mar serão amostrados em dez estações de coleta dispostas ao longo da cordilheira, em profundidades que variam de mil a três mil metros.
Na ocasião também serão registrados dados contínuos sobre os mamíferos marinhos como baleias e golfinhos habitantes das áreas oceânicas.
O projeto é uma continuidade de estudos realizados no Atlântico Norte e conta com a participação de cientistas de 16 instituições do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, África do Sul, Namíbia, Nova Zelândia e Noruega.
“Trata-se de uma iniciativa inédita para o Atlântico Sul e consiste no levantamento da biodiversidade e da distribuição de organismos dos ecossistemas profundos associados às estruturas geológicas da cadeia de montanhas meso-oceânicas”, diz José Angel Alvarez Perez, pesquisador do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar/Univali), e coordenador do programa.
Essas cadeias de montanhas se estendem por 14 mil quilômetros, de norte a sul, e se elevam a dois mil metros de altura do assoalho oceânico no centro do Atlântico.
“Além de exercer forte influência nos padrões de circulação e na distribuição da vida marinha, esta cadeia de montanhas submersas constitui uma das feições mais proeminentes e menos conhecidas do fundo oceânico”, explica Angel.
Ele diz, ainda, que os objetivos da pesquisa levam em conta a necessidade de suprir a escassez de conhecimento da biodiversidade de águas profundas, ou seja, do que existe submerso no centro do Atlântico Sul.
“Este conhecimento é importante uma vez que as áreas costeiras são mais antigas e podem servir como fontes de espécies colonizadoras para os habitats recentemente formados pela separação das placas tectônicas que ocorrem continuamente nestas cadeias de montanhas”, relaciona o pesquisador.
Angel destaca que algumas estruturas geológicas associadas à cadeia central não existem no Atlântico Norte: “São cadeias de montanhas perpendiculares que ligam o centro do oceano até a costa, tanto no litoral brasileiro, no Rio Grande do Sul, como na costa da África, e que podem ter importante papel na dispersão da vida marinha profunda”, diz.
Outro ponto importante, segundo o pesquisador, é o fato do Atlântico Sul ser o último oceano a surgir na separação dos continentes conectando esse oceano a outros três já existentes: o Índico, o Antártico e o Pacífico. A pesquisa vai tentar apontar como essa conexão tem afetado a biodiversidade profunda do Atlântico e dos oceanos vizinhos.
(Informações da Assessoria de Comunicação da Univali).

2 – Descobertos novos fungos luminescentes

Grupo liderado por pesquisador da USP descobriu sete novas espécies de cogumelos luminescentes no Brasil
Silvia Pacheco escreve para o “Correio Braziliense”:
A bioluminescência é um fenômeno natural comum em alguns grupos de animais, como vaga-lumes, pirilampos, mosquitos, peixes e moluscos. Ela também ocorre, embora de forma mais rara, em espécies de fungos. 
Recentemente, uma pesquisa coordenada por Cassius Vinícius Stevani, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), descobriu sete novas espécies de cogumelos luminescentes no Brasil. Até recentemente, o conhecimento sobre as espécies desse tipo estava concentrado em regiões temperadas da Ásia e da Oceania, seguidas das Américas.
A maioria dos fungos encontrados no país está no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), em Iporanga (SP). Outros foram achados no Piauí, no Paraná, em Mato Grosso do Sul e nas proximidades de Manaus.
Entre eles, está o Gerronema viridilucens, usado com sucesso para avaliar a toxidade de metais e compostos orgânicos e que, no futuro, pode servir como biossensor em análises toxicológicas de solos contaminados.
Segundo Stevani, o fungo emite uma quantidade de luz que pode ser medida. “Esse nível é comparado com a emissão 24 horas depois de a placa com a cultura ser exposta a diferentes concentrações de um agente tóxico”, explica.
A aplicação do poluente diminui a intensidade da luz. “Com os dados, é calculado o parâmetro toxicológico EC50, que aponta a quantidade do composto necessária para reduzir a luminosidade do fungo à metade. Quanto menor o valor de EC50, maior a toxicidade.”
A descoberta dessas espécies de fungos também abre espaço para estudos sobre o processo de emissão de luz. “Ainda não se sabe por que os fungos emitem luz, se eles tiram, do ponto de vista biológico, alguma vantagem dessa emissão. Algumas teorias afirmam que ela serve para atrair insetos disseminadores de esporos ou, ao contrário, para repelir seres fotofóbicos. Mas nenhuma delas foi comprovada. Ainda há a possibilidade de a emissão de luz estar ligada a algum processo antioxidante, evitando danos ao organismo do fungo por radicais livres”, afirma o pesquisador.
Ele acredita que as pesquisas sobre esses seres permitirão descobrir a estrutura das enzimas envolvidas nesses processos, o que poderá levar a novas descobertas em diversas áreas, como a de ensaios clínicos e biologia molecular.
Os fungos bioluminescentes geralmente são pequenos e podem emitir luz em todo o cogumelo, ou apenas no píleo (chapéu) ou estipe (cabinho). A luz é sempre verde, apesar de difícil identificação, por ser de baixa intensidade. Eles são retratados no filme “Vida de inseto”, servindo como iluminação do formigueiro.
“Nosso país tem a maior biodiversidade do mundo. Para podermos preservar as espécies existentes, devemos conhecê-las e estudá-las. Preservar não é proibir o acesso, mas conhecer a fundo. O estudo de organismos bioluminescentes, dentre os quais os fungos, poderá contribuir para um melhor entendimento do funcionamento desses e de outros organismos eucariontes, levar ao desenvolvimento de novos ensaios clínicos, analíticos e toxicológicos, bem como propiciar o desenvolvimento tecnológico do país”, afirma Stevani.
(Correio Braziliense, 30/9)