1 – Cresce ameaça à Mata Atlântica
2 – Extinção de espécies está dez mil vezes mais veloz do que se imaginava, alerta pesquisa
3 – Plantas brasileiras podem ajudar a enfrentar impactos das mudanças climáticas
1 – Cresce ameaça à Mata Atlântica
Apesar da Lei da Mata Atlântica para proteção de florestas, aprovada em 2006, a devastação prossegue
Importante campanha vem sendo conduzida há anos por entidades ambientalistas, pela mídia, universidades, empresas e cidadãos para salvar a Mata Atlântica, hoje considerada um dos biomas mais ameaçados de extinção em todo o mundo. Como resultado, foi aprovada em 2006 a Lei da Mata Atlântica, que deu incentivos aos produtores rurais e municípios para a proteção de florestas, foram criadas dezenas de unidades de conservação e realizados acordos para ganhar o apoio de governos estaduais. Mesmo assim, a devastação prossegue. Como revela o recém-lançado Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmate na área avançou 9% em 2013, o que significa que foram perdidos 23.948 hectares (239 quilômetros quadrados).
Este nível é pouco superior ao registrado em 2012 (23.548 hectares). É uma tendência decepcionante para todos os que julgaram que a fase de redução drástica desse riquíssimo patrimônio de biodiversidade já estivesse praticamente superada em razão da existência de dezenas de áreas de preservação permanente (APPs) e de reservas particulares de patrimônio natural (RPPNs). A permanecer nesse ritmo, o grande temor é de que, em futuro não muito distante, só permaneçam intocadas as áreas do bioma muito montanhosas ou de difícil acesso.
O estrago teria sido maior se alguns Estados, como São Paulo e o Rio de Janeiro, não tivessem aperfeiçoado a fiscalização para conter a derrubada de árvores e as queimadas na pequena faixa que lhes resta da Mata Atlântica, além das medidas para dar maior proteção a manguezais e restingas. A situação é muito mais preocupante nos Estados de Minas Gerais, Piauí, Bahia e Paraná. Minas, com 8.437 hectares destruídos, lidera esse triste ranking, pelo quinto ano consecutivo, evidenciando quanto ainda prosperam a atividade de madeireiras e a queima de florestas para obtenção de carvão para abastecer siderúrgicas, em flagrante desrespeito à lei.
Como informou ao Estado (27/5) a diretora executiva da SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, depois da edição do Atlas de 2012 a entidade negociou uma moratória com o governo mineiro, pela qual as autoridades estaduais se comprometeram a não conceder licenças para supressão da vegetação nativa do bioma e a revisar autorizações anteriores. Isso pode ter impedido que a devastação fosse maior, mas não acabou com as irregularidades, como afirmou o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador das procuradorias de Meio Ambiente de Minas.
Existem ou foram criadas brechas na malha burocrática em proveito de proprietários de terras ou indivíduos inescrupulosos em busca de lucros fáceis. Ferreira Pinto relatou o caso de uma fazenda que suprimiu 8 mil hectares de mata nativa, sem estudo de impacto ambiental. Isso foi feito com base em uma autorização irregular para “abrir” picadas na mata fechada. O corte de árvores, que deveria ser pouco significativo, foi o pretexto para uma extensa derrubada.
Além de artimanhas ilegais como essa, motivo de várias ações já ajuizadas pelo Ministério Público, há evidente falta de fiscalização. A Secretaria do Meio Ambiente de Minas admite que há dificuldades para que seus fiscais atuem em áreas distantes da capital, onde existem remanescentes da Mata Atlântica. É uma desculpa esfarrapada. Não só aquele Estado tem investido pouco nessa área, como o Atlas não faz menção à colaboração que poderia prestar o Instituto Brasileiro de Proteção ao Meio Ambiente (Ibama), que coloca o bioma entre suas prioridades.
O Atlas deixa claro que é urgente uma ação concentrada dos governos estaduais e federal para deter a investida sobre a Mata Atlântica. Além de seus vilões tradicionais, o ecossistema está também sendo ameaçado pela pressão da cultura da soja. Isso ocorre, segundo Márcia Hirota, com o avanço da soja no sudoeste do Piauí, onde o Cerrado se encontra com a Mata Atlântica. Para sua surpresa, constatou-se ali a supressão de mais de 5 mil hectares do bioma. (Estado de S.Paulo) http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,cresce-ameaca-a-mata-atlantica,1173775,0.htm
2 – Extinção de espécies está dez mil vezes mais veloz do que se imaginava, alerta pesquisa
Ação humana sobre a natureza é tão destruidora quanto o fenômeno que causou o fim dos dinossauros
A ação humana acelerou em mil vezes a extinção de espécies, de acordo com um estudo publicado esta semana na revista “Science”. Novas tecnologias para mapear o desmatamento e a destruição de habitats permitiram uma revisão dos números que serviam como base para encontros internacionais, como a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD).
Se não houver ações urgentes, o impacto provocado pelo homem no meio ambiente causaria a sexta maior extinção em massa da História do planeta – uma das anteriores foi o desaparecimento dos dinossauros.
Não é simples estimar quantas espécies foram extintas desde o início do século XX, já que, segundo estimativas, apenas 3,6% delas são conhecidas pelos cientistas. Para calcular a velocidade das extinções, os cientistas criaram um modelo matemático levando em conta o percentual de desaparição das espécies conhecidas em relação a sua população total e extrapolaram os resultados.
O estudo defende que a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas seja radicalmente ampliada – a publicação abrigaria 160 mil espécies que correm o risco de extinção, em vez de 70 mil, como ocorre hoje. Esta atualização da listagem pode levar à criação de novas políticas de conservação ambiental.
– Hoje temos novas tecnologias para detectar o desmatamento e analisar o deslocamento de cada espécie – avalia Clinton Jones, coautor do estudo e pesquisador do Instituto de Pesquisas Ecológicas do Brasil (Ipê). – A maioria vive fora das áreas protegidas, por isso a compreensão da mudança de seus ecossistemas é vital. É uma oportunidade para atualizar mapas sobre os impactos e as ameaças a cada área.
Coautor do levantamento, Stuart Limm, professor de Ecologia de Conservação da Universidade de Duke (EUA), ressalta que ainda existe uma “cratera” entre o que os pesquisadores sabem e o que ignoram sobre a biodiversidade do planeta. A tecnologia, no entanto, está preenchendo este espaço, além de estender o acesso a dados científicos para amadores. Bancos de dados on-line e até aplicativos de smartphones facilitam a identificação de espécies.
– Quando combinamos informações sobre o uso da terra com as observações de milhões de cientistas amadores, conseguimos acompanhar melhor a biodiversidade e suas ameaças – assinala. – No entanto, precisamos desenvolver tecnologias ainda mais sofisticadas para sabermos qual é a taxa de extinção das espécies.
Espaço restrito
O homem eliminou os principais predadores e outras grandes espécies. As savanas africanas, por exemplo, já cobriram 13,5 milhões de km². Agora, os leões dispõem de somente 1 milhão de km². Trata-se de um exemplo de como a restrição do espaço colabora para as extinções.
– Sabemos que muitas espécies terrestres ocupam pequenas áreas, algumas menores do que o Estado do Rio. – alerta Jones. – Espécies distribuídas em pequenas regiões estão mais vulneráveis à extinção. Precisamos concentrar nossos projetos de conservação nestes locais.
Um dos pontos mais críticos é a Mata Atlântica, uma das 34 regiões do planeta onde há maior número de espécies exclusivas – ou seja, aquelas que só ocorrem naquele local – enfrentando risco de extinção.
– A floresta remanescente está degradada e há muitas espécies exclusivas em todos os seus ambientes, do solo às montanhas – destaca Jones. – Sua preservação deve ser uma prioridade mundial.
Os oceanos são ainda menos preservados. Somente 2% de suas espécies seriam conhecidas. (Renato Grandelle / O Globo) http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/extincao-de-especies-esta-dez-mil-vezes-mais-veloz-do-que-se-imaginava-alerta-pesquisa-12655770#ixzz33Cw1T5yR
Outra matéria sobre o assunto:
Folha de São Paulo
Homem acelerou ritmo de extinções em mil vezes http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/168399-homem-acelerou-ritmo-de-extincoes-em-mil-vezes.shtml
3 – Plantas brasileiras podem ajudar a enfrentar impactos das mudanças climáticas
Elas estão entre as espécies do país com grande capacidade adaptativa, tolerantes à escassez hídrica e a temperaturas elevadas
A seriguela e o umbuzeiro, árvores comuns do Semiárido nordestino, e a sucupira-preta, do Cerrado, fazem parte de um grupo de plantas brasileiras que poderão desempenhar um papel importante para a agricultura no enfrentamento das consequências das mudanças climáticas. Elas estão entre as espécies do país com grande capacidade adaptativa, tolerantes à escassez hídrica e a temperaturas elevadas.
De acordo com Eduardo Assad, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Tecnológica em Informática para a Agricultura (CNPTIA) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o estudo do genoma dessas espécies pode ajudar a tornar culturas como soja, milho, arroz e feijão tão resistentes quanto elas aos extremos climáticos. Assad foi um dos palestrantes no quarto encontro do Ciclo de Conferências 2014 do programa BIOTA-FAPESP Educação, realizado no dia 22 de maio, em São Paulo.
“O Cerrado já foi muito mais quente e seco e árvores como pau-terra, pequi e faveiro, além da sucupira-preta, sobreviveram. Precisamos estudar o genoma dessas árvores, identificar e isolar os genes que as tornam tão adaptáveis. Isso pode significar, um dia, a chance de melhorar geneticamente culturas como soja e milho, tornando-as igualmente resistentes”, disse. “Não é fácil, mas precisamos começar.”
Assad destaca que o Brasil é líder em espécies resistentes. “O maior armazém do mundo de genes tolerantes ao aquecimento global está aqui, no Cerrado e no Semiárido Nordestino”, disse em sua palestra O impacto potencial das mudanças climáticas na agricultura.
Os modelos de pesquisa realizados pela Embrapa, muitos deles feitos em colaboração com instituições de outros 40 países, apontam que a redução de produtividade de culturas como milho, soja e arroz decorrente das mudanças climáticas deve se acentuar nas próximas décadas. “Isso vale para as variedades genéticas atuais. Uma das soluções é buscar genes alternativos para trabalhar com melhoramento”, disse Assad.
Outras plantas do Cerrado com grande capacidade adaptativa lembradas pelo pesquisador são a árvore pacari e os frutos do baru e da cagaita. No Semiárido Nordestino, árvores como a seriguela, o umbuzeiro e a cajazeira foram apontadas como opções importantes não só para estudos genéticos como também para programas voltados à geração de renda pela população local.
“Em vez de produzir culturas exóticas à região, é preciso investir naquelas que já fazem parte da biodiversidade nordestina e têm potencial de superar as consequências do aquecimento global”, adiantou Assad.
Para o melhoramento de espécies, de forma a que se tornem tolerantes ao estresse abiótico, a Embrapa planeja lançar, em 2015, uma soja resistente à deficiência hídrica, produzida a partir de um gene existente em uma planta do Japão. “Testamos essa variedade este ano, no Paraná, em um período sem chuvas. Ainda há estudos a serem feitos, mas ela está se saindo muito bem”, disse o pesquisador.
Assad também citou avanços empreendidos pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), que já lançou quatro cultivares de feijão com tolerância a temperaturas elevadas, além de pesquisas feitas no município de Varginha (MG) em busca de variáveis mais tolerantes para o café.
Prejuízos e mudanças no sistema produtivo
Cálculos da Embrapa feitos com base na produtividade média da soja mostram que somente esse grão acumulou mais de US$ 8,4 bilhões em perdas relacionadas às mudanças climáticas no Brasil entre 2003 e 2013. Já a produção de milho perdeu mais de US$ 5,2 bilhões no mesmo período.
A área considerada de baixo risco para o cultivo do café arábica deve diminuir 9,45% até 2020, causando prejuízos de R$ 882 milhões, e 17,15% até 2050, elevando as perdas para R$ 1,6 bilhão, de acordo com análises feitas na Embrapa e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Diante dos prejuízos, outra solução apontada por Assad é a revisão do modelo produtivo agrícola. “A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera aumentou mais de 20% nos últimos 30 anos, tornando indispensável a implantação de sistemas produtivos mais limpos”, disse à Agência FAPESP.
“O Brasil é muito respeitado nesse tema, em especial porque reduziu o desmatamento na Amazônia e, ao mesmo tempo, ampliou a produtividade na Região Amazônica”, disse.
Segundo Assad, isso abre canais de diálogo sobre a sustentabilidade na agricultura e sobre a adoção de estratégias como integração entre lavoura, pecuária e floresta, plantio direto na palha, uso de bactérias fixadoras de nitrogênio no solo, rochagem (uso de micro e macronutrientes para melhorar a fertilidade dos solos), aplicação de adubos organominerais, além do melhoramento genético.
“O confinamento do gado é outro ponto que está em discussão por pesquisadores e criadores em diversas partes do mundo. Ele pode resultar em menos emissão de gases de efeito estufa, mas torna o rebanho mais vulnerável à doença da vaca louca. Nesse caso, uma alternativa é a recuperação de pastos degradados”, afirmou Assad.
Estudos feitos na Embrapa Agrobiologia mostram que um quilo de carne produzido em pasto degradado emite mais de 32 quilos de CO2 equivalente por ano. Já em pasto recuperado a partir do que a agricultura de baixa emissão de carbono preconiza, a emissão por quilo de carne pode ser reduzida a três quilos de CO2 equivalente anuais.
“Isso mostra que ambientalistas, ruralistas, governo e setor privado precisam sentar e decidir o que fazer daqui em diante – qual sistema de produção adotar? Com ou sem pasto? Com ou sem árvores? Rotacionado ou não? São mudanças difíceis, de longo prazo, mas muitos agricultores já estão preocupados com essas questões, com os prejuízos que o aquecimento global pode trazer, e começam a buscar soluções”, disse. (Agência Fapesp)