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Informativo 439 – Fukushima e Efeito estufa

1 – A opção nuclear vai sobreviver ao acidente de Fukushima?

2 – Efeito estufa a todo vapor

 

1 – A opção nuclear vai sobreviver ao acidente de Fukushima?

Artigo de José Goldemberg* publicado na Folha de São Paulo de hoje (31).
Nem todas as novas tecnologias, por mais inovadoras que pareçam, resistem aos testes do tempo. O desastre nuclear no Japão, em março deste ano, forçou à reanálise da opção nuclear no mundo todo. Já os acidentes de Three Mile Island, nos EUA, em 1979 e de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986 haviam praticamente paralisado a expansão nuclear após 1990.

As razões para tal são complexas, mas se devem principalmente ao fato de a energia nuclear ter se tornado muito cara comparada com outras opções e ao fato de que populações de vários países decidiram não correr os riscos de acidentes nucleares-causados não apenas por terremotos e tsunamis.

Acidentes nucleares, quando ocorrem, podem provocar um número pequeno de mortes, como diz a indústria nuclear, mas a radiação atinge grandes populações e provoca danos fatais. Esse é um risco diferente do que é assumido em uma mina de carvão. A população que vive nas imediações de reatores como Fukushima não é coberta por seguros. Está sujeita a ser vítima involuntária de danos que podem causar sofrimento e morte por anos após o acidente.

Por essa razões, os custos e riscos da energia nuclear estão sendo reavaliados. A Alemanha, onde 22% da eletricidade se origina da energia nuclear, já decidiu desativar seus 17 reatores até 2022. Suíça e Bélgica tomaram a mesma decisão. O Japão já eliminou seus planos de expansão. Nos EUA, o início da construção de dois reatores foi cancelado. Isso significa maior esforço para gerar eletricidade com fontes renováveis ou utilizá-la de maneira mais eficiente, o que não só é possível como é economicamente atraente.

A decisão da Alemanha – mais radical do que o esperado – terá consequências importantes no resto do mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. O governo brasileiro anunciou que reavaliará a segurança dos reatores no País e dos planos de expansão. Esperamos que o faça logo e siga o que o bom senso indica.

Não há razão nenhuma para que um País como o nosso, com amplos recursos hidrelétricos e biomassa, se coloque na contramão do que ocorre no mundo e invista recursos desproporcionais numa opção tecnológica que talvez não sobreviva.

*José Goldemberg é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.

 

2 – Efeito estufa a todo vapor

Emissão de gases do aquecimento global atingiu recorde em 2010 e ameaça clima.
As emissões de gases do efeito estufa (GEE) atingiram novo recorde no ano passado após breve queda em 2009 devido à crise econômica global, revela estimativa da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgada ontem. Segundo a AIE, 30,6 bilhões de toneladas, ou gigatoneladas (Gt), de dióxido de carbono (CO2) foram lançadas na atmosfera em 2010, 1,6 Gt a mais do que no ano anterior e 5% acima do antigo recorde de 29,3 Gt registrado em 2008.

O crescimento das emissões coloca em risco o objetivo de limitar em 2 graus Celsius o aumento da temperatura média global até o fim do século frente à registrada antes da era industrial, conforme acordado na reunião do clima da Organização das Nações Unidas realizada em Cancún no fim do ano passado. Um aumento superior a 2 graus Celsius já implica, por exemplo, no desaparecimento dos países insulares.

Para não ultrapassar o limite, a concentração de longo prazo dos GEE na atmosfera deve ficar em, no máximo, 450 partes por milhão de seu equivalente em CO2 (outros gases do aquecimento global incluem metano, óxido nitroso, clorofluorcarbonetos, hidrofluorcarbonetos e perfluorcarbonetos, cada um com diferentes capacidades de retenção do calor recebido pela Terra do Sol).

De acordo com a AIE, essa concentração limita o avanço das emissões globais de GEE em não mais que 32 Gt anuais até 2020. E, para piorar o cenário, a agência estima que 80% destas emissões para a geração de energia elétrica já estão ocupadas por usinas em operação ou em construção, colocando mais pressão nos planos de avanço da produção de eletricidade no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento, se o limite for respeitado.

– O aumento significativo das emissões de CO2 e a ocupação das futuras emissões pelos investimentos em infraestrutura representam um sério obstáculo a nossas esperanças de limitar o aumento da temperatura global em 2C – admitiu Fatih Birol, economista-chefe da AIE e supervisor da elaboração do relatório “Perspectivas Mundiais de Energia”, principal publicação da instituição e considerada referência global no tema. – Dada a menor margem de manobra que temos até 2020, será um desafio extremo atingir o objetivo acordado em Cancún, a não ser que decisões ousadas sejam tomadas em breve.

Segundo a AIE, 44% das emissões de 2010 vieram da queima de carvão, seguidas de 36% do petróleo e 20% do gás natural. Ainda de acordo com a instituição, embora 40% delas tenham vindo dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne algumas das nações mais ricas do planeta, eles foram responsáveis por apenas 25% do aumento das emissões no ano passado frente a 2009, com países emergentes como a China e Índia respondendo pela maior parte do avanço a reboque de seu crescimento econômico. Ainda assim, em números per capita as nações da OCDE emitiram 10 toneladas de CO2 por habitante em 2010, contra 5,8 toneladas da China e apenas 1,5 tonelada da Índia.

A situação só tende a piorar globalmente. Estudo do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos EUA indica que, entre 2020 e 2030, o progressivo degelo do Ártico fará com que ele deixe de ser uma captadora líquida de CO2 para se tornar uma emissora líquida dos GEE, contribuindo ainda mais para o aquecimento global.

A pesquisa, a primeira a abordar quais seriam as consequências da liberação das folhas, raízes e outros pedaços de plantas incorporados ao gelo permanente da região 30 mil anos atrás, durante a última Idade do Gelo, estima que a retomada de seu processo de decomposição poderá lançar 190 bilhões de toneladas de CO2 e metano no ar até 2200.

– A liberação de carbono do gelo resultará em uma mudança irreversível do clima em apenas 20 anos – disse o pesquisador Kevin Schaefer ao jornal britânico “Independent”.

– Uma vez que o carbono fica livre e se decompõe, não há como reincorporá-lo ao gelo. O processo é irreversível em uma escala de tempo humana e afetará nossas metas de redução das emissões pela queima de combustíveis fósseis.
(O Globo)