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Informativo 590 – Amazônia; alarmante; ritmo e mais seca

1 – Ameaças à Amazônia vão muito além das queimadas

2 – Painel da ONU confirma consequências alarmantes das mudanças climáticas

3 – Redução do ritmo de aquecimento é discutida

4 – Mudança climática pode tornar a Amazônia mais seca

 

1 – Ameaças à Amazônia vão muito além das queimadas

Reportagem da Agência FAPESP aponta problemas como a extração inadequada de madeira e o manejo inapropriado de recursos pesqueiros
 
Há outros tipos de ameaças à conservação da Amazônia, além do desmatamento, que ocorrem em pequena escala e em áreas de várzea da região – como a extração inadequada de madeira e o manejo inapropriado de recursos pesqueiros -, que podem gerar transformações tão importantes na floresta nas próximas décadas quanto as queimadas.
 
Esses fenômenos, contudo, são menos perceptíveis e não são facilmente detectáveis na paisagem por imagens aéreas, como são as próprias queimadas, por acontecerem no interior da floresta e fora do chamado “Arco do desmatamento amazônico” (região de borda do bioma que corresponde ao sul e ao leste da Amazônia Legal e abrange todos os estados da região Norte, mais Mato Grosso e uma parte do Maranhão). Por isso, podem passar despercebidos e não merecer a mesma atenção recebida pelos desmatamentos pelos órgãos fiscalizadores.
 
O alerta foi feito por Hélder Queiroz, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), durante o sétimo encontro do Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA-FAPESP Educação, realizado no dia 19 de setembro em São Paulo.
 
“A diminuição do desmatamento é, sem dúvida, muito importante para a conservação da Amazônia, mas ele não representa a única ameaça ao bioma”, afirmou Queiroz.
 
“Também há um grupo grande de ameaças, composto por transformações de habitat em pequena escala realizadas exatamente da mesma forma nos últimos 50 anos e de difícil detecção, mas que geram mudanças importantes na composição e na estrutura da floresta e cujos efeitos serão prolongados por muitas décadas”, estimou.
 
A extração inadequada de madeira da Floresta Amazônica, por exemplo, pode alterar o número de espécies de animais que vivem em uma determinada área da selva. Isso porque, de acordo com o pesquisador, algumas espécies de árvore cuja madeira tem grande valor comercial – e, por isso, são mais visadas – também podem ser importantes para alimentação da fauna.
 
A retirada dessas espécies de árvore de forma desordenada pode alterar a composição florística e, consequentemente, de espécies de animais de uma área da floresta, ressaltou Queiroz.
 
“A abertura de pequenas clareiras para remoção específica dessas espécies de madeira não é detectada pelas imagens de satélite porque, geralmente, elas têm poucos metros quadrados”, disse Queiroz.
 
“Ao final de três décadas, todas as espécies dessas árvores e, consequentemente, a fauna que dependia delas podem desaparecer da região”, alertou.
 
Pesca e caça inadequadas
Outra ameaça que está se tornando um problema na Amazônia, de acordo com o pesquisador, é a pesca desordenada da piracatinga (Calophysus macropterus) – espécie de peixe sem escama, apreciada para consumo, conhecida popularmente como “urubu d´água”, por ser carnívora e se alimentar de restos de peixe e outros animais.
 
Para a pesca do peixe na região amazônica está sendo utilizada como isca a carne de jacaré e de boto cor-de-rosa. Por causa disso, o número de botos cor-de-rosa – também conhecidos como botos-vermelhos (Inia geofrrensis) – diminuiu em diversas regiões da Amazônia, indicam dados de monitoramento da espécie na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
 
“A carcaça de um jacaré ou de boto cor-de-rosa vale, no máximo, R$ 100,00 na região amazônica e gera aproximadamente entre 200 e 300 quilos dessa espécie de peixe”, disse Queiroz.
 
“Além de uma crise pesqueira, esse problema representa um sistema de valoração da biodiversidade que está profundamente desequilibrado”, avaliou.
 
Já em terra, segundo o pesquisador, a caça desordenada de determinadas espécies de animais tem resultado no surgimento do que alguns autores denominaram no início da década de 1990 de “florestas vazias” – áreas de floresta em pé, mas nas quais as principais espécies de animais responsáveis pela reprodução, polinização e dispersão de sementes desaparecem em razão da caça desenfreada.
 
“A expressão cunhada para esse fenômeno – ‘florestas vazias’ – é romântica, mas o problema é preocupante e os efeitos dele são só percebidos ao longo de décadas”, avaliou Queiroz. “Os aviões ou satélites utilizados para monitoramento também não conseguem identificar essas regiões de floresta cujas árvores estão em pé, mas nas quais as espécies de animais estão sendo intensamente caçadas”, afirmou.
 
Florestas alagadas
Em geral, a maior parte dessas ameaças “imperceptíveis” ocorre nas chamadas florestas alagadas ou de várzea – que representam quase um quarto de toda a extensão da Amazônia, ressaltou o pesquisador.
 
Submetidas ao regime de alagamento diário, sazonal ou imprevisível – de acordo com o regime de chuvas -, essas regiões de baixas altitudes são alagadas por águas brancas, de origem andina, escoadas, principalmente, pelos rios Solimões e Madeira.
 
Como são muito produtivos – por suas águas receberem grandes cargas de nutrientes e sedimentos -, os recursos naturais das florestas de várzea da Amazônia são abundantes. Por isso, são densamente ocupadas desde o período pré-colombiano.
 
“Praticamente 75% da população amazônica [cerca de 8 milhões de pessoas] está diretamente inserida nesses ambientes de várzea ou em suas proximidades, vivendo, trabalhando e transformando essas regiões”, disse Queiroz.
 
“Isso significa que esses ambientes são mais ameaçados do que os localizados no ‘arco do desmatamento’, porque recebem maior impacto diário das populações, ainda que não sejam detectados na paisagem, como o desmatamento”, comparou.
 
Justamente por terem grande densidade populacional, é difícil criar Áreas Prioritárias para Conservação (Arpa) nessas regiões de floresta alagada, contou Queiroz. “Existem poucas áreas protegidas e muitas propostas de criação de Arpas em florestas alagadas da Amazônia”, afirmou.
 
Algumas delas são as RDS de Mamirauá e Amanã, que, juntas, somam quase 3,5 milhões de hectares da Amazônia.
 
Criada no início dos anos de 1980 com intuito de proteger o macaco uacari- branco (Cacajao calvus), a Reserva de Mamirauá começou a ser gerida no final dos anos 1990 pelo Instituto Mamirauá, que tem o objetivo de realizar pesquisa de conservação da biodiversidade.
 
Os pesquisadores da instituição fazem pesquisas voltadas principalmente para o manejo sustentável dos recursos naturais. E, mais recentemente, começaram a desenvolver tecnologias sociais voltadas ao tratamento de água e ao saneamento ambiental, entre outras finalidades.
 
“Desde 2010 estamos expandindo nossas ações. Atualmente elas atingem 150 mil pessoas. Mas esperamos chegar, nos próximos anos, 1,5 milhão de pessoas”, contou Queiroz.
 
Redução do desmatamento
O evento na FAPESP também contou com a participação de Maria Lucia Absy, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
 
Em sua palestra, Absy destacou a queda das taxas anuais de desflorestamento da Amazônia Legal, que, no total, caíram 84% no período de 2004 a 2012, segundo dados do Projeto Prodes, do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama).
 
“As ações de fiscalização e redução dos índices de desmatamento da Amazônia contam com o suporte fundamental dessa ferramenta e do Deter [Sistema de Detecção do Desmatamento do Tempo Real, realizado pelo Inpe]”, ressaltou.
 
“Não é que seja errado desmatar uma área – desde que não seja grande – para fins produtivos. O errado é fazer isso aleatoriamente, sem metodologia e técnicas de manejo florestal”, avaliou Absy.
 
O próximo encontro do Ciclo de Conferências 2013 do Biota Educação será realizado no dia 24 de outubro, quando será abordado o tema “Ambientes marinhos e costeiros”.
 
Finalizando o ciclo, em 21 de novembro, o tema será “Biodiversidade em Ambientes Antrópicos – Urbanos e Rurais”.
 
Organizado pelo Programa de Pesquisa em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP), o Ciclo de Conferências 2013 tem o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento do ensino de ciência. (Elton Alisson / Agência Fapesp)

 

2 – Painel da ONU confirma consequências alarmantes das mudanças climáticas

Reunião das Nações Unidas começou nesta segunda-feira
 
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) iniciou nesta segunda-feira uma conferência em Estocolmo confirmando as alarmantes consequências das mudanças climáticas.
 
– As provas científicas das (…) mudanças climáticas se reforçaram a cada ano, deixando pouca incerteza, salvo sobre suas graves consequências – declarou o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, durante a abertura da conferência em Estocolmo.
 
O IPCC, que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2007, revelará na sexta-feira, após quatro dias de debates, o primeiro volume de um relatório completo sobre as mudanças climáticas, suas consequências e os meios para combater o problema, confirmou seu presidente.
 
Este será o quinto relatório do painel da ONU – que reúne milhares de cientistas – desde sua criação, em 1988. Segundo uma versão provisória do texto obtida pela AFP, este relatório confirmará a responsabilidade do ser humano no aquecimento da Terra e apontará a intensificação de alguns eventos extremos.
 
Os delegados – cientistas e representantes de governos – divulgarão o documento depois de examinar durante quatro dias as novas evidências das mudanças climáticas e suas consequências. O presidente do painel lembrou que o objetivo da reunião de Estocolmo é validar a primeira parte deste relatório sobre o aquecimento global, que deixará em evidência a responsabilidade do homem e a grave situação que o planeta enfrenta. Pachauri ressaltou que o texto será aprovado “linha por linha” antes do fim da reunião de Estocolmo.
 
O relatório, que contou com a colaboração de 520 autores, também ressaltará a intensificação de alguns fenômenos extremos, entre eles o aumento do nível do mar, segundo a versão do documento obtida pela AFP. O texto também destacará a urgência de tomar medidas para poder conter o aquecimento da Terra a +2ºC, um objetivo adotado pelos 195 países que negociam sob os auspícios da ONU, mas que parece cada vez mais distante, segundo cientistas. Pachauri prometeu que o diagnóstico contido no informe será inquestionável.
 
– Não conheço um documento que tenha sido submetido a este tipo de análise minuciosa e que tenha envolvido tantas pessoas com espírito crítico, que ofereceram sua perspicácia e conselhos – afirmou o co-presidente do grupo de trabalho que assinou o documento, Thomas Stocker.
 
O relatório “se baseou em milhares de medições na atmosfera, na terra, no gelo, no espaço”, afirmou o cientista suíço, que é professor da Universidade de Berna, na Suíça.
 
Ele ressaltou que estas medidas permitem ter uma visão sem precedentes e imparcial do estado do sistema climático.
 
– A mudança climática é um dos grandes desafios de nossa época – reafirmou o especialista, acrescentando que “esta mudança ameaça nossos recursos primários, a terra e a água”.
 
– E como ameaça nossa única residência, devemos enfrentá-la – ressaltou o especialista, acrescentando que isso exige “as melhores informações para tomar as medidas mais eficazes”.
 
Em 2007, o IPCC gerou uma mobilização sem precedentes as respeito do clima, o que rendeu a atribuição do prêmio Nobel da Paz ao lado do ex-vice-presidente americano Al Gore. (Zero Hora com informações da AFP) http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/planeta-ciencia/noticia/2013/09/painel-da-onu-confirma-consequencias-alarmantes-das-mudancas-climaticas-4278465.html

 

3 – Redução do ritmo de aquecimento é discutida

Desaceleração do aumento da temperatura global mobilizou atenções em Estocolmo, no primeiro dia de conferência de mudanças climáticas
 
ESTOCOLMO – Pesquisas indicam que 97% dos cientistas que estudam mudanças climáticas no mundo estão convencidos da responsabilidade do homem no aquecimento global. Mas foram os 3% de céticos que pautaram o primeiro dia de debates da 6.ª edição do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), aberta ontem em Estocolmo.
 
Mais uma vez encurralados por críticas, os experts tiveram de explicar que a redução do ritmo de aquecimento da Terra, de 1998 a 2010, não altera a certeza de que as mudanças climáticas são causadas pelas emissões de gases de efeito estufa.
 
O chamado “hiato” da curva de aumento da temperatura foi diagnosticado pelos próprios cientistas do Grupo Intergovernamental de Experts sobre a Evolução do Clima (GIEC), que integram o IPCC. Foram eles que incluíram a informação no documento em discussão entre experts e delegados de 195 países em Estocolmo. “A média global de temperatura, combinada com as superfícies de terra e oceano, indica um aumento de 0,89ºC de 1901 a 2012. No período, quase todo o globo tem experimentado o aquecimento da superfície”, diz o rascunho do relatório, ao qual o Estado teve acesso.
 
Um segundo ponto de críticas está no fato de que o IPCC reviu para baixo a estimativa mínima de aquecimento da Terra até 2100. No trecho em que quantifica as respostas dos sistemas climáticos às emissões de gases de efeito estufa, os experts afirmam ser “alto o grau de certeza” que a temperatura da Terra subirá entre 1,5ºC e 4,5ºC até 2100. Esse patamar de base de 1,5ºC é inferior ao estimado há seis anos, quando do relatório anterior do painel. Então, a estimativa era de 2ºC.
 
Ataque. Apesar dos argumentos, os “negacionistas” – cientistas que negam o aquecimento – vêm usando os dados para atacar o IPCC em países como Austrália, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos.
 
Ao jornal Los Angeles Times, a climatologista Judith Curry, diretora da Escola de Ciências da Terra e da Atmosfera do Instituto de Tecnologia da Geórgia, e até 2001 membro do IPCC, afirmou que o “hiato” seria, na verdade, “a variação natural do clima dominando sobre o impacto humano”.
 
Esse discurso foi refutado com veemência ontem, em Estocolmo. Logo na abertura do evento, o coordenador do IPCC, RajendraPachauri, foi taxativo: “As provas científicas das mudanças climáticas se reforçam ano após ano, deixando poucas incertezas, além de graves consequências”. (Andrei Netto/ O Estado de S.Paulo) http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,reducao-do-ritmo-de-aquecimento-e-discutida-,1078107,0.htm

 

4 – Mudança climática pode tornar a Amazônia mais seca

É o que revela estudo publicado pela revista Proceedings, da NationalAcademyofSciences
 
A redistribuição de chuvas devido à mudança climática pode deixar mais secas as regiões da Amazônia, do oeste dos Estados Unidos e do Oriente Médio, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira (23) pela revista Proceedings, da NationalAcademyofSciences.
 
À medida que a atividade humana segue contribuindo ao aquecimento global, a mudança rumo ao norte das rajadas de vento e chuva na Terra também poderia aumentar as precipitações na África equatorial e nas regiões de monção na Ásia, acrescentou o estudo da Universidade de Colúmbia.
 
Os pesquisadores sustentam sua previsão no aquecimento global que se seguiu à última era glacial há 15 mil anos, quando o oceano Atlântico Norte começou a movimentar-se com mais vigor e derreteu o mar Ártico gelado, gerando um contraste de temperaturas com o hemisfério sul, onde as geleiras se expandiram ao redor da Antártida.
 
Segundo o artigo, a diferença de temperaturas entre os pólos aparentemente empurrou para o norte a faixa de chuvas tropicais e os ventos nas latitudes médias, redistribuindo a água em dois grupos ao redor do planeta.
 
Agora, o gelo do Ártico está, outra vez, em retirada e o hemisfério norte se aquece mais rápido que o sul. “Se as mudanças que ocorreram durante a deglaciação ocorressem agora, isso teria um impacto enorme”, declarou o autor principal do estudo, Wallace Broecker, cientista do clima no Observatório Terrestre Lamont Doherty.
 
Broecker e seu colaborador, Aaron Putnam, acreditam que as rajadas de chuva e vento se transferiram ao norte entre 14,6 mil e 12,7 mil anos atrás.
 
Na beira sul da faixa tropical de chuvas, o grande lago antigo Tauca nos Andes bolivianos quase se secou, os rios do leste do Brasil transformaram-se em riachos, e as estalagmites alimentadas pelas chuvas na mesma região deixaram de crescer.
 
No passado, as mudanças no manto de gelo sobre os oceanos causaram a diferença de temperaturas entre os dois hemisférios, enquanto que agora a causa principal é a emissão industrial de carbono na atmosfera.
 
E, por enquanto, não há provas claras que esteja aumentando a circulação oceânica no Atlântico Norte ou que estejam aumentando as chuvas de monção sobre a Ásia. (PortalTerra, via Agência Ambiente Brasil)