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Informativo 574 – Tucano; perda de 40% e 400 anos

1 – Sumiço de tucano prejudica árvores da mata atlântica

2 – Novo Código Florestal fez país perder até 40% de áreas protegidas, diz ONG

3 – Plantas congeladas sob geleira há 400 anos voltam a brotar

1 – Sumiço de tucano prejudica árvores da mata atlântica

Falta de aves de bico grande leva palmito-juçara a produzir sementes menores
 
O desaparecimento de pássaros grandes, como tucanos e arapongas, tem consequências muito mais graves do que se pensava.
 
Pesquisadores brasileiros viram que o sumiço desses animais em pontos da mata atlântica pode afetar a evolução das árvores na floresta.
 
Isso acontece por um motivo aparentemente banal: como essas aves têm o bico grande, conseguem comer –e, consequentemente, espalhar– sementes maiores.
 
Quando só restam as de bico pequeno, como o sabiá-una, só as sementes menores são dispersadas.
 
Essa mudança exerce pressão sobre a evolução das plantas. Cada vez mais, apenas as que têm sementes pequenas se reproduzem, levando as gerações seguintes a também serem assim.
 
“As sementes menores são menos resistentes à seca. Em alguns casos, basta uma redução de 20% na quantidade de água para que elas não germinem”, afirma Mauro Galetti, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e líder do trabalho publicado na “Science”.
 
Com o aquecimento global, a tendência é que os períodos de seca se intensifiquem. Com a mudança das sementes, a floresta fica ainda mais vulnerável.
 
Há décadas estudioso da dinâmica de dispersão de sementes, Galetti aproveitou o extenso conhecimento e seu banco de dados sobre a palmeira chamada de palmito-juçara (Euterpe edulis) para desenvolver seu trabalho.
 
Ele e um grupo de cientistas analisaram diversos aspectos da planta em 22 áreas da mata atlântica no país.
 
O bioma é o mais afetado pelo desmatamento no Brasil, restando hoje só cerca de 12% da sua cobertura original. A maioria dessas áreas –quase 80%– está fragmentada demais para que as grandes aves frugívoras sobrevivam. Já as pequenas conseguem resistir mesmo em áreas menores.
 
Além disso, as aves grandes também sofrem com a caça e a captura ilegal.
 
“Há muito já sabemos que essas aves têm um papel importante. A novidade é que as mudanças estão acontecendo em um ritmo muito acelerado. E é uma mudança evolutiva, não só ecológica”, diz Galetti.
 
Segundo o pesquisador, o fato de o palmito-juçara ter um ciclo de vida mais rápido ajudou os cientistas a notar essa influência. No caso de árvores cujo desenvolvimento leva mais tempo, como as da floresta amazônica, demoraria mais para que o fenômeno fosse percebido.
 
Embora o trabalho tenha sido feito na mata atlântica, os pesquisadores não descartam que essas mudanças possam ocorrer também na Amazônia, uma vez que a queda no número de grandes aves é observada em vária regiões.
 
“Mesmo se as populações de grandes pássaros voltarem a crescer, já não há como alterar a questão das sementes, pois não haverá mais o genótipo da planta de semente grande para ser reproduzido. Pode ser, sim, um caminho sem volta.” (Giuliana Mirande/Folha de S.Paulo).

 

2 – Novo Código Florestal fez país perder até 40% de áreas protegidas, diz ONG

Lei ambiental foi aprovada há um ano, após anos de discussões. Regulamentação de vários pontos deve ser publicada ainda esta semana. A reportagem é do portal G1
 
A implementação do novo Código Florestal, um ano após a sua aprovação, aponta que o Brasil perdeu entre 15% e 40% de áreas previstas para conservação obrigatória, dependendo da região, mas ganhou uma legislação mais fácil de ser aplicada na prática, que permite maior preservação efetiva, mostram dados da organização não-governamental The Nature Conservancy (TNC).
 
“O Brasil perdeu em termos de área absoluta, mas a nova lei facilita a regularização. A maior vantagem é que o código é factível do ponto de vista do produtor”, disse a representante da TNC no Brasil, Suelma Rosa.
 
O novo Código Florestal ficou anos em debate no Congresso e foi aprovado na Câmara em 25 de maio de 2012 (lei 12.651), após uma batalha envolvendo produtores rurais, ONGs, diferentes bancadas de parlamentares e o governo federal.
 
A lei foi alterada permitindo, entre outras coisas, que áreas de preservação permanente (APPs), que têm a função de proteger as margens de rios e nascentes, por exemplo, contem para o total de reserva legal (vegetação original) que cada propriedade é obrigada a manter.
 
Outra mudança foi no cálculo do tamanho das APPs, variando de acordo com a largura dos rios ou lagos. “O novo código florestal abrandou as regras de recomposição das APPs e das reservas legais, principalmente para os pequenos produtores, com vistas a viabilizar a regularização do passivo que vem se formando há décadas de vigência e descumprimento da lei anterior”, lembrou Suelma.
 
As regras mais flexíveis, no entanto, aplicam-se só para as áreas que foram abertas para plantio ou para pastagem até julho de 2008. Essas foram algumas das mudanças que fizeram com que a área de preservação obrigatória tenha caído na comparação de uma legislação com a outra.
 
Banco de dados
A TNC conseguiu fazer o cálculo porque trabalha há oito anos ajudando produtores e autoridades em municípios de seis Estados brasileiros a mapearem e registrarem propriedades rurais, em busca de regularização. O banco de dados da ONG cobre mais de 42 milhões de hectares — quase 5% do território nacional.
 
Em uma amostragem em três municípios de Mato Grosso do Sul, no bioma Mata Atlântica (Angélica, Ivinhema e Novo Horizonte do Sul), as perdas teóricas foram de 24 por cento de área prevista para APPs e 39% de reserva legal, na comparação entre a legislação antiga e a nova.
 
Já numa amostra de três importantes municípios de produção agrícola de Mato Grosso (Sapezal, Campos de Júlio e Nova Ubiratã), uma região de cerrado e florestas, as perdas com a nova legislação foram de 15% nas APPs e 32% nas reservas legais. As estimativas da TNC comparam as áreas previstas em cada um dos marcos legais.
 
Próximos desafios
O Executivo federal tem até esta segunda-feira (27) para editar a regulamentação de vários pontos previstos no novo código. O prazo vence no aniversário de um ano da lei, mas essa data cai em um sábado. A expectativa, segundo uma fonte jurídica com conhecimento direto do assunto, é que a regulamentação seja assinada na segunda-feira e publicada no “Diário Oficial da União” na terça (28).
 
O principal ponto a ser detalhado pelo governo federal é como será feito o programa de regularização das áreas que foram degradadas. O proprietário de terras que decidir recompor as áreas desmatadas acima do permitido terá um prazo de 20 anos para replantar a vegetação ou deixá-la recuperar-se naturalmente.
 
O primeiro desafio, no entanto, é fazer com que mais de 5,5 milhões de propriedades se inscrevam no Cadastro Ambiental Rural (CAR), um novo sistema onde cada proprietário vai informar ao governo quais são e onde estão suas áreas de produção agrícola e suas áreas com vegetação natural conservada.
 
Com base nesses dados –na prática um grande mapa das propriedades rurais brasileiras e seus recursos naturais– será feita, dentro dos próximos anos, a recuperação das áreas desmatadas irregularmente.
 
“Com o CAR você consegue fazer o registro da informação no momento da regularização e depois consegue, por imagem de satélite, acompanhar o uso do solo naquela propriedade”, avalia Suelma. Os produtores rurais e o governo terão um ano, prorrogável por mais um ano — até 25 de maio de 2015, no prazo mais elástico– para finalizar o cadastramento. (G1).

 

3 – Plantas congeladas sob geleira há 400 anos voltam a brotar

Reportagem de O Globo mostra que derretimento do gelo no Ártico provoca avanço da cobertura verde
 
Quatrocentos anos atrás, a temperatura do planeta caiu, em média, 2 graus Celsius. No Círculo Ártico, a redução foi maior e chegou a 5 graus Celsius. Terras verdes foram cobertas por uma camada de gelo; aves migraram para áreas mais quentes. Mas, com as mudanças climáticas recentes, o cenário criado pelo fenômeno, batizado de Pequena Idade do Gelo, está sendo revertido. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Alberta, do Canadá, encontrou plantas numa área próxima à Ilha Ellesmere, onde as geleiras têm recuado de 3 a 4 metros por ano desde 2007. Levada para cultivo em laboratório, a vegetação secular voltou a crescer, como se o tempo não tivesse passado.
 
Aparência conservada
A equipe canadense descobriu a idade da vegetação usando datação por carbono, chegando a camadas de gelo formadas aproximadamente em 1600. Populações de briófitas – as plantas encontradas – são especialistas em ambientes extremos e têm a capacidade de reprogramar-se a partir de uma célula original. Seu desenvolvimento, então, é reiniciado. Depois de rasgar uma folha, por exemplo, é possível regenerar toda a planta a partir do tecido fragmentado. É um sistema diferente das plantas vasculares – com tecido especializado – e permitiu que tenham sobrevivido ao congelamento de uma forma, até agora, impensável. A pesquisa, coordenada pela bióloga Catherine La Farge, foi publicada esta semana na revista “Proceedings of National Academy of Sciences” (PNAS).
 
– Foi como tirar um cobertor. Encontramos populações intactas emergindo por baixo da geleira, libertadas pelo degelo – comparou Catherine, em entrevista ao GLOBO. – São pelo menos 60 espécies de briófitas com a mesma aparência de 400 anos atrás. O caule, a folha, tudo estava conservado, só que descolorido.
 
Catherine ressaltou que a ciência só agora começa a compreender a biodiversidade escondida sob o gelo, o que influenciará estudos sobre o ecossistema polar. A região da Ilha Ellesmere, na periferia do Ártico, é uma das regiões do planeta onde o aumento das temperaturas é mais flagrante. O monitoramento do gelo desta localidade mostra que, nos últimos 30 anos, ela aqueceu cerca de 6 graus Celsius.
 
– Este é um laboratório natural das mudanças climáticas – disse Francisco Eliseu Aquino, professor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que não participou do estudo. – A pesquisa mostra o grande potencial de que esta área recupere sua biodiversidade .
 
Esta regeneração, porém, provoca polêmica. A curto prazo, segundo Aquino, parece benéfica. Um território inóspito seria novamente povoado – as briófitas normalmente são pioneiras na colonização de qualquer local, sendo seguidas por musgos e aves, entre outras espécies. Estas plantas também captariam CO2 da atmosfera, amenizando o aumento da temperatura do planeta. Em poucos anos, porém, a resposta do Ártico ao renascimento de sua área verde será, na definição de Aquino, “assustadora”.
 
– A biodiversidade original só é revelada com a redução das geleiras, e nós precisamos do gelo – alerta. – A troca de energia entre oceano, atmosfera, terra e gelo sempre ocorrerá. O grande desafio é que boa parte da biodiversidade não se adaptará em tempo hábil ao cenário desenhado pelo aquecimento global. (Renato Grandelle / O Globo.