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Informativo 503 – Aziz Ab’Saber

1 – Morre Aziz Ab’Saber

2 – A ciência chora a morte de Aziz

3 – Aziz Ab´Saber: Institutos destacam que o País perde um de seus maiores homens

4 – Aziz Ab’Saber: cientista, humanista e amigo do povo brasileiro

 

1 – Morre Aziz Ab’Saber, Presidente de Honra da SBPC

Aziz Ab’Saber, um dos geógrafos mais respeitados do País, reconhecido internacionalmente, faleceu aos 87 anos, na manhã de hoje (16), às 10h20, de morte natural.
Presidente de Honra, ex-presidente e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ab’Saber é autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais do Brasil.

Nascido em São Luís do Paraitinga, em 24 de outubro de 1924, Ab’Saber desenvolveu ao longo de sua extensa carreira de cientista centenas de pesquisas e tratados de significativa relevância internacional nas áreas de ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia, geologia, arqueologia e geografia. Ele foi presidente da SBPC de 1993 a 1995 e desenvolveu trabalhos no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) até ontem.

Um dia antes de morrer, o professor, disposto como sempre, fez sua última visita à SBPC, em São Paulo. Em um gesto de despedida, mesmo involuntariamente, ele entregou na tarde de ontem à secretaria da SBPC sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas.

“Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da Universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD seja levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade”, diz Ab’Saber em sua dedicatória.

Ab’Saber morreu antes de ver publicada sua última obra que será o terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis”, a ser publicado pela SBPC.

O terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis” faz uma homenagem ao trabalho dos primeiros geógrafos no interior do Brasil, como José Veríssimo da Costa Pereira e Carlos Miguel, e às primeiras expedições de Candido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon (1865 a 1958). “Essa é uma homenagem a eles”, disse Aziz, em sua última entrevista ao Jornal da Ciência. O livro contempla também trabalhos sobre a cidade de São Paulo.

Prêmios – Ab’Saber, que também foi professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP,  recebeu diversas láureas, como o Prêmio Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005), e em ciências exatas (2007); o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia; a Medalha de Grão-Cruz em Ciências da Terra pela Academia Brasileira de Ciências; e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente (2001).

Código Florestal – Ab’Saber, em suas últimas declarações sobre o novo Código Florestal, criticou o texto por não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o País, como a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, conhecidas como os pampas gaúchos, e o Pantanal mato-grossense. Na ocasião, ele chegou a defender a criação do Código da Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais. (Viviane Monteiro – Jornal da Ciência)

 

2 – A ciência chora a morte de Aziz

Cientistas e acadêmicos se emocionam ao lamentar a morte de Aziz Ab’Saber, o geógrafo considerado um cientista ético, intelectual e humanista. Ab’Saber faleceu na última sexta-feira (16), em sua casa, em São Paulo.
Com engajamento político, as últimas principais lutas do intelectual foram contra a transposição do Rio São Francisco e contra o andamento da proposta do novo Código Florestal, em tramitação no Congresso Nacional. Considerando o texto limitado diante da extensão territorial do Brasil, Ab’Saber disse ao Jornal da Ciência, em meados de dezembro último, que o País precisa de um código da biodiversidade capaz de proteger todas as espécies animais e vegetais e todos os biomas brasileiros.  

A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, destaca que a posição ética e humanitária de Ab’Saber são as características marcantes. “A ciência brasileira chora a ausência do grande professor Aziz, humanista e cientista, sempre presente na nossa história, sempre lutando pelos valores da ética e da moral; sempre disponível para todas as pessoas, especialmente para os jovens”, lamenta Helena, também professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Na mesma linha, o vice-presidente da SBPC, Ennio Candotti, considera Ab’Saber um instrutor. “Mestre e maestro, a orquestra tocará mesmo sem você. Aprendemos e não esquecemos a bibliografia Aziz. Leve lembranças boas da SBPC ao Albertino Rodrigues, ele como nós [tristes] gostamos muito de você… sei que você o encontrará em breve”, disse Candotti, também professor da Universidade do Estado do Amazonas e diretor geral do Museu da Amazônia, lembrando de José Albertino Rodrigues, vice-presidente da SBPC, ex-aluno de Ab’Saber e que morreu de forma trágica em meados de 1990.

Marca do Código da Biodiversidade – A Academia Brasileira de Ciências (ABC) também manifesta os sentimentos da diretoria pela perda de Ab’Saber. “Além de ser um geógrafo com referência internacional na contribuição para a área de pesquisa, Ab’Saber foi um cidadão com papel político de grande relevância defendendo, por exemplo, um Código da Biodiversidade da Amazônia. Sem dúvidas, é uma perda muito grande tanto para a área científica quanto para o País como um todo. Ele foi uma figura pertinente que defendeu ideias importantes, como o Código da Biodiversidade”, destaca o diretor da ABC, Luiz Davidovich, físico da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ).

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, concorda que a ciência brasileira perde um de seus mais expressivos representantes. “O lamento pela morte de Aziz equivale ao privilégio de ter podido conviver e partilhar com ele momentos e situações importantes para a construção da vida científica brasileira”, disse Raupp, ex-presidente da SBPC.

Para Raupp, Ab’Saber “era dono de uma lucidez irrequieta e de uma formidável capacidade de lançar ideias muito à frente do senso comum, e também desafiadoras e provocantes até mesmo para o melhor pensamento estabelecido”.

O ministro destaca como “bom exemplo” das características de Ab’Saber o posicionamento nas recentes discussões do novo Código Florestal, “não para repetir clichês ou acentuar antagonismos”, mas sim para propor a criação de um Código da Biodiversidade, avanço que um dia o Brasil “certamente consolidará”.

“Em razão da oportunidade de seus estudos, da acuidade de suas ideias, da extensão de sua obra e da longevidade de sua vida profissional, Aziz Ab’Saber já fazia parte da história intelectual brasileira há muitos anos. Agora ele entra para a eternidade, mas seu legado de centenas de trabalhos continuará a nos guiar pelos caminhos que conheceu como poucos, como os da geografia, da ecologia, da biologia evolutiva, da geologia e da arqueologia”, disse Raupp em nota, publicada no site do MCTI.

Leituras Indispensáveis – A notícia sobre o falecimento de Ab’Saber foi dada aos cientistas reunidos na manhã da última sexta-feira (16) na unidade da SBPC, em São Paulo, quando discutiam temas sobre a 64ª Reunião Anual da SBPC que ocorrerá em julho no Maranhão. Um dos pontos da pauta era justamente sobre Ab’Saber que vinha trabalhando arduamente para lançar, nesse evento, a terceira edição do livro da coleção “Leituras Indispensáveis”. A obra será publicada pela SBPC, diferentemente das duas primeiras edições que foram publicadas pela Ateliê Editora.

Defensor da difusão social da ciência, nessa última publicação o intelectual recusou o pedido da Ateliê Editora de publicar a obra no formato digital. Na opinião de Ab’Saber, essa iniciativa dificultaria o acesso das pessoas ao conteúdo.

Ao destacar que o livro será lançado na 64ª Reunião Anual da SBPC para atender ao desejo de Ab’Saber, a secretária-geral da SBPC, Rute Andrade, diz que o professor deixa um enorme legado na área científica. Rute também lamenta também a morte de César Ades, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Ades faleceu na mesma semana, aos 69 anos, devido a traumatismos ocasionados por um atropelamento na Avenida Paulista.

“A minha tristeza se concentra no fato de estarmos perdendo cientistas, principalmente humanistas. Ou seja, pessoas que fazem ciência da forma que tem de ser feita [usando o conhecimento para trazer o bem-estar para as pessoas]. Hoje temos poucos [cientistas humanistas], mas acreditamos que o vazio que essas pessoas nos deixam desperte para que outros possam ser como eles”, sublinha Rute, bióloga e pesquisadora do Instituto Butantan e ex-aluna de pós-graduação de Ab’Saber.

Segundo a secretária-geral da SBPC, pelo projeto discutido com  Ab’Saber, o próximo livro do intelectual será publicado, pela primeira vez também em braile para atingir um número maior de leitores.

Nos livros da coleção “Leituras Indispensáveis”, Ab’Saber busca respostas para as dúvidas de estudantes. “Busco colocar em meus livros tudo que os alunos não sabem responder em sala de aula [assim eles ficam sabendo]”, disse Ab’Saber, em uma conversa rápida com o Jornal da Ciência em dezembro último. Na coleção, Ab’Saber publica textos desconhecidos e de divulgação inédita de grandes nomes da geografia, por exemplo, por considerá-los importantes para a formação humana.

A conquista de jovens – Não teve facebook e nem aderiu às redes sociais, mas Ab’Saber conseguiu conquistar uma legião de jovens, destaca Soraya Smaili,  professora livre docente da farmacologia  da Unifesp.  “A síntese de Aziz é a força do exemplo. Muitas vezes ele não precisava dizer nada, só a presença dele, a trajetória dele, o exemplo dele são tão fortes que as pessoas o seguiam”, disse. “Ele lutou pelo melhor mundo e pelos justos”, complementa Soraya, que ao longo dos anos construiu uma forte ligação com o intelectual. A presidente da SBPC concorda. “Ele foi um grande aliciador de jovens para a ciência, à educação e à ética”, complementa Helena.

Segundo recorda Soraya, mesmo sem perfil nas redes sociais as palestras “de Aziz” eram superlotadas com a presença de jovens. “Aziz tinha um coração enorme, acolhedor, agregador. Nunca o vi dirigir palavras de maltrato a qualquer pessoa, de autoritarismo”, declarou ela ao descrever o intelectual. Uma das preocupações de Aziz, segundo Soraya, era com a biblioteca que ele construiu em sua trajetória de vida, calculada nos últimos anos em cerca de nove mil títulos. (Viviane Monteiro – Jornal da Ciência)

 

3 – Aziz Ab´Saber: Institutos destacam que o País perde um de seus maiores homens

O geógrafo e grande pensador do século XX, Aziz Ab´Saber já antevia no século XXI a necessidade de quebrar modelos e desafiar normas que engessassem a elaboração e síntese de novos saberes. A declaração é de Adalberto Luis Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ao considerar Aziz Ab´Saber o grande pensador do século XX, ele disse que  o falecimento do  geógrafo representa uma perda para a ciência. “Enorme a nossa tristeza, imensa perda para a ciência”, destaca.

Val recorda ensinamentos de Ab´Saber apresentados durante uma visita ao Inpa no fim do ano passado. “Ab´Saber nos presenteou com histórica aula durante a homenagem que recebeu do nosso Instituto. Pesquisadores e novos alunos de mestrado e doutorado viveram uma oportunidade única e inesquecível ao beberem da fonte um ensinamento baseado na ousadia, na maturidade de um permanente pesquisador, instigador inato da vida e das paisagens do nosso planeta”, destaca o diretor do Inpa, em nota. “Ao partir Aziz deixa um legado inconteste e imensurável. Sua obra fica para provar que a vida só vale à pena se a favor do direito ao livre pensar, da construção de uma sociedade solidária a partir da educação que acende e faz brilhar mentes e corações.

Em nota, o Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP) também lamenta a morte do intelectual, um pesquisador com engajamento político. Wagner Costa Ribeiro, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenador do Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do IEA, destacou o papel de Ab’Saber na formulação de conceitos inovadores em geografia e geociências, o profundo conhecimento do território brasileiro e o trabalho dele na classificação do relevo do País.

Aziz Ab’Saber, um geógrafo intuitivo – Aos 87 anos, Ab’Saber levava uma vida muito ativa, mesmo com a perda, parcialmente, da visão. Na SBPC, por exemplo, Ab’Saber preparava dois trabalhos. O terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis” – na qual ele reúne uma coletânea de textos de publicação inédita de várias personalidades considerados indispensáveis para a formação humana. E os manuscritos para um dos capítulos da obra “Cientistas Humanistas do Brasil”, em desenvolvimento por Luiz Edmundo de Magalhães, ex-conselheiro da SBPC. Esse livro é sobre o geógrafo Aroldo de Azevedo (1910 a 1974). As duas obras serão publicadas pela mesma entidade e devem ser lançadas nos próximos meses.

Em razão desses dois trabalhos, a freqüência do intelectual na Unidade da SBPC, em São Paulo, intensificou-se nos últimos meses. Apesar da perda, em parte, da visão, Ab’Saber ajudava a equipe da SBPC a entender os manuscritos – os quais chegou a chamar de “garranchos” –  encaminhados à instituição.

Na véspera de sua morte, o professor fez sua última visita à SBPC, quando entregou os manuscritos finais para o livro “Cientistas Humanistas do Brasil” à secretária de diretoria da SBPC, Eunice Personini, que acompanhou de perto o trabalho do intelectual. Segundo ela, Ab’Saber era uma pessoa “muito intuitiva”. Na véspera de sua morte ele demonstrava pressa em terminar os trabalhos na casa. “Ele fez questão de concluir os trabalhos ontem [quinta-feira]”, disse Eunice.

Ab’Saber chegou à entidade na quinta-feira (15), por volta das 16 horas, lúcido e mais elegante do que em outras suas visitas na instituição. Chegou com óculos escuros, vestido com calça azul marinho (sempre estava com calças de cor cinza) e de camisa azul claro de mangas compridas dobradas e de sapatos pretos. Ele saiu da entidade depois das 20 horas após concluir todos seus trabalhos na casa. 

Na ocasião, Ab’Saber também entregou sua obra consolidada do período compreendido entre 1946 e 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas, em um gesto de despedida, mesmo involuntariamente.

“Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da Universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD seja levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade”, diz Ab’Saber em sua dedicatória.

No dia de sua morte, Ab’Saber, como de costume, acordou, encheu garrafas de água e as colocou na geladeira. Fez o café para toda a família, serviu-se, sentou-se em uma cadeira e ao pegar o adoçante “falou ai e morreu”, comentam as pessoas próximas ao intelectual. (Viviane Monteiro – Jornal da Ciência)

 

4 – Aziz Ab’Saber: cientista, humanista e amigo do povo brasileiro

Artigo de José Medeiros da Silva, ex-presidente da ANPG e professor de Língua Portuguesa no Instituto de Comunicação de Hebei, China.
China, 17 de março de 2012. Hoje bem cedo, aqui em Pequim, recebi a difícil notícia sobre o falecimento do professor Aziz Ab’Saber. Um dia de luto e pesar, não só para sua família, mas para todos nós brasileiros que amamos o Brasil e lutamos na construção de um país ambientalmente saudável, socialmente justo e humanamente desenvolvido.

Registro aqui um pequeno testemunho, que revela bem a generosidade humana do Aziz e o esforço para a formação científica do povo brasileiro e a construção de um Brasil mais feliz.

Lembro-me de muitos encontros. O primeiro, na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) de 1995, em São Luís do Maranhão, cujo homenageado foi o saudoso Darcy Ribeiro. Lembro-me bem de quando Darcy falou: “Aziz é o cientista mais querido do Brasil”.

Em 1996, a Reunião Anual da SBPC foi na PUC-SP. Como um dos dirigentes da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) organizamos, com a revista Princípios, representada pelo também saudoso Edvar Bonotto, um debate na sala da reitoria sobre o desenvolvimento da ciência e tecnologia em Cuba. O professor Aziz honrou o encontro como um dos debatedores. Lembro-me que o representante cubano o presenteou com um atlas de proporção gigante e encadernação especial. O professor Aziz nos encarregou de cuidar do mapa por alguns dias. Gesto simples, mas de grande contentamento.

No ano seguinte, 1997, a Reunião Anual da SBPC realizou-se em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais. Naquele encontro, algumas entidades dos movimentos sociais pautaram um debate sobre a questão ambiental. Foi memorável o empenho do então presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Kerison Lopes, para a concretização do evento. Foi grande o contentamento do professor Aziz quando relatei o empenho da juventude para discutir os rumos da ciência no Brasil.

Ainda na reunião da SBPC de Belo Horizonte, fizemos uma homenagem ao professor Aziz Ab’Saber, laçando o NIPAS (Núcleo de Interatividade e Pesquisa Aziz Ab’Saber), um espaço para promover a aproximação entre pesquisadores e trabalhadores e trabalhadoras que moravam em áreas economicamente desfavorecidas e distantes do cotidiano dos espaços brasileiros produtores de conhecimentos. O empenho de Cecília de Almeida Salles (PUC-SP), de Edvar Bonotto (revista Princípios) e de Kerison Lopes (UBES) foram determinantes.

Esse núcleo se desenvolveu até se transformar no Jardim-Ciência Aziz Ab’Saber. Aliás, tivemos a honra e a felicidade de estar em Natal na Reunião Anual da SBPC de 2010 para comunicar pessoalmente essa homenagem. O Jardim-Ciência terá entre suas missões manter viva entre o nosso povo a memória do professor Aziz.

Jovens cientistas – Foram muitos outros memoráveis encontros, alguns no Instituto de Estudos Avançados da USP. Em um deles, ocorrido em 17 de junho de 1998, e do qual participaram Fábio Palácio (ANPG e UJS), Ronaldo Carmona (UJS) e Fernando Garcia (UJS-PUC), Aziz aceitou o convite da UJS e da ANPG para participar do 1º Encontro de Jovens Cientistas. A atividade seria realizada na Reunião Anual da SBPC de Natal, no mês seguinte, em parceria com o Núcleo Temático da Seca e Semi-Árido da UFRN.

Na ocasião, Aziz demonstrou grande contentamento pelo convite e afirmou que, além de ser muito rica culturalmente, a Reunião de Natal propiciaria conhecimento sobre os ecossistemas do Sertão. O professor Aziz aconselhou a delegação de jovens socialistas a aproveitar a viagem a Natal para “tomar notas” e conhecer melhor nosso País. Como sugestão de leitura para a Reunião, indicou Os Sertões de Euclides da Cunha, ressaltando que a juventude deve estar preparada para discutir questões relativas ao Nordeste.

O debate em Natal seria coroado de sucesso. Aziz discorreu sobre o Nordeste seco em palestra intitulada “Aspectos sociais e físicos do Sertão”. O presidente de honra da SBPC afirmou, na ocasião, que a vitalidade da SBPC está na juventude, que vinha participando das reuniões anuais com muita vontade de discutir as questões da ciência e do País. “Vocês, jovens, é que são a SBPC de amanhã”, afirmava sempre.

Houve ainda as oportunidades do Núcleo José Reis de divulgação científica da USP (memorável os esforços de Gloria Kreinz e Osmir Nunes), com João Amazonas em um evento para comemorar o aniversário do Partido Comunista do Brasil, com o professor doutor Oliveiros Ferreira, nos corredores da USP, na sua casa, palestras, conferências. Não escondo, enquanto muito jovens admiravam pessoas do mundo pop, eu admirava, lia e ouvia com atenção as reflexões e sugestões científicas do professor Aziz.

Aziz admirava os jovens, acreditava nos jovens e tinha plena consciência de que qualquer transformação profunda no Brasil só poderia ocorrer com a participação ativa de nossa juventude. Compreendo bem o porquê de sua dedicação ativa para divulgar conhecimentos científicos para nossa juventude. Ele nos amava e nos acolhia como um bom pai. Mesmo se éramos circunstancialmente ignorantes em alguns conhecimentos, Aziz nunca nos desprezava. Nos incentivava sempre. Olhava a juventude com um olhar paciente e generoso, pois bem sabia que “cada ser, em si, carrega o dom de ser capaz e ser feliz”. Por tudo isso, estou com muitas saudades, muitas saudades. Mas aprendi, que “amigo é coisa prá se guardar… dentro do coração”. E, aqui da China, junto minhas lágrimas às de muitos brasileiros, especialmente seus familiares. Mas bem sei que sua memória continuará em nós.