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Informativo 494 – Sexta extinção; Extinção de espécies; Proantar-30 e Cético do clima

1 – Como enfrentar a sexta extinção em massa

2 – Extinção de espécies não se freia com magia

3 –  Proantar, 30

4 – Cientista mente para expor cético do clima

 

1 – Como enfrentar a sexta extinção em massa

 

Referimos-nos anteriormente ao fato de o ser humano, nos últimos tempos, ter inaugurado uma nova era geológica  o antropoceno – era em que ele comparece como a grande ameaça à biosfera e o eventual exterminador de sua própria civilização. Há muito que biólogos e cosmólogos estão advertindo a humanidade de que o nível de nossa agressiva intervenção nos processos naturais está acelerando enormemente a sexta extinção em massa de espécies de seres vivos. Ela já está em curso há alguns milhares de anos. Estas extinções, misteriosamente, pertencem ao processo cosmogênico da Terra. Nos últimos 540 milhões de anos ela conheceu cinco grandes extinções em massa, praticamente uma em cada milhão de anos, exterminando grande parte da vida no mar e na terra. A última ocorreu há 65 milhões de anos quando foram dizimados os dinossauros entre outros.

Até agora todas as extinções eram ocasionadas pelas forças do próprio universo e da Terra a exemplo da queda de meteoros rasantes ou de convulsões climáticas. A sétima está sendo acelerada pelo próprio ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz-nos o cosmólogo Brian Swimme em entrevista recente no Enlighten Next Magazin, n.19. Os dados são estarrecedores: Paul Ehrlich, professor de ecologia em Standford calcula em 250.000 espécies exterminadas por ano, enquanto Edward O. Wilson de Harvard dá números mais baixos, entre 27.000 e 1000.000 espécies por ano (R Barbault, Ecologia geral 2011, p.318).

O ecólogo E. Goldsmith da Universidade da Georgia afirma que a humanidade ao tornar o mundo cada vez mais empobrecido, degradado e menos capaz de sustentar a vida, tem revertido em três milhões de anos o processo da evolução. O pior é que não nos damos conta desta prática devastadora nem estamos preparados para avaliar o que significa uma extinção em massa. Ela significa simplesmente a destruição das bases ecológicas da vida na Terra e a eventual interrupção de nosso ensaio civilizatório e quiçá até de nossa própria espécie. Thomas Berry, o pai da ecologia americana, escreveu: Nossas tradições éticas sabem lidar com o suicídio, o homicídio e mesmo com o genocídio mas não sabem lidar com o biocídio e o geocídio (Our Way into the Future, 1990 p.104).

Podemos desacelerar a sétima extinção em massa já que somos seus principais causadores? Podemos e devemos. Um bom sinal é que estamos despertando a consciência de nossas origens há 13,7 bilhões de anos e de nossa responsabilidade pelo futuro da vida. É o universo que suscita tudo isso em nós porque está a nosso favor e não contra nós. Mas ele pede a nossa cooperação já que somos os maiores causadores de tantos danos. Agora é a hora de despertar enquanto há tempo. Fonte: Leonardo Boff (*), Instituto Carbono Brasil de 27.02.2012

O primeiro que importa fazer é renovar o pacto natural entre Terra e Humanidade. A Terra nos dá tudo o que precisamos. No pacto, a nossa retribuição deve ser o cuidado e o respeito pelos limites da Terra. Mas, ingratos, lhe devolvemos com chutes, facadas, bombas e práticas ecocidas e biocidas.

O segundo é reforçar a reciprocidade ou a mutualidade: buscar aquela relação pela qual entramos em sintonia com os dinamismos dos ecosistemas, usando-os racionalmente, devolvendo-lhe a vitalidade e garantindo-lhe sustentabilidade. Para isso necessitamos nos reinventar como espécie que se preocupa com as demais espécies e aprende a conviver com toda a comunidade de vida. Devemos ser mais cooperativos que competitivos, ter mais cuidado que vontade de submeter e reconhecer e respeitar o valor intrínseco de cada ser.

O terceiro é viver a compaixão não só entre os humanos, mas para com todos os seres, compaixão como forma de amor e cuidado. A partir de agora eles dependem de nós se vão continuar a viver ou se serão condenados a desaparecer. Precisamos deixar para trás o paradigma de dominação que reforça a extinção em massa e viver aquele do cuidado e do respeito que preserva e prolonga a vida. No meio do antropoceno, urge inaugurar a era ecozóica que coloca o ecológico no centro. Só assim há esperança de salvar nossa civilização e de permitir a continuidade de nosso planeta vivo.

(*)Leonardo Boff é autor com Mark Hathaway de O Tao da Libertação: explorando a ecologia da transformação, Vozes 2011.

 

2 – Extinção de espécies não se freia com magia

 

Conseguir que a biodiversidade se integre às políticas de cada repartição governamental é o tipo de avanço necessário para frear o desaparecimento de flora e fauna, afirma Bráulio Ferreira de Souza Dias, secretário-executivo do Convênio das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica.

Vancouver, Canadá, 27 de fevereiro de 2012 (Terramérica).- Cerca de 8,7 milhões de espécies, segundo as últimas estimativas, criam as condições para que a Terra seja um planeta com vida, ar, água e alimento. A humanidade sabe muito pouco sobre 99% delas, exceto que muitas se extinguem em grande velocidade. Como frear este processo que pode, inclusive, levar à extinção da espécie humana?

O desafio é encontrar o ponto intermediário entre os interesses econômicos, a subsistência e a conservação da natureza, respondeu ao Terramérica o novo secretário-executivo do Convênio das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CDB), mecanismo criado para ajudar os países a reduzir e reverter o desaparecimento de plantas, animais e outras espécies.

O brasileiro Bráulio Ferreira de Souza Dias é doutor em zoologia pela Universidade de Edimburgo, e por muitos anos trabalhou no Ministério do Meio Ambiente do Brasil. Seu último cargo nessa pasta foi a chefia da Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Em entrevista ao Terramérica, Bráulio afirmou que se deve integrar a biodiversidade em todas as políticas e em todos os setores governamentais.

TERRAMÉRICA – Por que se extinguem as espécies e por que isto é grave?

Bráulio Ferreira de Souza Dias – Darei um exemplo. A agricultura tem muito impacto sobre a biodiversidade. A conversão de terras causa a perda de serviços fornecidos pelos ecossistemas naturais, como reduzir as inundações e limpar e reter a água. Também perdemos diversidade genética, o que significa menos opções para combater doenças no futuro, e muitas outras coisas potencialmente úteis para a humanidade. Quando uma espécie se extingue, se vai para sempre.

TERRAMÉRICA – Como novo secretário executivo do Convênio, como espera reduzir o desaparecimento cada vez mais acelerado de espécies?

BFDSD – Um objetivo importante é incluir a biodiversidade na agenda de todos os departamentos governamentais de todos os governos nacionais. Queremos que entendam e considerem os impactos sobre a biodiversidade quando elaboram normas e políticas. Estudos como o TEEB (sigla em inglês para a economia dos ecossistemas e da biodiversidade) fornecem dados sobre a importância da diversidade biológica para as economias de todos os países. Não é fácil conseguir e não há soluções mágicas.

TERRAMÉRICA – As mudanças no Código Florestal brasileiro podem levar a um aumento do desmatamento na Amazônia. A controvérsia que esta reforma gerou ilustra o desafio de incluir a biodiversidade nas políticas de Estado?

BFDSD – Este é um exemplo concreto. Os governos devem lidar com interesses que competem entre si. Neste caso, produtores agropecuários e ambientalistas, interesses agrícolas e o público em geral. O desafio é encontrar o ponto de equilíbrio entre os interesses econômicos, a sobrevivência e a conservação. Em 2011, a Câmara Federal adotou uma versão do Código que parecia favorecer os interesses agropecuários. Em dezembro, o Senado introduziu mudanças ao projeto que dão um enfoque mais equilibrado. Esta versão será apresenta em março na Câmara. O Brasil conseguiu reduzir o desmatamento na última década devido a uma melhor educação sobre o real valor da conservação e dos ecossistemas naturais. O público, definitivamente, aumentou a pressão sobre o governo.

TERRAMÉRICA – Quanto é importante a educação nesse sentido?

BFDSD – A informação é fundamental, mas também o são os instrumentos financeiros. Por exemplo, gostaria que a próxima Conferência das Partes (COP 11, que acontecerá em outubro, em Hyderabad, na Índia) surja um acordo para que os governos usem critérios de sustentabilidade ao realizar qualquer compra.

TERRAMÉRICA – Em 2010, a COP 10 adotou o Protocolo de Nagoya sobre Acesso aos Recursos Genéticos e a Participação Justa e Equitativa nos Benefícios Derivados de sua Utilização no Convênio sobre a Diversidade Biológico. A que os países signatários deste documento estão obrigados?

BFDSD – Em Nagoya as nações assumiram o firme compromisso de reduzir as perdas de biodiversidade. Foi um grande êxito. Agora, cada país tem uma estratégia nacional e um plano de ação para proteger a biodiversidade em seu território. Este compromisso deve ser levado aos âmbitos domésticos e a todos os setores para que haja resultados concretos. Não é fácil para a maioria dos países e exigirá financiamento e assistência técnica.

TERRAMÉRICA – Os especialistas e diplomatas que negociaram o Protocolo de Nagoya têm que conseguir que seus governos o adotem. Quando espera que o tratado seja ratificado e legalmente vinculante?

BFDSD – Mais de 90 países apresentaram cartas de acordo sobre a ratificação do Protocolo. Contudo, o trâmite legislativo em cada país demora. Temos algumas ratificações, mas não chegaremos às 50 necessárias para que o Protocolo entre em vigor a tempo da COP 11.

TERRAMÉRICA – Quais outros temas a agenda dessa Conferência incluirá?

BFDSD – Trabalharemos para criar um novo mecanismo de financiamento e um programa de trabalho. Esta é a parte de como fazer para cumprir os objetivos mundiais de biodiversidade. A conservação em alto mar será um tema especial. Nenhum país tem jurisdição sobre estas áreas, assim não é parte dos planos nacionais. As águas oceânicas são extremamente importantes em matéria de biodiversidade e de processos ecológicos (o plâncton oceânico fornece boa parte do oxigênio que respiramos).

TERRAMÉRICA – O que acontecerá com a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio 20), prevista para junho, quando estará completando 20 anos da histórica Cúpula da Terra, na qual nasceu o CDB.

BFDSD – Há uma agenda ampla para avançar para uma economia verde. Esta não será uma grande conferência sobre biodiversidade, mas sobre tudo o que se relaciona com ela. Se a Rio 20 puser esta agenda em movimento, também ajudará a biodiversidade. Fonte: Stephen Leahy, IPS de 28.02.2012

Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

 

3 –  Proantar, 30

Editorial da Folha de São Paulo de hoje (28).
O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) completa 30 anos em clima de consternação. O incêndio que destruiu 70% da Estação Comandante Ferraz e causou as mortes do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e do primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos, ambos da Marinha, lança o programa no limbo da incerteza.

A base brasileira de pesquisas inaugurada em 1984 não é supérflua, como poderia parecer à primeira vista. O Brasil é um país tropical, mas também o sétimo mais próximo do continente gelado. Ali se originam as frentes frias que afetam as colheitas no Sul e Sudeste, sobretudo. Estudar a meteorologia antártica é crucial para entender o tempo por aqui. Além disso, a realização de pesquisas perenes é precondição para o País permanecer como membro pleno do Tratado da Antártica (1959), que suspendeu todas as reivindicações territoriais sobre o continente austral e reservou-o exclusivamente para fins pacíficos.

Nas suas três décadas, o Proantar permitiu a formação de centenas de cientistas e bom acervo de estudos. O Brasil não pode ser considerado, contudo, um líder mundial em investigações antárticas. Seus objetivos são pouco ambiciosos, e o financiamento, irregular.

Até aqui, o grosso da pesquisa realizada por equipes nacionais restringiu-se à periferia do continente. A base brasileira fica na ilha Rei George, na ponta da península Antártica – a língua de terra gelada que se projeta em direção ao extremo sul da América. As condições climáticas ali são amenas, em comparação com os rigores enfrentados no interior da Antártica, e muito pouco representativas do continente como um todo.

As pesquisas, além de modestas, padecem com intempéries orçamentárias em Brasília. As verbas oscilam demais: em anos como 2006 e 2009, a dotação pode ultrapassar R$ 30 milhões (cifra diminuta, diante de gigantes como EUA e Rússia), e depois cair para R$ 10,7 milhões, como neste ano. Em 2002, eram R$ 2,7 milhões.

Na realidade, o Proantar é outro projeto de país grande – como o espacial – que o Brasil custeia com orçamento de país pequeno. Não se pode estabelecer um vínculo entre subfinanciamento e acidentes, decerto, mas também é fato que o Proantar não se reerguerá das cinzas sem um investimento mais constante do governo.

 

4 – Cientista mente para expor cético do clima

Hidrologista americano falseou sua identidade para obter documentos de organização conservadora dos EUA. Pesquisador acabou admitindo culpa no episódio e deixou cargo em instituto de pesquisa na Califórnia.
Uma das principais vozes científicas em defesa da realidade do aquecimento global causado pelo homem caiu em desgraça na semana passada. O hidrologista americano Peter Gleick assumiu publicamente que se passou por outra pessoa para tentar expor as táticas de um grupo de céticos do clima.

O caso envenena ainda mais o debate público sobre o aquecimento global nos Estados Unidos, país que é um dos principais responsáveis pelo problema – graças às enormes quantidades de gases do efeito estufa que a nação produz – e onde a briga política entre os que acreditam no fenômeno e os que negam sua existência paralisa as ações para mitigá-lo.

O caso começou com o que parecia ser uma versão às avessas do chamado “Climagate”, de 2009. Nessa polêmica anterior, hackers anônimos disponibilizaram na internet milhares de e-mails assinados pelos principais climatologistas do mundo. Algumas mensagens pareciam dar a entender que os cientistas estavam ocultando e manipulando dados para tentar persuadir o público de que o aquecimento global é causado pelo homem.

Várias investigações acabaram mostrando que os e-mails tinham sido tirados de seu contexto original e que não houve manipulação da ciência do clima. Mas o dano à reputação dos cientistas já estava feito, em especial em países como os EUA.

No dia 15 deste mês, veio o que parecia ser o troco. Um remetente anônimo enviou para órgãos da imprensa e blogueiros americanos o que pareciam ser documentos sigilosos do Heartland Institute, ONG conservadora americana que promove, entre outras coisas, o ceticismo climático entre o público.

Os documentos incluem uma lista dos doadores do instituto – entre eles a Microsoft e a General Motors – e detalhes de um plano para criar um currículo para escolas públicas sobre a mudança climática, com o objetivo de ensinar que os cientistas não sabem se o homem está mesmo alterando o clima.

‘Suspeito óbvio’ – A chefia do Heartland Institute veio a público para dizer que um dos documentos divulgados era falso e ameaçou processar o responsável pelo vazamento. Funcionários da ONG chegaram a especular que Gleick era um dos “suspeitos óbvios”.

O cientista acabou admitindo a culpa numa postagem em seu blog no site “Huffington Post”. Ele teria recebido uma versão dos documentos de maneira anônima pelo correio e, para confirmar a veracidade deles, teria se passado por um membro da diretoria do Heartland Institute. Gleick foi condenado publicamente pela AGU (União Geofísica Americana), órgão ao qual pertence, e renunciou ao seu cargo no Pacific Institute, na Califórnia. (Folha de São Paulo)