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Informativo 402 – Pinguins; “La Niña”; Micróbios; Bactérias e Dinossauros

1 – Identificação de pinguins prejudica estudos de clima

2 – “La Niña” explica inundações em vários países do mundo

3 – Micróbios das florestas

4 – Cientistas encontram bactérias vivas enterradas em sal há 34 mil anos

5 – Alvorecer dos dinossauros

 

1 – Identificação de pinguins prejudica estudos de clima

Pesquisadores acompanharam as aves por dez anos e descobriram que pulseira de identificação altera suas taxas de mortalidade
Prender pulseiras de identificação nas nadadeiras dos pingüins, uma prática costumeira para rastrear populações selvagens, não só prejudica a sobrevivência e a reprodução dos animais como pode colocar em cheque vários estudos sobre mudanças climáticas.
Ao longo de dez anos, pesquisadores da Universidade de Strasbourg acompanharam 50 pinguins-rei (Aptenodytes patagonicus) com braçadeiras e 50 sem braçadeiras e constataram que os que tinham marcação produziram 39% menos filhotes e tiveram índice de sobrevivência 16% mais baixo que em comparação aos outros.
“Foi mostrado, por exemplo, que pinguins com que se atrasaram para a época de reprodução sempre falham na reprodução. Nós mostramos que isto nem sempre é verdade. Em relação às mudanças climáticas, a pulseira é uma desvantagem a mais, pois destorce os dados”, disse ao iG Yvon Le Maho da Universidade de Strasbourg e autor do estudo que publicado esta semana no periódico científico Nature.
O modo de nadar dos pinguins está focado exclusivamente em suas nadadeiras. Outro estudo feito com pinguins Adélia em cativeiro mostrou que as braçadeiras aumentam em 24% a energia gasta para nadar.
“Os pinguins têm de lidar com o atrito da braçadeira na água. Isso significa que eles têm de gastar mais energia e precisam comer mais. Também gastam mais tempo no mar a procura de alimento para seus filhotes. Ele também tende a atrasar para o início da temporada de procriação”, complementou ao iG Rory Wilson da Universidade de Swansea, no Reino Unido, que escreveu um artigo complementar ao estudo na mesma edição da Nature.
O estudo também questiona dados prévios sobre aquecimento global, pois o comportamento dos pinguins é visto muitas vezes como tendência para possíveis mudanças climáticas. O estudo mostra que a compreensão dos efeitos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas marinhos com base em dados de pulseiras deve ser reconsiderada.
Para Wilson, a conclusão mais importante do estudo feito com pinguins da Antártida é que métodos de pesquisa tidos como triviais podem afetar os animais muito intensamente. Ele alerta que pesquisadores devem rever dados de suas pesquisas e verificar se o efeito causado pelas braçadeiras influenciou o resultado da pesquisa.
“Os resultados do estudo realizado pela equipe de pesquisadores da Universidade de Strasbourg mostram que o uso de pulseiras de identificação em pinguins tem graves consequências para as aves. Assim, qualquer estudo que pretenda utilizar este tipo de equipamento tem que ter muito boas razões de fato fazer isso. Eu pessoalmente não vou usar isto em qualquer um dos meus estudos”, disse Wilson. (Maria Fernanda Ziegler) (IG, 13/1)

 

2 – “La Niña” explica inundações em vários países do mundo

Fenômeno tem causado chuvas torrenciais desde o ano passado
Menos conhecido e menos frequente que o “El Niño”, o “La Niña” é um fenômeno natural que resfria as águas do oceano Pacífico e produz mudanças na dinâmica atmosférica. Assim como o primeiro, também pode impor um padrão distinto de comportamento climático em todo o mundo.
O último episódio do “La Niña” atinge agora seu pico e, segundo estudiosos, pode se estender até o meio deste ano. Seus primeiros efeitos, avaliados como sendo de intensidade moderada a forte, começaram a ser percebidos em meados de 2010.
O fenômeno pode ser o responsável por inundações na Austrália e nas Filipinas, onde dez pessoas morreram desde o início deste mês.
As chuvas torrenciais que mataram centenas de pessoas na Venezuela e na Colômbia, em novembro e dezembro, também são reflexos do “La Niña”.
A inundação no Paquistão, em agosto do ano passado, encaixa-se nos efeitos do fenômeno.
Naquele país, os reflexos do “La Niña” foram particularmente ruins. Na região, o “La Niña” foi imediatamente seguido pelo “El Niño”, que tende a deixar as temperaturas no oceano Índico mais altas que o normal.
O ar mais quente contém mais vapor de água e assim pode produzir mais chuva.
“Os padrões altos de precipitação do “La Niña”, aliados ao calor após o “El Niño”, ajudam a explicar por que as inundações no Paquistão foram tão devastadoras”, diz o especialista Kevin Trenberth, do Centro Americano para Pesquisa Atmosférica.
Mares mais quentes na Austrália também podem explicar a dimensão das atuais inundações.
Devido ao aquecimento das águas, as inundações, em associação ao “El Niño”, devem se agravar em breve. E esses não são os únicos danos que o fenômeno pode causar. Nos próximos meses, a corrente “La Niña” pode fazer mais vítimas em outras partes do mundo.
De acordo com um estudo da Cruz Vermelha e do Instituto Internacional de Pesquisas de Clima e Sociedade, chuvas fortes podem ser esperadas no norte da América do Sul e no sudoeste da África nos próximos dois meses.
Em fevereiro de 2000, as enchentes devastadoras em Moçambique, na África, ocorreram exatamente quando o “La Niña” estava próximo do seu pico. (Folha de SP, 14/1)

 

3 – Micróbios das florestas

Projeto estuda importância funcional das bactérias para a floresta. Pesquisas indicam que na Mata Atlântica cada espécie de árvore pode ter até 2 mil espécies bacterianas associadas
Em 2006, um artigo publicado na revista “Science” por cientistas ligados a um Projeto Temático do Programa Biota-Fapesp demonstrou que as plantas da Mata Atlântica possuem uma diversidade impressionante de bactérias associadas: cada uma das espécies de árvores conta com uma comunidade distinta – e única – de centenas de espécies de bactérias.
A descoberta sugeriu que a função desses microrganismos para a dinâmica da floresta pode ser muito mais importante do que se imaginava. Agora, um outro Projeto Temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), iniciado em 2009, está aprofundando aquelas pesquisas a fim de entender melhor a diversidade microbiológica da floresta.
Um dos achados mais importantes até agora no novo projeto indica que a substituição de uma área de floresta por uma área de plantas cultivadas pode reduzir em mais de 99% a diversidade de bactérias associadas às superfícies das folhas. As consequências disso ainda estão sendo avaliadas.
De acordo com o coordenador do projeto, Marcio Rodrigues Lambais, professor do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), a base para os estudos foi a descoberta de 2006, que demonstrava que cada planta possuía sua própria comunidade de bactérias.
“Estamos agora tentando aprofundar os estudos para saber como essa comunidade bacteriana varia não apenas em relação às várias espécies de planta, mas também em relação à localização das plantas em diferentes ambientes, levando em conta, por exemplo, a posição das árvores dentro de um determinado parque, ou a comparação entre a mesma espécie de planta em parques distantes”, disse à Agência Fapesp.
Na superfície das folhas, troncos e raízes das árvores existem biofilmes muito complexos compostos por diversos microrganismos que interagem entre si, com a planta, com os animais e com a atmosfera. Segundo Lambais, esses microrganismos associados às plantas – e cuja função pouco se conhece – estão sendo estudados com a utilização de ferramentas metagenômicas.
“Os estudos mostram que cada espécie de planta tem associada a ela um conjunto único de espécies de bactérias. E cada parte da planta tem uma comunidade diferente. Na folha, na casca ou na raiz, as mesmas espécies bacterianas não se repetem”, disse Lambais. Só nas folhas foram encontradas de 30 a 600 espécies bacterianas distintas, dependendo da espécie vegetal.
“Se computarmos a totalidade dessa diversidade, concluímos que cada espécie de planta pode ter mais de 2 mil espécies de bactérias associadas. Uma diversidade gigantesca sobre a qual não conhecemos praticamente nada”, destacou.
A maior parte dos estudos está sendo realizada nas áreas pertencentes ao Temático que gerou os estudos concluídos em 2006, conhecido como Parcelas Permanente e coordenado pelo professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, também da Esalq. O trabalho mais recente foi feito na parcela de 10 hectares localizada no Parque Carlos Botelho, onde existem 217 espécies de árvores.
“O projeto Parcelas Permanentes já havia caracterizado toda a área e realizado o censo das espécies vegetais. Já tínhamos esses dados, além de outros relacionados às características químicas e físicas do solo, e os utilizamos para agregar informação microbiológica. No estudo, conseguimos demonstrar relação entre a estrutura da comunidade de bactérias e a filogenia das plantas”, disse Lambais.
Diferenças nas áreas cultivadas
A partir das informações levantadas com o uso de tecnologias moleculares, os pesquisadores acreditavam que provavelmente as plantas cultivadas teriam associadas a elas uma quantidade de bactérias menor e bem diferente das que estão presentes nas espécies da floresta.
“Tínhamos essa curiosidade e fomos fazer essa comparação utilizando soja, cana-de-açúcar e eucalipto. Para nossa surpresa, as plantas cultivadas e as árvores da floresta são estatisticamente muito semelhantes em termos de diversidade e riqueza estimada de espécies bacterianas. No entanto, os tipos de bactéria que vivem nas folhas das plantas cultivadas é bem diferente daquelas que vivem nas plantas da floresta”, disse.
Enquanto nas plantas da mata predominam as gamaproteobactérias, nas plantas cultivadas predominam as alfaproteobactérias. “Normalmente, essas alfaproteobactérias são microrganismos que crescem muito rápido e que, por isso, estão muito bem adaptadas ao ciclo curto das culturas agrícolas”, contou Lambais.
Uma cultura de soja, por exemplo, passa por um ciclo de três meses até a colheita. A comunidade de bactérias ali presente está adaptada a essa situação e cresce muito rapidamente.
“Em espécies arbóreas a situação é muito mais estável. O biofilme de bactérias nas folhas pode se desenvolver por um período de tempo muito maior. Certamente, esse tipo de comunidade bacteriana tem funções muito diferentes. Então, se alteramos o uso do solo, alteramos também todos os processos que dependem dessa comunidade microbiana associada às plantas”, disse.
A substituição de uma área de floresta por uma área idêntica de plantas cultivadas poderia reduzir drasticamente a diversidade bacteriana, segundo o estudo. Segundo Lambais, o cálculo foi feito a partir dos dados da área de 10 hectares de floresta da reserva Carlos Botelho, que possui mais de 200 espécies arbóreas.
“Considerando-se que há 200 espécies vegetais e cada uma possui pelo menos 50 espécies de bactérias associadas à filosfera, temos pelo menos 10 mil espécies diferentes de bactérias por hectare. Se substituirmos os 10 hectares de floresta por 10 hectares de cana-de-açúcar, por exemplo, teremos apenas as 50 bactérias associadas à folha da cana-de-açúcar. Serão apenas 50 tipos de bactérias, em vez de 10 mil. Só aí temos uma redução de mais de 99%”, explicou.
Nas plantações, grandes áreas são dominadas por uma só espécie vegetal. Isso se reflete na variabilidade das espécies de bactérias, fazendo com que um único grupo domine toda a área. A manutenção de diversidade vegetal, portanto, é importante também para manter a diversidade microbiológica.
“O que não sabemos ainda com exatidão é qual a importância de se manter essa diversidade de bactérias. Por isso, estamos tentando entender quais são os papéis funcionais dessas bactérias na floresta, definir o que elas fazem”, disse Lambais.
Funções das bactérias
Um exemplo dessas funções das bactérias foi descoberto em uma outra área do programa Biota: o Núcleo Santa Virgínia, no Parque Estadual da Serra do Mar. Ali, a equipe do Prof. Lambais detectou que algumas espécies de plantas têm altíssima atividade de fixação de nitrogênio na superfície de suas folhas.
“O nitrogênio é um elemento essencial para o crescimento da planta e não existe disponibilidade desse elemento no solo da floresta. Para a manutenção da floresta, o nitrogênio precisa vir do meio externo. Ele é capturado do ar por microrganismos que vivem associados à folha e à casca das árvores”, explicou Lambais.
Segundo o professor da Esalq, o palmito, uma planta dominante nessas áreas de Mata Atlântica, foi identificado como uma das plantas que têm alta fixação de nitrogênio nas folhas. “Temos uma hipótese que ainda vamos testar com o palmito: achamos que a predominância de algumas espécies de plantas na floresta está associada à capacidade delas se associarem com bactérias fixadoras de nitrogênio”, afirmou.
A fixação do nitrogênio, no entanto, é apenas um dos inúmeros exemplos da importância funcional das bactérias para a floresta. Algumas dessas bactérias têm alta capacidade de produção de compostos antibióticos.
“Por que as plantas na floresta raramente ficam doentes? Provavelmente elas têm a proteção natural desses microrganismos que estão ali vivendo. Quando uma planta é domesticada e cultivada em grandes monoculturas, ela rapidamente perde a capacidade de inibir o crescimento de microrganismos patogênicos e, com isso, o resultado são os surtos de doenças nas plantações. Proteger a própria planta pode ser uma das outras funções que as bactérias podem ter”, afirmou.
Segundo Lambais, embora ainda esteja em seu primeiro ano, o Projeto Temático já tem resultados promissores e várias publicações estão em preparação. “Temos um grupo grande envolvido com o projeto e contamos com o apoio de várias outras pessoas interessadas na questão microbiológica”, disse. (Fábio de Castro) (Agência Fapesp, 14/1)

 

4 – Cientistas encontram bactérias vivas enterradas em sal há 34 mil anos

Halita conservou seres vivos
Um complexo ecossistema de bactérias devoradoras de sal sobrevive há 34 mil anos enterrado em fluidos no interior de minerais de Death Valley e Saline Valley, no estado americano da Califórnia, tal como revela um estudo publicado nesta quinta-feira.
A halita, como se denomina o mineral formado por cristais de cloreto de sódio, foi o lar dessas bactérias, procariotas e eucariotas, durante dezenas de milhares de anos, segundo o estudo, publicado na edição de janeiro da revista da Sociedade Geológica Americana, “GSA Today”.
Segundo o principal autor do texto, o cientista Brian A. Schubert, do Departamento de Estudos Geológicos da Universidade do Estado de Nova York, as bactérias estão vivas, mas a vida delas é limitada à sobrevivência, pois não usam energia para nadar nem se reproduzir.
A base de sua sobrevivência é um organismo unicelular, chamado alga Dunaliella, presente em muitos sistemas salinos. Esse organismo produz carvão e outros metabolitos que servem de sustento às bactérias.
Assim, os organismos podem sobreviver, durante períodos imprevisíveis, flutuando em fluidos no interior dos minerais.
“A parte mais emocionante (da pesquisa) foi quando pudemos identificar as células de Dunaliella nos cristais, porque eram indícios de que poderia haver uma fonte de alimento”, explicou Schubert ao site Our Amazing World.
O rápido crescimento dos cristais de sal, que envolvem todos os fluidos em pequenas borbulhas protegidas em seu interior, é outra das razões da surpreendente longevidade das bactérias, segundo o estudo.
A pesquisa de Schubert e sua equipe não é a primeira descoberta de organismos tão antigos, pois já foram publicados inclusive estudos que falam de bactérias vivas de mais de 250 milhões de anos, mas é a primeira em que os cientistas comprovaram suas conclusões repetindo os testes.
Segundo Schubert, a prova de que seu estudo não é manipulado é que conseguiu fazer com que os organismos voltassem a crescer uma segunda vez, e quando enviou os cristais a outro laboratório, obteve os mesmos resultados.
Os cientistas ainda não determinaram, no entanto, como as bactérias conseguiram sobreviver durante tantos milhares de anos com o sustento tão mínimo que a alga lhes proporcionava.
A equipe pretende agora aprofundar essa pesquisa e contrastá-la com outros estudos que exploram a vida microbiana na terra e no sistema solar, onde existem materiais de inclusive bilhões de anos de idade que são potencialmente capazes de abrigar microorganismos.
Por enquanto, Schubert e seus colegas conseguiram algo pouco comum: que bactérias se reproduzam pela primeira vez em milhares de anos.

Cinco dos 900 cristais de sal analisados pela equipe produziram novas bactérias vivas, indicou Schubert. Segundo ele, os micróbios demoraram cerca de dois meses e meio para “despertar” de seu estado de letargia antes de começar a se reproduzir. (Efe) (Terra, 13/1)

 

5 – Alvorecer dos dinossauros

Cientistas da Argentina e Estados Unidos descobrem, na Cordilheira dos Andes, o mais antigo dinossauro carnívoro: o pequeno Eodromaeus existiu no início da era dos grandes répteis. Estudo foi publicado na “Science”
Uma equipe de paleontólogos e geólogos da Argentina e os Estados Unidos anunciou a descoberta de um dinossauro percorria a América do Sul em busca de presas no início da era dos grandes répteis, há cerca de 230 milhões de anos.
Com cauda e pescoço compridos, pesando entre 4 e 7 quilos, o novo dinossauro foi batizado como Eodromaeus, o “corredor do alvorecer”. O estudo que descreve a descoberta foi publicado na edição desta sexta-feira (14/1) da revista “Science”.
De acordo com Paul Sereno, paleontólogo da Universidade de Chicago, trata-se do mais antigo dinossauro conhecido na longa linha de carnívoros que iria culminar com o Tyrannosaurus rex, no fim do período dos grandes répteis. “Quem poderia prever que a evolução tinha reservado para os descendentes desse pequeno e veloz predador?” disse Sereno.
O grupo de cientistas descreveu um esqueleto quase completo da nova espécie, com base na rara descoberta de dois indivíduos encontrados lado a lado. O artigo apresenta uma nova visão do alvorecer da era dos dinossauros – um período-chave que tem recebido menos atenção que a fase de desaparecimento dos grandes répteis. “É um período mais complexo do que se supunha”, disse Sereno.
Situado no pitoresco sopé da Cordilheira dos Andes, o local da descoberta é conhecido como Vale da Lua, segundo o autor principal do artigo, Ricardo Martinez, da Universidade Nacional de San Juan, na Argentina.
“Duas gerações de trabalhos de campo no local resultaram na melhor – e única – visão que temos do nascimento dos dinossauros. Com uma caminhada através do vale, é possível literalmente passear sobre o cemitério dos primeiros dinossauros”, disse Martinez.
A área já foi uma grande fenda no extremo sudoeste do supercontinente Pangea. Sedimentos cobriram os esqueletos durante um período de cinco milhões de anos, acumulando eventualmente uma espessura de mais de 700 metros.
Vulcões associados com a nascente Cordilheira dos Andes ocasionalmente expeliam cinzas vulcânicas no vale, permitindo que a equipe utilizasse elementos radioativos presentes nas camadas de cinza para determinar a idade dos sedimentos.
“Os radioisótopos – que funcionam como nossos relógios nas rochas – não apenas situaram a nova espécie no tempo, há cerca de 230 milhões de anos, mas também nos deram uma perspectiva sobre o desenvolvimento desse vale tão importante”, disse Paul Renne, diretor do Centro de Geocronologia de Berkeley, na Califórnia (Estados Unidos). “Cerca de 5 milhões de anos estão representados nessas camadas, de um lado até o outro”, afirmou.
Nas rochas mais antigas, o Eodromaeus viveu lado a lado com o Eoraptor, um dinossauro herbívoro de tamanho semelhante que Sereno e sua equipe descobriram no vale em 1991. Os descendentes do Eoraptor incluiriam eventualmente os saurópodes, um grupo de dinossauros gigantes, quadrúpedes, de pescoço longo.
O Eodromaeus, com dentes caninos tão afiados como suas garras, é o precursor dos carnívoros conhecidos como terápodes e, eventualmente, das aves. “Estamos tentando montar um retrato da vida dos dinossauros mais primitivos. Sua trajetória evolutiva é cheia de desdobramentos, mas naquele ponto, eles eram na verdade bem semelhantes”, disse Sereno.
As questões mais difíceis relacionadas ao alvorecer da era dos dinossauros incluem, segundo os pesquisadores, o que lhes teria dado vantagem em relação aos competidores e com que rapidez eles conseguiram estabelecer seu predomínio. Na época do Eodromaeus, outros tipos de répteis superavam os dinossauros, como os rincossauros, semelhantes a lagartos e outros répteis semelhantes aos mamíferos.
Os autores registraram milhares de fósseis desenterrados no vale para descobrir, como observou Martinez, que “os dinossauros levaram tempo para dominar o cenário”. Seus competidores ficaram para trás sucessivamente ao longo de milhões de anos.
Nas falésias no extremo do vale, dinossauros maiores – herbívoros e carnívoros – evoluíram para tamanhos várias vezes maiores que o do Eoraptor e do Eodromaeus, mas só mais tarde eles dominariam todos os habitats terrestres, nos períodos jurássico e cretáceo.
“A história desse vale sugere que não foi apenas uma determinada vantagem ou um golpe de sorte único o que teria garantido o domínio dos dinossauros, mas sim um longo período de experimentação evolucionária à sombra de outros grupos”, disse sereno.
Outros pesquisadores envolvidos com o estudo investigaram as mudanças climáticas e outras condições através das camadas do vale. “A era dos dinossauros está ficando em evidência”, disse Martinez.
O artigo “A Basal Dinosaur from the Dawn of the Dinosaur Era in Southwestern Pangaea”, de Ricardo Martinez e outros, pode ser lido por assinantes da “Science” em www.sciencemag.org (Agência Fapesp, 14/1)