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Informativo 396 – Réptil voador brasileiro; Megaextinção; Antropoceno; Asa de ataque e Morcego

1 – Dupla “resgata” o 1º réptil voador brasileiro

2 – Bioinvasor pode causar megaextinção

3 – Antropoceno, a era geológica em que o homem ‘desregulou’ a Terra

4 – Asa de ataque

5 – Morcego voa à noite para não superaquecer

 

1 – Dupla “resgata” o 1º réptil voador brasileiro

Dentes da criatura, coletados na Bahia no século 19, estiveram sumidos em Londres
Nas gavetas do Museu de História Natural de Londres, uma dupla de pesquisadores brasileiros conseguiu resgatar uma das mais antigas descobertas paleontológicas do país -e a memória de uma velha lambança científica.
Tratam-se de dois dentes de pterossauro -um réptil alado da Era dos Dinossauros. O que sobrou do bicho foi coletado na Bahia por Joseph Mawson no fim do século 19. Os restos foram, mais tarde, descritos pelo paleontólogo britânico Arthur Smith Woodward (1864-1944). É o primeiro pterossauro descoberto na América do Sul.
Os fósseis ficaram esquecidos no museu londrino até serem encontrados de novo em 2007. Agora, os paleontólogos Taissa Rodrigues e Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), conseguiram reexaminar os dentes e publicar os resultados na “Revista Brasileira de Paleontologia”.
Rodrigues e Kellner, especialistas em pterossauros, apostam que os dentes pertencem a um parente dos célebres membros do gênero Anhanguera, já com várias espécies identificadas nas rochas da chapada do Araripe (CE). Eles chegavam a ter 4 m de uma ponta à outra das asas -tão grandes quanto as maiores aves vivas, digamos.
Os detalhes dos dentes não são suficientes para dizer se pertenciam a uma espécie ainda desconhecida.
Os paleontólogos brasileiros também mostram, no estudo, que Woodward havia se confundido feio ao examinar e descrever outros fósseis baianos em 1891. Ele havia dito que os ossos pertenciam a um pterossauro, mas eles, na verdade, eram de um celacanto -peixe relativamente próximo dos vertebrados terrestre, de cujo grupo ainda há espécies vivas.
Coincidência ou não, isso talvez indique certa propensão do britânico a comprar gato por lebre. Anos depois, ele seria enganado pela fraude do chamado homem de Piltdown, suposto ancestral do ser humano que, na verdade, foi forjado.
(Reinaldo José Lopes)
(Folha de SP, 2/1)

 

2 – Bioinvasor pode causar megaextinção

Análise de grande sumiço de espécies há 360 milhões sugere que animais exóticos tomaram o lugar de nativos
Esqueça os meteoritos, os supervulcões ou os raios gama do espaço. Uma nova pesquisa diz ter flagrado a causa de uma das maiores extinções do passado, e ela é bem menos apocalíptica: uma invasão biológica.
Esse tipo de invasão é cada vez mais comum hoje, quando a ação humana carrega cada vez mais espécies exóticas para todos os cantos da Terra. Essas espécies, sem inimigos naturais, viram pragas quase incontroláveis, substituindo plantas e bichos nativos com folga.
Daí a importância do novo estudo, assinado por Alycia Stigall, da Universidade de Ohio (EUA). Ao estudar a extinção em massa do fim do Devoniano, fase da história do planeta que terminou há cerca de 360 milhões de anos, a pesquisadora mostrou que espécies invasoras podem desestabilizar os mecanismos que garantem a saúde da biodiversidade.
A megaextinção do Devoniano faz parte da tradicional lista das “Big Five”, os cinco grandes sumiços de espécies que já atingiram a Terra.
No caso do Devoniano, os fósseis mostram que a catástrofe atingiu principalmente os mares. Cerca de 70% dos animais marinhos teriam sumido, entre as quais gigantescos recifes de coral, formados por espécies totalmente diferentes das atuais.
O esquisito, no entanto, é que análises recentes andavam apontando uma taxa de sumiço de espécies (por unidade de tempo) não muito diferente da normal nos oceanos dessa época. Alguma coisa, portanto, não batia.
Para explicar a discrepância, Stigall analisou levantamentos de várias espécies de bichos marinhos, entre os quais moluscos bivalves (com duas conchas, como as ostras e os mariscos), braquiópodes (também criaturas de concha, mas que não são moluscos) e crustáceos predadores, primos distantes de siris e caranguejos.
Ao examinar o que acontecia com as espécies ao longo do tempo, a pesquisadora percebeu que, na verdade, não foi a taxa de extinção que aumentou: foi a de surgimento de espécies novas que diminuiu. Além disso, havia um padrão geográfico nisso tudo que, segundo Stigall, ajudou a entender o mistério.
É que, entre os caminhos mais comuns para o surgimento de uma espécie, está o aparecimento de barreiras entre dois grupos de animais (um novo rio ou uma nova cadeia de montanhas, por exemplo). Essas populações ficam separadas, não cruzam mais entre si e, com o tempo, viram espécies distintas.
Quando um cientista observa fósseis ao longo do tempo, esse tipo de evento fica claro se primeiro há só um tipo de fóssil e, mais tarde, dois tipos “filhos” ocupando áreas geográficas menores. E é exatamente isso que some no fim do Devoniano.
A explicação: eventos geológicos, de fato, cortaram as barreiras entre espécies nesse período. Para todos os efeitos, os oceanos do mundo viraram uma coisa só, de forma que espécies exóticas invadiram o território de outras com facilidade.
Resultado: concorrência desleal, da qual poucas criaturas muito versáteis saíram vitoriosas, fazendo a biodiversidade marinha encolher.
O estudo está na revista científica “PLoS One” e pode ser lido de graça na internet. (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 4/12)

 

3 – Antropoceno, a era geológica em que o homem ‘desregulou’ a Terra

Glaciólogo francês Claude Lorius publica livro sobre a relação do homem com o planeta nos últimos 200 anos
Há 200 anos a Terra vive uma nova era geológica, o Antropoceno, que começou quando o homem tomou o controle do planeta, acelerou as emissões de C02 e ‘desregulou a máquina do mundo’, afirma o glaciólogo francês Claude Lorius, um pioneiros dos estudos sobre o clima, em seu novo livro “Voyage dans l’Anthropocène” (Viagem ao Antropoceno, em tradução livre).
Escrito em parceria com o jornalista Laurent Carpentier, a obra discorre sobre a modificação do clima, a acidificação dos oceanos, a erosão dos solos e a biodiversidade ameaçada.
“O homem é um agente determinante da vida sobre a Terra”, explica o especialista de 78 anos que, em 2008, recebeu o prêmio “Blue Planet” por seu trabalho.
“Se existe um indicador da atividade humana, esse é o gás carbônico. Se queimamos uma floresta, fazemos uma fábrica funcionar, dirigimos um carro, tudo isso é CO2”, assinala Lorius.
O conceito de Antropoceno – uma nova época geológica do Quaternário, consecutiva ao Holoceno, que começou há 10.000 anos -, foi desenvolvido em 2002 pelo geoquímico holandês Paul Crutzen e desde então abriu um espaço na comunidade científica, indica Lorius.
Para Crutzen, o Antropoceno começa no ano 1784, quando James Watt inventou a máquina a vapor.
O Antropoceno poderá ser acrescentado oficialmente à tabela dos tempos geológicos no 34o. Congresso Internacional de Geologia que será realizado de 5 a 10 de agosto de 2012 em Brisbane, Austrália, indica Lorius.
“Para nós, no entanto, esta nova era já é uma realidade”, acrescenta o especialista em geleira, que contribui desde os anos 50 para o estudo da evolução do clima mediante a análise das bolhas de ar presas no gelo há milênios.
Lorius foi um dos primeiros a vincular o aumento das temperaturas e a crescente concentração de CO2.
“Tivemos uma sorte extraordinária. Acontece que a Antártica era o melhor lugar para se dar conta de que havia um problema global com o clima”, explica.
Mais de 50 anos depois, o cientista admite, no entanto, que se sente pessimista quanto ao modo que a humanidade está se organizando.
“Os cientistas podem demonstrar que o planeta é único e indivisível, que só há uma atmosfera, um oceano, mas não podem demonstrar aos homens que é de interesse comum preservar o planeta”, assinala.
“Reunir interlocutores com interesses tão diversos não é uma questão de ciência e sim de educação e filosofia”, conclui Lorius. (AFP) (IG, 5/1)

 

4 – Asa de ataque

Ave que viveu há cerca de 10 mil anos na atual Jamaica usava as asas como uma espécie de arma em combate com adversários
O Xenicibis, membro da família do íbis (Threskiornithidae) que viveu há cerca de 10 mil anos, não voava. Mas suas asas eram muito importantes, sendo usadas como um tipo de arma.
A descoberta foi feita por um grupo de paleontólogos da Universidade Yale e da Instituição Smithsonian e será descrita em artigo publicado esta semana na revista Proceedings of the Royal Society B.
Segundo o estudo, a ave, que viveu na região onde hoje se encontra a Jamaica, usava as asas como uma espécie de mangual, tipo de arma medieval que consiste em uma base unida por uma corrente a outra peça (por exemplo, uma bola de ferro), essa última usada para golpear os adversários.
“Nenhum animal conhecido evoluiu dessa forma, usando seu corpo como se fosse um mangual. É o armamento mais especializado em uma ave de que temos notícia”, disse Nicholas Longrich, de Yale, que liderou o estudo.
Na pesquisa, os autores analisaram esqueletos parciais recentemente descobertos de Xenicibis e verificaram que as asas eram muito diferentes de qualquer outra espécie conhecida, atual ou extinta. “A princípio, achamos que se tratava de um tipo de deformidade”, disse Longrich.
A ave, que tinha o tamanho de um grande frango, era anatomicamente parecida com outros membros da família do íbis, exceto pelas asas, que incluíam ossos curvos e grossos nas extremidades. O Xenicibis também tinha ossos no peito mais largos e asas mais longas do que a maioria das aves que não voam.
Existem outras aves que batem nas outras com suas asas, mas o Xenicibis é o único animal conhecido até o momento a usar suas “mãos”, ligadas a juntas nos pulsos, como se fossem tacos de beisebol, girando e golpeando os oponentes. Embora as espécies de íbis atuais não façam isso, são aves muito territoriais, com os machos frequentemente brigando entre eles.
Segundo o estudo, é possível que o Xenicibis também usasse suas asas como defesa contra outros animais e para proteger seus ovos e filhotes. Outra característica inusitada da ave é nunca ter desenvolvido a capacidade de voar, mesmo diante de um grande número de predadores, como répteis, macacos e outras aves.
Nos ossos analisados, Longrich e colegas encontraram evidências de combate, entre as quais ossos fraturados de modo a demonstrar a extrema força aplicada pela ave pré-histórica.
O artigo (doi: 10.1098/rspb.2010.2117) pode ser lido por assinantes da Proceedings of the Royal Society B em: http://rspb.royalsocietypublishing.org (Agência Fapesp, 5/1)

 

5 – Morcego voa à noite para não superaquecer

Experimento mostrou que animal também gasta energia demais quando viaja de dia
Os morcegos e a escuridão da noite parecem ter sido feitos um para o outro, mas as razões biológicas desse casamento ainda não estavam claras. Para cientistas alemães, trata-se de um simples caso de equilíbrio energético.
Cristian Voigt e Daniel Lewanzik, do Instituto Leibniz de Pesquisa Zoológica e da Universidade Livre de Berlim, respectivamente, afirmam que os mamíferos voadores preferem bater asas depois do crepúsculo porque esquentariam demais debaixo da luz solar.
Eles chegaram a essa conclusão depois de experimentos com o morcego Carollia perspicillata, espécie comum em vários países da América do Sul e Central, inclusive no Brasil. Basicamente, o que fizeram foi observar o metabolismo do bicho durante voos curtos durante o dia e à noite.
Verificaram que, nas viagens diurnas, os bichos ficavam com a temperatura corporal 2°C mais elevada. Além disso, produziam 15% mais gás carbônico durante a respiração -sinal de que estavam gastando mais energia.
O voo noturno ou crepuscular, portanto, seria um jeito de evitar que o organismo dos bichos entrasse em pane. É que, por terem asas membranosas e escuras, os morcegos absorvem quantidade considerável de luz solar, o que facilitaria seu superaquecimento de dia.
É verdade que existem exceções a essa regra. Mas esses morcegos diurnos são, em geral, membros de espécies grandalhonas, que têm mais facilidade para adotar um estilo de voo planado, sem bater muito as asas.
Com isso, são capazes de economizar energia e correm menos risco de acabar superaquecendo. (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 5/1)