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Informativo 385 – O clima, de mal a pior; Manual e Cientistas contestam estudo sobre bactéria

1 – O clima, de mal a pior

2 – Manual de capacitação sobre mudanças do clima tem 2ª edição

3 – Cientistas contestam estudo sobre bactéria composta por arsênio

 

1 – O clima, de mal a pior

Brasil se destaca num mundo imóvel contra o CO2
O Brasil foi o país mais bem avaliado no índice de performance sobre o combate às mudanças climáticas, divulgado na segunda-feira (6/12) em Cancún pelas redes Climate Action Network e Germanwatch.
O bom desempenho, porém, não foi considerado suficiente – as três primeiras posições ficaram vagas, já que nenhuma nação avaliada tem feito o suficiente para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. O país deve o bom resultado, em parte, ao vácuo deixado por outros grandes emissores, sem políticas efetivas para cortar CO2.
China e EUA, os dois maiores poluidores do mundo, amargaram, respectivamente, a 52ª e 53ª posições.
As emissões da China foram as que mais cresceram. Os EUA de Obama não aprovam a lei de mudanças climáticas. E a Europa, antes na vanguarda da luta contra alterações no clima, recuou de suas propostas mais ousadas e congelou as discussões climáticas.
O levantamento, realizado por 190 especialistas, avalia o setor de energia de 60 nações. Juntas, elas respondem por 90% das emissões de CO2. Embora a questão do desmatamento não tenha sido analisada em detalhe, o líder do estudo, Jan Burck, disse que o fato de o governo brasileiro implementar medidas para combater o problema pesou no resultado.
O levantamento, porém, ressalta que não é possível saber o quanto essa redução foi motivada pela crise financeira mundial.
– O Brasil ocupou a melhor posição no ranking, o que não significa que está fazendo o suficiente. Significa que está fazendo melhor do que outros países – pondera. – A redução do desmatamento pode servir de exemplo, mas somente se essa tendência for mantida.
Metas maiores que as recomendadas
Professora de engenharia de transportes da Coppe/UFRJ e membro da diretoria do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Suzana Kahn diz que o Brasil precisa assumir outros compromissos:
– O que me preocupa são as modificações mais estruturais, que nos levariam para um novo modelo de desenvolvimento. Precisamos colocar o Brasil na economia verde, de baixo carbono. Isso não está acontecendo. Por mais estranho que possa parecer, quem mais aposta nesta área é China e EUA, exatamente os maiores poluidores e os que não estão nem aí para a Convenção do Clima e seus acordos – afirma ela, ex-secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente.
Para o diretor da Coppe/UFRJ Luiz Pinguelli Rosa, que acompanha a COP-16 em Cancún, o ranking mostra como o Brasil foi catapultado ao centro das discussões ambientais.
– A Conferência de Copenhague não deu certo, mas o desempenho brasileiro nas negociações nos alçou a outro patamar – opina. – Agora, a lista mostra como nossos esforços para reduzir o desmatamento são reconhecidos. Mas o vácuo nas três primeiras posições é lamentável. O levantamento lembra que, este ano, o Brasil anunciou uma redução de 36,1% a 38,9% nas emissões de gases-estufa até 2020.
Essa meta é considerada ambiciosa, por ser superior àquela recomendada pelo IPCC para os países em desenvolvimento (de 15% a 30%). Na semana passada, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que entre agosto de 2009 e julho de 2010 foram desmatados 6.451 km2, a menor taxa registrada desde o início das medições, em 1988. (Catarina Alencastro e Renato Grandelle) (O Globo, 7/12)

 

2 – Manual de capacitação sobre mudanças do clima tem 2ª edição

Manual de Capacitação sobre Mudança do Clima e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) foi desenvolvido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)
O manual é fruto de parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que considerou importante a atualização e revisão do documento, cuja primeira edição datava de 2008. Para tanto, a CNI, em acordo com o CGEE, contratou um grupo de profissionais da área com a função de atualizar o documento anterior. A revisão técnica, edição e impressão esteve a cargo do CGEE.
A nova edição do Manual de Capacitação oferece informações relevantes, aprofundadas e atualizadas sobre o arcabouço jurídico internacional e nacional, o mercado de carbono, voluntário e mandatório, e os procedimentos administrativos e técnicos referentes aos projetos de MDL.
O livro apresenta os aspectos básicos da viabilidade e atratividade de projetos de carbono em diversos setores da sociedade, incluindo indústrias, empresas e governos que precisam implementar projetos para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Para visualizar a versão digital da 2ª edição do manual, acesse http://www.cgee.org.br/busca/ConsultaProdutoNcomTopo.php?f=1&idProduto=6827#
(Assessoria de Comunicação do CGEE)

 

3 – Cientistas contestam estudo sobre bactéria composta por arsênio

Reportagem do site Slate consultou especialistas que reprovaram estudo. Material avaliado poderia ter adquirido o elemento químico por acidente
Uma reportagem publicada nesta terça-feira (7/12) no site Slate traz críticas de cientistas ao estudo divulgado pela Nasa na última quinta-feira sobre uma bactéria que consegue viver com o elemento químico arsênio em seu DNA.
O anúncio repercutiu na imprensa mundial pelo fato de todas as formas de vida até então conhecidas serem baseadas principalmente na combinação de apenas seis átomos básicos: carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N), oxigênio (O), fósforo (P) e enxofre (S).
Para a professora de microbiologia Rosie Redfield, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, o trabalho denominado “Uma bactéria que consegue crescer usando arsênio em vez de fósforo” é “sem sentido”. “Fiquei impressionada com o nível ruim de ciência do artigo”, disse ao site. Ela pretende escrever uma carta à revista “Science”, que publicou o estudo, formalizando suas queixas.
Para o microbiologista Forest Rohwer, da Universidade Estadual de San Diego (EUA), especialista em novas espécies de bactérias e vírus em recifes de corais, a descoberta seria interessante, se fosse confiável. “Nenhum dos argumentos foi muito convincente”, disse o cientista. Já Shelley Copley, da Universidade de Colorado, vai mais longe. “O artigo não deveria ter sido publicado.”
Apesar das censuras, nenhum dos pesquisadores consultados pelo site negou a possibilidade de a estranha bactéria ser possível. Roger Summons, professor do Instituto Tecnológico de Massachussetts (MIT, na sigla em inglês) e um dos entrevistados, foi coautor de um estudo da Academia Americana de Ciências sobre vida extraterrestre que defendia a pesquisa em biologia com base em arsênio, publicado na “Science” em 2007.
Uma das críticas citadas refere-se ao método de retirada do DNA do micro-organismo utilizado pelos cientistas da Nasa, que deveria ter contado com precauções a mais para “limpar” o material de outras moléculas. Sem essas medidas, o arsênio pode simplesmente ter se atrelado ao DNA. “É bem trivial fazer um trabalho melhor que esse”, disse Rohwer.
Para o microbiologista Alex Bradley, da Universidade Harvard, os cientistas da Nasa demonstraram, sem querer, falhas na pesquisa. Ao fazer a imersão do DNA da bactéria GFAJ-1 na água para análise, os pesquisadores deveriam ter observado uma fragmentação do material genético, já que compostos com arsênio se desintegram rapidamente no contato com o líquido.
Bradley defende que o DNA manteve-se unido por causa da presença de fosfato, mesmo em quantidades reduzidas. O pesquisador lembra que micro-organismos crescem no Atlântico Norte com níveis de fosfato 300 vezes menores que os aferidos em culturas de laboratório.
Como os pesquisadores da Nasa utilizaram sais para alimentar as bactérias que, segundo eles próprios admitiram, continham pequenas doses de fosfato, os críticos acreditam que as bactérias usaram parte dessa provisão escassa do elemento químico para sobreviver.
Norman Pace, também da Universidade de Colorado, pioneiro na identificação de micro-organismos pela análise de DNA e coautor do trabalho divulgado há 3 anos, foi outro a não poupar críticas. “Níveis reduzidos de fosfato, investigadores ingênuos e revisores ruins fazem a história desse estudo”, disse.
A defesa
“Todo debate proposto deverá passar por uma revisão, da mesma forma que nosso artigo passou, com todas as discussões podendo ser moderadas corretamente”, disse Felisa Wolfe-Simon, do instituto de astrobiologia da Nasa e principal autora do artigo publicado na semana passada na “Science”.
Já Ronald Oremland, ligado a um órgão de pesquisa geológica norte-americano, disse que o debate sobre o estudo não pode descambar para um “fórum midiático”. “Se estamos errados, outros cientistas deveriam reproduzir nossos achados. Se estivermos certos, então nossos competidores nos aceitarão e nos ajudarão a compreender melhor esse fenômeno.”
A negativa de debater em público os resultados contestados não convenceu Jonathan Eisen, da Universidade da Califórnia em Davis. “Eles fizeram ciência por meio de notas para a imprensa e órgãos de mídia”, disse o pesquisador. “É um pouco hipócrita eles quererem basear sua defesa agora na literatura científica.”
De acordo com o site, a equipe da Nasa ofereceu a cultura de bactéria GFAJ-1 para testes que decidirão, de uma vez por todas, se o micro-organismo possui, de fato, um DNA sustentado com base no arsênio.
O texto original, em inglês, pode ser lido em:
http://www.slate.com/id/2276919/ (G1, 7/12)