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Informativo 357 – Planeta perdeu 30% de recursos naturais; Biodiversidade desconhecida e Remanescente de Mata Atlântica preserva aves

1 – Planeta perdeu 30% de recursos naturais

2 – Biodiversidade desconhecida

3 – Remanescente de Mata Atlântica preserva aves

 

1 – Planeta perdeu 30% de recursos naturais

Em 40 anos, países tropicais extinguiram cerca de 60% de sua biodiversidade
Em menos de 40 anos, o mundo perdeu 30% de sua biodiversidade. Nos países tropicais, contudo, a queda foi muito maior: atingiu 60% da fauna e flora original. Os dados são do Relatório Planeta Vivo 2010, publicado a cada dois anos pela organização não governamental WWF.
O relatório, cujas conclusões são consideradas alarmantes pelos ambientalistas, é produzido em parceria com a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, na sigla em inglês) e Global Footprint Network (GFN).
“Os países pobres, frequentemente tropicais, estão perdendo biodiversidade a uma velocidade muito alta”, afirmou Jim Leape, diretor-geral da WWF Global. “Enquanto isso, o mundo desenvolvido vive em um falso paraíso, movido a consumo excessivo e altas emissões de carbono.”
A biodiversidade é medida pelo Índice Planeta Vivo (IPV), que estuda a saúde de quase 8 mil populações de mais de 2,5 mil espécies desde 1970.
Até 2005, o IPV das áreas temperadas havia subido 6% – melhora atribuída à maior conservação da natureza, menor emissão de poluentes e melhor controle dos resíduos. Nas áreas tropicais, porém, o IPV caiu 60%. A maior queda foi nas populações de água doce: 70% das espécies desapareceram.
Consumo desenfreado
A demanda por recursos naturais também aumentou. Nas últimas cinco décadas, as emissões de carbono cresceram 11 vezes.
O relatório afirma que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por 33 países em geral desenvolvidos, são responsáveis por 40% da pegada de carbono global, e emitem cinco vezes mais carbono do que os países mais pobres.
Comparados a ela, os BRICs (grupo formado pelos países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China) têm o dobro da população e uma menor emissão de carbono per capita. O problema, alerta o relatório, é se os BRICs seguirem no futuro o mesmo padrão de desenvolvimento e consumo da OCDE.
Índia e China, por exemplo, consomem duas vezes mais recursos naturais do que a natureza de seu território pode repor. Atualmente, os países utilizam, em média, 50% mais recursos naturais que o planeta pode suportar. Se os hábitos de consumo não mudarem, alerta o relatório, em 2030 se estará consumindo o equivalente a dois planetas.
Em resposta ao levantamento de 2008, a WWF elaborou um modelo de soluções climáticas, em que aponta seis ações concretas para reduzir as emissões de carbono e evitar maiores perdas de biodiversidade.
Entre elas, a organização aponta a necessidade de investir em eficiência energética, novas tecnologias para gerar energia com baixa emissão de carbono, adotar a política de redução da pegada de carbono e impedir a degradação florestal.
De 18 a 29 deste mês acontece em Nagoya, no Japão, a 10ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica. Criada em 1992, no Rio de Janeiro, a convenção tinha como principal meta reduzir significativamente a perda de biodiversidade até 2010. As Nações Unidas até definiram 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade, mas os resultados ainda deixam muito a desejar.
Apesar da meta estabelecida, o relatório mais recente da ONU mostra que o planeta perdeu um terço do estoque de seres vivos existente em 1970. O documento aponta como ameaçadas de extinção 42% das espécies de anfíbios do mundo e 40% das de aves – e estima em US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões o prejuízo mundial anual com desmatamento.
Além da preservação da diversidade biológica mundial, outro tema deve ter destaque nas negociações: a repartição dos recursos oriundos da biodiversidade.
(O Estado de SP, 13/10)

 

2 – Biodiversidade desconhecida, editorial de “O Estado de SP”:

“É quase total a falta de conhecimento do país sobre sua diversidade marinha – e sem conhecer é impossível proteger”
Leia o editorial:
País com mais de 10 mil quilômetros de costa e uma das maiores e mais diversificadas combinações de ecossistemas costeiros e marítimos do mundo, o Brasil apresentará na próxima reunião de avaliação das metas da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) um relatório pobre, que é quase uma confissão: colocou sob proteção legal apenas 1,5% desses ecossistemas, bem menos do que a meta de 10% que havia fixado, e conhece muito pouco de suas espécies marinhas.
A décima Conferência das Partes (COP 10) signatárias da CDB – documento aprovado na Conferência Rio-92 – será realizada no fim deste mês na cidade japonesa de Nagoya, com a presença de representantes de mais de 190 países. Eles avaliarão quanto se avançou no cumprimento das metas de preservação da fauna e da flora assumidas nas reuniões anteriores e definirão objetivos para os próximos dez anos.
Uma das metas mais relevantes anunciadas pelo Brasil era colocar 30% da Amazônia sob alguma forma de proteção legal. Esta foi alcançada, até com alguma folga, pois mais de 40% da área florestal está protegida, segundo o relatório a ser apresentado em Nagoya pelo governo brasileiro. A área protegida inclui terras indígenas e unidades de conservação estaduais e federais, como mostrou o repórter Herton Escobar, na edição de 3 de outubro do Estado.
Mas uma área de grande importância ambiental e econômica, os 4,2 milhões de quilômetros quadrados de território brasileiro cobertos pelo mar, continuou esquecida. Da pequena fatia de ecossistemas que o país conseguiu colocar sob proteção, a maior parte está em ambientes terrestres ligados ao mar, como restingas, praias e manguezais.
Não há nenhuma área de conservação inteiramente coberta pelo mar. O Ministério do Meio Ambiente reconhece que o bioma marinho constituiu “a grande lacuna” do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc).
A biodiversidade marinha brasileira já conhecida é considerada relativamente pobre, quando comparada à de outros países. Mesmo assim, estima-se que estão no Brasil cerca de 6% das espécies existentes no mundo de invertebrados “não insetos”, a maioria dos quais vive no mar.
Pobreza muito maior do que a de espécies marinhas é a de pesquisas e de pesquisadores, diz o biólogo Antonio Marques, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. “Considero isso uma vergonha”, confessa. Além de escasso, o conhecimento é muito concentrado geograficamente. As pesquisas se limitam ao litoral de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. “Sobre o Nordeste, ainda sabemos muito pouco. E, sobre o Norte, quase nada.”
É quase total a falta de conhecimento do país sobre sua diversidade marinha – e sem conhecer é impossível proteger.
É difícil, porém, dizer que o desconhecimento seja o pior dos aspectos da ação do governo brasileiro na preservação da biodiversidade marinha. Nos poucos casos de conhecimento relativamente extenso de espécies marinhas, que geralmente são as de maior valor comercial, pouco ou nada se faz para protegê-las.
Entre 1995 e 2006, o governo executou o Programa de Avaliação do Potencial dos Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva, que era mais um balanço do estoque pesqueiro do que uma tentativa de conhecimento da biodiversidade marinha. O programa constatou que cerca de 80% das espécies pescadas comercialmente eram sobre-exploradas ou plenamente exploradas.
Desde a conclusão do estudo, nada foi feito ou anunciado pelo governo para assegurar a recuperação desses estoques. “A gestão pesqueira no Brasil está um caos”, diz o pesquisador José Angel Alvarez Perez, da Universidade do Vale do Itajaí, de Santa Catarina. O caos é o resultado prático da ação de um governo que não tem uma política definida para a área.
De um lado, o Ministério do Meio Ambiente busca assegurar a manutenção dos estoques das espécies de maior valor comercial; de outro, o Ministério da Pesca estimula a pesca, sem levar em conta a ameaça à sobrevivência das espécies.
Esse conflito mostra que falta ao governo um rumo na questão da biodiversidade marinha. (O Estado de SP, 12/10)

 

3 – Remanescente de Mata Atlântica preserva aves

Estudo feito no remanescente de Mata Atlântica, em Pombos, identificou 11 espécies endêmicas, 10 delas ameaçadas de extinção
Levantamento realizado em fragmento florestal de Pombos, a 57 quilômetros do Recife, revela a presença de 11 espécies de aves endêmicas da Mata Atlântica, 10 delas consideradas ameaçadas de extinção. A pesquisa foi feita entre abril de 2007 e maio de 2008 na Mata da Ronda, um remanescente de vegetação nativa com 512 hectares. Endêmicos, lembram os especialistas em conservação, são os animais ou plantas restritos a um bioma ou região.
O estudo, de autoria de Gilmar Beserra de Farias, Angélica Uejima e Glauco Pereira, está na edição de julho-agosto da revista Atualidades Ornitológicas. Além de identificar as espécies, o grupo quantificou cada uma delas. A mais abundante é a choca-da-mata, pássaro de aproximadamente 15 centímetros que se alimenta de insetos. Na Mata da Ronda, a ave procura alimento no solo, ramos e folhas, ocupando diferentes planos da floresta.
Durante a pesquisa, os ornitólogos registraram ainda grupos de três e até de quatro tipos de aves deslocando-se sob as árvores do lugar em busca de alimento. Uma exceção à regra, uma vez que bandos de pássaros compostos de várias espécies que comem insetos são característicos de grandes extensões de floresta, e não de pequenos fragmentos.
Para Gilmar Beserra, professor da Universidade Federal de Pernambuco (Centro Acadêmico de Vitória) e primeiro autor do artigo científico, localizar espécies endêmicas e ameaçadas de extinção é importante para nortear as políticas de conservação da biodiversidade no Nordeste.

“Algumas dessas aves ocorrem em ambientes restritos e apresentam certa vulnerabilidade, demandando esforços dos tomadores de decisão para a criação de uma unidade de conservação, por exemplo, com o objetivo de diminuir o risco de extinção local dessas espécies”, justifica.
A Mata da Ronda é um dos fragmentos do chamado Centro de Endemismo Pernambuco, compreendido pela floresta atlântica localizada entre Alagoas e Rio Grande do Norte.
Nessa área há 38 espécies de aves endêmicas. Já na Mata Atlântica de Pernambuco, existem 41 tipos de aves ameaçadas de extinção. No Brasil, esse ecossistema abriga 682 espécies de aves, das quais 83 estão ameaçadas de extinção e 207 são endêmicas. (Jornal do Commercio, 12/10)