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Informativo 311 – Primeiro mapa da vida do mar; Impulsividade e Sinapses

1 – Estudos traçam 1º mapa da vida do mar

2 – Grupo liga falta de molécula no cérebro a maior impulsividade

3 – Neurônios e sinapses quantificados

 

1 – Estudos traçam 1º mapa da vida do mar

Censo da Vida Marinha identificou cerca de 230 mil espécies em 25 áreas do oceano, incluindo águas do Brasil
Um pacotão de pesquisas de acesso livre, divulgadas ontem, sintetiza o esforço de dez anos para tornar a biodiversidade dos oceanos menos misteriosa. O resultado, porém, está mais para uma medida do desconhecimento humano sobre os mares.
E isso porque a equipe internacional do Censo da Vida Marinha conseguiu mapear cerca de 230 mil espécies em 25 áreas dos mares. O buraco, contudo, é mais embaixo: entre um quarto e três quartos dos seres vivos marinhos, dependendo da região, ainda precisa ser batizados pela ciência, estimam os pesquisadores.
Apesar disso, algumas conclusões já podem ser esboçadas. Em dez artigos na revista científica “PLoS One” (www.plosone.org), a equipe coordenada por Mark Costello, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), mostra, por exemplo, que bichos como focas, baleias e gaivotas são só a ponta do iceberg -2% da diversidade- da vida marinha.
Os verdadeiros senhores dos mares são camarões, caranguejos e seus parentes menos conhecidos -os crustáceos, equivalentes a um quinto de tudo o que nada, flutua ou rasteja por lá.
“É o esperado”, afirma Fábio Lang da Silveira, zoólogo da USP e gestor do Obis, banco de dados sobre a localização de espécies do censo, na região do Atlântico Tropical.
“Assim como em terra firme os insetos são os mais diversificados, acontece a mesma coisa no oceano com os crustáceos, os quais, tal como os insetos, também são artrópodes”, explica ele.
Por enquanto, as áreas consideradas campeãs de biodiversidade são as águas da Austrália e do Japão, ambas com 33 mil espécies. O Brasil tem cerca de 9.000 espécies registradas, um pouco menos que a média.
Outra constante, independentemente do oceano visitado: as ameaças. As principais são o excesso de pesca e a destruição de habitats.
Dados sobre o Brasil devem vir em outubro
Uma das ausências no pacote de artigos recém-publicados sobre o Censo da Vida Marinha envolve as águas da América do Sul e, em especial, as da plataforma continental do Brasil.
“Estive envolvido mais no trabalho de formiguinha do registro de espécies, e não no de síntese. O que aconteceu é que alguns pesquisadores ainda não entregaram suas contribuições. Devemos ter tudo isso em outubro”, diz Fábio Lang da Silveira, da USP, referindo-se à conferência em Londres que deve encerrar oficialmente os trabalhos ligados ao censo.
Para ele, não é surpresa que o Brasil apareça numa posição um tanto medíocre em termos de biodiversidade marinha. “Não é segredo para ninguém que a nossa frota pesqueira costuma ir para o Uruguai e a Argentina. Águas tropicais como as nossas são pobres em nutrientes. E, claro, havia pouquíssimos dados antes do censo”, lembra.
Para Cristina Rossi Nakayama, bióloga do Instituto Oceanográfico da USP que integrou o censo até 2008, um dos principais legados do projeto é a colaboração internacional que ele fomentou.
“O trabalho do consórcio sul-americano na Antártida foi uma grande conquista”, afirma ela. (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 3/8)

 

2 – Grupo liga falta de molécula no cérebro a maior impulsividade

Um dos traços estudados é a tendência a mudar de emprego
Pessoas impulsivas, como o comprador insaciável e o jogador compulsivo, tendem a apresentar desequilíbrios em um mensageiro químico cerebral, a dopamina. Agora um estudo mostra como esse sistema entra em pane.
Cientistas da Universidade Vanderbilt (EUA) associaram a pontuação de 32 participantes em um questionário com a atividade de uma molécula nos seus cérebros.
Os voluntários respondiam, por exemplo, com que frequência planejavam com antecedência suas viagens ou mudavam de emprego.
Em seguida, os cientistas monitoraram a atividade de um receptor (uma fechadura química) de dopamina nos neurônios. Quando a dopamina -associada a motivação e prazer- é liberada no cérebro, seus efeitos são reduzidos por esse receptor.
Os cientistas viram que pessoas com maior impulsividade tinham menos desse receptor no cérebro.
Em outro experimento, os participantes receberam anfetamina, substância que aumenta a liberação de dopamina. Quanto maior a impulsividade do sujeito, mais dopamina surgia no cérebro.
Os participantes com mais dopamina também respondiam mais positivamente quando questionados se queriam mais anfetamina.
“O estudo mostra que pessoas com menos do receptor em certas áreas cerebrais não inibem bem a liberação de dopamina”, afirma Rodrigo Bressan, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Elas liberam dopamina em excesso e têm um desejo maior de usar anfetamina, apresentando maior risco de dependência de drogas.”
A pesquisa, liderada pelo neurocientista Joshua Buckholtz, foi publicada na revista “Science”. Para ele, a descoberta sugere um mecanismo biológico para tratar a dependência de drogas. (Luciano Grüdtner Buratto) (Folha de SP, 3/8)

 

3 – Neurônios e sinapses quantificados

Pesquisa investiga a relação entre o número de neurônios, de sinapses e o tamanho do gânglio cervical superior e suas adaptações estruturais em mamíferos
O gânglio cervical superior, localizado profundamente no início do pescoço, é um componente importante do sistema nervoso autônomo simpático. Seus neurônios inervam os vasos sanguíneos do cérebro, além de glândulas da cabeça e do pescoço, e participam ainda da inervação do coração.
Distúrbios no desenvolvimento do gânglio cervical superior podem provocar problemas como a síndrome de Horner (ou paralisia óculo-simpática), cujos principais sintomas são queda da pálpebra superior, constrição da pupila e transpiração diminuída em um dos lados da face. Estudos recentes apontam para uma relação direta de problemas no gânglio com os acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos.
Uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP), com participação de cientistas das universidades Nottingham e College London, no Reino Unido, investigou os padrões de desenvolvimento do sistema nervoso autônomo – representado pelo gânglio cervical superior – em três espécies de mamíferos: ratos, cavalos e capivaras.
O trabalho teve resultados publicados na revista Cell and Tissue Research. De acordo com Antonio Augusto Coppi, responsável pelo Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia da Faculdade de MedicinaVeterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, o objetivo da pesquisa foi investigar a relação entre o número de neurônios, sinapses (comunicação entre os dois ou mais neurônios) e o tamanho do gânglio cervical superior, além de avaliar como esses parâmetros se adaptam conjuntamente às diferenças de pesos corporais.
“Queríamos avaliar se há alguma relação entre a massa corpórea e o número de neurônios e de sinapses e o tamanho do gânglio durante o desenvolvimento, ou seja, se um animal com cerca de 400 quilos, como o cavalo, apresenta mais neurônios e mais sinapses, quando comparado aos de ratos, por exemplo, cujo peso corpóreo é 2 mil vezes mais leve”, disse à Agência Fapesp.
O trabalho, intitulado “Inervação dos vasos cerebrais de roedores durante o desenvolvimento pós-natal: possíveis modelos para o estudo do acidente vascular cerebral (AVC)”, teve apoio da Fapesp por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
Segundo Coppi, trata-se do resultado de mais de seis anos de estudos, incluindo três pós-doutoramentos realizados na Inglaterra, além de teses orientadas pelo professor.
“Associamos e combinamos os mais modernos métodos de microscopia tridimensional a laser, microscopia eletrônica de transmissão – que é a única técnica de microscopia que permite identificar sinapses acuradamente – a ensaios químicos e imuno-histoquímicos, analisados por estatística espacial e estocástica. Infelizmente, muitos pesquisadores ainda insistem na quantificação de sinapses usando microscopia de luz e densitometria”, disse.
“Os dados disponíveis na literatura eram referentes ao estudo do gânglio superior cervical em ratos, mas não em grandes animais. No caso das capivaras, os pesquisadores não tinham acesso por se tratar de animal silvestre. Mas um dos dados inéditos é que quantificamos por estereologia tridimensional o número de sinapses que existem nesse gânglio e a convergência do número de sinapses para cada neurônio”, afirmou.
Segundo o estudo, no sistema nervoso autônomo de grandes animais predominam as sinapses do tipo axodendrítica (98%) – membrana pós-sináptica em um dendrito –  em relação às sinapses axossomáticas (2%) – membrana no corpo celular. “Isso se deve ao fato de que os neurônios autonômicos de grandes animais têm dendritos ramificados (arborização complexa), o que facilita o contato sináptico do tipo axodendrítico”, explicou.
O gânglio cervical superior de grande mamíferos apresenta, em média, 5.473 vezes mais sinapses do que o gânglio de pequenos mamíferos, como os ratos, de acordo com a pesquisa. Outro dado intrigante é que a capivara tem 25% mais sinapses do que o cavalo, mostrando claramente que, ao menos entre essas duas espécies, o número de sinapses não está correlacionado ao peso corpóreo.
“Esperávamos que o cavalo tivesse mais sinapses, por ser bem maior. Além disso, a capivara também tem neurônios maiores (volume) do que o cavalo. Mas ainda não temos explicação para esses achados”, disse Coppi.
Na capivara, o estudo identificou neurônios com dois núcleos (binucleados), diferentemente do encontrado em ratos ou cavalos. “Não existe uma hipótese concreta no caso desses binucleados, mas a literatura explica que células binucleadas podem funcionar como uma reserva. Para atender a um aumento na demanda funcional e, neste caso, cada célula poderia se dividir originando duas outras”, sugeriu.
Total de sinapses
O gânglio cervical superior é formado por vários componentes, como neurônios, tecidos conjuntivos e vasos sanguíneos. Ao analisar qual componente cresce mais com o aumento do peso corporal, os pesquisadores verificaram curiosamente que era o tecido conjuntivo, e não o componente neural.
“O tecido conjuntivo do cavalo – quando comparado ao do rato – aumentou em quase 900%, por exemplo. Ele funciona como estrutura de sustentação, como se fosse um arcabouço para o gânglio”, disse Coppi.
Outro dado interessante, segundo o estereologista, é que ocorreu um aumento de 60% no número total de fibras mielínicas, devido à necessidade de condução mais rápida do impulso nervoso para a periferia do corpo mais desenvolvido desses grandes animais. Quanto ao número de sinapses para cada neurônio, os grandes animais (capivaras e cavalos) têm em média 48% mais sinapses quando comparados ao rato.
Nas próximas etapas da pesquisa, o grupo liderado pelo professor da FMVZ-USP investigará o que ocorre com as sinapses de uma mesma espécie de mamífero durante o desenvolvimento pós-natal.
“Quando o animal se torna idoso, será que o número de sinapses diminui ou aumenta? Se houver uma diminuição do número de sinapses do gânglio, isso poderá comprometer a inervação dos vasos cerebrais, causando uma maior propensão a acidentes vasculares cerebrais?”, questionou.
“O estudo aponta novas direções para linhas de investigação científica, com enfoque na neuroplasticidade do sistema nervoso autônomo e implicações nos acidentes vasculares cerebrais do tipo hemorrágico, os quais podem ser consequência de distúrbios da inervação simpática da parede dos vasos sanguíneos cerebrais”, disse Coppi.
O artigo Stereological and allometric studies on neurons and axo-dendritic synapses in the superior cervical ganglia of rats, capybaras and horses, de Antonio Augusto Coppi e outros, pode ser lido emwww.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20596877
Mais informações sobre a pesquisa: www.fmvz.usp.br/lssca e guto@usp.br ou (11) 3091-1214. (Alex Sander Alcântara) (Agência Fapesp, 3/8)