1 – Criado mapa global da altura das florestas
2 – Dinossauro brasileiro descoberto em 2006 sofre “rebaixamento”
3 – Apego aos animais embalou a evolução
4 – Mosquito fora d’água
1 – Criado mapa global da altura das florestas
Iniciativa ajudará cientistas a descobrir quantidade de carbono armazenada pela vegetação
A altura das florestas do planeta, dispersa em uma série de estudos, foi unificada em uma pesquisa da Universidade do Colorado, elaborada com dados fornecidos por satélites da Nasa.
A iniciativa ajudará a comunidade científica a descobrir a quantidade de carbono armazenada globalmente pela vegetação.
Das 7 bilhões de toneladas de carbono emitidas anualmente pelo homem, 3 bilhões chegam à atmosfera e 2 bilhões são absorvidas pelos oceanos.
O destino dos 2 bilhões restantes é ignorado, embora estima-se que uma fração seja captada por áreas verdes para realizar a fotossíntese. Idealizador do mapa das florestas, o especialista em sensoriamento remoto Michael Lefsky espera que seu levantamento ajude a fechar esta conta.
– Há uma ligação direta entre a altura das árvores e a quantidade de carbono guardada pelas florestas – explica. – Unificamos metodologias que eram aplicadas em estudos regionais. Com isso, será possível produzir um inventário mundial.
No mapa de Lefsky se destacam as florestas de coníferas, como as sequóias, as mais altas do globo. Presentes em áreas como a América do Norte, próximo à costa do Oceano Pacífico, e o Sudeste Asiático, as coníferas ultrapassam os 40 metros.
Já as florestas boreais, dominadas por abetos, pinheiros e lariços, são as menores – a copa dessas árvores não costuma atingir os 20 metros de altura.
As áreas mais remotas de florestas tropicais, como o centro da Amazônia, têm cobertura média de 25 metros. É o mesmo observado na vegetação temperada dos EUA e da Europa, dominada por carvalhos e bétulas.
– Em uma relação proporcional, a floresta de coníferas armazena mais carbono do que a tropical – diz Lefsky. – Mas precisamos levar em conta a área total da vegetação para sabermos a quantidade de gases-estufa que ela vai reter. Por isso a Amazônia é tão importante.
O mapa será tema de um artigo da revista americana “Geophysical Research Letters”. (Renato Grandelle) (O Globo, 21/7)
2 – Dinossauro brasileiro descoberto em 2006 sofre “rebaixamento”
Análise mostra que fóssil descoberto em Agudo (RS) é de um tipo diferente de réptil
Um estudo realizado na USP Ribeirão Preto pode inspirar uma tragicomédia em dois atos: “Ascensão e queda de um dinossauro”. Ou melhor, de um Sacisaurus.
É história de um herbívoro descrito em 2006 por paleontólogos da universidade. Tudo indicava que se tratasse de um membro primitivo dos ornitísquios, um dos grandes grupos de dinossauros.
Um novo exame do fóssil, porém, sugere que o Sacisaurus (assim batizado porque só foram achados os ossos de uma das patas de trás) não é um dinossauro de fato. E o responsável por “rebaixar” o ex-dino-saci foi pupilo de um dos descobridores do fóssil.
“Para a minha infelicidade, vou ter de assumir que não dá mais”, diz Max Langer, um dos “pais” do dino.
Jonathas Bittencourt, aluno de doutorado de Langer, apresentou os resultados que levaram ao “rebaixamento” da criatura durante o 7º Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, no Rio.
Em sua tese analisou a árvore genealógica dos dinos mais antigos, que viveram há cerca de 220 milhões de anos. Descobriu que a mandíbula “banguela” do Sacisaurus (traço típico de ornitísquios) evoluiu de forma independente. Isso indica que, na verdade, ele pertence a um grupo de répteis distinto.
Sua pesquisa, porém, sugere que dois dinos tampinhas brasileiros (com cerca de 1 m) são ancestrais de boa parte das espécies que vieram depois. São o Guaibasaurus, mais primitivo carnívoro, e o Saturnalia, primeiro herbívoro pescoçudo. (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 21/7)
3 – Apego aos animais embalou a evolução
Paleoantropóloga defende tese de que bichos serviram de ‘ferramentas vivas’
Para quem tem um mascote de estimação, não é segredo que os humanos possuem uma conexão especial com os animais. Em um artigo que será publicado no próximo mês na revista especializada Current Anthropology, porém, a paleoantropóloga Pat Shipman afirma que essa ligação vai além das questões afetivas.
Shipman, que é professora da universidade americana Penn State, argumenta que a interdependência entre homens e animais teve um papel crucial para a evolução humana nos últimos 2,6 milhões de anos.
“Estabelecer uma conexão íntima com outros animais é algo único da nossa espécie”, disse a pesquisadora ao Correio. “Nenhum outro mamífero adota rotineiramente outras espécies. Por exemplo, as gazelas não adotam bebês guepardos, os leões das montanhas não pegam para eles filhotes de cervos. Cada porção de alimento que você usa para alimentar um animal de outra espécie é uma porção que os seus próprios filhos deixam de comer. Desse ponto de vista, se importar com outras espécies seria algo ruim para a nossa evolução. Então, temos de pensar por que os humanos fazem isso”, diz. Neste ano, Shipman vai lançar, nos Estados Unidos, um livro sobre o assunto.
A paleoantropóloga afirma que a conexão com os animais começou há mais de 2 milhões de anos, quando foram inventadas as primeiras ferramentas de pedra. “A posse desse tipo de objeto transformou os ancestrais do homem em predadores efetivos, o que pode ser comprovado pela marca de pedra encontrada nos ossos fossilizados das presas”, argumenta.
Ao tornarem-se predadores, os humanos foram colocados em competição com outros carnívoros. Segundo Shipman, eles aprenderam como levar vantagem observando e tentando entender o comportamento das futuras presas. “Aqueles que também focaram no comportamento dos potenciais competidores saíram-se melhor do ponto de vista evolutivo, pela seleção natural”, diz.
Enquanto o volume de informações sobre os animais aumentava, os benefícios evolutivos da comunicação também cresciam. Afinal, o homem precisava repassar esse conhecimento para os outros de sua espécie – por exemplo, ensinar aos mais jovens como um animal se comportava e qual a melhor maneira de abordá-lo para transformá-lo em caça. Para isso, incrementou a comunicação gestual e também criou sistemas de símbolos – as pinturas de animais nas cavernas pré-históricas são uma boa prova disso.
“Apesar de não sermos capazes de saber exatamente o começo do uso da linguagem propriamente dita, a arte pré-histórica nos fornece boas pistas. Quase todos os trabalhos artísticos representam animais. Outras coisas vitais, como plantas, rios, armas, ferramentas ou mesmo o homem raramente eram reproduzidas”, lembra Shipman. Ela acredita que essa desproporção é uma prova de que a necessidade de desenvolver meios externos para acumular e transmitir informação, ou seja, a linguagem simbólica, teve início com a interação com os animais.
A pesquisadora concluiu que as informações que os homens conseguiram extrair sobre os animais tornaram-se tão detalhada que eles começaram a criar e alimentar espécies selvagens, o que, mais parte, resultou na domesticação dos lobos, há 32 mil anos.
Shipman sustenta que, se o objetivo de domesticar os lobos era comer sua carne, como alguns pesquisadores sugerem, os ancestrais humanos estariam sendo estúpidos. “Por que levar um animal feroz da natureza, levá-lo para a sua casa e sua família e achar que isso seria uma vantagem? Os lobos comem muito mais carne do que seus corpos podem fornecer, então isso seria algo despropositado”, diz.
Em vez disso, a pesquisadora acredita que o ímpeto primário da domesticação foi transformar os animais que há milênios vinham sendo observados em “ferramentas vivas”. Alimentando e abrigando os lobos, os homens garantiram a companhia de um animal que poderia, por exemplo, caçar para ele. Entre outras utilidades, os animais domésticos poderiam matar roedores, proteger os bens, fornecer lã, servir de meio de transporte e dar leite.
De acordo com Shipman, a domesticação é um processo que leva muitas gerações e depende das habilidades de observar, ter empatia e se comunicar, quebrando as barreiras naturais que existem entre as espécies.
“A conexão com os animais é ancestral e uma característica fundamentalmente humana que trouxe à nossa linhagem enormes benefícios ao longo do tempo. Nossa interação com os animais está intimamente envolvida com a evolução de dois atributos-chave dos humanos: a fabricação de ferramentas e a linguagem”, sustenta. (Paloma Oliveto) (Correio Braziliense, 21/7)
4 – Mosquito fora d’água
Surfactante desenvolvido em projeto apoiado pelo Pipe-Fapesp combate simultaneamente mosquitos e algas
Um líquido atóxico projetado para ser aplicado em massas de água elimina algas e ainda mata várias espécies de mosquitos. Trata-se de um surfactante (ou tensoativo) que funciona ao mudar as características da superfície da água.
O produto foi desenvolvido pelo engenheiro químico Marcos Gugliotti por meio do Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e foi testado em laboratórios da Universidade de São Paulo (USP) e da Superintendência de Controle de Endemias do Estado de São Paulo (Sucen).
Ao ser aspergido, o produto forma uma película na superfície da água reduzindo a tensão superficial do líquido. “É essa tensão que impede que os mosquitos afundem enquanto botam ovos na água. Sem ela, asas e patas ficam encharcadas e o inseto acaba afundando”, disse Gugliotti à Agência Fapesp.
Segundo ele, ao mudar as características da superfície da água a ação do mosquitocida é totalmente mecânica, uma vez que não conta com substâncias tóxicas.
“Se uma pessoa ou um animal beber água com a película, o produto não causará mal algum à saúde. Além disso, ele é inerte, ou seja, não reage com outras substâncias”, garantiu o pesquisador, que atualmente faz pós-doutorado no Instituto de Física do campus de São Carlos da USP.
O tensoativo também se mostrou um eficiente algicida. Por alterar as características físicas da superfície da água, o filme prejudica a flutuabilidade das algas que acabam afundando e morrendo. “Como o produto não rompe a membrana celular das algas, elas não derramam toxinas na água, como ocorre com alguns algicidas que destroem essas membranas”, afirmou. Os testes com as algas foram feitos no laboratório de São Carlos do Instituto Internacional de Ecologia (IIE).
O filme mosquitocita e algicida é biodegradável e se decompõe em um período de 48 horas, em média. Por isso, após esse tempo precisa ser renovado. Sua eficiência pôde ser verificada em lagos, reservatórios de água parada e em rios com fluxos lentos e laminares.
Para testar o surfactante, Gugliotti contou com o Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Em 24 horas, o produto eliminou 94% das pupas macho e 86% das pupas fêmea da espécie Culex quinquefaciatus, o principal vetor da filariose ou elefantíase.
“Contra o Anopheles aquasalis, espécie comum em várias regiões do Brasil e que transmite a malária, a película se mostrou ainda mais eficaz. Em apenas duas horas o produto eliminou completamente as larvas e as pupas da espécie”, disse.
Em outro teste, realizado no Núcleo de Avaliação e Pesquisa do Serviço Regional de Marília (SP) da Sucen, o filme eliminou 98% das pupas do mosquito transmissor da dengue Aedes aegypti.
De acordo com Gugliotti, em testes toxicológicos o produto se mostrou inofensivo a peixes, crustáceos e moluscos. Aves aquáticas, como patos e gansos, também não foram afetados e conseguiram nadar normalmente sobre a película.
O cientista prevê que o filme poderá afetar de maneira colateral outras espécies de insetos que também botam ovos sobre a água. No entanto, esse efeito pode ser minimizado ao se restringir a aplicação em águas infestadas por insetos vetores de doenças.
O produto pode ser encontrado também na forma de pó. Um quilo do produto é suficiente para cobrir uma superfície de 10 mil metros quadrados. A mesma área pode ser preenchida com a aspersão de um litro do surfactante em sua versão líquida. Gugliotti procura agora parceiros interessados na produção e na comercialização da película. A estimativa é que o produto seja comercializado a R$ 22 o quilo.
Inspiração
O mosquitocida-algicida foi inspirado em outra película desenvolvida em 2005 em outro projeto apoiado pelo PIPE-FAPESP. O objetivo da época era reduzir as perdas de água por evaporação em reservatórios. Gugliotti obteve um produto que reduz em até 50% a taxa de evaporação de uma massa de água.
O pesquisador chegou a testar o antievaporante no espelho d’água do Congresso Nacional, em Brasília (DF), e recebeu destaque em reportagens na Agência Fapesp e na revista Pesquisa Fapesp.
“Em diversos testes feitos em tanques com o antievaporante, percebemos que havia inúmeros mosquitos mortos na água após a aplicação do produto”, contou Gugliotti, que realizou adaptações no antievaporante a fim de aumentar a eficiência do novo surfactante contra os insetos.
A função algicida também foi descoberta por acaso. O pesquisador estava visitando a unidade Semiárido da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na cidade de Petrolina (PE), quando decidiu testar a película antievaporante em um tanque de pisicultura desativado. A água que estava verde ficou límpida em um intervalo de 24 horas.
O mesmo projeto rendeu ainda um terceiro produto, um redutor de manchas de óleo que pode ser aplicado em vazamentos de navios petroleiros ou de dutos.
A ideia do redutor de óleo surgiu quando o pesquisador observou que, ao ser aspergido, o antievaporante acabava aglutinando a sujeira superficial da água. A partir daí, Gugliotti adaptou a composição do produto a fim de direcioná-lo à contenção de óleo nas águas.
O antievaporante e o redutor de óleo já contam com pedidos de depósito de patente e o pesquisador espera entrar em breve com um novo pedido para o mosquitocida-algicida.
(Fabio Reynol) (Agência Fapesp, 21/7)