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Informativo 295 – O último ancestral; CO2 e Ursos polares

1 – O último ancestral

2 – Cientistas aperfeiçoam cristais que absorvem CO2

3 – Ursos polares menores e mais magros

 

1 – O último ancestral

Geólogo descobre na Arábia Saudita uma espécie de primata que antecedeu os grandes símios, de quem os homens descendem. O Saadanius hijazensis, como foi batizado, já é considerado peça fundamental no quebra-cabeça evolutivo
Em 17 de fevereiro do ano passado, o geólogo Iyad Zalmout, da Universidade de Michigan, levou um agradável susto nas proximidades da montanhosa cidade saudita de Al Hijaz. Era o segundo dia de uma expedição organizada pela instituição norte-americana e pelo Centro de Pesquisas Geológicas da Arábia na formação geológica de Harrat Al Ujayfa.
Logo após o almoço, ele notou que havia algo incrustado nos platôs avermelhados que estava escalando. “Eu não tinha ido muito longe, e então aconteceu de ver algo junto a um pequeno dente quadrado. Me ajoelhei e me aproximei, então gritei em árabe: “É um primata, é um macaco!'”, contou Zalmout ao Correio.
A empolgação do geólogo se justifica. Ele acabava de encontrar uma nova de espécie de primata, que tem tudo para ser uma peça fundamental no quebra-cabeça da evolução. A descoberta de Zalmout, capa da edição de hoje da revista especializada Nature, é considerada nada menos que o último ancestral comum entre os símios, dos quais descende o homem, e os cercopithecoides, como são chamados os macacos do mundo antigo (espécies que existiram há milhares de anos).
Segundo o pesquisador, já se sabe há muito tempo que os macacos do mundo antigo e os símios possuem um mesmo ancestral. “Mas exatamente quando ocorreu a divisão entre eles ainda não está claro”, diz. Esse primata daria origem aos hominídeos, família à qual pertencem os grandes símios – como gorilas e chimpanzés – e o homem. Tanto os macacos do mundo antigo quanto os símios fazem parte de um mesmo grupo de primatas, os catarrinos.
“Os mais antigos fósseis dessa linhagem já encontrados, criaturas que não eram nem macacos nem símios, datam do Eoceno tardio ao início do Oligoceno, entre 35 milhões e 30 milhões de anos atrás”, explica Zalmout.
De acordo com ele, fósseis mais recentes, com cerca de 23 milhões de anos, indicavam que a divisão ocorreu por aquele tempo. Porém, a descoberta do pesquisador, batizada de Saadanius hijazensis, data de 29 milhões a 28 milhões de anos atrás e “possui as características próprias que distinguem os modernos símios dos macacos do velho mundo, sugerindo que aquela divisão ainda não havia ocorrido”.
As análises do fóssil levaram o grupo de pesquisadores a acreditar que as características físicas do Saadanius, um primata de caninos pequenos mas fortes, cérebro de volume discreto e com cerca de 15kg, são muito próximas do último ancestral comum dos símios e dos macacos do velho mundo.
Evolução
Embora os fragmentos do primata sejam poucos, foi possível comparar o Saadanius hijazensis com os demais catarrinos. Ele compartilha características com os primeiros animais do grupo e difere-se bastante dos símios do período Mioceno, que tinha face mais pronunciada, dentes maiores e um corpo mais robusto.
“Isso condiz com a hipótese de que os símios daquele período eram hominídeos e que a evolução inicial do grupo envolveu mudanças na região craniofacial”, diz o artigo publicado na Nature. “A significativa adaptação desses traços está provavelmente correlacionada com as mudanças na função mastigatória, na dieta e no comportamento social.”
Quando achou os ossos encobertos por uma camada de calcário, Zalmout não podia saber, ainda, que estava diante do possível elo perdido entre antigos macacos e os símios. Mas ele tinha certeza que não seria apenas mais um fóssil. No dia anterior, ele já havia encontrado um dente.
“Mas quando vi o fóssil, sabia que ficaríamos loucos. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Era apenas o segundo dia em campo e já tínhamos encontrado um segundo esqueleto.” (Paloma Olivetto) (Correio Braziliense, 15/7)

 

2 – Cientistas aperfeiçoam cristais que absorvem CO2

Estruturas poderão ser usadas no combate ao aquecimento global
Químicos da Coreia do Sul e dos Estados Unidos aperfeiçoaram o design de um tipo de cristal artificial, duplicando sua capacidade de absorção e armazenamento de dióxido de carbono.
As chamadas estruturas metal-orgânicas (MOF, na sigla em inglês) são cristais metálicos porosos e estáveis, capazes de absorver e comprimir gases em espaços ínfimos.
Os cientistas esperam que tais materiais levem à criação de energias mais limpas e a métodos para a captura das emissões de gases do efeito estufa.
Sob comando de Omar Yaghi, do Instituto de Nanossistemas da Califórnia, ligada à Universidade da Califórnia, Los Angeles, a equipe aperfeiçoou um cristal anterior chamado MOF-177, resultando em duas novas versões – MOF-200 e MOF-210 – capazes de armazenar o dobro do volume de gases.
“A porosidade é um caminho para fazer muito com pouco”, disse Yaghi, professor de Química e Bioquímica, em nota.
“Em vez de ter apenas a superfície externa de uma partícula, vamos perfurar pequenos buracos para aumentar dramaticamente a área da superfície.”
Os novos cristais foram descritos em um documento publicado no site da revista Science.
Jaheon Kim, professor de Química da Universidade Soongsil, de Seul, ajudou a projetar o MOF-210. Ele contou que 1 grama de MOF tem mais ou menos o tamanho de quatro tabletes de açúcar – ou seja, é um material levíssimo. Se espalhado, cada grama dos novos cristais ocuparia mais de 5.000 metros quadrados, disse Yaghi.
“Se eu pego um grama de MOF-200 e o desenrolo, ele vai cobrir muitos campos de futebol, e esse é o espaço que você tem para os gases se concentrarem”, disse Yaghi. “É como mágica. Quarenta toneladas de MOF são iguais a toda a superfície da Califórnia.”
(Reuters) (Terra, 15/7)

 

3 – Ursos polares menores e mais magros

Na Baía de Hudson, no Canadá, espécie poderá estar extinta em até 30 anos por conta do aquecimento
Ursos polares da Baía de Hudson, no Canadá, podem entrar em extinção nas próximas três décadas, com o derretimento do gelo ártico e a redução do tempo de caça. Esta é a conclusão de um estudo da Universidade de Alberta, publicado na edição mais recente da revista “Biological Conservation”.
Os animais da baía, uma das 19 subpopulações existentes no Ártico, estão perdendo gordura e massa corporal conforme diminui o período em que passam sobre a camada de gelo flutuante.
É neste local em que eles caçam suas principais presas, as focas aneladas e barbadas. O urso precisa acumular gordura suficiente no inverno, período em que o gelo está no auge, para sobreviver durante o verão, quando esta camada retrai para o litoral, impossibilitando a procura por comida.
O gelo, no entanto, tem se formado mais tarde no outono e derretido antes do previsto na primavera. Assim, os ursos têm gasto, em média, três semanas a mais em solo firme por ano, em relação ao que era registrado nos anos 80.
O aumento do jejum provoca mudanças visíveis no corpo da espécie. A redução do peso dos ursos da região é de, em média, 27 quilos. As fêmeas perderam 10% de seu comprimento. A população de ursos da baía diminuiu de 1.200 para 900 em poucas décadas.
Se o declínio da camada de gelo continuar – uma consequência natural do aquecimento global -, teme-se que os ursos resistam, no máximo, de 25 a 30 anos. Há, porém, quem acredite que a espécie suma da baía em pouco mais de uma década, se a camada de gelo encolher dramaticamente nos próximos anos.
A camada de gelo do Ártico registrou seu menor nível em setembro de 2007. Nos últimos dois anos, recuperou parte de sua área, mas voltou a perdê-la rapidamente este ano. A dependência que os ursos têm dela é há muito conhecida, o que tornou a espécie um ícone entre os militantes contra o aquecimento global. Até agora, porém, as previsões sobre a sobrevivência da espécie eram pouco mais do que chutes a esmo.
A pesquisa conduzida pela Universidade de Alberta foi a primeira a calcular a sobrevida dos ursos na baía com base em um modelo matemático. A fórmula combina o peso dos animais e sua capacidade de armazenamento de energia.
Estes índices são conhecidos pela análise do ritmo de encolhimento do gelo flutuante e pelo tempo que o animal sobrevive sem caçar.
– O declínio gradual das condições físicas dos ursos ocorre desde os anos 80 – alerta o coordenador da pesquisa, Andrew Derocher. – Agora nós podemos relacionar este fenômeno com a perda da camada de gelo. E esses acontecimentos podem assumir uma velocidade dramática. (O Globo, 15/7)