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Informativo 283 – Baleias; peixes; O Brasil não conhece o Brasil; a volta da chuva ácida

1 – Países descartam acordo sobre baleias

2 – Estudo acha pistas de como peixes viraram quadrúpedes

3 – O Brasil não conhece o Brasil

4 – A volta da chuva ácida

1 – Países descartam acordo sobre baleias

 

Proposta que permitiria reabertura controlada da caça naufraga em divergências durante reunião em Marrocos
Ao que tudo indica, caiu por terra a proposta da presidência da CIB (Comissão Internacional da Baleia) para retomar de forma limitada a atividade baleeira comercial nos próximos dez anos.
Depois de dois dias de negociações sigilosas entre nações que defendem a conservação de baleias e países que já caçam ou pretendem caçá-las, o único consenso na sessão plenária da CIB ocorrida na quarta-feira (23/6) em Agadir, Marrocos, é que não há consenso.
“Acho que é hora de deixar de lado esse documento”, disse às demais delegações o ministro Fábio Vaz Pitaluga, do Itamaraty, negociador do Brasil na CIB.
“Não era possível continuar trabalhando com ele, embora algumas coisas do texto talvez possam ser aproveitadas”, declarou à Folha.
A posição brasileira se alinha com a da Austrália, que afirmou que o melhor era deixar a proposta para trás.
Ao lado do Brasil também ficaram Argentina, Uruguai, Chile e outros países latino-americanos, que adotam posição conservacionista.
“Coisas estranhas às vezes acontecem em negociações internacionais, mas acho difícil que essa proposta seja retomada nesta reunião”, afirmou Pitaluga.
O ministro australiano do Ambiente, Peter Garrett, ressaltou que a decisão de engavetar o documento “não era o fim do mundo”.
“Não acho que a CIB tenha se tornado disfuncional”, disse Garrett, em direta contradição com o que havia dito à imprensa sobre a “disfuncionalidade” da comissão.
A proposta rejeitada teve o patrocínio dos diplomatas Cristián Maquieira, do Chile, e Anthony Liverpool, de Antígua e Barbuda, respectivamente presidente e vice da CIB. Segundo o texto, o abate dos grandes cetáceos seria permitido ao longo da próxima década, embora com cotas de captura menores do que as praticadas hoje.
Nações baleeiras, além disso, teriam de se submeter ao monitoramento internacional de suas atividades.
As falas na plenária pareciam seguir um script que é velho conhecido dos veteranos de reuniões da CIB.
O Japão, principal país baleeiro, argumentou que os membros da comissão deveriam “respeitar os dados levantados pelo comitê científico da CIB” os quais “tornavam possível a atividade baleeira sustentável”.
Declínio
Curiosamente, contudo, o relatório do comitê científico, apresentado na mesma tarde, mostrou um declínio nas populações de baleias minkes da Antártida, principal alvo dos japoneses.
Os únicos não-baleeiros a apoiar publicamente o Japão foram os países-ilhas do Caribe e do Pacífico, bem como a Tanzânia. Há denúncias de que o Japão arrebanha o apoio dessas nações em troca de ajuda financeira.
Os caribenhos St. Kitts e Nevis e Santa Lúcia argumentaram que o uso das baleias era uma questão de segurança alimentar e desenvolvimento econômico para nações pobres. No entanto, para o próprio Japão, a caça hoje é subsidiada. (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 24/6)

 

2 – Estudo acha pistas de como peixes viraram quadrúpedes

Perda de genes pode ter sido passo importante
Um estudo da Universidade de Ottawa publicado na revista Nature nesta quinta-feira traz novas pistas sobre a evolução das barbatanas em peixes para membros em quadrúpedes, um passo crucial na evolução.
Os pesquisadores identificaram dois novos genes que têm papel importante na formação de barbatanas, e acreditam que a perda desses genes pode ter sido um “passo importante” na transformação evolucionária de barbatanas em membros.
A pesquisadora chefe, Marie-Andrée Akimenko, e sua equipe começaram o estudo analisando o desenvolvimento de embriões do peixe conhecido como Paulistinha ou peixe-zebra. Eles descobriram dois genes que seriam o código para a formação de proteínas importantes na estrutura das barbatanas.
Essas proteínas são componentes de fibras presentes nas barbatanas. Elas são encontradas em embriões de peixe e mais tarde se desenvolvem nas fibras ósseas dos peixes adultos.
“Concluímos que não há (genes) equivalentes nos membros dos animais (quadrúpedes), o que sugere que eles podem ter se perdido na evolução”, explicou a cientista.
Para confirmar a descoberta, os pesquisadores procuraram – e encontraram – a mesma família de genes no genoma de tubarões-elefante, uma espécie de peixe bastante primitiva. Isso sugere que “uma família antiga desses genes persiste (no tubarão-elefante e também em vários peixes ósseos) e foi perdida quando eles evoluíram” para animais de quatro patas, afirmou Akimenko.
Recriando a evolução
O desenvolvimento de embriões pode gerar importantes pistas genéticas e moleculares sobre a evolução. Acredita-se que muitas das mudanças encontradas no início do desenvolvimento espelhem mudanças evolutivas. Neste estudo, a equipe de cientistas conseguiu manipular o desenvolvimento do peixe-zebra para estudar essas mudanças mais detalhadamente.
Os cientistas desativaram os genes recém descobertos em um embrião que estava se desenvolvendo. Ao fazer isso, descobriram que o peixe desenvolveu barbatanas mais curtas e “trucadas”, sem qualquer fibra óssea.
A perda dessas fibras, afirmam os cientistas, foi um momento chave na evolução da barbatana para membros. Os pesquisadores então compararam o desenvolvimento de embriões de peixes-zebra normais e embriões de camundongos.
“Quando comparamos o desenvolvimento da barbatana e dos membros, os primeiros passos são muito semelhantes”, disse Akimenko. “Mas a certa altura, há uma divergência, que está relacionada com o momento em que esses genes começam a se expressar.”
“Pequena parte”
O biólogo aposentado Jonathan Bard, especializado em desenvolvimento e atualmente trabalhando no Departamento de Fisiologia, Anatomia e Genética da Universidade de Oxford, afirmou que as conclusões do estudo são uma parte muito pequena da história evolutiva.
Segundo ele, a descoberta ainda não traz pistas sobre a formação de dedos – “como as largas barbatanas, cheias de fibras ósseas, dos peixes, se transformaram nos oito dedos das mãos e na placa dos pés dos primeiros quadrúpedes?”.
“Falando em geral”, disse ele, “centenas de milhões de anos separam a divisão evolutiva entre os peixes e os camundongos”. “É um estudo interessante… e será interessante ver o que (os pesquisadores) vão fazer em seguida”, acrescentou. (Victoria Gill) (BBC, 24/6)

 

3 – O Brasil não conhece o Brasil

“É triste reconhecer, mas o fato é que nenhum brasileiro precisaria passar fome. Temos a maior bacia hidrográfica e uma das maiores costas marítimas do mundo, e o mesmo se pode dizer dos animais e dos vegetais alimentares e medicinais”
Luzia Ilza Ferreira Jorge é pesquisadora do Instituto Adolfo Lutz de Santos. Artigo enviado pela autora ao “JC e-mail”:
O Brasil tem dimensões continentais, o que aparentemente justifica o fato de habitantes das regiões sul e sudeste desconhecerem frutos e hortaliças das regiões amazônica, pantaneira etc.
Digo aparentemente porque duvido que os russos ou os chineses desconheçam sua flora e fauna, apesar de também viverem em países de dimensões continentais como o nosso. Os brasileiros não valorizam o que é seu, seja por ignorância, seja por um crônico complexo de inferioridade que parece impregnar o nosso povo como um todo, uma espécie de “inconsciente coletivo” dos brasileiros…
Quem é paulista conhece ou já ouviu falar do cemitério do Araçá, na capital paulista. Todavia, quantos de nós sabemos o que é o araçá? Similarmente, conhecemos ou já ouvimos falar no bairro do Cambuci, também na capital, mas quem sabe o que é o cambuci?
Araçá, cambuci, guabiroba, jaboticaba, goiaba, pitanga, uvalha, cabeludinha, cambuci e cambucá são frutos da família Mirtaceae, nativa da Mata Atlântica, localizada na região Sudeste do Brasil. Temos essas árvores em nossos quintais e não as conhecemos! Destes dez frutos citados, somente a goiaba e a jaboticaba são conhecidos pelos paulistas!
O cambuci confere odor e sabor extremamente apreciáveis à aguardente. Se o empregássemos industrialmente certamente nossas vendas, tanto para o mercado interno como para exportação, cresceriam enormemente.
O cambucá é tão saboroso que foi empregado metaforicamente numa velha canção ardente e apaixonada, re-gravada pela cantora Gal Costa: “São da cor do mar, da cor da mata, os olhos verdes da mulata são tentadores e fatais, fatais. E, num beijo ardente e perfumado, revela o gosto do pecado, de saborosos cambucais…”
A pitanga, por seu sabor picante, linda coloração avermelhada e belo formato, poderia perfeitamente substituir as cerejas ou os morangos no bolo tipo floresta negra.
A taioba, cujas folhas são consumidas à semelhança da couve, é, contudo, mais saborosa do que esta última. No entanto, somente pessoas idosas oriundas do sertão mineiro ou baiano ainda conhecem essa hortaliça, portanto, esse conhecimento está se perdendo, está desaparecendo. No vale do Ribeira, em São Paulo, empregam-se os tubérculos desse vegetal, desprezando-se as folhas, interessante…
O caruru é uma hortaliça nordestina que empresta seu nome a um prato típico daquela região. O ora-pró-nóbis era muito empregado nos tempos coloniais, da casa grande à senzala. Hoje ninguém mais conhece essa hortaliça que nos foi trazida pelos escravos, adaptando-se perfeitamente às nossas condições climáticas.
Cabe a todos nós, brasileiros, o empenho em conhecer, empregar e resgatar o emprego desses vegetais. Se cultivados em larga escala eles chegariam à nossa mesa a preços extremamente accessíveis, uma vez que são procedentes da nossa flora nativa, por isso estão perfeitamente adaptados às nossas condições de solo e clima.
Muitos são inclusive considerados ervas invasoras de culturas, tamanha a facilidade com que medram e se desenvolvem em nossa terra, tais como: a serralha, o caruru, a beldroega, a língua-de-vaca e a taioba.
Os frutos amazônicos podem e devem ser aproveitados antes que os japoneses o façam, à semelhança do que ocorreu com o cupuaçu. Os frutos daquela região permanecem caindo e apodrecendo na floresta equatoriana sem proveito para ninguém: buriti, caiuê, castanha de galinha, mari, piquiá, sorva, tucumã, uxi etc. O açaí vem sendo explorado, escapou do esquecimento, não sei como. Ainda bem, pelo menos esse se salvou.
Há também os frutos pantaneiros, e entre os mesmos nenhum teve a sorte do açaí amazônico: bacaba, baru, cagaita, coco butiá, guariroba, jaracatiá, lobeira, mangaba e outros.
É triste reconhecer, mas o fato é que nenhum brasileiro precisaria passar fome. Temos a maior bacia hidrográfica e uma das maiores costas marítimas do mundo, e o mesmo se pode dizer dos animais e dos vegetais alimentares e medicinais que possuímos, uma vez que estamos localizados entre os dois trópicos e não temos deserto.
O semiárido tem solo rico e os períodos de seca poderiam ser compensados através da construção de cisternas combinadas ao desvio dos lençóis freáticos existentes no cerrado, com o qual se limita.
A única coisa que na verdade nos falta é esclarecimento, informação, discernimento, auto-estima. Em uma palavra, é cultura. Artigo de Luzia Ilza Ferreira Jorge

 

4 – A volta da chuva ácida

Cientistas alertam para um risco que parecia resolvido
Trinta anos atrás ela era um dos maiores problemas ambientais, ao lado do buraco na camada de ozônio. Agora, a chuva ácida pode estar ensaiando uma volta; desta vez, causada por substâncias químicas diferentes.
Emissões de nitrogênio provenientes de veículos e de fertilizantes estariam se combinando à chuva para criar ácido nítrico – uma combinação diferente daquela dos anos 70 e 80, provocada pelas emissões de ácido sulfúrico de termoelétricas.
O resultado é um renovado e grave risco ambiental para florestas, rios e animais silvestres, uma vez que o ácido nítrico, da mesma forma que o sulfúrico, mata plantas, peixes e insetos ao sequestrar importantes nutrientes do solo, como potássio, cálcio e magnésio.
Ao mesmo tempo, a substância contribui para a liberação de minerais potencialmente tóxicos, como o alumínio, que pode ser carreado por cursos de água. A preocupação começa a ganhar corpo nos EUA, onde diversos cientistas expressaram seus temores na “Scientific American”.
Países não conseguem cumprir metas
O problema existe também na Europa.
– A questão não deixou de existir – afirma Ed Dearnley, especialista em qualidade do ar da ONG britânica Proteção Ambiental.
Na verdade, muitos países europeus não conseguirão alcançar as novas metas de poluição do ar por nitrogênio, que entram em vigor no fim deste ano, de acordo com o Protocolo de Gotemburgo, de 1999, que tenta fazer pela poluição do ar o que o Protocolo de Kyoto tentou fazer pelas mudanças climáticas: resolver o problema reduzindo emissões.
O Reino Unido, por exemplo, dificilmente conseguirá cumprir seu limite de emissão de óxido de nitrogênio. O mais provável é que o exceda em 5% – menos do que França e Espanha, que devem ficar cerca de 30% acima do limite.

Nos EUA, embora as emissões de dióxido sulfúrico tenham sido reduzidas em quase 70% de 1990 a 2008, as emissões de óxido de nitrogênio caíram apenas em 35% ao longo do mesmo período.
Segundo William Schlesinger, presidente do Instituto Cary de Estudos do Ecossistema de Nova York, não resta dúvida de que a superfície terrestre acumula cada vez mais nitrogênio.
Para o especialista, a discussão sobre aquecimento global permitiu aos EUA ignorar o problema do nitrogênio que, segundo ele, será a grande questão ambiental no futuro próximo. O nitrogênio atmosférico não é apenas responsável pela chuva ácida; ao se acumular na Terra, pode causar, por exemplo, o crescimento descontrolado de algas.
(Michael McCarthy, do Independent) (O Globo, 23/6)