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Informativo 276 – Mar em Brasília; chimpanzés; 11 de setembro ambiental e SP ficará mais quente

1 – O mar que banhava Brasília

2 – Chimpanzés fazem guerra de conquista

3 – O ’11 de Setembro’ ambiental

4 – SP ficará 3°C mais quente neste século

 

1 – O mar que banhava Brasília

 

Pesquisadores da UnB e da USP encontram evidências de que um grande oceano existiu onde hoje fica o Planalto Central

Há 900 milhões de anos, um oceano com as dimensões do Atlântico pairava sobre o lugar que hoje conhecemos como Planalto Central. A conclusão é de um estudo conduzido pelo Laboratório de Geocronologia da UnB, em parceria com os institutos de Geociências (IG) e Astronômico e Geofísico (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).

Os cientistas se debruçaram sobre amostras extraídas da chamada Faixa Brasília, conjunto de rochas sedimentares de mar profundo que datam do período Neoproterozoico – entre 1 bilhão e 600 milhões de anos atrás. O estudo do material ajuda a contar a história de como era a região muito antes de o primeiro dinossauro existir e quando os continentes ainda não haviam sido formados.

De acordo com o geólogo da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do estudo, Reinhardt Fuck, a maior prova de que havia um oceano no Brasil Central são vestígios de um arco de ilhas vulcânicas – semelhantes às ilhas que compõem o arquipélago do Japão. “Arcos como esses correspondem a ilhas existentes no meio de um oceano”, afirma.

Esse extinto e pré-histórico oceano é chamado de Brasilides ou Goyaz (em referência à antiga tribo indígena que nomeou também o estado de Goiás). Outra prova de sua existência são as rochas encontradas nas cidades mineiras de Ibiá e Araxá. Segundo o especialista, elas foram depositadas em ambientes mais afastados da antiga margem continental – o cráton do São Francisco -, ou seja, em mar profundo.

O grande diferencial do estudo conduzido pela UnB e pela USP é a coleta de informações sobre as características das camadas mais profundas da crosta na região. Para isso, foi utilizada uma técnica conhecida como refração sísmica profunda, que possibilitou a obtenção de dados das formações rochosas que constituem a crosta em profundidades jamais observadas no Brasil.

“Até a conclusão desse estudo, tinha-se conhecimento apenas da geologia de superfície, com a ajuda de sondagens que chegavam a uma profundidade máxima de 5km”, explica o geólogo UnB.

O trabalho resultou em um mapeamento da estruturação e das propriedades das rochas em profundidade superior a 40km. “Isso proporciona melhor entendimento de determinadas formações minerais e dados para a exploração de minérios”, informa Renato Moraes, professor do Departamento de Minerologia e Geotectônicas da USP. Em outras palavras, as informações poderão ajudar mineradoras na localização de jazidas.

A pesquisa englobou os estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins, além do Distrito Federal. Entre essas unidades da federação, foram instaladas 200 estações sismográficas, em linha. A partir daí, a refração sísmica possibilitou determinar a estrutura profunda da crosta no Brasil central.

Entre os resultados da pesquisa, pôde-se identificar, por exemplo, a distância da Chapada dos Veadeiros até o manto da Terra. A Chapada tem uma crosta terrestre com aproximadamente 42 quilômetros de profundidade.

Outros dados interessantes referem-se à região onde a crosta é menos espessa, como abaixo da cidade de Porangatu, no norte de Goiás), que é de 32 km de profundidade.

 

“Essa diferença de 10 quilômetros é significativa. Isso indica que ali houve um processo de abertura de oceano e sua convergência em massa continental, ou seja, o assoreamento do Oceano de Goyaz”, afirma Fuck.

Do ponto de vista da ciência, os geólogos afirmam que identificar a geocronologia do solo profundo proporciona contar uma história com começo, meio e fim. “Essas rochas sedimentadas ajudam a contar a história do nosso planeta. Estudá-las é tão importante quanto o homem ir à Lua”, compara o professor da UnB.

Himalaia brasileiro

Outra observação feita pelos pesquisadores da UnB e da USP é que na região do Planalto Central, há 600 milhões de anos, havia uma cadeia de montanhas que chegava a 8 mil metros de altura. Era o Himalaia brasileiro, que tinha 200km de espessura e se alongava por quase 1.500km, do sul de Tocantins ao sul de Minas Gerais. A evidência que essas gigantes formações existiram está na composição mineral da região. Ela revela que os granulitos do Centro-Oeste formaram-se entre 40km e 60km abaixo da superfície.

As equipes de geólogos das duas universidades afirmam que esses componentes são testemunhas desse remoto Himalaia brasileiro.

“São granulitos cuja cor varia do creme ao verde-azulado, salpicados de grãos caramelo-escuro”, conta o geólogo e professor da USP Renato Moraes. Segundo os pesquisadores, essas rochas estiveram na raiz dessa cadeia de montanhas. Isso porque esses granulitos formam-se somente em regiões abaixo da superfície terrestre sujeitas a temperaturas elevadas, da ordem de 800ºC e a pressões altíssimas.

Esses componentes que afloram são testemunhas dessa cordilheira brasileira supostamente formada pela colisão de duas placas. Em um tempo estimado em poucas dezenas de milhões de anos, à medida que uma placa comprime a outra e amplia o enrugamento, pode surgir uma cadeia de montanhas como o atual Himalaia, o Everest, e o K2. Uma placa pode também pressionar o assoalho de um oceano.

“Nesse caso, provavelmente a camada de rochas sob o mar mergulhou sob a placa continental, levantando a cadeia de montanhas”, explica Moraes. (Silvia Pacheco) (Correio Braziliense, 16/6)

 

2 – Chimpanzés fazem guerra de conquista

 

Pesquisa mostrou ataques que culminaram em 21 mortes ao longo de dez anos em parque nacional de Uganda

“A mensagem é simples. Os chimpanzés matam uns aos outros, matam seus vizinhos. Até agora, não sabíamos por quê. Nossas observações indicam que fazem isso para expandir seus territórios à custa dos vizinhos.”

John Mitani, antropólogo da Universidade de Michigan (EUA), não podia ser mais claro ao resumir dez anos de dados sobre uma comunidade de chimpanzés no parque nacional Kibale, em Uganda.

Em artigo na última edição da revista científica “Current Biology”, Mitani e seus colegas mostram que os bichos mataram 21 membros de um bando rival nessa década, o que fez com que o território do grupo atacante aumentasse em quase um quarto.

O conflito letal entre os primos mais próximos da humanidade é conhecido há décadas. Nas guerras entre dois grupos de Gombe, na Tanzânia, um bando chegou a ser extinto, com membros remanescentes sendo incorporados à “tribo” vencedora.

Bananas da discórdia

O problema é que, em Gombe, os bichos estavam recebendo bananas dos pesquisadores, o que pode ter catalisado a pancadaria -um contexto que não seria natural para chimpanzés. Em outros locais, as brigas não tinham sido vistas diretamente. Mitani e companhia sanaram tais dúvidas ao presenciar 18 das mortes ou ferimentos letais em Kibale.

No parque de Uganda, o grupo atacante ocupava uma área de cerca de 30 km2 entre 1999 e 2008. Os bichos, no entanto, às vezes deixavam esse território em “patrulhas de fronteira”, caminhando em fila indiana, quietos, em busca de sinais de outros macacos. Em 17 dos casos, os ataques letais foram obra de grupos de patrulha formados por machos adultos.

Talvez um dos motivos para a sanha “conquistadora” do grupo seja seu tamanho: são cerca de 150 indivíduos, enquanto é mais comum que as comunidades de chimpanzés tenham em torno de 30 membros. O que está claro é que as áreas antes patrulhadas, a nordeste do território do bando, passaram a ser ocupadas com regularidade.

Antes do novo trabalho, especulava-se que os ataques pudessem estar ligados à obtenção de fêmeas de grupos rivais. Mitani e seus colegas dizem que ainda não é possível descartar essa hipótese, mas argumentam que a aquisição de território está mais bem fundamentada. (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 16/6)

 

3 – O ’11 de Setembro’ ambiental

 

Barack Obama compara vazamento do Golfo ao maior atentado da História

O presidente dos EUA, Barack Obama, declarou que o desastre no Golfo do México, causado pela explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, em 20 de abril, de onde vazam cerca de 25 mil a 40 mil barris por dia, será para o meio ambiente o que o maior atentado terrorista da História, o 11 de Setembro de 2001, foi para a política: um divisor de águas, capaz de mudar a forma como os americanos veem a defesa do meio ambiente.

Em entrevista ao blog Politico, Obama disse que a catástrofe “vai moldar a forma como pensamos o meio ambiente nos próximos anos”:

– Da mesma maneira que fomos obrigados a rever nossas vulnerabilidades na política externa com o 11 de Setembro, teremos que repensar, a partir desta imensa catástrofe, nossas posições sobre o meio ambiente e a energia nos próximos anos – disse ao site o presidente, que fará um pronunciamento à nação sobre o tema nesta terça-feira (15/6).

Em sua quarta visita à costa do Golfo do México desde o início do vazamento – que alcança os estados da Louisiana, Mississippi, Alabama e Flórida -, o presidente alertou para a profunda dependência de combustíveis fósseis, lembrando que, apesar de responderem por mais de 20% do consumo mundial de petróleo, os EUA têm menos de 2% das reservas mundiais.

Obama pediu à população que apoie uma campanha por energia limpa e “abrace um novo futuro”. Em comunicado, ele afirmou: “Nós estamos trabalhando para responsabilizar a (petroleira britânica) BP pelos danos às terras e aos meios de sustento (dos habitantes) da costa do Golfo, e estamos tomando firmes precauções para garantir que um vazamento como esse nunca mais volte a ocorrer.”

No texto, distribuído por email, o presidente disse ainda que “chegou a hora, de uma vez por todas, de esta nação abraçar inteiramente um novo futuro”. “É assim que vamos reinventar nossa economia.”

O presidente lembrou que a transição para uma economia de energia limpa vai exigir um período de adaptação e terá custos, mas que o mundo precisa prestar atenção no alerta do desastre do Golfo e buscar opções para um futuro de energia limpa.

A última revisão do governo americano sobre o volume de óleo derramado é das mais pessimistas. Pelos novos cálculos, até o último dia 3 de junho, quando a BP instalou uma cápsula sobre o poço para tentar conter parte do derrame, vazam de 25 mil a 40 mil barris por dia. O volume é similar ao total derramado em um ano nos mares da América do Norte.

O presidente terá uma reunião hoje com representantes da BP. O prazo dado por Obama à empresa para explicar que medidas pretende tomar para retirar mais óleo das águas terminou na noite desta segunda-feira e o encontro servirá também para a prestação de contas. (O Globo, 15/6)

 

4 – SP ficará 3°C mais quente neste século

Como consequência do aquecimento na Região Metropolitana, o número de dias com chuvas intensas na capital dobrará e haverá um aumento de dias e noites quentes

A Região Metropolitana de São Paulo terá um aumento da temperatura média entre 2ºC e 3ºC neste século, o que dobrará o número de dias com chuvas intensas na capital paulista e levará a uma elevação das ondas de calor e dos dias e noites quentes na região. Os dados fazem parte do relatório Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas.

O estudo aponta que, se a expansão urbana continuar com o padrão atual, em 2030 cerca de 11% das novas ocupações poderão ocorrer em áreas de risco de deslizamento e mais de 20% da área total de expansão seria suscetível a enchentes e inundações. “O estudo não traz nenhuma boa notícia”, resume Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A Região Metropolitana de São Paulo possui cerca de 20 milhões de habitantes e as projeções indicam que a mancha urbana será o dobro da atual em 2030. Além de ter projeções do clima e saber a declividade do terreno, o uso e a ocupação do solo também influenciam na vulnerabilidade – uma área inclinada ocupada por favela tem risco muito maior que uma área com vegetação, explica Nobre.

A população está cansada de saber dos impactos negativos das chuvas fortes e enchentes. De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no período de 1988 a 2009 houve um total de 1.457 mortes por deslizamentos no Brasil, sendo 220 no Estado de São Paulo. Somente o Rio de Janeiro teve um número maior: 509 mortes.

A pesquisa mostra ainda que o clima já vem mudando na capital paulista. Chuvas acima de 50 milímetros ao dia, por exemplo, eram raras antes de 1950. Hoje, ocorrem de duas a cinco vezes por ano na cidade.

“A crescente urbanização das periferias atuando em sinergia com o aquecimento global projeta que eventos com grandes volumes de precipitações pluviométricas ocorrerão com mais frequência no futuro, abarcando cada vez uma maior área da Região Metropolitana de São Paulo”, diz o estudo.

O aquecimento global é provocado pelas emissões de gases de efeito estufa – o principal deles é o gás carbônico. Mas a temperatura nas cidades também é maior nas áreas cobertas por edifícios e pavimentação – locais pavimentados irradiam 50% a mais de calor que superfícies com vegetação.

Inevitável. Segundo Nobre, mesmo que São Paulo passasse a ter emissão zero a partir de hoje, o aquecimento global continuaria. É por isso que o estudo ressalta a importância da adaptação para o aumento da temperatura e suas consequências.

Para evitar maiores danos, as cidades da Região Metropolitana precisam investir no controle das ocupações de áreas de risco e na proteção das áreas de várzeas de rios. A pesquisadora Andrea Young, do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, lembra da importância da criação de parques lineares, ao longo dos rios – algo que a Prefeitura de São Paulo começou a se preocupar nos últimos anos.

Ela ressalta que, além de atuar para recuperar a vegetação na área, é preciso mudar o padrão de construção nas cidades – que usa muito vidro, o que facilita a retenção do calor e funciona como uma estufa. Para Andrea, é fundamental que as 39 cidades da região atuem em conjunto. “Ainda não há uma gestão integrada.”

O trabalho reuniu pesquisadores do Inpe, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de SP) e a Embaixada do Reino Unido apoiaram o estudo. (Afra Balazina) (O Estado de SP, 15/6)