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Informativo 264 – Espécies ameaçadas; peixes e morte de mamutes

1 – Sudeste tem mais espécies marinhas ameaçadas no país

2 – Peixes abriram caminho para os vertebrados

3 – Morte de mamutes resfriou a Terra

 

1 – Sudeste tem mais espécies marinhas ameaçadas no país

Estudo de quatro instituições aponta a existência de 59 peixes em risco de extinção; desses, 47 habitam a área que inclui São Paulo
Pesquisadores de quatro instituições divulgaram no sábado (22/5) um estudo que mostra as áreas-chave para a preservação da biodiversidade marinha no país. Eles dividiram a região costeira em oito “ecorregiões” e concluíram que a Sudeste (que inclui o litoral de São Paulo) é a que mais possui espécies ameaçadas de extinção: no total, 47 habitam a área.
Em segundo lugar aparece a região nomeada de Rio Grande – que abriga importantes áreas de pesca no Sul do Brasil -, com 32 espécies ameaçadas. E, em terceiro, com 30 espécies, ficou a região Brasil Oriental – que pega o litoral do Espírito Santo e da Bahia (onde ficam os extensos recifes de coral de Abrolhos).
Unindo informações da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), do Ministério do Meio Ambiente e dos Estados, os cientistas chegaram a 59 espécies em risco de extinção que são observadas no país.
Há diferentes classificações para o nível de ameaça: 41 estão em situação vulnerável (entre eles o tubarão-limão e a raia pintada), 10 estão ameaçadas (como o tubarão-anjo e o pargo) e 8 estão criticamente ameaçadas (exemplos são o mero, o tubarão-listrado e a arraia-serra).
A pesquisa será apresentada no sábado (22/5) – quando se comemora o Dia Internacional da Biodiversidade – no Viva a Mata 2010, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Os pesquisadores são ligados às universidades federais da Paraíba e do Mato Grosso do Sul, além das ONGs Conservação Internacional (CI) e Fundação SOS Mata Atlântica.
“Nosso objetivo com o estudo é evitar a perda da biodiversidade. Os locais onde há mais espécies ameaçadas precisam ser protegidos primeiro”, afirma Ronaldo Bastos Francini-Filho, professor do curso de ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Fábio Santos Motta, coordenador do Programa Costa Atlântica da Fundação SOS Mata Atlântica, concorda com o colega. “É preciso planejar melhor as ações de conservação. Como não há recursos para proteger toda a costa, é necessário saber as áreas prioritárias”, diz.
De acordo com Motta, obras de infraestrutura, como a construção de portos, e a exploração de petróleo têm de levar em conta as informações sobre a riqueza biológica antes de serem realizadas por empresas ou pelo governo.
O Sudeste está numa situação complicada por diversos motivos. Um deles é a sobrepesca, que contribui para a redução das populações de peixes. Outro é a perda de hábitats – a pesca de arrasto em grande profundidade leva, além do peixe, parte do hábitat, como esponjas e corais. O turismo e a poluição em larga escala também prejudicam as espécies marinhas.
No Norte e no Nordeste do país, a situação aparentemente é melhor, porém faltam estudos e dados sobre onde são encontradas as espécies ameaçadas.
Na verdade, o conhecimento da situação dos animais marinhos ainda é ínfimo. De acordo com Francini Filho, existem entre 1,3 mil e 1,5 mil peixes marinhos no país. “Ainda não avaliamos nem 200 deles e muita coisa já pode ter desaparecido.” Assim que se souber mais sobre as espécies que vivem no país, esse estudo pode ser complementado.
A meta do país na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que deveria ser cumprida neste ano, é de ter 10% dos mares brasileiros protegidos. No entanto, ainda não conseguimos passar de 1%.

Segundo o professor da UFPB, entre os países mais corajosos na proteção das regiões costeiras estão a Austrália, famosa por sua Grande Barreira de Corais, e os EUA. Mas isso não significa que a biodiversidade nesses países esteja a salvo. Os EUA enfrentam o vazamento de petróleo no Golfo do México, que afeta peixes, aves e manguezais (criadouros de espécies marinhas). E a Austrália sofreu recentemente com o vazamento de petróleo de um navio chinês encalhado. (Afra Balazina) (O Estado de SP, 22/5)

 

2 – Peixes abriram caminho para os vertebrados

Pesquisa feita por estudante da Universidade de Chicago aponta que animais marinhos que sobreviveram a extinção em massa há milhões de anos deram origem a inúmeras espécies atuais, incluindo o homem
Tudo aconteceu cerca de 360 milhões de anos atrás, durante o Período Devoniano (o quarto da Era Paleozoica), após o surgimento das primeiras vegetações e numa época em que peixes bizarros habitavam os mares: alguns dos chamados placodermos mediam até 10m de comprimento, apresentavam uma espécie de blindagem e mandíbulas poderosas.
Foi então que esses animais desapareceram, em um episódio ainda considerado um mistério para a ciência, denominado Evento Hangenberg. E foi a extinção dos peixes primitivos que abriu espaço para o surgimento de todos os vertebrados modernos, inclusive o homem.
A conclusão faz parte de um estudo publicado pela revista científica Proceedings of National Academy of Science (PNAS) e coordenado pela estudante de graduação em biologia e anatomia do organismo Lauren Sallan, da Universidade de Chicago.
“Suspeitamos que houve algum tipo de reviravolta entre os períodos Devoniano (entre 416 milhões e 359 milhões de anos atrás) e Carbonífero (354 milhões e 290 milhões), com base nos registros fósseis e em estudos recentes”, afirmou Lauren ao Correio, em entrevista por e-mail.
De acordo com ela, a transição dos peixes pré-históricos para os animais vertebrados modernos foi repentina. “O Evento Hangenberg eliminou a maior parte das espécies dominantes do Devoniano, destruindo os ecossistemas existentes e diminuindo as chances de sobrevivência”, explica a estudante.
“Um punhado de outras espécies, incluindo os peixes Acanthodii (ósseos e cartilaginosos), sobreviveu, mas nunca se recuperou totalmente, tornando-se vítima eventual da extinção. Entre as espécies que resistiram estão os tetrápodes marinhos de cinco dedos, ancestrais dos vertebrados modernos, e os tubarões – ambas raras no Período Devoniano”, acrescenta Lauren.
A pesquisadora explica que, depois de um período de recuperação, esses animais se diversificaram em formas distintas e prepararam o terreno para a atual biodiversidade.
Apesar da escassez dos registros fósseis dos primeiros vertebrados, Lauren e seu professor Michael Coates usaram uma base de dados mais ampla dos períodos Devoniano e Carbonífero e realizaram análises ecológicas.
“Pudemos detectar uma reviravolta da fauna, ou uma extinção em massa. Percebemos que os placodermos desapareceram no fim do Período Devoniano”, conta a cientista. Culpa do Evento Hangenberg, representado pela deposição de folhelhos (rochas sedimentares) por todo o planeta.
“As causas do aniquilamento dos peixes pré-históricos são desconhecidas. Recentemente, comprovou-se que as geleiras existiam nos trópicos durante a extinção, bem como no Polo Sul”, explica Lauren, comparando o fenômeno a uma era glacial. “Como resultado, o nível dos mares caiu drasticamente, lançando áreas marinhas sobre regiões do continente”, acrescenta.
Sorte
Lauren vê a sorte como explicação para o fato de os vertebrados modernos terem conquistado uma posição de domínio. “Acreditava-se que eles tivessem assumido a fauna por meio de alguma vantagem competitiva. No entanto, temos mostrado que não há nada intrinsecamente melhor”, admite.
Ao mesmo tempo, os tetrápodes conquistaram terreno de forma progressiva, depois de quase serem eliminados. “Talvez, uns poucos sortudos tenham sobrevivido para se tornarem ancestrais dos animais terrestres da atualidade”, diz.
Os cientistas teorizavam que o Evento Kellwasser – uma das cinco maiores extinções da história da Terra -, no fim do Devoniano, teria sido responsável pela reestruturação dos invertebrados marinhos. A análise de Lauren e Michael destacou uma mudança crítica nessa diversidade, apenas 15 milhões de anos depois.
Após essa extinção, ocorreu um período de 15 milhões de anos durante o qual os tetrápodes quase não existiram. Os dados dos estudos da Universidade de Chicago pressupõem que esse vácuo representou uma espécie de ressaca após o Hangenberg.
“Algo classicamente visto após uma extinção é um vácuo nos registros de sobreviventes”, esclarece Lauren. “Você tem uma diversidade de fauna muito reduzida, porque a maior parte das coisas foi dizimada”, acrescenta.
Segundo Michael, os eventos de extinção removeram uma imensa quantidade de biodiversidade. “Isso molda o mosaico de biodiversidade que persiste até os dias atuais”, diz. (Rodrigo Craveiro) (Correio Braziliense, 25/5)

 

3 – Morte de mamutes resfriou a Terra

A extinção dos grandes herbívoros “teve profundos efeitos sobre as emissões de metano na atmosfera”, diz especialista
Cientistas acreditam ter chegado a uma explicação para a imensa queda de temperatura da superfície da Terra ocorrida há 12.800 anos. O fenômeno, acreditam, está relacionado à diminuição no número de mamutes e outros herbívoros que habitavam o planeta, devido à chegada de agrupamentos humanos ao continente americano.
Há 13.400 anos, antes de o homem caçar no continente americano, centenas de espécies de herbívoros povoavam a região, produzindo enormes quantidades de metano em seu processo digestivo.
O metano é um gás que provoca o efeito estufa e, segundo o trabalho publicado no domingo passado na revista científica Nature Geoscience, o surgimento do período glacial há 12.700 anos, conhecido como Dryas, pode estar relacionado com a brusca redução dessas emissões. A temperatura média caiu 7 graus centígrados na ocasião.
A extinção dos grandes herbívoros “teve profundos efeitos sobre as emissões de metano na atmosfera”, o que pode ter provocado uma “mudança repentina do clima”, segundo Felissa Smith, da Universidade do Novo México, em Albuquerque.
“Pensamos que a perda da megafauna pode explicar entre 12,5% e 100% da redução do metano observado”, destacam os pesquisadores, que apontam a extinção dos grandes herbívoros como o “primeiro evento catastrófico atribuído à atividade humana”.
Influência humana

Se isto for verdade, o Antropoceno – época em que o homem teve influência maior sobre o clima – não começou com a revolução industrial, há dois séculos, mas com a chegada em massa dos predadores bípedes à América, há 13.400 anos.
Por esse motivo, os pesquisadores defendem então recuar a data do início do Antropoceno em 13 mil anos. Antes da intervenção do homem, os herbívoros pré-históricos americanos emitiam entre 2,3 e 25 milhões de toneladas de metano na atmosfera por ano, segundo estimativas baseadas nas emissões dos ruminantes atuais.
Os pesquisadores observaram uma queda repentina da concentração de metano na atmosfera de 180 ppbv (partes por bilhões por volume) na mesma época da extinção dos grandes herbívoros na América, no período glacial de Dryas. Cada redução de 20 ppbv na concentração de metano corresponderia a uma queda de 1 grau na temperatura, segundo dados climáticos. (Correio Braziliense, 25/5)