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Informativo 262 – 700 espécies da fauna; Temos o que comemorar no dia da Biodiversidade? e doenças nos corais

1 – São Paulo abriga 700 espécies da fauna

2 – Temos o que comemorar no Dia da Biodiversidade?

3 – Cientistas avaliam doenças que afetam os corais

 

1 – São Paulo abriga 700 espécies da fauna

Casal de onças-pardas e o macaco mono-carvoeiro foram flagrados pela primeira vez em São Paulo desde que o levantamento começou
Um casal de onças-pardas está vivendo na capital de São Paulo, confirmou a Prefeitura. Os animais foram fotografados na Área de Proteção Ambiental (APA) Capivari-Monos, no extremo sul da cidade. O achado ocorreu após mais de um ano de investigação de vestígios e do comportamento desses animais.
A descoberta integrará o novo inventário da fauna da capital paulista, que será divulgado no sábado, quando se comemora o Dia Internacional da Biodiversidade. O levantamento da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente chegou a um total de 700 espécies diferentes de animais – 563 vertebrados e 137 invertebrados.
Pela primeira vez também foi possível registrar no município o maior primata das Américas, o muriqui-do-sul ou mono-carvoeiro – que tem quase o dobro do tamanho de um bugio. Mais uma vez, foi a APA Capivari-Monos o local do achado, comprovando sua importância para a preservação.
Para o biólogo Otávio Cafundó, especialista em conservação ambiental, a existência de um casal de onças-pardas no município é fato raro. “Sua presença é um indicador de melhores condições ambientais e sugere atenção para medidas de conservação e proteção.”
Tanto a onça-parda quanto o mono-carvoeiro estão ameaçados de extinção – o primeiro está classificado como vulnerável na lista estadual de espécies em risco; o segundo, como em perigo. No total, há 30 espécies ameaçadas de extinção na lista. Outras 22 estão quase ameaçadas e sobre 13 espécies não há dados suficientes para determinar o grau de ameaça. As aves são o grupo da fauna mais numeroso: 372 espécies. Desse total, 83 novas apareceram no levantamento. Algumas foram identificadas somente pelo som (não foram vistas). O canto era gravado e comparado numa biblioteca digital.
O mapeamento da fauna na capital é feito pela Prefeitura desde 1993 em áreas verdes e continua em andamento. O último inventário publicado, de 2006, analisou 48 locais e encontrou 433 espécies. Dessa vez, foram estudadas 81 áreas e se chegou a um total de 700 espécies. Não é possível falar que houve aumento dos tipos de animais entre um estudo e outro, pois foram avaliados mais lugares nesta etapa e mais técnicos participaram. Entre os novos pontos estão locais na margem da Guarapiranga.
Segundo a coordenadora do levantamento, Anelisa Magalhães, só de borboletas foram listadas mais 125 espécies. “O foco inicialmente era mais vertebrados.” Ela explica que o mapeamento começou em razão da necessidade de conhecer áreas que poderiam receber animais atendidos na divisão de fauna da Prefeitura depois de serem atropelados, por exemplo.
Sua equipe tinha tido contato com vestígios de onça. Em 1994, foram estudar a fazenda Capivari, na zona sul. “Coletamos uma pegada e, duas semanas depois, soubemos que índios tinham caçado e comido o animal. Conseguimos pegar a pele e levar para o Museu de Zoologia. Mas agora foi a primeira vez que onças vivas foram fotografadas.” Elas foram flagradas por armadilhas fotográficas – câmeras fixadas em postinhos de madeira e espalhadas pela mata.

Função. De acordo com Vilma Clarice Geraldi, diretora da divisão de fauna da Prefeitura, a lista ajuda na tomada de decisões, como criar um parque numa área com espécies raras. Outra questão importante para o município é ter uma série histórica – como ocorre com a medição da temperatura. Será possível acompanhar, daqui a 15 anos, o que aconteceu com as espécies observadas hoje.
Na opinião da secretária nacional de Biodiversidade e Florestas, Maria Cecília Wey de Brito, seria interessante se todas as cidades fizessem esse esforço de conhecer suas espécies.
Ameaças. As espécies de São Paulo sofrem com caçadores e com a perda de hábitats (por causa do desmatamento). Para a coordenadora do levantamento de fauna, o adensamento populacional e o trecho sul do Rodoanel também preocupam. E espécies invasoras são fontes de dor de cabeça: o sagui-da-serra-escuro compete por recursos com dois saguis não nativos de São Paulo. (Afra Balazina) (O Estado de SP, 20/5)

 

2 – Temos o que comemorar no Dia da Biodiversidade?, artigo de Izabella Teixeira

“De que adiantam os protestos se não mudarmos os padrões de produção e consumo?”
Izabella Teixeira é ministra de Estado do Meio Ambiente. Artigo publicado no “Valor Econômico”:
Amanhã, 22 de maio, o mundo inteiro comemora o Dia Mundial da Biodiversidade. É um momento de reflexão sobre a diversidade de formas de vida em nosso planeta e sobre a infinidade de bens e serviços ambientais derivados da biodiversidade que a humanidade usufrui. A Organização das Nações Unidas (ONU) pretende chamar a atenção para a questão e, por isso, declarou 2010 o Ano Internacional da Biodiversidade.
Mas será que temos o que comemorar? O 3º Relatório do Panorama da Biodiversidade Global (conhecido pela sigla inglesa de GBO3), que o Ministério do Meio Ambiente está lançando na versão em português, é muito claro e confirma que o mundo não cumpriu com o objetivo adotado em 2002 na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável de Joanesburgo de lograr uma redução significativa no ritmo de perda da biodiversidade até 2010.
O GBO3 conclui que os ecossistemas naturais que sustentam a economia, a vida e os meios de subsistência em todo o planeta estão em perigo devida a rápida degradação e colapso. Segundo o documento, uma perda massiva da biodiversidade é cada vez mais provável, o que pode ocasionar uma severa redução de muitos serviços ambientais essenciais para as sociedades.
Como vários pontos de ruptura estão se aproximando, os atuais ecossistemas podem ser substituídos por sistemas degradados menos produtivos de difícil ou impossível recuperação.
O relatório GBO3, no entanto, não traz apenas más notícias. Entre as boas notícias, está o fato de que os avanços mais significativos de resposta ao declínio da biodiversidade ocorreram na Amazônia brasileira, onde se verificou um declínio de 75% na taxa anual de desmatamento desde 2004 e uma ampliação de 100% nas áreas protegidas desde 2002 (considerando tanto as unidades de conservação federais quanto as estaduais).
Outros avanços importantes no Brasil podem ser arrolados. Estudo recente de bibliometria concluiu que os pesquisadores brasileiros foram responsáveis por 45% de todas as publicações científicas em sistemática biológica sobre a biodiversidade neotropical publicadas no século XX.
Neste Dia Mundial da Biodiversidade, o Ministério do Meio Ambiente tem a satisfação de lançar a Lista da Flora Brasileira, que lista mais de 44 mil espécies, obra de vulto coordenada pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro que contou com a contribuição de várias centenas de botânicos brasileiros.
Por outro lado, é importante que na estratégia de conservação os esforços não estejam limitados às ações de governos. É preciso que o setor empresarial e os consumidores brasileiros façam a sua parte e promovam a produção e o consumo sustentáveis dos produtos derivados da biodiversidade. De que adiantam os protestos indignados contra o desmatamento dos nossos biomas se cada um de nós não mudar seus padrões de produção e de consumo? Quantos de nós ao fazer compra de produtos de madeira pergunta sobre a origem da madeira?
Felizmente, essa nova conscientização começa a tomar corpo em nosso país, transbordando as fronteiras de grupos sócio-ambientalistas para constar das estratégias de negócio de diferentes setores empresariais, como o dos produtores de óleos vegetais que baniram há mais de três anos a compra de soja produzida em áreas de desmatamentos recentes na Amazônia; ou dos produtores de etanol a partir da cana-de-açúcar que apoiaram o zoneamento agroecológico que visa garantir que a expansão da cana não promova o desmatamento e remoção de ecossistemas naturais; ou dos frigoríficos e supermercados que anunciaram recentemente um pacto pela produção de carne sustentável.
Dados divulgados pelo Dr. Pavan Sukhdev, líder do “Estudo da Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade” (conhecido pela sigla inglesa de TEEB), indicam que o mundo perde capital natural, isto é, biodiversidade, num valor estimado entre dois e cinco trilhões de dólares por ano apenas com o desmatamento. Por outro lado, estudos recentes estimam que investe-se um total de US$ 10 milhões por ano na conservação da biodiversidade em todo o planeta. Calcula-se que seriam necessários US$ 28 milhões anuais nos próximos 30 anos para cobrir 10% do território de todos os países, incluindo o custo de aquisição e gestão de reservas quanto à biodiversidade existente.
O Brasil tem um papel de liderança em relação ao destino da biodiversidade, por deter a maior porção da biodiversidade mundial, por deter uma das comunidades científicas mais ativas e competentes entre os países do Sul, por deter uma economia vibrante e criativa (um dos chamados BRICs) e por deter uma diplomacia respeitada por todos.
O governo brasileiro vai mobilizar as maiores competências nacionais em prol do avanço da agenda internacional de biodiversidade. Neste ano, importantes decisões serão tomadas na Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 10) em outubro, em Nagoya, Japão, e na Sessão Especial da ONU sobre biodiversidade, em setembro, em Nova York. Num momento onde o Brasil ganha espaço crescente na economia e na diplomacia global, seremos cada vez mais cobrados se estamos à altura das oportunidades e dos desafios que a agenda da biodiversidade nos oferece. Eu sou uma otimista! (Valor Econômico, 21/5)

 

3 – Cientistas avaliam doenças que afetam os corais

O projeto investiga doenças que vêm acometendo corais brasileiros
Os recifes de corais são tão importantes para a vida marinha que podem ser comparados a verdadeiras florestas submersas. Escolhidos para ser o berçário e local de crescimento de diversas espécies – desde as invertebradas até mesmo as vertebradas de grande porte, como as baleias e aves migratórias -, eles contribuem de forma decisiva para a formação da biodiversidade, além de ser importantes redutos de pesca.
O Brasil possui recifes de coral que não abrigam tantas espécies quanto os do Caribe e do Pacífico, mas que concentram grande quantidade de espécies endêmicas, isto é, que só ocorrem aqui, como em Abrolhos. Apesar da importância incontestável desse santuário marinho, danos ambientais causados pela ação humana vêm contribuindo para a proliferação de doenças infecciosas que afetam os seus corais.
As doenças em corais, reconhecidas pelos especialistas desde os anos 1980, representam a principal causa da perda da cobertura coralínea no mundo. Cerca de 40% dos recifes de corais do planeta já foram dizimados. Pesquisa coordenada pelo professor Fabiano Thompson, do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IB/UFRJ), e que conta com parceiros em diversas instituições do país, avalia a saúde dos corais no Banco dos Abrolhos, na Bahia. O projeto, que recebeu apoio da Faperj por meio de um Auxílio à Pesquisa (APQ1), investiga as doenças que vêm acometendo corais relacionadas com os vibrios – bactérias que vivem associadas à estrutura coralínea e que até então tinham sido pouco estudadas.
O levantamento dessas doenças fornece ferramentas para avaliar a saúde do ambiente marinho, já que os recifes de coral, devido à sua sensibilidade, são considerados termômetros da conservação dos oceanos. O estudo permitiu também investigar a biodiversidade dos micro-organismos associados a eles, que são causadores das doenças. Uma delas é o branqueamento, relacionado à perda das algas microscópicas zooxantelas, que vivem harmonicamente nos tecidos dos corais, em simbiose, colaborando para sua nutrição. “O branqueamento, considerado um processo unicamente fisiológico do coral e da zooxantela, é uma doença infecciosa causada por vibrios”, explica o professor. “Uma das consequências dessa doença é o aspecto esbranquiçado da colônia devido à perda da zooxantela.”
As espécies de corais escolhidas para nortear a pesquisa foram a Mussismilia híspida e a Mussismilia brasiliensis, conhecidas popularmente como coral-cérebro. Exclusiva da costa brasileira, do Rio Grande do Norte a Santa Catarina, a Mussismilia é a principal formadora de recifes no país. Mas de acordo com o professor, nos últimos cinco anos foi observada uma redução drástica do número de suas colônias, por metro quadrado, em Abrolhos. “Caso não sejam adotadas medidas de preservação ambiental, o coral-cérebro pode ser extinto em menos de um século”, alerta Thompson.
A disseminação das doenças de corais – como branqueamento, necrose e praga branca – pode estar relacionada à poluição e à elevação da temperatura dos oceanos. De acordo com Thompson, a degradação das bacias hidrográficas modifica as características da água, tornando-as mais favoráveis à multiplicação dos vibrios e de outras bactérias indicadoras, tais como Bacteroidetes.
“A poluição aumenta a quantidade de matéria orgânica na água. Os dejetos funcionam como alimento para o desenvolvimento dessas bactérias, fazendo com que elas se proliferem, ou mesmo devido à contaminação de esgotos domésticos com carga bacteriana elevada. O aumento de temperatura da água, especialmente no verão, também favorece a multiplicação de vibrios, o que torna mais frequente as infecções dos corais.”
O projeto, que rendeu uma série de publicações em revistas científicas conceituadas, como a Marine Pollution Bulletin, Journal of Applied Microbiology, IJSEM, e Environmental Microbiology Reports (sendo os primeiros trabalhos acerca da microbiologia de corais em âmbito nacional), vem ocupar a lacuna deixada pela escassez de estudos sobre a biodiversidade microbiana marinha brasileira.
“Os biólogos marinhos não estudavam os micro-organismos e não tinham noção de sua importância e de sua abundância nos corais. Há cerca de um milhão de células de vibrio por mililitro de muco ou de tecido de coral”, destaca. “Determinamos pela primeira vez a composição das bactérias que se associam a esses corais, saudáveis e doentes, e descrevemos novas espécies, como a Vibrio communis, que é fixadora de nitrogênio e é um dos vibrios mais abundantes no muco de corais.”
O trabalho de classificação taxonômica das bactérias de corais está disponível na Internet, no banco de dados http://www.taxvibrio.lncc.br/
O site, construído com o auxílio da professora Ana Tereza Vasconcellos, do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LabInfo/LNCC), contém informações das sequências gênicas e dos locais de coleta de cerca de 600 vibrios de corais. O banco também armazena dados taxonômicos de outros animais marinhos, como moluscos e camarões, além de permitir a identificação eletrônica de materiais genéticos isolados e a busca de sequências relacionadas.
Com o objetivo de caracterizar a biodiversidade das bactérias associadas aos corais, os pesquisadores recorreram às técnicas da metagenômica, isto é, aquelas relacionadas à análise das sequências genéticas de uma comunidade inteira de micro-organismos que vivem em um determinado ambiente. Foram coletadas amostras de muco de corais saudáveis e doentes.
“Estamos tentando determinar agora quais são os genes dos vibrios responsáveis pela produção de toxinas que afetam o coral. Em condições controladas de laboratório, em experimentos em aquários na UFRJ, queremos saber se os vibrios são tóxicos a ponto de causar doenças e matar os corais. Este projeto está em andamento e será financiado pelo edital Biotérios, da Faperj”, conclui Thompson.
Além do professor Thompson, participaram do projeto de caracterização da diversidade microbiana de corais os professores Ricardo Kruger, da Universidade Nacional de Brasília (UNB); Ana Carolina Vicente, do Instituto Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); Ana Tereza Vasconcellos, do LNCC; Rodolfo Paranhos e Clóvis B. Castro, ambos da UFRJ; Rodrigo de Moura, da Conservação Internacional (CI-Brasil); Ronaldo Francini Filho, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Marcelo Brocchi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); e alunos de diferentes níveis e bolsistas da Faperj. (Débora Motta, Boletim On-line da Faperj)