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Informativo 261 – Flora do Brasil on-line; Butantã; Guardar cobra “é bobagem” e “Se quer pesquisar, tem que pedir verba”

1 – Jardim Botânico do Rio de Janeiro lança a Lista de Espécies da Flora do Brasil on-line

2 – Fogo no Butantã expõe abandono do setor de pesquisa; vacinas são prioridade

3 – Butantan perdeu 24% do quadro de cientistas em 5 anos

4 – Guardar cobra é ‘bobagem’, diz Isaias Raw

5 – ‘Se quer pesquisar, tem de pedir verba’, entrevista com Isaías Raw

 

1 – Jardim Botânico do Rio de Janeiro lança a Lista de Espécies da Flora do Brasil on-line

Cerca de 400 pesquisadores apresentam 40 mil espécies da flora
No dia 21 de maio, às 16h, o Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) lança a versão on-line da Lista de Espécies da Flora do Brasil, disponível na página www.jbrj.gov.br
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi designado pelo Ministério do Meio Ambiente para coordenar, por intermédio do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), o trabalho de elaboração da lista, que envolveu cerca de 400 taxonomistas brasileiros e estrangeiros voltados para a identificação e caracterização das espécies de plantas nativas do território nacional. 
Como país signatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), o Brasil assumiu, perante a comunidade internacional, uma série de compromissos para 2010. Entre eles, destaca-se a implementação da Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC), com o objetivo de facilitar o consenso e a sinergia nos níveis global, nacional, regional e local no sentido de impulsionar o conhecimento e a conservação de plantas. A elaboração de uma lista “funcional amplamente acessível” das espécies conhecidas de cada país é a primeira das 16 metas estabelecidas pela GSPC.
O lançamento da Lista de Espécies da Flora do Brasil significa, assim, o cumprimento dessa primeira meta da GSPC. Mas é também a realização de um sonho da comunidade botânica. Apesar da imensa diversidade florística do país, a única compilação desse porte, procurando abranger todas as espécies de plantas brasileiras conhecidas, datava do período entre 1846 e 1906, quando von Martius, Eichler & Urban editaram a Flora brasiliensis, com 22.767 espécies.
A nova lista apresenta 41.123 espécies da flora brasileira, sendo 3.633 de Fungos, 3.521 de Algas, 1.522 de Briófitas, 1.176 de Pteridófitas, 23 de Gimnospermas e 31.248 de Angiospermas. Sobre cada espécie são fornecidos os dados de distribuição geográfica por Região, Unidade da Federação e Domínios Fitogeográficos. Também é possível saber os sinônimos para o nome aceito de cada espécie e consultar quais delas são endêmicas, ou seja, exclusivas do território brasileiro.
A elaboração da lista teve início em setembro de 2008, quando foi estabelecido o comitê organizador, os coordenadores de cada grupo taxonômico e as informações que deveriam ser disponibilizadas. Outras listas parciais já publicadas ou disponibilizadas por especialistas dos diferentes grupos foram então integradas e os dados foram migrados para um sistema desenvolvido pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria). Durante 2009, os cerca de 400 especialistas trabalharam sobre essa base de dados unificada, incluindo online os novos dados ou corrigindo aqueles já existentes.
Para a coordenadora-geral do projeto, a botânica Rafaela Campostrini Forzza, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, isso é apenas o início. “A intenção é de que a lista seja dinâmica e atualizada periodicamente para incluir novas espécies e mudanças taxonômicas ao longo do tempo. Esperamos que esse site também disponibilize, num futuro próximo, muitas outras informações sobre a flora brasileira”. (Com informações da Assessoria de Comunicação do JBRJ)

 

2 – Fogo no Butantã expõe abandono do setor de pesquisa; vacinas são prioridade

Instituto não investe há 8 anos em reforma ou melhoria da infraestrutura dos prédios que abrigam pesquisa básica, à qual pertencia o acervo de cobras e aranhas destruído; biblioteca está tomada por goteiras e cupins ameaçam coleção de obras raras
A ênfase na construção de fábricas e produção de vacinas rendeu benefícios à saúde pública e prestígio internacional ao Instituto Butantã nos últimos anos. Mas trouxe como efeito colateral a degradação da estrutura de pesquisa básica, à qual pertencia o acervo de cobras e aranhas, destruído no sábado (15/5) por um incêndio.
Segundo fontes ouvidas pelo Estado, as chamas que consumiram a coleção centenária, iniciada por Vital Brazil, não nasceram de uma falha pontual no sistema contra incêndios, mas de uma deficiência estrutural sistêmica que ameaça grande parte do patrimônio histórico e científico do instituto.
O prédio da biblioteca, que ostenta o nome do Instituto Butantã no ponto mais alto do complexo, é exemplo disso. Há goteiras, infiltrações e cupins por todos os lados. Uma sala está sem teto e teve de ser interditada no início do ano por causa de um deslocamento de vigas. Sem instalações adequadas para trabalhar, funcionários recorrem a gambiarras elétricas. Há até um morcego que vive no porão, apelidado de Juquinha. No mesmo prédio funciona, indevidamente, o setor de farmacologia.
“E olha que esse prédio é o cartão postal do Butantã”, diz a bibliotecária Lindalva Santana, que cuida do acervo de 8 mil livros e 200 mil revistas científicas. A coleção de obras raras, incluindo publicações dos séculos 18 e 19, encapadas com pele de cobra, está espremida em um armário de ferro comum, cheirando a naftalina. “Faz dez anos que cheguei aqui e faz dez anos que peço para comprarem um armário novo”, conta Lindalva.
Assim como no Prédio das Coleções, não há sistema de detecção ou combate a incêndios. E nada está informatizado. “Fazemos tudo na mão. Se pegar fogo, não tem volta”, diz Lindalva.
Até o chamado “Prédio Novo”, que é da década de 1940, sofre de problemas estruturais. O elevador está quebrado há cinco anos, segundo o pesquisador Marcelo De Franco, que trabalha no local. Segundo ele, não falta dinheiro para pesquisa, já que os projetos são financiados por agências externas de fomento, como Fapesp e CNPq. O problema está mesmo na parte de infraestrutura, que é de responsabilidade da instituição. “A Fundação Butantã deveria olhar para todo o instituto, mas só tem olhos para a fabricação de vacinas”, afirma Franco.
Reforma parada. Desde 2002 não há gastos em reformas nos imóveis do instituto. Naquela ocasião, foram aplicados apenas R$ 4,8 mil, em valores corrigidos, no item. No ano anterior o valor foi de R$ 180 mil. Só a reforma do prédio da biblioteca custaria R$ 4 milhões. Desde 2007, porém, houve crescimentos do gastos com manutenção.
Membros do primeiro escalão da instituição admitem que é urgente retirar o setor de pesquisa dos prédios históricos, medida em discussão há oito anos. A estrutura elétrica desses locais e do instituto como um todo está inadequada, tanto que o desligamento da energia antes do incêndio era para preparar a rede para a nova fábrica de vacinas contra a gripe. A secretaria estadual da Saúde, a qual o Butantã está subordinado, alegou ter investido R$ 2,6 milhões na infraestrutura nos últimos quatro anos. (Herton Escobar, Fabiane Leite, Alexandre Gonçalves) (O Estado de SP, 20/5)

 

3 – Butantan perdeu 24% do quadro de cientistas em 5 anos

Infraestrutura ruim e baixos salários causam evasão de pesquisadores; bióloga tem de trabalhar debaixo de escada
Além dos problemas de infraestrutura, o Instituto Butantã sofre com a evasão de recursos humanos. Nos últimos cinco anos, o número de pesquisadores da instituição caiu de 210 para 160 ? redução de 24% ?, apesar de contratações feitas nesse período, segundo o pesquisador Marcelo De Franco, do Laboratório de Imunogenética, que coordenou o último concurso, em 2009.
Isso, sem contar as aposentadorias. “É evasão mesmo”, afirma De Franco, que está no Butantã há 20 anos e ostenta cinco pós-doutorados no currículo. “O problema é que temos uma linha de pesquisa que não pode ser transferida, se não eu já tinha ido para a USP (Universidade de São Paulo)”, completa ele, que estuda genes ligados a processos inflamatórios em camundongos.
Em um concurso que foi aberto para professor no Departamento de Zoologia da USP, dois dos oito concorrentes são pesquisadores do Butantã, segundo o zoólogo Rogerio Bertani, pesquisador do Butantã desde 1994. E uma pesquisadora já foi para lá duas semanas atrás.
“Perdemos gente também para a Fiocruz, que tem salários mais competitivos”, complementa De Franco. Segundo ele, o salário de pesquisador no Butantã começa em R$ 2.700 (nível 1) e pode chegar a R$ 6.400 (nível 6), enquanto que na Fiocruz o teto é de R$ 14 mil e na Embrapa, R$ 12 mil. “Todos os institutos de pesquisa do Estado estão sofrendo com uma evasão séria de pesquisadores”, diz ele.
As goteiras e o elevador quebrado do chamado Prédio Novo do Butantã também não ajudam. A sala da pesquisadora Rute Maria Gonçalves de Andrade, do Laboratório de Imunoquímica, fica embaixo de uma escada com teto tão baixo que muitos precisam curvar-se para caminhar lá.
O laboratório conta com microscópios, computadores e outros equipamentos de ponta. Mas Rute ressalta que “foi tudo obtido graças à Fapesp”. “A contrapartida em infraestrutura que o Butantã deveria dar é muito precária. Na prática, não dá”, diz a cientista, pesquisadora do instituto desde 1994 e membro da diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Instituto apresenta dados diferentes
Procurada pelo Estado, a assessoria de imprensa do Instituto Butantã disse na noite de quarta-feira que houve aumento no quadro de pesquisadores informação contrária a de cientistas entrevistados. Segundo a assessoria, o instituto tinha 111 pesquisadores em 2002 e 188 em 2009 um aumento de 69%. Também disse que houve 12 concursos desde 2002. (Herton Escobar e Alexandre Gonçalves) (O Estado de SP, 20/5)

 

4 – Guardar cobra é ‘bobagem’, diz Isaias Raw

Para ex-presidente da Fundação Butantan, zoologia do instituto é “de quinta” e prioridade deve ser fabricação de vacinas
O Butantan fez bem em deixar em segundo plano sua coleção biológica, disse à Folha o ex-presidente da Fundação Butantan, Isaias Raw.
Ainda muito influente no instituto, Raw afirma que a pesquisa realizada no acervo destruído pelo incêndio no sábado era de “quinta categoria”. Mesmo após o desastre, ele defendeu a política de priorizar a fabricação de vacinas.
“Aquilo [o acervo] é uma bobagem medieval. Você acha que a função do Butantan é cuidar de cobra guardada em álcool ou fazer a vacina para as crianças?”, disse. Para ele, “não dá para cuidar das duas coisas”.
Cientistas ouvidos pela Folha reclamam que, durante a gestão da Raw, entre 1985 e 2009, a pesquisa com animais teria passado a ser vista como algo de pouca importância e recebido poucos recursos da Fundação Butantan, organização social gestora do instituto, que é do governo do Estado.
Segundo um deles, Raw teria “pegado birra” dos que trabalhavam junto ao acervo, por considerá-los improdutivos.
Foi sob Raw que o Instituto Butantan, por outro lado, tornou-se o grande fornecedor de vacinas do Ministério da Saúde.
“Se eles não receberam dinheiro é porque não mereciam. Eu recebo todo dinheiro que eu peço. A Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] deu aquele prédio. Eles fizeram uma merda naquele prédio. Nem compraram o alarme para incêndio, alarme para incêndio você compra na esquina hoje.”
Segundo ele, foi um erro colocar os animais em álcool. “Isso é burrice, é para pegar fogo.”
De segunda
“Não quero falar mal de colega, mas [o que Raw diz] é verdade. Desde o começo é uma herpetologia [estudo de répteis e anfíbios] de segundo grau”, diz Paulo Vanzolini, 86, o mais importante zoólogo brasileiro vivo. “O Butantan nunca foi vanguarda cientificamente.”
“Agora, isso não tem nada a ver com o valor da coleção. A coleção era independente do valor científico dos cientistas. Ela tinha grande valor científico, tinha 80 mil bichos.”
Para Raw, a Fapesp também não errou caso não tenha dado dinheiro especificamente para criar um sistema anti-incêndio.
“Se eles receberam uma banana [da Fapesp], é porque eles mereceram uma banana. Alguém tem de dizer qual é a prioridade do Brasil.”
A Fapesp, na verdade, deu dinheiro ao Butantan que poderia ter sido usado num sistema anti-incêndio. Em 2007 e 2008, como mostrou a Folha na quarta-feira, o instituto recebeu quase R$ 1 milhão para a chamada reserva técnica. A verba pode ser aplicada em infraestrutura e em equipamentos de pesquisa.
Investigação
A fundação funciona como braço operacional do Instituto Butantan e tem um orçamento de cerca de R$ 300 milhões.
Raw renunciou à presidência da fundação no ano passado. O Ministério Público investigava um esquema de desvio de verbas públicas que envolvia mais de R$ 35 milhões.
Antes da renúncia, Raw já tinha sido afastado preventivamente. Não existiam, porém, evidências de que ele tivesse se beneficiado do dinheiro.
Raw continua como cientista do instituto, mas foi encontrado na quarta-feira (19/5) no prédio da fundação, onde, segundo funcionários, é presença constante.
“A fundação não poderia ter dado dinheiro [para segurança do prédio incinerado]. Eu tenho de guardar o dinheiro porque a vacina começa a ser feita no ano anterior, antes que o Ministério da Saúde encomende. Quando se vota o orçamento, às vezes já em maio, ele começa a pagar. Como vou fazer vacina se não tenho dinheiro?”
Raw criticou também os descendentes de Vital Brazil, um dos fundadores do Butantan, que disseram nessa semana que o patrimônio histórico do local tinha sido jogado “à última instância” e que o instituto tinha se tornado uma mera “fábrica da vacinas”.
Galpão tinha instalação elétrica exposta
Segundo pesquisadores que preferiram não se identificar, eram constantes as reclamações com relação à estrutura física e especialmente elétrica do galpão que pegou fogo.
Um dos cientistas apontava a ferrugem tomando conta do telhado do prédio. “Isso quer dizer alguma coisa”, disse. Segundo ele, “gambiarras” são comuns no instituto. “Muitos prédios provisórios acabam se tornando permanentes.”
A Folha entrou brevemente no prédio que pegou fogo, interditado pela Defesa Civil.
Ali é possível ver algumas tomadas que foram “puxadas” de outras. Os fios que saíam do poste do lado de fora passavam antes por um tubo exposto, rente à parede, por metros antes de entrar no local, ficando claro que aquela instalação não fora feita com o galpão.
Segundo a direção do Instituto Butantan, o prédio tinha sido reformado recentemente e não havia nada de errado com a parte elétrica.
Bomba-relógio
Além dos problemas específicos das instalações do Butantan, coleções biológicas armazenadas de modo tradicional têm um quê de bomba-relógio.
Isso porque ela combinam com frequência animais em álcool e outros bichos, como insetos ou aranhas, cuja carapaça externa seca foi preservado. A mistura é muito inflamável.
Para Paulo Vanzolini, da USP, decano dos especialistas em répteis do Brasil, “as precauções são conhecidas: examinar frequentemente a parte elétrica e ter os extintores em boas condições.”
“Os primeiros minutos nesse tipo de fogo são capitais, é sempre muito difícil de controlar”, afirma Hussam Zaher, diretor do Museu de Zoologia da USP.
A maneira mais segura de lidar com o problema é transferir as coleções biológicas para prédios só para elas, sem janelas, equipados com um sistema que emite gás carbônico quando acontece um incêndio.
Sem oxigênio no ar, o fogo deixa de ser alimentado e é debelado. Agora, o Butantan quer fazer um prédio com vários “módulos”, em que um foco de incêndio não conseguiria se espalhar por todo o acervo.
Segundo Francisco Franco, curador da coleção destruída, foi possível tirar cerca de 40% do acervo queimado de dentro do prédio na quarta-feira. Ele diz que existe material em todos os estados de conservação, mas que ficou positivamente surpreso ao ver muitos animais inteiros.
O escoramento do prédio, que ameaça desabar, deveria ter sido feito na quarta-feira, mas foi adiado para esta quinta-feira. Depois disso, será possível retirar o resto da coleção. O trabalho deve levar mais dois dias, estima Franco. Só depois será possível saber o tamanho do estrago. (Ricardo Mioto e Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 20/5)

 

5 – ‘Se quer pesquisar, tem de pedir verba’, entrevista com Isaías Raw

Ex-presidente da Fundação Butantan critica comportamento de pesquisadores
O ex-presidente da Fundação Butantã Isaías Raw reagiu, na quarta-feira (19/5), às críticas de pesquisadores de que a priorização da fabricação de vacinas levou ao declínio do acervo e da pesquisa no instituto. Ele afirmou que cabe aos pesquisadores buscar apoio em agências de fomento à ciência.
“Se pesquisador quer fazer pesquisa, submete um pedido para o Finep, para a Fapesp (órgãos estatais de fomento à pesquisa)”, disse Raw. “Se não conseguir, é porque não tem competência.”
Até mesmo a família de Vital Brazil, fundador do Butantã, divulgou texto em que afirma que o médico não queria que a instituição fosse apenas uma fabricante de vacinas. Os parentes do fundador também criticaram diretamente a administração de Raw, reconhecido mundialmente pelas pesquisas para o desenvolvimento de imunizantes e biofármacos.
No ano passado, o pesquisador foi afastado da presidência da fundação em razão de desvios de R$ 35 milhões na instituição. Segundo o Ministério Público, Raw não se beneficiou do esquema, mas realizou uma “gestão temerária”. Ele alega, porém, que foi enganado por subalternos. Raw conversou brevemente com a reportagem e afirmou que pretende responder em detalhes por escrito, em alguns dias. Reticente à entrevista no início, Raw concordou em tratar das críticas veiculadas nos últimos dias.
– O que os pesquisadores estão dizendo é que o senhor, na sua administração, só pensava nas fábricas de vacinas.
O Butantã é um órgão da Secretaria (estadual) de Saúde. Se a população não é atendida com vacina e soro, não é para juntar cobra para brincar no laboratório. Tá bom?
– Sim. Não havia de onde tirar mais recursos?
A regra é simples. Vale para nós, vale para o mundo inteiro, vale para a universidade. Se pesquisador quer fazer pesquisa, submete um pedido para o Finep, para a Fapesp (órgãos estatais de fomento à pesquisa), para quem for o caso. Se ele não concorda, ele pede para mudar quem deu o parecer, até aí ele tem direito. Não é função de nenhuma instituição financiar pesquisa interna. Isso não funciona em lugar nenhum do mundo. No Brasil, ele (pesquisador)já está privilegiado. Nos EUA, você tem de pagar o seu ordenado, o lugar que ocupa e uma porcentagem para manter o reitor da universidade. Aqui, ele quer o salário perpétuo, até morrer, o espaço, luz, água, sabonete. O resto, ele tem de pedir. Se não conseguir, é porque não tem competência.
– O que o senhor acha de dizerem que Vital Brazil não achava importante ter fábrica de vacina?
Vital Brazil não sabia nada disso aí. Estamos falando de 1901. Alguém tem esse documento que Vital Brazil disse que não precisava fazer vacina? Que prove isso. Compete ao pesquisador que já ganha salário, espaço, luz, água, não de torneira, papel higiênico, o resto ele tem de pedir para uma organização que dê financiamento à pesquisa. Essa é a regra no mundo inteiro. Sair dessa regra cria o que sempre criou em todo o lugar do mundo, uma decadência total. Ganha o amigo do amigo do amigo.
– E sobre a fábrica de vacinas? 
A decisão do Ministério da Saúde em 1984 é que o Brasil tem de ter autossuficiência na produção de vacinas. (Fabiane Leite) (O Estado de SP, 20/5)