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Informativo 250 – Bebê dinossauro; espécies; fraude e sequenciado o primeiro anfíbio

1 – Dinossauro bebê trocava as penas ao crescer

2 – Mundo falha em proteção a espécies

3 – Descoberta fraude com créditos de carbono

4 – Sequenciado o primeiro anfíbio

 

1 – Dinossauro bebê trocava as penas ao crescer, indica fóssil descoberto na China

Mas, diferente dos pássaros, alteração acontecia mais de uma vez
Quem ainda duvida de que as aves modernas não passam de dinossauros de duas patas aguente-se com esta: dois novos fósseis descobertos na China sugerem que, assim como os pintinhos, esses répteis extintos também trocavam as penas na passagem para a idade adulta.
Mas os dinos iam além: enquanto as aves fazem a muda apenas uma vez -da penugem para as penas que usarão para voar-, eles tinham um estágio intermediário de troca. Penas de “adolescente”, por assim dizer.
A descoberta foi relatada no periódico “Nature” pela equipe do caçador de fósseis Xing Xu, da Academia Chinesa de Ciências. Segundo os pesquisadores, ela mostra que a evolução andou brincando um bocado com o design das penas antes de produzir o padrão atual.
“A primeira geração de penas de voo é completamente diferente”, disse Xu à Folha, em referência ao fóssil juvenil do pequeno dino emplumado Similicaudipteryx descrito por ele e seus colegas. O jovem dino tinha nas mãos (“asas”) plumas com formato de colher, provavelmente pouco adequadas ao voo.
Os pesquisadores ainda não sabem qual era a função dessas penas, mas dizem ter certeza de que se trata da mesma espécie de dinossauro. Um segundo fóssil, adulto, mostra o mesmo padrão de plumas das aves atuais.
“É uma conclusão esperada”, diz Igor Schneider, pesquisador brasileiro da Universidade de Chicago (EUA), estudioso da evolução da forma como os organismos passam de embrião a adulto. “As aves modernas evoluíram de dinossauros carnívoros, que usavam as penas provavelmente para regular a temperatura e para atrair parceiros, não para voar.”
Tanto dinossauros quanto aves usavam os mesmíssimos genes para produzir penas, mas a maneira como eles se ligam e desligam no organismo em desenvolvimento faz toda a diferença no produto final. Aparentemente, parte desse repertório de ativação genética se perdeu na evolução.
Segundo Schneider, o advento do voo -algo em que as aves são especialistas, mas os dinossauros não eram muito bons- impôs limites ao tanto que a natureza poderia improvisar. “É uma hipótese que pode ser testada”, diz. (Claudio Ângelo) (Folha de SP, 29/4)

 

2 – Mundo falha em proteção a espécies

Meta de convenção da ONU para estancar a perda de biodiversidade não é alcançada
Um estudo publicado nesta sexta-feira (30/4) confirma cientificamente o que muita gente já sabia por natureza: a meta da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) de “reduzir significativamente” o ritmo global de extinção de espécies até 2010 não foi cumprida. Vários países até que tentaram, mas o esforço internacional ainda está muito abaixo do necessário para frear o extermínio da biodiversidade do planeta.
“Há muitos exemplos de boas iniciativas, mas, ao mesmo tempo que cresceram os esforços de conservação, cresceram as pressões sobre os ecossistemas de uma forma geral. No fim das contas, uma coisa não foi suficiente para compensar a outra”, disse ao Estado Valerie Kapos, pesquisadora da Universidade de Cambridge e conselheira do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, que assina o estudo com outros 44 especialistas na edição desta sexta-feira (30/4) da revista Science.
Resultado: o ritmo da perda de biodiversidade não só não diminuiu como aumentou desde 2002, quando a meta de redução foi estabelecida pela CDB. Segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), o número de espécies classificadas como ameaçadas de extinção aumentou de 11 mil para 17 mil nesse período, aproximadamente.
E este é apenas um entre dezenas de indicadores avaliados no estudo. O número “real” de espécies ameaçadas ou extintas é impossível de ser calculado, já que apenas uma parte ínfima das espécies do planeta é de fato conhecida e monitorada pela ciência. A medida que ecossistemas são destruídos ou alterados, porém, é possível estimar tendências de conservação ou extinção.
“A biodiversidade é uma coisa tão complexa que é quase impossível calcular todas as suas dimensões”, explica Valerie. “O que fizemos foi pegar todos os indicadores disponíveis e costurá-los numa peça só.”
Entre os pontos positivos estão a criação de áreas protegidas, o aumento da área de florestas certificadas e dos investimentos em conservação da biodiversidade. Do outro lado, pesam os impactos cada vez mais severos das mudanças climáticas, da pesca predatória, da disseminação de espécies invasoras, do desmatamento e do consumo de recursos naturais (como água e solo) por uma população global cada vez maior e mais consumista.
“Nossos resultados mostram que, apesar de alguns resultados encorajadores, os esforços para reduzir a perda de biodiversidade precisam ser substancialmente fortalecidos”, concluem os pesquisadores.
Positivo
O Brasil é citado como um bom exemplo no contexto do estudo, com destaque para a criação de áreas protegidas e redução do desmatamento na Amazônia. “Comparado a outros países, o Brasil fez bastante coisa”, diz a bióloga Monica Peres, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – ressaltando, porém, que aqui também os esforços estão aquém do necessário.
O biólogo Carlos Joly, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), dá “nota 7” para a atuação do Brasil junto à CDB. “O país faz um papel dualista. Ao mesmo tempo que cria unidades de conservação, sucumbe a pressões para mudar o Código Florestal e prorroga prazos para a recuperação de áreas degradadas”, diz Joly, coordenador do programa Biota/Fapesp. “Precisamos sair desse conflito.” (Herton Escobar) (O Estado de SP, 30/4)

 

3 – Descoberta fraude com créditos de carbono

Polícia europeia estima em cinco bilhões de euro o prejuízo causado em 2009
A Europa descobre que, por trás das boas intenções de cuidar do ambiente, grupos criminosos estavam se aproveitando do sistema de venda de créditos de carbono para lucrar bilhões de euros, evadir impostos e criar um verdadeiro esquema de fraude.
Nos últimos dois dias, a polícia alemã conduziu uma operação de busca e apreensão em mais de 20 escritórios pelo país, incluindo sedes de bancos como o Deutsche Bank. A suspeita é de que a fraude com créditos de carbono chegou a 180 milhões na Alemanha. Já a Europol alerta que, em 2009, o esquema pode ter custado aos cofres públicos cerca de 5 bilhões. Só na Alemanha, 150 pessoas e 50 companhias são suspeitas de fazer parte da fraude, que também está sob investigação na Holanda, Reino Unido e França.
Os grupos criminosos agiam usando brechas no mercado comum europeu. Estabeleciam uma empresa de fachada e compravam créditos de carbono de empresas no exterior, com isenção de impostos locais como prevê a lei da UE. Logo, vendiam esses créditos no mercado local, exatamente pelo mesmo preço, mas cobrando impostos, e repetiam as vendas uma série de vezes até reexportar os créditos a um outro país, mais uma vez sem pagar o imposto.
Com os lucros garantidos, aceleravam o fechamento das empresas e desapareciam com o dinheiro, sem repassar os impostos ao governo.
Em Genebra, a Associação Internacional de Comércio de Emissões estima que 7% do comércio de créditos de carbono em 2009 teria sido alvo da fraude, o equivalente a quase US$ 10 bilhões. No total, o comércio de créditos chegou a US$ 125 bilhões em 2009.
Para entender
Os países industrializados precisam reduzir em cerca de 5% suas emissões de gases-estufa até 2012, pelo Protocolo de Kyoto. Eles podem comprar créditos de carbono de projetos que reduzem emissões em países em desenvolvimento para ajudar no cumprimento de suas metas. (Jamil Chade) (O Estado de SP, 30/4)

 

4 – Sequenciado o primeiro anfíbio

Grupo internacional de pesquisadores descreve genoma do Xenopus tropicalis, pequeno anuro que tem pelo menos 1,7 mil genes semelhantes a genes causadores de doenças em humanos
O primeiro sequenciamento do genoma de um anfíbio é o destaque da edição desta sexta-feira (30/4) da revista Science. O grupo internacional de cientistas responsável pelo trabalho publicou o resultado do sequenciamento do genoma de uma rã encontrada na África, a Xenopus tropicalis.
O anuro em questão, segundo os pesquisadores responsáveis pelo sequenciamento, é um importante modelo para o desenvolvimento dos vertebrados. A sequência apresentada contém mais de 20 mil genes codificadores de proteínas, incluindo genes semelhantes de pelo menos 1,7 mil causadores de doenças em humanos.
“Até o momento, foram sequenciados diversos animais com pelos, mas poucos outros vertebrados. Ter um catálogo completo dos genes de Xenopus, ao lado dos genes de humanos, ratos, camundongos e galinhas, nos ajudará a remontar o conjunto dos genes ancestrais dos vertebrados”, disse Richard Harland, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e um dos autores da pesquisa.
“O genoma da Xenopus abre a possibilidade de estudar os efeitos dos disruptores endócrinos nos níveis molecular e genômico”, disse Uffe Hellsten, do Joint Genome Institute em Walnut Creek, primeiro autor do artigo.
Disruptores endócrinos são substâncias químicas – a maior parte derivada da poluição – que imitam os hormônios dos anuros. Sua presença em corpos d’água pode, de acordo com os cientistas, ser parcialmente responsável pelo declínio das populações de sapos, rãs e pererecas em todo o mundo.
“Esperamos que o conhecimento dos efeitos desses disruptores hormonais possa ajudar a preservar a diversidade dos anuros. Como esses produtos químicos também afetam o homem, esse conhecimento poderá ter um efeito positivo na saúde humana”, disse Hellsten.
Xenopus, que significa “pé estranho”, é um gênero de mais de 20 espécies de anuros nativas da África subsaariana. Quando os biólogos descobriram que tais anfíbios eram sensíveis à gonadotrofina coriônica humana (HCG), eles passaram a ser usados em testes de gravidez a partir da década de 1940.
Ao injetar urina de uma mulher em um exemplar de Xenopus, caso ela esteja grávida a rã ovulará e produzirá ovos em menos de 10 horas. Posteriormente, os cientistas verificaram também o importante valor desses pequenos anfíbios – que cabem na palma da mão – no próprio estudo do desenvolvimento embrionário.
Quando o Joint Genome Institute decidiu sequenciar o genoma de um anuro, a comunidade internacional recomendou o X. tropicalis, e não o muito mais conhecido X. larvis, porque o genoma do primeiro tem a metade do tamanho do segundo e seu sequenciamento seria mais rápido e com menor custo.
Um esboço do genoma do X. tropicalis já estava disponível à comunidade científica, mas o novo artigo é a primeira análise do genoma completo.
De acordo com os autores do estudo, a comparação de regiões em torno de genes específicos do anfíbio com o do homem e da galinha mostrou que eles são muito semelhantes, o que indica um alto nível de conservação da organização ou da estrutura dos cromossomos.
“Quando olhamos para alguns segmentos do genoma da Xenopus, estamos literalmente observando estruturas com 360 milhões de anos e que foram partes do genoma do último ancestral comum de todas as aves, anfíbios, dinossauros e mamíferos que passaram pela Terra”, disse Hellsten.
O artigo The Genome of the Western Clawed Frog Xenopus tropicalis (DOI: 10.1126/science.1183670), de Uffe Hellsten e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org (Agência Fapesp, 30/4)