Fechar menu lateral

Informativo 232 – Florestas, paraíso e T-Rex

1 – Perda de florestas cai 19% em uma década

2 – Mapa genético do paraíso

3 – T-Rex assombrou o sul também

 

1 – Perda de florestas cai 19% em uma década

 

Queda no desmatamento na Indonésia e no Brasil e reflorestamento na China explicam resultado, indica relatório da ONU

Uma boa notícia, para variar: a perda de florestas no mundo caiu 19% nesta década em relação aos anos 1990, graças a reduções expressivas no desmatamento no Brasil e na Indonésia e a esforços maciços de reflorestamento na China. Os dados são da FAO, órgão da ONU para alimentação e agricultura.

É a primeira vez que se registra uma queda na perda de cobertura vegetal desde 1946, quando a FAO começou a produzir a Avaliação Global de Recursos Florestais, publicado a cada cinco anos.

“No último relatório, de 2005, nós não conseguimos ver nenhuma diferença em relação ao anterior. Então, é uma boa notícia”, disse à Folha a coordenadora do estudo, Mette Wilkie, sobre o novo dado.

No mundo inteiro, entre 2000 e 2010, 13 milhões de hectares de florestas foram perdidos, uma área pouco maior que a do Estado do Pará. Entre 1990 e 2000, o total perdido foi de 16 milhões de hectares, o equivalente a toda a região Centro-Oeste do Brasil.

As perdas anuais caíram de 8,3 milhões de hectares para 5,2 milhões. Ainda assim, diz a FAO, o número é “alarmante”: o mundo perde o equivalente a uma Costa Rica por ano.

Tradicionalmente vilipendiados como maiores desmatadores e maiores emissores de gás carbônico por desmatamento do mundo, Brasil e Indonésia foram os principais responsáveis por puxar para baixo o índice de perda de cobertura florestal desta vez.

No Brasil, o desmate caiu de 2,9 milhões de hectares na década passada para 2,6 milhões nesta década. “Não parece muito por causa do período longo analisado, mas a queda que houve no desmatamento no Brasil de 2005 para cá foi substantiva”, elogia Wilkie.

Segundo ela, a conjuntura econômica ajudou, com a baixa nos preços de commodities agrícolas, mas o esforço “do governo Lula” para reduzir o desmatamento foram importantes. Wilkie também mencionou como positiva a meta brasileira de reduzir o desmatamento amazônico em 80% até 2020.

O Brasil também foi o campeão de criação de áreas protegidas nesta década. “Metade do que foi criado no mundo inteiro foi no Brasil”, afirma Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente.

Democracia verde

Na Indonésia, a queda proporcional no desmatamento foi ainda mais expressiva do que no Brasil: de 1,6 milhão de hectares perdidos nos anos 1990 para 500 mil nesta década.

O fator determinante da redução, aparentemente, foi a democratização do país em 1998, quando o ditador Mohamed Suharto foi deposto.

“Nos anos 1990, o desmatamento foi em parte causado por uma continuação da política de transmigração dos anos 1980, quando muitas pessoas de Java foram transferidas para regiões de floresta”, diz Wilkie. Nesta década, o governo também parou de autorizar megadesmatamentos para plantações de dendê (que, no entanto, continuam avançando).

“A Indonésia não dá tanta publicidade quanto o Brasil a seus esforços de redução de emissões, mas os números falam por si”, disse Wilkie. (Cláudio Ângelo) (Folha de SP, 26/3)

 

2 – Mapa genético do paraíso

 

Catálogo inédito de espécies da Mata Atlântica começa pela Ilha Grande

A Ilha Grande e o Jardim Botânico do Rio serão alvo de um levantamento genético pioneiro, que incluirá dados de todas as espécies de animais e plantas que vivem nesses locais. À frente do projeto estão a Uerj e a Universidade do Porto, que dividem estudos de genética forense há 10 anos.

As instituições assinaram convênio nesta quinta-feira (25/3), mas os trabalhos já começaram na Costa Verde. Segundo os pesquisadores, a Ilha Grande tem 200 animais de pequeno porte ameaçados de extinção. Estas espécies serão as primeiras a terem amostras de DNA coletadas.

A Ilha Grande será o ponto de partida para uma iniciativa mais ambiciosa: fazer a “carteira de identidade” da Mata Atlântica. A equipe multidisciplinar quer incluir análises biogeográficas ao material genético. Assim, além de conhecer uma determinada espécie, os pesquisadores detalhariam o ecossistema em que ela foi encontrada.

– Depois de uma tragédia ambiental, quando uma área é despovoada, podemos levar os animais que a habitavam de volta para lá – explica Elizeu Fagundes de Carvalho, diretor do Laboratório de DNA da Uerj. – Saberemos como intervir no ambiente sem alterar o seu equilíbrio. Quando concluirmos o trabalho na Mata Atlântica, podemos expandi-lo para outros biomas, como o Pantanal.

Criador do laboratório, há 15 anos Elizeu colhe amostras úteis para investigações criminais. Agora, o biólogo quer ver o censo das espécies também usado no combate ao contrabando de animais: – Esta é uma das contribuições possíveis do mapeamento para proteger o ecossistema.

Acadêmicos portugueses vão se juntar aos pesquisadores da Uerj, já envolvidos em projetos na Ilha Grande desde 1998. As instituições estudam uma forma para que os formandos das carreiras envolvidas no projeto recebam diploma das duas instituições.

O reforço será bem-vindo: pelo menos 400 espécies, entre mamíferos e vegetais, terão amostra de DNA coletada nos próximos dois anos. A expectativa é encontrar espécies típicas da ilha, o que seria possível graças à sua distância do resto do continente.

– Por ser um local isolado, a Ilha Grande tem um bioma protegido da entrada e saída de espécies invasoras – explica Elizeu. – Certamente existem espécies nativas, mas ainda não temos ideia de quantas são.

A Uerj montará um novo laboratório em seu Centro de Estudos Ambientais, sediado em Vila dos Rios, na Ilha Grande. As amostras coletadas ali serão levadas ao Maracanã para sequenciamento e identificação.

Desmatamento mundial caiu na última década

O mapeamento das espécies, depois de concluído, será entregue ao governo federal. Durante assinatura do convênio entre as universidades participantes, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, propôs que o projeto fosse expandido para o Jardim Botânico do Rio. A Uerj aceitou a sugestão, por já conduzir estudos com plantas do parque. O cronograma dos trabalhos, porém, ainda será definido.

Outra vitória da biodiversidade foi constatada por um relatório divulgado nesta quinta-feira pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO): a derrubada de florestas, embora ainda alarmante, diminuiu acentuadamente na última década.

O Brasil registrou a maior perda de áreas verdes, seguido por Austrália e Indonésia. Ainda assim, os projetos do país mereceram elogios da coordenadora do levantamento, Mette Loyche Wilkie: – A queda do desmatamento foi espetacular, e isso se deve a uma meta política, apoiada pelo presidente, de reduzir em 80% o corte de árvores até 2020.

Na década passada, o planeta perdeu 13 milhões de hectares de floresta por ano. Ao todo, esta área equivale a duas vezes o estado de São Paulo. Nos anos 90, este índice foi de 16 milhões de hectares anuais. (Renato Grandelle) (O Globo, 26/3)

 

3 – T-Rex assombrou o sul também

 

Fóssil é encontrado na Austrália

Ossos de um pequeno antepassado do animal – uma das assustadoras estrelas do filme “Parque dos dinossauros”, de Steven Spielberg – foram achados na Austrália, provando que ele também habitou o Hemisfério Sul.

Até então, acreditava-se que esse grande predador tinha assombrado apenas o Hemisfério Norte. A descoberta está em um estudo divulgado pela revista “Science”. O osso de quadril de 30 centímetros foi encontrado em uma caverna em Victoria.

De acordo com Roger Benson, do Departamento de Ciências da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, um dos autores do estudo, o osso “é certamente” de um tiranossauro porque, segundo ele, esse tipo de animal tinha ossos do quadril singulares.

– Trata-se de uma importante descoberta, pois os fósseis dos tiranossauros só haviam sido encontrados no Hemisfério Norte. Alguns cientistas pensavam que eles nunca tinham chegado até o Sul – disse Benson sobre o estudo, que contou também com a participação de pesquisadores da Universidade de Melbourne.

As análises do fóssil indicam que o osso pertencia a um animal que media cerca de três metros de comprimento e pesava aproximadamente 80 quilos, com a cabeça grande e os braços pequenos que caracterizam os T-Rex.

O tiranossauro – pequeno apenas pelos padrões da espécie – foi identificado como NMV P186069 e viveu há cerca de 110 milhões de anos. Os TRex mediam mais de 12 metros de comprimento e pesavam cerca de quatro toneladas.

Eles viveram há aproximadamente 70 milhões de anos, no final do período cretáceo.

Para Paul Barrett, do Museu de História Natural de Londres, que não participou do estudo, a ausência dos tiranossauros nos continentes do sul parecia ser um fato estranho. Segundo ele, fósseis de outros tipos de dinossauros considerados típicos do norte já haviam aparecido no sul.

– A descoberta sugere a possibilidade de que se descubram restos na África e América do Sul. (O Globo, 26/3)