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Informativo 211 – Urso polar e “supertatu”

1 – Evolução recente

2 – Grupo encontra “supertatu” nordestino

 

1 – Evolução recente

 

Análise de fósseis raros mostra que urso-polar originou de ancestral comum com o urso-marrom há cerca de 150 mil anos e se adaptou rapidamente à vida no Ártico

Um dos mais emblemáticos personagens das discussões sobre o aquecimento global é o urso-polar. Entretanto, pouco se sabe a respeito de como o clima já impactou, no passado, a evolução e a permanência da espécie (Ursus maritimus). O motivo é a falta de registros fósseis.

Um novo estudo mostra que o grande mamífero, um dos maiores carnívoros terrestres, evoluiu recentemente e se adaptou em pouco tempo à vida no Ártico. Para chegar a essa conclusão, os autores, dos Estados Unidos e da Europa, sequenciaram o mais antigo genoma conhecido do animal.

O sequenciamento foi feito a partir de fósseis bem-preservados, com idade estimada entre 110 mil e 130 mil anos, encontrados em 2004 no arquipélago de Svalbard, na Noruega. O estudo será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”.

A comparação com o genoma de outras espécies indica que o urso-polar originou de um ancestral em comum com o urso-marrom há cerca de 150 mil anos.

“Os resultados de nossa pesquisa confirmam que o urso-polar é uma espécie de evolução recente que evoluiu de modo extremamente rápido durante o fim do Pleistoceno. Provavelmente ele se adaptou à abertura de novos habitats e de fontes de alimentos em resposta a mudanças climáticas que ocorreram pouco antes do mais recente período interglacial”, disse Charlotte Lindqvist, da Universidade de Buffalo, um dos autores do estudo.

“Pouquíssimos fósseis de urso-polar foram encontrados até hoje, levando a estimativas muito variadas de como e quando ele evoluiu. Como o urso-polar vive no gelo, após morrer seus restos vão parar no oceano ou são devorados. Ou seja, não são depositados em sedimentos como no caso de outros mamíferos terrestres”, disse Øystein Wiig, do Museu de História Natural da Universidade de Oslo, na Noruega, outro autor da pesquisa.

Em 2004, um geólogo islandês encontrou uma mandíbula e um canino fossilizados que foram encaminhados à Wiig. Charlotte, que trabalhava com o pesquisador na época, extraiu DNA das amostras. Em 2008, quando foi aos Estados Unidos para fazer o pós-doutorado, ela continuou a análise em colaboração com Stephan Schuster, da Universidade do Estado da Pensilvânia.

O trabalho resultou no sequenciamento do genoma mitocondrial completo do fóssil. Os dados obtidos foram comparados com sequências de outras espécies de urso, de modo a tentar verificar a história evolutiva da espécie que vive em algumas das regiões mais frias do planeta.

“Esse é, de longe, o mais antigo genoma mitocondrial de um mamífero até hoje sequenciado, com cerca do dobro da idade do mais velho genoma de mamute”, disse Schuster.

Embora os resultados do estudo demonstrem a grande capacidade de adaptação do urso-polar em sua origem, os pesquisadores alertam que isso não garante que o mesmo ocorra no futuro. “As mudanças climáticas podem estar ocorrendo atualmente em um ritmo tão acelerado que o urso-polar não conseguiria acompanhar”, disse Charlotte.

O artigo “Complete mitochondrial genome of a Pleistocene jawbone unveils the origin of polar bear”, de Charlotte Lindqvist e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da “Pnas” em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.0914266107

(Agência Fapesp, 2/3)

 

2 – Grupo encontra “supertatu” nordestino

 

Espécie, de 100 kg e mais de 10 mil anos, foi descoberta em material arquivado desde os anos 1960 em museu do Rio Grande do Norte

Chamar o Pachyarmatherium brasiliense de supertatu é licença poética, por mais que o bicho pareça se encaixar na descrição. Na verdade, a criatura de 100 kg é um parente relativamente distante dos tatus atuais. A espécie, recém-descoberta em meio a um material arquivado em Natal (RN), traz pistas sobre como era a fauna gigante do Brasil pré-histórico.

“O material foi coletado nos anos 1960 e levado para o Museu Câmara Cascudo. Parte ficou na área de exposições, parte no acervo técnico, mas ninguém se interessou por aquilo durante muito tempo”, diz Kleberson Porpino, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

Ele descreveu a espécie com Lílian Bergqvist, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Juan Fernicola, do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia.

Em artigo na revista científica “Journal of Vertebrate Paleontology”, o trio se debruça sobre fragmentos relativamente escassos do bicho, como pedaços da carapaça, vértebras e ossos dos membros, para descrever a “nova” espécie, bem maior do que os tatus atuais (os maiores não chegam a 50 kg).

E são justamente as unidades que formam a carapaça, os osteodermas, que ajudam a entender o comportamento e o “álbum de família” da espécie.

Por um lado, os tatus de hoje possuem osteodermas diferenciados, formando bandas de articulação, que dão flexibilidade à armadura. Exemplo extremo disso é o tatu-bola, que se dobra sobre si mesmo. Já os gliptodontes (mais avantajados entre os parentes extintos dos tatus, podendo ter o tamanho de um Fusca) não possuem tal articulação, tendo a aparência de um pequeno tanque de guerra.

O P. brasiliense estava entre esses dois extremos. “Não chegava a ser uma faixa flexível, mas havia uma região com algum grau de articulação, mais parecida com uma dobradiça.”

Se o trio conseguiu entender a armadura do bicho, sua alimentação e locomoção são mais misteriosas por pura falta de dados. O crânio (com os dentes) não foi preservado. “Os gliptodontes aparentemente eram herbívoros [muitos tatus atuais são comedores de insetos]. No caso do P. brasiliense é difícil afirmar”, diz Porpino.

A falta de datação precisa do material das cavernas onde o bicho foi achado, em Baraúna (RN), impede que se diga sua idade. Mas os fósseis associados a ele sugerem o finzinho do Pleistoceno (a Era do Gelo), entre 40 mil e 10 mil anos atrás. (Reinaldo José Lopes) (Folha de SP, 1/3)