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Informativo 195 – Inventário, veneno, vida marinha e fóssil

1 – Inventário ampliado

2 – Bactéria com gene de aranha produz veneno no Butantã

3 – Pesquisadores apresentam relatório de expedição sobre vida marinha

4 – Descoberta de fóssil reforça parentesco entre aves e dinossauros

 

1 – Inventário ampliado

 

Pesquisadores do Departamento de Botânica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, já encontraram 650 espécies de plantas

Ao realizar um amplo levantamento florístico em áreas da Reserva Biológica Municipal da Serra do Japi, localizada no município de Jundiaí (SP), pesquisadores do Departamento de Botânica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, já encontraram mais de 650 espécies de plantas, incluindo o registro de novas ocorrências para a reserva.

Em relação a outros levantamentos, o estudo acrescentou até o momento 338 espécies de plantas, elevando o número de registros para 990 espécies pertencentes a 139 famílias.

A partir de coletas feitas com espécies em estágio reprodutivo – realizadas mensalmente de maio de 2007 a novembro de 2008 – os pesquisadores elaboraram uma lista florística, isto é, um mapa da região que inclui de forma abrangente espécies de plantas da reserva municipal oficialmente criada em 1991.

De acordo com Júlio Antonio Lombardi, professor do Departamento de Botânica da Unesp, além de contribuir para o conhecimento da flora na reserva, o estudo acrescenta informações suplementares a outros trabalhos taxonômicos realizados na área.

A pesquisa teve como objetivo identificar a presença de várias espécies de plantas invasoras, raras ou endêmicas e também de subsidiar eventuais projetos de conservação e manejo.

“Grande parte dos levantamentos realizados no país, nas áreas de florestas, é feita de forma quantitativa, com foco na flora arbórea, mas não na flora em geral. Mede-se diâmetro ou altura de um determinado grupo de árvores, em uma determinada área restrita”, disse Lombardi a Agência Fapesp.

A pesquisa, intitulada “Florística vascular da reserva biológica municipal da Serra do Japi”, coordenada por ele, teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.

Segundo Lombardi, o inventário realizado procura reconhecer e mapear o que existe na reserva. “É importante porque aquela região faz parte do cinturão verde de São Paulo. E as áreas verdes estão cada vez menores”, ressaltou.

A reserva, localizada nos municípios de Jundiaí, Cabreúva e Cajamar, compreende uma parte da Serra do Japi e ocupa uma área de 2.071 hectares, com 191,70 quilômetros quadrados de área tombada do total de 350 quilômetros quadrados de extensão total da serra.

Por ser uma área de encontro da Mata Atlântica com a floresta de planalto, a Serra do Japi apresenta enorme riqueza em termos de biodiversidade. Mas, por estar incrustada entre três grandes centros urbanos e industriais do Estado de São Paulo (São Paulo, Jundiaí e Campinas), sofre com maior intensidade as pressões de urbanização.

“É uma região com importantes centros econômicos, mas que também está entrecortada por várias instituições de pesquisa e universidades. Nosso interesse surgiu a partir da constatação de que havia ocorrências de espécies que não haviam sido registrados por estudos anteriores”, contou.

Nova ocorrência

Os pesquisadores coletaram espécies de plantas vasculares presentes na área, incluindo cultivadas e invasoras, como as ruderais (que crescem em terrenos baldios), arbustivas e trepadoras, entre outras, menos contempladas nos levantamentos tradicionais.

Na reserva biológica foram coletadas 652 espécies de plantas pertencentes a 128 famílias. E, até o momento, a identificação das espécies coletadas permitiu a determinação de uma nova ocorrência para a região, a Cissus striata subsp. argentina.

“Essa espécie de trepadeira é muito comum no Sul do país, subindo pela Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais e Rio de Janeiro, mas não havia sido observada próximo a São Paulo e a Campinas”, disse.

De acordo com Lombardi, a consideração dos números obtidos deve ser feita com cautela. “Não podemos descartar a presença de identificações conflitantes ou errôneas. Por isso, estamos elaborando um mapa da região, revisando os dados e elaboramos um artigo que está sendo submetido para publicação na Revista Brasileira de Botânica”, explicou.

De acordo com o docente da Unesp, a Serra do Japi é área prioritária para conservação, representando a maior porção de florestas contínuas no interior do Estado de São Paulo, uma das áreas mais importantes que abrigam remanescentes da flora e da fauna existentes na região Sudeste do país.

“Um dos grandes problemas ali ainda é a questão fundiária. Existe verba para desapropriar o que resta de propriedade particular na área, mas, devido a questões burocráticas, pouco tem sido feito”, disse. (Alex Sander Alcântara, Agência Fapesp, 2/2).

 

2 – Bactéria com gene de aranha produz veneno no Butantã

 

Toxina será usada para fabricar soro contra 3 espécies que causam a maior parte dos acidentes no Brasil

Uma bactéria que fabrica a principal toxina da aranha-marrom vai facilitar a produção de soro antiveneno no Instituto Butantã. Pesquisadores do Laboratório de Imunoquímica conseguiram inserir um gene do animal peçonhento na bactéria Escherichia coli. Os microrganismos tornaram-se pequenos fornecedores da principal enzima (esfingomielinase-D) responsável pelos danos da picada.

Por enquanto, o veneno, utilizado para a produção do soro, é obtido de modo artesanal: as aranhas recebem pequenos choques que forçam a liberação de quantidades ínfimas da toxina. Cada animal expele, no máximo, 30 microgramas de veneno – uma gota de água, por exemplo, tem massa dez mil vezes maior. Para produzir o soro, é preciso usar centenas de aranhas.

Com a nova técnica, as bactérias substituiriam as aranhas e poupariam trabalho dos cientistas. Ficaria garantido um suprimento estável de esfingomielinase-D para a produção do soro.

“Nossa intenção era prescindir das aranhas para a obtenção da toxina”, explica Denise Tambourgi, diretora do Laboratório de Imunoquímica, que há 15 anos investiga o veneno da aranha-marrom. Atualmente, o Butantã produz soro antiaracnídico que trata, ao mesmo tempo, picadas de escorpião, aranha-marrom e armadeira – outra espécie de aranha comum no país.

“A ideia é produzir soros específicos para cada um dos animais”, aponta o diretor do Serviço de Imunologia do Butantã, José Roberto Marcelino. Atualmente, já está disponível o soro contra veneno de escorpião.

O soro para envenenamento causado por aranha-marrom – conhecido como antiloxoscélico – é o próximo da lista.

“Pretendemos produzir três lotes consecutivos (de soro antiloxoscélico) ainda este ano”, aponta Marcelino. As doses serão usadas nos testes clínicos prévios ao pedido de aprovação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O soro vai neutralizar o veneno de três espécies de aranhas-marrons: Loxosceles gaucho – principal responsável pelos acidentes em São Paulo -, L. intermedia – comum no Paraná, onde ocorre a maior parte dos acidentes no Brasil – e L. laeta – mais venenosa, presente em Santa Catarina e em vários países latino-americanos. Por enquanto, apenas o veneno de L. intermedia e L. laeta será produzido com as bactérias.

Veneno total

O soro antiloxoscélico utilizado no país é fabricado pelo Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI), ligado à Secretaria de Saúde do Paraná. Produzido com veneno extraído de aranhas, o soro também neutraliza toxinas das três espécies responsáveis pela maior parte dos acidentes no país e na América Latina.

A farmacêutica Isolete Pauli, responsável pela produção de soros antiveneno no CPPI, considera muito oportuna a pesquisa do Instituto Butantã.

Mas aponta que será necessário comprovar que o produto fabricado com bactéria transgênica neutraliza o “veneno total” – ou seja, todas as toxinas inoculadas pela aranha-marrom, e não só a esfingomielinase-D.

“Sem dúvida, esta enzima é uma peça-chave do veneno”, aponta Isolete. “Mas todas as toxinas atuam de forma sinérgica para causar os danos do envenenamento.”

Denise Tambourgi, do Butantã, afirma que testes com animais em laboratório demonstraram que a neutralização da esfingomielinase-D é suficiente para impedir a ação das demais toxinas.

Números

No ano passado, houve 17.474 acidentes com aranhas, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. A aranha-marrom teria contribuído com um terço dos envenenamentos.

A médica Marlene Entres explica que a picada da aranha-marrom não costuma doer. Só depois de algumas horas o envenenamento evolui para sintomas que podem variar de necrose no local à presença de hemoglobina na urina, devido à ação das toxinas sobre o sangue. (Alexandre Gonçalves). (O Estado de SP, 2/2).

 

3 – Pesquisadores apresentam relatório de expedição sobre vida marinha

 

Estudo vai propiciar conhecimento sobre a vida submarina da área mais inexplorada do planeta

Pesquisadores do programa mundial de Censo da Vida Marinha (Census of Marine Life) que consiste no levantamento da biodiversidade das regiões de cordilheiras de montanhas submarinas no Oceano Atlântico Sul, por meio do programa Mar-Eco Atlântico Sul, apresentaram relatório preliminar da primeira expedição realizada no final de 2009.

O documento apresenta o registro de recolhimento de 12 amostras de bentos (organismos de fundo), 26 amostras de macroplancton e micronecton, 10 amostras de zooplancton e 15 amostras para análise microbiológica. No total, foram processados, ainda a bordo do Akademik Yoffe, 976 organismos pertencentes a, pelo menos 360 grupos zoológicos distintos, em 9,9 mil indivíduos (espécimes).

O relatório também apresenta mais 23 avistagens de cetáceos (baleias e golfinhos) e a identificação de, ao menos, 13 espécimes diferentes de aves ao longo do percurso que contou com 108 horas de observação de cetáceos (baleias e golfinhos) e aves marinhas num percurso de 1,1 mil milhas náuticas.

As pesquisas de campo iniciaram no final de outubro, em Las Palmas, Gran Canária, na Espanha, e encerram, no inicio de dezembro, na Cidade do Cabo, África do Sul. Durante este período, cientistas brasileiros, uruguaios, neozelandeses e russos estiveram embarcados no navio oceanográfico russo Akademik Yoffe, do Instituto Shirshov de Oceanologia, no que foi a primeira viagem de estudos sobre a vida na cordilheira meso-oceânica do Atlântico Sul.

A expedição, capitaneada, no hemisfério sul, pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), de Santa Catarina, percorreu cerca de 4,3 mil quilômetros levantando dados físico-químicos, peixes, microorganismos e invertebrados associados ao fundo do mar amostrados em vinte e uma estações de coleta dispostas ao longo da cordilheira, em profundidades que variavam de mil a três mil metros.

Em cada uma delas foi feita prospecção com draga de fundo para capturar organismos invertebrados bentônicos, além de amostras de sedimentos. Também foram lançadas redes com o objetivo de capturar organismos pequenos que vivem em águas livres a grandes profundidades e para trazer à superfície organismos do zooplâncton associados às águas profundas.

Ao longo do trajeto do navio também foram registrados dados contínuos sobre os mamíferos marinhos como baleias e golfinhos habitantes das áreas oceânicas. Todo o material foi catalogado e está sendo estudado em terra para avaliação do que poderá, literalmente, trazer a tona inúmeras descobertas.

“Trata-se de um projeto de grande relevância técnico-científica, cujas descobertas contribuirão significativamente para o conhecimento da biodiversidade marinha e conseqüentemente para os avanços na área. Temos acompanhado de forma muito próxima este importante projeto e é, para a instituição, motivo de orgulho e satisfação termos nossos pesquisadores envolvidos em projetos desta magnitude”, resume Valdir Cechinel Filho, Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura (ProPPEC) da Univali.

Segundo os organizadores do site do Censo da Vida Marinha, estima-se que 230 mil espécies de animais marinhos já foram registradas. Desde que o censo começou, em 2000, foram acrescidas pelo menos 5,6 mil espécies. A expectativa é que o trabalho amplie esse conhecimento, principalmente se levar em conta que biólogos descrevem cerca de 1,5 milhão de plantas e animais terrestres.

Os mares cobrem 70% da Terra e a plataforma marinha não passa de 10%. “O que se consegue olhar é muito pouco”, diz José Angel Alvarez Perez, pesquisador do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar/Univali), e coordenador do programa.

“É um oceano novo. Geologicamente foi o último a surgir na separação dos continentes.” Por isso, ele espera encontrar variações de espécies em relação às catalogadas no oceano profundo do Atlântico Norte – entre a Islândia e o Arquipélago dos Açores – onde o trabalho está praticamente encerrado.

O Mar-Eco é um dos 17 projetos do programa mundial do Censo da Vida Marinha, que envolve cientistas de mais de 80 países. Iniciado em 2000, deve ter os trabalhos de campo encerrados em 2010. É financiado pela Fundação Alfred P. Sloan e conta com outras entidades científicas governamentais.

O projeto que realiza a pesquisa no Atlântico Sul é uma continuidade de estudos realizados no Atlântico Norte e conta com a participação de cientistas de 16 instituições do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, África do Sul, Namíbia, Nova Zelândia e Noruega.

“Trata-se de uma iniciativa inédita para o Atlântico Sul e consiste no levantamento da biodiversidade e da distribuição de organismos dos ecossistemas profundos associados às estruturas geológicas da cadeia de montanhas meso-oceânicas”, aponta Perez.

Essas cadeias se estendem por 14 mil quilômetros, de norte a sul, e se elevam a dois mil metros de altura do assoalho oceânico no centro do Atlântico. “Além de exercer forte influência nos padrões de circulação e na distribuição da vida marinha, esta cadeia de montanhas submersas constitui uma das feições mais proeminentes e menos conhecidas do fundo oceânico”, explica Angel.

Ele diz, ainda, que os objetivos da pesquisa levam em conta a necessidade de suprir a escassez de conhecimento da biodiversidade de águas profundas, ou seja, o que existe submerso no centro do Atlântico Sul: “Este conhecimento é importante uma vez que as áreas costeiras são mais antigas e podem servir como fontes de espécies colonizadoras para os habitats recentemente formados pela separação das placas tectônicas que ocorrem continuamente nestas cadeias de montanhas”, relaciona o pesquisador.

Angel destaca que algumas estruturas geológicas associadas à cadeia central não existem no Atlântico Norte: “São cadeias de montanhas perpendiculares que ligam o centro do oceano até a costa, tanto no litoral brasileiro, no Rio Grande do Sul, como na costa da África, e que podem ter importante papel na dispersão da vida marinha profunda”, argumenta. Outro ponto importante, segundo o pesquisador, é o fato do Atlântico Sul ser o último oceano a surgir na separação dos continentes conectando esse oceano a outros três já existentes: o Índico, o Antártico e o Pacífico.

A pesquisa pretende apontar como essa conexão tem afetado a biodiversidade profunda do Atlântico e dos oceanos vizinhos. Perez também lamentou que os recursos para o projeto não tenham sido expressivos e por não terem conseguido ajuda no governo. Por isso, não puderam usar equipamentos sofisticados, como submarinos teleguiados e robôs subaquáticos. “Espero que os resultados que conseguirmos neste projeto piloto chamem mais financiadores”, conclui. (Assessoria de Comunicação da Univali)

 

4 – Descoberta de fóssil reforça parentesco entre aves e dinossauros

 

Dinossauro era parecido com um avestruz, mas tinha rabo comprido. Réptil da família dos alvarezsaurídeos foi encontrado na China

A tese de que parte dos dinossauros não acabou, mas evoluiu e se transformou em aves, está se tornando cada vez mais comprovada. A descoberta de um pequeno fóssil na China reforça a teoria. Já batizado de Haplocheirus sollers, ele é um réptil parente próximo dos primeiros pássaros, e ajuda a esclarecer algumas lacunas do elo perdido entre dinossauros e pássaros.

O réptil descoberto é da família dos alvarezsaurídeos, um grupo semelhante às aves, mas que não se transformou nelas. A novidade é que o H. sollers é 63 milhões de anos mais velho que os seus familiares conhecidos. “É como encontrar um parente perdido há muito tempo”, compara o cientista Jonah Choiniere, da Universidade George Washington, nos EUA, em entrevista ao G1.

Com a descoberta, publicada na revista “Science”, o fóssil se torna o ancião dos alvarezsaurídeos, e por consequência o bicho de sua família mais próximo do grupo maniraptora, o ramo evolutivo dos dinossauros que inclui as aves.

A reconstituição feita pelos cientistas mostra que o H. sollers era parecido com um avestruz, mas com um rabo comprido. O bicho viveu há cerca de 160 milhões de anos, no período jurássico superior, e tinha entre 190 e 230 centímetros de comprimento. No lugar do bico, levava pelo menos trinta pequenos dentes presos aos maxilares.

Parente argentino

A característica mais marcante da dos alvarezsaurídeos era a presença de uma garra única em cada mão, que era usada provavelmente para cavar. No H. sollers, é diferente. Ele tinha três dedos, com uma pequena garra na ponta de cada um. Os cientistas sugerem que, ao longo do tempo, esses dedos se fundiram em uma só garra gigante.

Parentes do dinossauro encontrado na China viveram próximos ao Brasil. “Conhecemos alguns alvarezsaurídeos na Argentina. O nome deles é ‘Patagonykus’ and ‘Alvarezsaurus'”, conta Choiniere. Assim como os outros parentes, os argentinos eram menores que o H. sollers, sugerindo que os animais foram diminuindo ao longo do tempo. (Iberê Thenório). (G1, 29/1).