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Informativo 172 – Matusalém, DNA, queimada e mares

1 – Árvore matusalém

2 – Códigos de barras de DNA

3 – Queimada de resultados

4 – O desafio dos mares

1 – Árvore matusalém

 

Carvalho americano de 13 mil anos de idade é o ser vivo mais velho do mundo

O ser vivo mais velho do planeta é anterior à agricultura, às primeiras cidades e às pirâmides do Egito. Nascido durante a última era do gelo, quando boa parte do mundo ainda estava coberta pelas geleiras, o carvalho de Jurupa ganhou ontem o reconhecimento de sua antiguidade. Um estudo publicado pela revista científica online “Plos One” estima sua idade em 13 mil anos.

De acordo com a pesquisa, o segredo da longevidade do carvalho foi a habilidade para se renovar sucessivamente, garantindo sua sobrevivência durante períodos de seca, geada, tempestades e ventos fortes.

Batizado em homenagem às colinas de Jurupa, no condado californiano de Riverside, o carvalho pertence à espécie Quercus palmeri e chamou a atenção dos cientistas por uma série de peculiaridades.

– Trata-se de uma espécie com grande ocorrência em altitudes maiores e adaptada a regiões mais frescas e úmidas – explica o coordenador do estudo, o professor Jeffrey Ross-Ibarra, da Universidade da Califórnia, em Davis. – O carvalho de Jurupa, porém, não obedece a essas condições. A árvore está encravada entre blocos de granito e teve sua altura atrofiada por milênios de ventanias.

Sua localização, no topo de uma pequena colina, também é incomum para a espécie. O ser vivo mais antigo do planeta é um gigante, cujas raízes e ramificações se espalham a 23 metros do tronco.

Sobrevivente de uma era perdida

A pesquisa também ressalta as condições de crescimento da árvore. A comunidade de brotos e arbustos que compõe o carvalho não conseguiu, ao longo dos anos, produzir frutos férteis. O grupo de arbustos integrados ao carvalho foi gerado por reprodução assexuada.

As análises de DNA confirmaram a origem genética em comum. Foi esta forma de reprodução que permitiu ao carvalho ter o tamanho atual. O crescimento do carvalho deu-se de forma extremamente lenta – apenas 10 milímetros por ano.

– O levantamento mostra como o carvalho de Jurupa está crescendo muito devagar. E com sua taxa de crescimento, de aproximadamente 10 milímetros por ano, ele teria demorado cerca de 13 mil anos para adquirir o seu tamanho atual. E a árvore pode ser ainda mais antiga – alerta o pesquisador Michael May, que também integrou o estudo.

Os cientistas acreditam que o carvalho nasceu em um clima muito mais frio do que o atual, de acordo com Andrew Saunders, outro integrante da pesquisa.

– Este parece ser o último remanescente de uma vegetação silvestre já toda desaparecida, que ocupava os vales no ápice da era glacial – disse Saunches. (O Globo, 23/12).

 

2 – Códigos de barras de DNA

 

Sean Graham, na Universidade da Colúmbia Britânica, explica por que a técnica de DNA barcoding ainda apresenta obstáculos para a identificação de vegetais

Por que o método de código de barras de DNA, o chamado DNA barcoding, é menos eficiente para diferenciar espécies vegetais em comparação à sua aplicação com os animais?

Essa pergunta esteve no centro da palestra do professor Sean Graham, da Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá, durante o Simpósio Internacional sobre DNA Barcoding do Programa Biota-Fapesp, realizado este mês na sede da Fundação.

Segundo Graham, a primeira dificuldade enfrentada pelos biólogos é a grande diversidade de espécies vegetais, cerca de 400 mil classificadas. O segundo obstáculo foi estabelecer quais seriam os marcadores para as plantas, ou seja, que trechos do DNA seriam escolhidos para serem objetos da comparação.

“Essa definição é muito difícil, pois não há uma resposta perfeita”, disse. Para o cientista, muitas questões devem ser levadas em conta como, por exemplo, quais informações se deseja obter e quantos genes devem ser considerados.

A definição é tão difícil que o próprio Consórcio para o Barcode da Vida (CBOL, na sigla em inglês) deliberou durante sua terceira conferência, realizada na Cidade do México em novembro, que os trechos selecionados deverão ser testados por 18 meses, para comprovar ou não a sua eficácia em diferenciar espécies.

A situação se complica quando se tenta estabelecer a diferenciação de espécies vegetais muito próximas. “Os animais têm lacunas maiores tanto nas variações genéticas intraespecíficas (dentro da mesma espécie) como nas interespecíficas (entre espécies diferentes)”, disse Graham.

Como nas plantas essas lacunas são mais estreitas, sobretudo nas intraespecíficas, detectar as diferenças se torna mais difícil, apontou.

O professor canadense destacou que, diferentemente dos animais, as espécies vegetais se hibridizam com mais frequência, ou seja, se intercruzam produzindo novas espécies. Como resultado, há muitas plantas novas para se analisar e, quanto mais jovem for o seu genoma, mais difícil será a sua caracterização.

“Os desafios vão além da técnica de DNA barcoding. A taxonomia, por exemplo, ainda é pouco abrangente”, disse Graham.

“A maior parte do que sabemos sobre as plantas é zero”, disse, comparando o ponto atual do conhecimento com uma imagem desfocada. “Mas é importante sair do zero [com o DNA barcoding], mesmo se for para obter uma imagem apenas razoável”, afirmou. (Fábio Reynol) (Agência Fapesp, 23/12).

3 – Queimada de resultados

 

Experimento em fazenda de Mato Grosso simula incêndios que convertem a Amazônia em cerrado

Marcelo Leite escreve para a “Folha de SP”:

Cinco anos de incêndios repetidos produziram uma visão desoladora. Nos primeiros 200 metros de borda da mata ao longo deste campo de soja em Mato Grosso, a floresta virou um paliteiro de árvores mortas. O capim invade a mata calcinada.

É o temido processo de “savanização”, que pode consumir até 40% da floresta amazônica neste século. Exatamente o que queriam os pesquisadores que planejaram e executaram esta “queimada do bem”.

Graças à imitação do fogo rasteiro que invade a mata por acidente, em geral iniciado em pastos adjacentes, sabe-se agora com precisão que metade das plântulas (árvores jovens) não consegue sobreviver a ele.

A biodiversidade vegetal decai em ritmo vertiginoso. A invasão por gramíneas típicas do cerrado aproxima a vegetação desta que é a savana brasileira.

Uma das poucas espécies favorecidas é o louro-prata (Ocotea guianensis Aublet). Embora seja característica de florestas mais úmidas, como a formação dita “ombrófila densa” ao norte desta mata de transição para o cerrado, o louro-prata observa uma explosão de crescimento, rebrotando da própria raiz com o adubo abundante das cinzas. Os ecólogos do estudo já pensam em empregá-lo nos esforços para reflorestar áreas degradadas por queimadas.

No geral, as árvores perdem três vezes mais folhas na mata queimada do que o normal. É um sinal de que a mortalidade poderá aumentar com o fogo recorrente, mesmo quando a árvore não sucumbe ao primeiro incêndio. Troncos e galhos caídos, assim como mais folhas no chão, fornecem combustível para o próximo fogo.

No reino animal, não se se notou até agora o completo desaparecimento de espécies, só uma mudança no perfil populacional. Os detalhes ainda não foram tabulados, mas já se sabe que antas e porcos do mato (catetos e queixadas) frequentam amiúde a área queimada, atraídos pelos muitos brotos.

Silêncio mortal

Faz mais de cinco anos que acompanhei a queima inaugural da mata, início estrepitoso de um dos maiores experimentos sobre a dinâmica do fogo em florestas tropicais. Agora, o silêncio é rompido só pelo ruído do trator que espalha calcário sobre o campo adjacente e pelo zumbido de mosquitos -muitos- perto da orelha.

Apesar dos ruídos, o silêncio se impõe e, como diz o lugar comum, é mortal. Clareiras impensáveis, terra nua ou coberta de cinzas e folhas torradas, troncos enegrecidos. A morte está por todo lado. De certo modo, era o plano.

Em 16 de agosto de 2004, três dezenas de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e do Centro de Pesquisa de Woods Hole (WHRC, dos EUA) se reuniam com alarido para tocar fogo em cem hectares (1 km2) da Fazenda Tanguro, em Querência (MT). Os 820 km2 pertencem à família do governador do Estado, Blairo Maggi, que patrocina o experimento.

Os 150 hectares do experimento foram divididos em três talhões iguais. Um deles foi mantido como testemunho (controle). Outro foi queimado todos os anos. O último, só o seria de três em três anos.

Tudo isso para entender melhor a dinâmica do fogo lento e fraco que avança pelo chão da floresta a 10 m/h e como vai mudar a fisionomia da mata sob seguidos incêndios.

A quarta e provavelmente última temporada de incêndio metódico (não houve fogo em 2008) ocorreu há dois meses, pouco antes de visita fortuita que fiz ao local. Em Canarana, outra cidade mato-grossense, encontrei o biólogo Oswaldo de Carvalho Jr., do Ipam, coordenador da pesquisa.

“O fato de a fazenda ser dos Maggi chama muito a atenção”, explica. A queimada prevista para 2008 não se realizou porque não saiu autorização de órgãos ambientais. “Queimamos na época em que é proibido. Mesmo alegando que era pelo bem da ciência, negavam, com medo do Ministério Público.”

A quinta queimada geral tampouco deve ocorrer, em 2010. Além da dificuldade burocrática, os cientistas avaliam que já contam com muita informação. Apenas focos restritos de incêndio serão ateados, para medições específicas.

Outra razão é que os pesquisadores ainda não se refizeram de todo do susto que tomaram em 2007, um ano de seca. Havia muito material orgânico acumulado sobre o solo na parcela queimada só em 2004.

“Durante a noite o fogo normalmente abaixa”, conta Carvalho. “Em 2007, andou muito à noite. Quase perdemos o controle.” É o chamado “feedback” positivo: áreas queimadas queimam melhor em anos subsequentes, se tiverem tempo para acumular combustível.

O experimento mostrou, porém, que também existe um “feedback” negativo. No talhão que queima todos os anos, consome-se quase todo o resíduo sobre o chão. A queimada seguinte não consegue avançar com a mesma facilidade. Só no primeiro ano o incêndio atingiu 80% da área experimental.

Carvalho, no entanto, parece ter criado gosto. Está em dúvida quanto à decisão de renunciar ao incêndio geral em 2010. “Eu queria queimar mais uma vez a área trienal.” (Folha de SP, 27/12).

 

4 – O desafio dos mares

 

Sede do Ano Mundial da Biodiversidade, em 2010, Japão insiste na caça à baleia

Claudia Sarmento escreve para “O Globo”:

A cidade japonesa de Nagoya será a sede da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, em 2010, e o governo já divulgou o símbolo do encontro: animais, imitando o formato de origami, cercam um homem e uma criança – um retrato da vida humana em harmonia com a natureza.

Mas pesa sobre essa imagem uma sombra que prejudica a meta do Japão de ser reconhecido como uma nação preocupada com o futuro da biodiversidade. A caça às baleias – uma tradição entre os japoneses desde a Idade Média – resiste a todas as pressões internacionais. Esta semana o ministro das Relações Exteriores, Katsuya Okada, disse que o Japão não planeja mudar sua política sobre o assunto.

Noruega e Islândia também caçam

Ecologistas, porém, acreditam que o momento de suspender a matança pode estar mais perto. Eleito no final de agosto com a promessa de reduzir os gastos públicos – o Japão administra o maior déficit dos países industrializados – o primeiro-ministro Yukio Hatoyama formou um comitê para apontar as áreas sujeitas a cortes.

Uma das recomendações do grupo foi suspender o repasse de fundos oficiais para o Instituto para Pesquisa de Cetáceos, o órgão que conduz o programa científico que permite a caçada das baleias no Japão. Grupos ambientalistas e governos como o dos EUA, Austrália e Inglaterra denunciam o programa como uma fachada para justificar a pesca comercial dos mamíferos, banida por uma moratória da Comissão Internacional de Caça à Baleia (IWC, na sigla em inglês) desde 1986.

Um dos símbolos mais conhecidos na luta contra a extinção, as baleias continuam a sofrer. E em 2010, quando a ONU celebra o Ano Mundial da Biodiversidade, sua preservação é uma das prioridades. Sete das 13 espécies de grandes baleias continuam ameaçadas de extinção e a comunidade internacional cobra do Japão explicações sobre o sacrifício de mais de nove mil baleias minke nos últimos 22 anos, por exemplo, apenas para as chamadas pesquisas científicas. O governo japonês não esconde que quer o fim da moratória, mas insiste estar fazendo tudo dentro da lei (as pesquisas são permitidas por uma cláusula do acordo com a IWC).

Sem subsídios, no entanto, afirma o WWF, a indústria baleeira não tem como sobreviver atualmente, já que a demanda pela carne do animal vem diminuindo ao longo dos anos.

No início de dezembro, o navio-fábrica Nisshin Maru, o maior da frota japonesa, partiu para mais uma temporada de caça que manchará de sangue o mar da Antártica. Segundo os ecologistas, essa missão vai custar US$ 8,8 milhões, que sairão do bolso dos contribuintes.

Estudo do WWF afirma que na Noruega a situação é semelhante e, desde 1992, o governo gastou mais de US$ 4,9 milhões em divulgação, relações públicas e lobby para defender essa indústria. “Além disso, os subsídios do governo para a indústria igualaram quase metade do valor bruto de todos os desembarques de carne de baleia feitos através da Rafisklaget, a Organização dos Pescadores da Noruega”, informa relatório do WWF.

Segundo o mesmo estudo, na temporada de 2008-2009, a indústria baleeira japonesa precisou de ajuda de US$ 12 milhões para ter as finanças equilibradas. Desde 88, esses subsídios já teriam chegado a US$ 164 milhões. Uma das justificativas para a caça – a de que comer carne de baleia é uma tradição, isto é, uma questão cultural que não permite intervenções – fica enfraquecida diante dos números. O WWF informa que o preço do quilo do produto caiu quase à metade desde 1994, por falta de consumidores.

Apesar de toda a gritaria internacional, a Islândia, também mantém a pesca predatória dos cetáceos. No início do ano, em meio a uma crise econômica sem precedentes, o governo do país – pouco antes de renunciar – aumentou a cota de caça de baleias minke (100 por ano) e fin (150) para os próximos cinco anos.

A Islândia justifica a caça à baleia como uma forma de criar empregos e trazer mais recursos, exportando, por exemplo, a carne e a gordura (de onde se extrai óleo) para o Japão, que por sua vez já está com o mercado saturado.

– Essa indústria é mantida por um grupo pequeno e poderoso de burocratas, funcionários do governo e empresários que lucram com ela e que, portanto, têm interesse em manter a caça comercial enquanto for possível – diz Junichi Sato, ambientalista do Greenpeace Japão. (O Globo, 25/12).