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Informativo 164 – Herança, planetas e pastos

1 – Herança ameaçada

2 – Quatro planetas são descobertos

3 – Recuperação de pastos pode ter influência em 76% da redução de gases no Brasil

 

1 – Herança ameaçada

 

Mudanças climáticas comprometem sítios históricos e estudo de culturas antigas

Renato Grandelle escreve para “O Globo”:

Consequências diretas do aquecimento global, como o aumento do nível do mar, o degelo e a desertificação, prejudicarão o estudo de antigos povos e civilizações. Sítios históricos e arqueológicos de vários países correm o risco de desaparecer devido às mudanças climáticas, discutidas por líderes mundiais reunidos desde o início da semana em Copenhague.

Groenlândia e Sibéria, por exemplo, veem a história de seus povos engolida por um clima que não exibe o frio rigoroso de anos atrás.

Relíquias vikings expostas às ondas

Até o início da década, uma plataforma flutuante de gelo, de até 64 quilômetros de largura, protegia o litoral ocidental da Groenlândia das violentas ondas do Atlântico Norte. O aumento da temperatura acabou com este cinturão, deixando a costa exposta à fúria do mar. Pesquisadores estimam que o Atlântico avança até um metro por ano sobre relíquias da ocupação viking e de povoadores ainda mais antigos, que construíram casas perto da costa, ponto de partida para a caça de baleias, há mil anos.

O degelo também compromete os sítios arqueológicos das Montanhas Altai, que se estendem por parte da Rússia siberiana, da China e do Cazaquistão.

É nas Altai siberianas que estão os mais bem preservados vestígios do povo nômade cita, que, por quase três mil anos, vagou pelas estepes e montanhas da Ásia. Boa parte do que se sabe sobre esses guerreiros deve-se aos kurgans, nome dado às seus túmulos peculiares. As sepulturas de reis são particularmente ricas: além de múmias perfeitamente preservadas, há vestígios de armas e joias e até de cavalos. O gelo protegeu esses vestígios por séculos. Mas se a temperatura continuar a subir na região, a herança dos citas pode sofrer estragos irreparáveis.

Nos Alpes suíços, porém, o derretimento das geleiras foi fundamental para que cientistas descobrissem um grande sítio arqueológico. As escavações começaram em 2003, quando a Europa passou pelo verão mais quente dos últimos cinco séculos. As temperaturas chegaram a 41 graus na Suíça. O degelo nos Alpes foi tão significativo que inundou vales e provocou avalanches.

Ao caminhar pelas montanhas, um casal encontrou um fragmento antigo de couro. Era o pedaço de um coldre fabricado há 4.700 anos. Nos dois anos seguintes, foram encontradas 300 peças de diversos períodos históricos. Passaram por ali povos das idades da Pedra e do Bronze, da época do Império Romano e da Idade Média, pois o caminho íngreme era um atalho importante.

Agora, cientistas temem que o mesmo degelo que expôs os sítios arqueológicos os destruam.

O aumento do nível do mar é outra ameaça. O avanço do Pacífico sobre as Ilhas do Canal, na costa da Califórnia, pode tragar vestígios deixados pelo homem há 13 mil anos. Os pesquisadores ainda não sabem quando o homem migrou das ilhas para o continente. A definição deste período depende de trabalhos de campo ameaçados pelo aumento do nível do mar. Abrigos de pedra podem ser engolidos pelas águas, assim como o resto de vários objetos deixados pelos primeiros americanos, como ferramentas, colares e cestas.

No Peru, o temor dos pesquisadores é o mesmo que acometia a população local há mais de mil anos: o El Niño. Só que agora existe risco de o El Niño ser intensificado pelo aquecimento global. À época, a costa do atual Peru era ocupada pelo povo chimú, que, usando tijolos de barro, construiu a cidade de Chan Chan. É um material condizente com as características desérticas da região, embora volta e meia abalada por tempestades causadas por aquele fenômeno climático.

O que sobrou de Chan Chan, hoje um grande campo de pesquisas, pode ceder à crescente erosão. A cidade foi incluída em 1986 na lista da Unesco de sítios arqueológicos ameaçados. Doze anos depois, a situação dos vestígios históricos piorou. 

Uma nova edição do El Niño aumentou em 120 vezes o índice de chuvas naquele local. Como boa parte das relíquias estudadas fica em terrenos ao longo de rios, muitas podem se perder em meio a inundações.

A desertificação, outra consequência do aquecimento global, também prejudica o trabalho de pesquisadores.

Para arqueólogos, a areia pode acelerar a destruição das ruínas do Reino de Kush, no Sudão. As dunas do Saara avançam pelo sítio arqueológico e dificultam seu estudo, algo improvável há 2 mil anos, quando a fertilidade da região era garantida por sua proximidade ao Rio Nilo.

Uma das áreas mais ameaçadas é aquela onde se localizava, no esplendor do império, a cidade-estado de Meroé. O centro religioso local era o Templo do Deus Leão, erguido no meio de uma pastagem e dedicado a Apedemak, deusa da fertilidade. O templo contava com paredes repletas de hieróglifos da língua meroítica, ainda não totalmente decifrada. A vegetação foi totalmente erradicada com o passar dos séculos – o pontapé inicial, aliás, foi dado daquele período, com o corte de árvores para sustentar a fundição de ferro.

Em Meroé e nos outros casos, os pesquisadores pouco podem fazer para impedir a destruição do patrimônio.

– A solução seria transpor os sítios para locais mais elevados, ou mesmo para museus – cogita o arqueólogo Pedro Paulo Funari, coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp. – Mas mesmo esses processos, em que se desmontam até pirâmides inteiras, podem deixar resquícios pelo caminho. É uma herança praticamente irrecuperável

Sambaquis em risco no litoral

Embora mudanças climáticas tenham sido intensificadas pela ação humana, tratam-se de fenômenos naturais, que ocorreram outras vezes no passado. A variação de temperatura já provocou impactos bruscos na geografia brasileira. Até o fim da última glaciação, dez mil anos atrás, a costa das regiões Sul e Sudeste ultrapassava em mais de 100 quilômetros os limites vistos hoje no mapa. 

– Nosso litoral, em toda a sua extensão, era basicamente reto – explica Funari. – O avanço do mar, iniciado 10 mil anos atrás, submergiu muitos sítios costeiros. 

Apesar da perda de território, os vestígios de seus habitantes ainda podem ser estudados graças aos sambaquis, morrotes formados por conchas, mariscos, restos de ossos e cerâmicas. Neles já foram encontrados instrumentos de pedra e esqueletos, pertencentes a povos dominados depois pelos tupis. Eram, ao mesmo tempo, morada e sepulcro.

Mas, em vez de servirem como sítio histórico, muitos são degradados pelo turismo. Outros tantos correm risco com o aumento do nível do mar, principalmente nos estados do Rio e de Santa Catarina. (O Globo, 12/12).

 

2 – Quatro planetas são descobertos

 

Grupo de astrônomos australianos, britânicos e norte-americanos fez a descoberta com a ajuda dos telescópios Anglo-Australiano e Keck

Um grupo internacional de caçadores de planetas acaba de descobrir quatro novos desses corpos celestes em órbita de duas estrelas relativamente próximas e que são muito parecidas com o Sol. 

Os planetas foram encontrados por astrônomos australianos, britânicos e norte-americanos, com a ajuda dos telescópios Anglo-Australiano e Keck, localizados respectivamente na Austrália e no Havaí. O anúncio foi feito neste domingo (13/12).

O grupo não observou os planetas diretamente, tendo usado para a detecção o efeito Doppler, que mede como os planetas são atraídos pela gravidade das estrelas dos sistemas de que fazem parte. 

Dos planetas descobertos, três orbitam a estrela 61 Virginis, que é praticamente uma gêmea do Sol, tamanha a semelhança entre as estrelas. As massas dos planetas variam de 5,3 a 24,9 vezes a massa da Terra.

“Esses planetas são especialmente instigantes. Estão próximos, em tamanho, à Netuno, que tem 17 vezes a massa da Terra. Aparentemente, há muitas estrelas parecidas com o Sol que contam com planetas dessa massa ou menor. Isso indica um caminho para descobrirmos planetas menores que podem ser rochosos e com condições favoráveis ao suporte da vida”, disse Chris Tinney, da Universidade de New South Wales, na Austrália, um dos autores do estudo que será publicado em breve no Astrophysical Journal.

A 61 Virginis pode ser vista da Terra a olho nu. Ela se encontra a 28 anos-luz da Terra na constelação de Virgem, que, nesse período do ano pode ser observada algumas horas antes do nascer do Sol.

O quarto planeta descoberto é bem maior, com massa semelhante à de Júpiter, e orbita a estrela 23 Librae, também parecida com o Sol. A estrela está a 84 anos-luz da Terra na constelação de Libra. É o segundo planeta observado nessa constelação, após o primeiro em 2006. O novo planeta tem uma órbita de 14 anos, um pouco maior do que a de Júpiter, que é de 12 anos.

“O que detectamos nesse sistema estelar é muito parecido com o que encontraríamos em nosso Sistema Solar se o estivéssemos observando a distância”, disse Simon O’Toole, do Observatório Anglo-Australiano, outro autor da descoberta.

Outro ponto destacado pelos pesquisadores é a colaboração entre equipes e instrumentos, com o uso conjunto, no caso, de dois potentes telescópios. “Com essa colaboração, teremos uma excelente chance de identificar, nos próximos anos, planetas potencialmente habitáveis em órbita de estrelas próximas”, disse Paul Butler, do Instituto Carnegie, em Washington, outro autor do estudo. (Agência Fapesp, 14/12).

 

3 – Recuperação de pastos pode ter influência em 76% da redução de gases no Brasil

 

Pesquisa da Embrapa mostra que é possível evitar desmatamento recuperando terrenos degradados

Além de gerar baixo desempenho econômico para o pecuarista, as pastagens degradadas se tornaram elemento-chave em um mundo preocupado com as mudanças climáticas. A recuperação delas e a integração lavoura-pecuária (ILP) – duas tecnologias disponíveis que contribuem para a resolução do problema – vão, juntas, responder por cerca de 12% do compromisso voluntário do governo brasileiro de reduzir em até 38,9% a emissão de gases de efeito estufa até 2020, segundo proposta do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Na prática, a contribuição dessas ações deverá ser ainda maior. É o que avalia o pesquisador Geraldo Martha, da Embrapa Cerrados – unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Como atualmente a abertura de novas áreas para pastagens é uma das causas do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, a recuperação das áreas de pecuária de baixa produtividade já usadas atualmente vai ser fator fundamental na liberação de áreas para acomodar a expansão de alimentos, fibras e biocombustíveis sem a necessidade de novos desmatamentos.

Como a redução de desmatamento na proposta do MMA vai ser responsável por 63,59% do compromisso de redução na emissão de gases de efeito estufa, a intensificação da produção animal em pastagens pode ser, direta ou indiretamente, responsável por 76% das ações de mitigação (NAMAs) propostas pelo governo brasileiro para 2020.

“Isso demonstra a importância e urgência de investimentos em pesquisa agrícola e em transferência de tecnologia para dar suporte a essas estratégias de mitigação de gases de efeito estufa, por um lado, e em linhas de financiamento adequadas e outros incentivos para a adoção de boas práticas de manejo em larga escala pelos produtores rurais, por outro”, ressalta Geraldo Martha.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Embrapa Cerrados, se um pasto de baixa produtividade e com taxa de lotação de 0,4 cabeça por hectare passa a abrigar cinco animais na mesma unidade de área, cada hectare com essa taxa de lotação que é recuperado pela integração lavoura-pecuária libera outros oito para outros usos.

Além de contribuir na redução do desmatamento, o crescimento de produtividade em si redunda em benefícios para o meio ambiente. “Um pasto produtivo pode ser tão eficiente na conservação do solo e da água quanto uma floresta”, explica Geraldo Martha. Segundo o pesquisador, a grande quantidade de raízes no solo contribui para o aumento da matéria orgânica, o que incrementa também a captura carbono da atmosfera e melhora a eficiência de uso da água e de nutrientes no sistema.

Outro grande problema da pecuária relacionado ao efeito estufa é a emissão de metano pela digestão dos bovinos, que também é diminuída pela melhor qualidade das forragens. Estudos da Embrapa apontam que a emissão do gás pelos animais pode cair pela metade quando eles são criados em sistemas com elevada disponibilidade e valor nutritivo de forragem, como em sistemas de integração lavoura-pecuária bem manejados. “E a boa notícia é que o aumento no desempenho animal em pastagens, além de reduzir o impacto ambiental negativo da pecuária, geralmente aumenta o retorno econômico do empreendimento”, acrescenta Martha.

Para o pesquisador da Embrapa Cerrados Lourival Vilela, que coordena os estudos de pesquisa em integração lavoura-pecuária na Embrapa (Prodesilp), pelo menos metade das pastagens brasileiras estão em algum grau de degradação. Nessas condições, o solo é geralmente de baixa fertilidade e assim há menor produtividade , o que aumenta o custo de produção, especialmente em pequenas propriedades.

Esse quadro de baixa produtividade das pastagens causa perda de matéria orgânica, erosão e compactação do solo. Por outro lado, a integração lavoura-pecuária, além de beneficiar o meio ambiente, permite maior eficiência no uso de fertilizantes, redução de plantas invasoras e ganhos de produtividade tanto nas lavouras quanto na pecuária. (Com informações da Embrapa).