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Informativo 139 – Ser verde virou moda, réptil voador e dinossauros

1 – “Ser verde virou moda. E isso é muito bom”

2 – Brasileiro e equipe chinesa descobrem novo réptil voador

3 – Dinossauros tinham sangue quente

 

1 – “Ser verde virou moda. E isso é muito bom”

 

O ambientalista Russell Mittermeier diz que o Brasil entrará nessa “onda” se barrar o desmatamento

Uma das maiores autoridades do mundo sobre meio ambiente, o antropólogo e primatologista americano Russell Mittermeier é um dos generais na cruzada verde. Não por acaso, ele conseguiu recrutar personalidades do porte do ator Harrison Ford e executivos de empresas gigantes como Intel, Starbucks e Walmart para o time de diretores da Conservação Internacional, organização não governamental que preside há 20 anos.

Na entrevista a seguir, concedida durante sua passagem relâmpago pelo Brasil para divulgar o livro “A Climate for Life” (Um clima para a vida), Mittermeier falou com exclusividade à Istoé sobre as questões ambientais mais urgentes no país e no mundo:

– Quais ações são prioritárias para salvarmos o planeta?

A adaptação às mudanças climáticas é inevitável para salvar o planeta e fomentar o desenvolvimento sustentável. Todas as nações e os setores produtivos têm de reduzir agressivamente os níveis de emissão de gases do efeito estufa. Nesse sentido, as discussões na 15ª Conferência das Partes da ONU (marcada para dezembro, em Copenhague) são essenciais.

– Ainda há tempo?

Sim, mas temos de tomar uma posição agora. O assunto é transversal e impacta diversos setores fundamentais para o bem-estar humano.

– Qual é o problema ambiental mais grave no Brasil?

O desmatamento é a principal causa de poluição no país, contribuindo com mais de 70% das liberações de gases do efeito estufa. Há ainda as emissões crescentes das indústrias e do transporte, bem como dos setores de infraestrutura e agricultura. O Brasil precisa rever constantemente a sua matriz energética, mantendo-a sempre limpa e renovável.

– Quais são os vínculos entre meio ambiente, pobreza e saúde?

A qualidade de vida depende da manutenção de um meio ambiente saudável, capaz de prover serviços vitais como água potável e alimentos. Por exemplo, a falta de água causa efeitos diretos na produção agrícola, que, por sua vez, pode levar ao aumento da fome e da pobreza.

– Qual é a sua opinião sobre os biocombustíveis?

Não podemos cortar mais árvores nativas para cultivar canade- açúcar, por exemplo. Além disso, os biocombustíveis também não podem ocupar o lugar das lavouras de alimentos. A solução é aumentar a produtividade nas terras cultivadas, sem expandir as plantações para áreas preservadas.

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a energia nuclear será a melhor alternativa para o Brasil no futuro. O que o sr. pensa disso?

Sabemos que a energia nuclear é uma opção que não emite CO2, mas ainda há controvérsias quanto ao depósito de resíduos radioativos no meio ambiente.

– O Cerrado brasileiro está na lista de hotspots (áreas nas quais a manutenção da biodiversidade é prioridade) da Conservação Internacional. Como o sr. avalia a situação da região?

O Cerrado representa uma grande fronteira agrícola e recebe apenas uma fração da atenção dispensada à mata atlântica ou à Amazônia. A região é uma das mais importantes florestas secas do mundo, berço dos rios que formam as bacias hidrográficas mais importantes do Brasil, e há muito a ser feito para protegê-la.

– O derretimento das calotas polares realmente redesenhará o litoral dos continentes?

A elevação dos oceanos deverá riscar do mapa países como a Ilha de Tuvalu [Oceania], que está apenas um metro acima do nível do mar. Se a temperatura média global subir dois graus centígrados, várias ilhas em situação semelhante tendem a desaparecer. Estudos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) mostram que o aumento do nível dos oceanos e as alterações na temperatura da água causarão catástrofes em todo o planeta.

– Existe uma moda verde. O que o sr. acha disso?

Ser verde virou moda e isso é muito bom. Da mesma forma, é bom que as pessoas pensem assim e acreditem em novas propostas.

(Isto É, 9/11)

 

2 – Brasileiro e equipe chinesa descobrem novo réptil voador

Pterossauro de 140 milhões de anos apresenta mosaico de traços primitivos e outros mais modernos, afirma pesquisa

Reinaldo José Lopes escreve para a “Folha de SP”:

Há mais de 140 milhões de anos, um pequeno réptil voador cujos parentes estavam sumindo da Terra quebrou a pata -um ferimento que parece ter levado o bicho à morte. Seus restos acabam de ser descritos como uma nova espécie de pterossauro, que mistura traços primitivos com outros mais “moderninhos” e traz novas pistas sobre a evolução das asas desses animais misteriosos.

Um dos “pais” científicos do bicho é o paleontólogo brasileiro Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O pesquisador trabalhou com Xiaolin Wang e seus colegas do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia de Pequim. Isso porque o pterossauro vivia onde hoje é a Província de Liaoning, nordeste da China, um dos locais mais ricos do mundo em fósseis da era dos dinossauros.

“Embora esteja bem próxima da base da árvore [genealógica] dos pterossauros, a espécie apresenta tanto características primitivas quanto derivadas [ou seja, mais diferenciadas em relação ao ancestral comum do grupo]”, disse Kellner à Folha.

Nas pontas

As duas pontas do que sobrou do esqueleto do bicho exemplificam isso bem. Por um lado, ele apresenta uma cauda comprida, coisa que sumiu das espécies mais tardias de pterossauros. Por outro, trata-se de um animal pescoçudo -traço típico do “design” dos répteis voadores que predominaram depois dele, pertencentes a outro subgrupo de pterossauros.

“O pescoço longo evoluiu de forma independente nos dois subgrupos, talvez para aumentar o raio de ação na caça”, diz Kellner. O mais provável é que o bicho, a julgar pelos dentes, adotasse um menu de insetos.

Batizado de Wukongopterus lii, o animal apresenta outro detalhe significativo, afirma o paleontólogo. Trata-se da forte curvatura do quinto dedo das patas do pterossauro, o que provavelmente sugere que esse dedo servia para ancorar um pedaço misterioso da membrana voadora da espécie.

Esse pedaço é conhecido como uropatágio (“membrana da cauda”), ficando entre as patas do bicho. Sua existência é controversa porque raramente os pesquisadores dão a sorte de achar espécimes com a membrana bem preservada. Assim, há diferentes maneiras de reconstruir as asas dos bichos, algumas sem uropatágio.

Nesse ponto, a má sorte do Wukongopterus lii pode, ao menos, ter ajudado os pesquisadores. A análise do fóssil sugere que a pata do bicho foi quebrada ainda em vida e não chegou a se soldar de novo -daí a ideia de que isso teria matado o animal. Apesar disso, o osso quebrado continuou muito próximo do resto do membro, o que sugere que o uropatágio o segurou no lugar.

A pesquisa sobre a nova espécie está em artigo na revista especializada “Anais da Academia Brasileira de Ciências”

Grupo tinha pelos, sangue quente e voo

Repita três vezes o mantra de muitos paleontólogos mundo afora: “pterossauros não são dinossauros”. É natural as pessoas confundirem os grupos -afinal, o nome é parecido, e eles conviveram durante mais de 100 milhões de anos-, mas dizer que os pterossauros eram dinossauros é mais ou menos a mesma coisa que afirmar que os jacarés de hoje também o são.

Na verdade, todos esses bichos -jacarés, dinossauros e pterossauros- provavelmente descendem de um ancestral comum que viveu no começo do Triássico, há quase 250 milhões de anos. Juntos, eles são conhecidos como arcossauros.

Embora facilite o entendimento chamar os pterossauros de “répteis voadores”, eles tinham um estilo de vida bem distinto de qualquer réptil de hoje. Para começar, muitos, ou talvez todos, tinham o corpo coberto de pelos eriçados, que o paleontólogo Alexander Kellner compara às cerdas de uma vassoura. Isso, mais o metabolismo (funcionamento do organismo) acelerado necessário para voar, indicam que os pterossauros tinham sangue quente, como os mamíferos de hoje.

Análises do interior do crânio (via tomografia computadorizada) e das membranas que foram preservadas mostram que os bichos conseguiam ajustar de forma precisa a posição e até o formato das asas em pleno voo.

A chapada do Araripe, no Nordeste brasileiro, é fonte de alguns dos fósseis mais importantes do grupo no mundo. Daí a experiência de Kellner com o grupo, que levou à parceria com os chineses. É o quinto trabalho do grupo em conjunto.

(Folha de SP, 11/11)

 

3 – Dinossauros tinham sangue quente

Fisiologia dos gigantescos vertebrados pré-históricos é diferente da dos lagartos atuais

Os dinossauros ganharam esse nome do biólogo inglês Richard Owen (1804-1892), com o significado de “lagartos terríveis”. Mas estudos feitos por paleontólogos nos últimos anos têm enfatizado não a semelhança, mas sim a diferença na fisiologia dos vertebrados gigantescos pré-históricos com a dos lagartos atuais.

Uma nova pesquisa, publicada nesta quarta-feira, dia 11, pela revista PLoS One, investiga se os dinossauros eram endotérmicos ou ectotérmicos. Ou seja, se eram mais parecidos com os mamíferos e aves atuais, com sangue quente, ou com o répteis, com sangue frio.

A questão tem implicações importantes. Se os dinossauros eram endotérmicos, eles teriam tido capacidades físicas similares às dos mamíferos e das aves. Poderiam, por exemplo, ter sobrevivido a hábitats mais frios, como montanhas e regiões polares, que matariam os animais ectotérmicos.

 

Mas essas vantagens têm um preço. Os animais de sangue quente precisam de mais comida do que os outros, porque seu metabolismo mais acelerado exige uma provisão constante de energia.

Segundo o estudo, os dinossauros provavelmente foram endotérmicos. Eram animais atléticos com exigências energéticas muito superiores às que os animais de sangue frio são capazes de suprir.

A pesquisa combinou análise de fósseis, dados da fisiologia de animais atuais e técnicas de modelagem em computador. Um importante dado utilizado foi que o gasto energético de andar e correr está fortemente associado com o tamanho da perna – a medida do quadril aos pés é capaz de estimar com 98% de eficácia o gasto energético de diversos animais terrestres.

Estudos anteriores feitos com animais atuais mostraram que os endotérmicos podem sustentar taxas muito mais elevadas de gasto energético. Mamíferos e aves estão sempre em movimento e queimando energia. Como se estima que os dinossauros também se movimentavam bastante, os cientistas sugerem que eles não poderiam ter sido ectotérmicos.

No novo trabalho, Herman Pontzer, da Universidade de Washington em Saint Louis, nos Estados Unidos, e colegas aplicaram esses princípios para examinar modelos anatômicos de 14 espécies de dinossauros. Em computador, os pesquisadores reconstruíram os membros dos animais extintos, calculando o volume de músculo necessário para andar ou correr em diferentes velocidades.

Ao comparar os resultados para cada espécie, e organizá-las em uma árvore familiar evolucionárias, os autores verificaram que a endotermia pode ter sido uma condição ancestral para todos os dinossauros. Isso levaria a característica de sangue quente para muito tempo antes do que se imaginava.

Os pesquisadores apontam que a endotermia pode ter sido um dos principais motivos do sucesso evolucionário dos dinossauros durante os períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo.

O artigo de Herman Pontzer e colegas pode ser lido na PLoS One (acesso livre), em www.plosone.org

(Agência Fapesp, 11/11)