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Informativo 129 – Oceanos e olho de camarão

1 – Censo dos Oceanos chega ao Atlântico Sul

2 – DVD inspirado em olho de camarão

 

1 – Censo dos Oceanos chega ao Atlântico Sul

Brasileiros integram expedição à cordilheira marinha
Renato Grandelle escreve para “O Globo”:
 
Começou ontem uma missão científica que, até o início de dezembro, vai fazer um inventário da biodiversidade no Atlântico Sul. O programa, batizado de Censo da Vida Marinha, foi iniciado cinco anos atrás no trecho norte do oceano. A nova expedição completará a viagem sobre uma cordilheira marinha de 14 mil quilômetros – que corta o Atlântico ao meio, dividindo a América da Europa e África.
Pesquisadores de oito países, entre eles o Brasil, acreditam que o traçado das montanhas contribuiu para a formação da biodiversidade local. Há, também, a expectativa de que novas espécies sejam catalogadas.
O levantamento será feito no navio oceanográfico russo Akademik Yoffe. A embarcação saiu das Ilhas Canárias, na Espanha, e vai percorrer 4.300 quilômetros até a África do Sul.
– No Atlântico Norte, onde as pesquisas já eram mais avançadas, encontramos dezenas de novas espécies – ressalta José Angel Alvarez Perez, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. – Por falta de infraestrutura dos países costeiros, o Atlântico Sul é muito pouco explorado, o que nos deixa carentes de uma série de informações básicas. Temos mais perguntas para responder nesta expedição do que na realizada no outro trecho do oceano.
O navio russo vai passar por cima da cordilheira, cuja profundidade ultrapassa os três mil metros.
As montanhas surgiram devido às fissuras das placas tectônicas que separavam a América do Norte da Europa e Ásia e a América do Sul da África. As feições assumidas pela cordilheira são vitais na definição de como as espécies do Atlântico definiram seus habitats.
Embora as montanhas se estendam da Islândia à Antártica, a estrutura geológica assume uma nova característica no Atlântico Sul. Além da cadeia principal, há, também, outras perpendiculares, que ligam o centro do oceano à costa de regiões como o Rio Grande do Sul e a África.
– Por ser um oceano mais novo do que os demais, o Atlântico Sul pode ter recebido muito de sua biodiversidade de outros mares. Vamos tentar fazer este mapeamento, mas nossa prioridade é mais simples: coletar as espécies que encontrarmos – explica Angel.
(O Globo, 27/10)

 

2 – DVD inspirado em olho de camarão

Olhos de um crustáceo marinho poderão inspirar o desenvolvimento de futuros aparelhos leitores de discos digitais, como o DVD
A inusitada novidade está em artigo publicado neste domingo, dia 25, na revista Nature Photonics. O camarão mantis (Odontodactylus scyllarus) é encontrado na Grande Barreira de Coral, na Austrália, e tem o sistema de visão mais complexo de que se tem notícia. Os indivíduos da espécie são capazes de enxergar 12 cores – o homem vê em apenas três – e podem distinguir entre formas diferentes de luz polarizada.
Segundo o estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, células sensíveis à luz, presentes nos olhos do camarão, atuam como placas que alteram o plano das oscilações das ondas luminosas que passam por elas.
Essa capacidade faz com que esses crustáceos convertam luz polarizada linearmente em luz polarizada circularmente e vice e versa. Dispositivos conhecidos como placas polarizadoras de quarto de onda fazem essa função em leitores de CD ou de DVD e em filtros polarizadores de câmeras fotográficas ou de vídeo.
Entretanto, esses dispositivos fabricados pelo homem tendem a operar bem apenas para uma cor, enquanto que o mecanismo natural dos olhos do camarão mantis funciona por quase todo o espectro de luz visível.
“Nosso trabalho revelou o design e mecanismos únicos da placa polarizadora no olho do camarão mantis. Trata-se de algo realmente excepcional, que supera qualquer equipamento que o homem tenha produzido nesse sentido até hoje”, disse Nicholas Roberts, principal autor do estudo.
Por que esse tipo de camarão precisa de tanta sensibilidade à luz polarizada é algo que os cientistas desconhecem. Mas se sabe que a visão polarizada é usada por animais para sinalização sexual ou para comunicação secreta, que evite chamar a atenção de predadores.
Os autores do estudo apontam que a capacidade inusitada do camarão mantis pode também atuar na visualização de presas, ao melhorar a capacidade de enxergar com clareza no meio aquático.
“Especialmente notável é que se trata de algo simples, um mecanismo natural composto por membranas celulares enroladas em tubos, mas que supera completamente os equipamentos artificiais”, disse Roberts.
“Entender o funcionamento desse mecanismo natural poderá ajudar a fabricar melhores dispositivos ópticos, que poderiam usar, por exemplo, cristais líquidos produzidos especialmente para imitar as propriedades das células presentes nos olhos do camarão mantis”, sugeriu.
Não seria o primeiro crustáceo a inspirar produtos do tipo. Em 2006, um componente presente no olho da lagosta inspirou o desenho de um detector de raio X para um telescópio europeu, em trabalho coordenado por Nigel Bannister, da Universidade de Leicester.
O artigo “”A biological quarter-wave retarder with excellent achromaticity in the visible wavelength region”, de Nicholas Roberts e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com
(Agência Fapesp, 27/10)