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Informativo 84 – Pele e biodiversidade

1 – Pele humana é “esponja” para gás tóxico

2 – Biodiversidade, um recurso pouco valorado

1 – Pele humana é “esponja” para gás tóxico

Experimento mostra que ozônio reage com óleos na epiderme e dá origem a compostos potencialmente irritantes. Presença de um único ser humano em um ambiente fechado faz concentração do poluente cair em até 25%, mostram cientistas
O ozônio que circula em grandes quantidades pelos ambientes fechados, como os dos escritórios paulistanos, pode ser ainda mais irritante para o corpo humano do que se pensava até agora.
Cientistas descobriram que o gás, ao reagir com compostos oleosos que existem na própria pele, liberam outros compostos, que são potencialmente perigosos tanto para a pele quanto para os pulmões. Eles podem potencializar sintomas de asma, por exemplo.
A relação entre ozônio e pele humana já era conhecida, mas o experimento apresentado ontem na revista científica “PNAS” revelou a produção de novas substâncias até então desconhecidas pela ciência. Segundo os cientistas, os compostos estavam sendo subestimados pelas outras técnicas de pesquisa.
No experimento, a dupla de pesquisadores – Armin Wisthaler (Universidade de Innsbruck, Áustria) e Charles Weschler (Universidade Rutgers, EUA) – reproduziu um escritório de 30 metros cúbicos. 
Dentro dele, havia apenas um único trabalhador, que acabou exposto ao ozônio, injetado na sala pelos sistemas de ventilação, como ocorre no mundo real. Na cidade de São Paulo, o ozônio é um dos principais poluentes da atmosfera. E, por isso, também circula bastante em ambientes fechados.
Após quatro horas, mostraram as medições do estudo, o ozônio na sala teve uma redução de até 25%. Isso porque ele reagiu com substâncias oleosas da pele. Dessas reações é que surgiram alguns tipos novos de substâncias irritantes.
O ozônio, que tem efeitos poluentes em baixas altitudes, é fundamental para a vida na Terra em alturas mais elevadas. O gás, por exemplo, barra a chegada de grande parte dos nocivos raios ultravioleta ao solo.
A pesquisa não analisou a relação direta que pode existir de fato entre os compostos produzidos pela reação entre ozônio e pele com eventuais doenças. 
Mas, em tese, as reações químicas descritas agora são um problema em potencial, dizem os cientistas. Mesmo elas servindo também para reduzir o ozônio no ambiente.
Os resultados da pesquisa não apresentam apenas implicações diretas para o homem. Alguns dos dados obtidos agora poderão ser úteis para o controle do ozônio que circula pelos ambientes externos também. Esse gás é formado principalmente pela poluição que sai dos escapamentos dos carros.
Os compostos oleosos que existem na camada externa da pele humana também estão presentes em vários outros locais. É comum achá-los em superfícies de plantas, na serrapilheira (folhas soltas sobre o solo) e na lâmina d’água do mar.
É bem provável, segundo os autores do trabalho, que nesses locais, os óleos também apresentem um papel crucial no balanço do ozônio atmosférico.
(Folha de SP, 19/8)

 

2 – Biodiversidade, um recurso pouco valorado

 

Artigo de Carol Salsa

A diversidade biológica é a variabilidade entre os organismos vivos, terrestres, marinhos e aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; isto inclui a diversidade dentro das espécies, entre as espécies, e dentro dos ecossistemas.
A diversidade cultural humana poderia considerar-se parte da biodiversidade. Já conta com alguns atributos que podem ser soluções a problemas de sobrevivência em determinados ambientes. Além disso, ajudam às pessoas a adaptar-se a variação do meio. A diversidade cultural se manifesta na diversidade da linguagem, nas crenças religiosas, nas práticas de manejo da terra, na arte, na música, nas estruturas sociais, na seleção de culturas agropecuárias e em todo atributo da sociedade.
A Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, afirma que a conservação da diversidade biológica é uma preocupação comum da humanidade, porém reafirma que os países têm direitos soberanos sobre seus recursos naturais. A Organização Mundial para a Alimentação e Agricultura (FAO) sugeriu em 1991, que os recursos genéticos são propriedade inalienável de cada país.
Grande parte dos ecossistemas menos alterados em sua biodiversidade de todo o planeta se encontram na América Latina (Patagônia, Amazônia, florestas tropicais de montanha, concentrações de fauna marinha Atlântica ou do Pacífico e a eles deve somar-se a Antártica).
Nestes âmbitos naturais se encontra uma enorme riqueza genética, o qual motiva os principais laboratórios do mundo, que têm identificado elementos vegetais e animais que dão origem a novos produtos farmacêuticos e alimentícios.
Somos totalmente dependentes do capital natural, biológico. A diversidade dentro e entre as espécies nos tem proporcionado a provisão de alimentos, madeiras, fibras, energia, matérias primas, substâncias químicas, industriais e medicamentos. Os recursos bióticos também servem para os fins e lazer e turismo. Porém, podemos afirmar que tanto a biodiversidade como as atividades relacionadas com o turismo, que são realizadas dentro de regiões específicas, contribuem com milhões de dólares anuais à economia mundial.
O caudal genético das formas de vida ajuda à reciclagem gratuita de recursos, água e os serviços de purificação e de controle natural de pragas.
O potencial desconhecido dos genes, das espécies e os ecossistemas constituem uma fronteira ecológica inalcançável de valor inestimável, porém certamente elevado. A diversidade genética permitirá, em alguns casos, adaptar-se aos cultivos sob novas condições climáticas.
A diversidade específica atual consta estimadamente de 40 a 80 milhões de espécies diferentes, cada uma com variações em sua informação genética, que vivem na variedade de comunidades biológicas. Tem-se classificado e descrito aproximadamente 1,5 milhões de espécies, uma pequena proporção do total, certamente.
As florestas tropicais constituem um verdadeiro tesouro da diversidade biológica do mundo. O mesmo foi desenvolvido por milhões de anos de atividade evolutiva do mundo, formando um banco genético irreparável. Ocupa somente 6% da superfície terrestre, onde vive mais da metade de todas as espécies da Terra.
As espécies silvestres se encontram entre os principais recursos de que dispõe o homem, e, inadvertidamente, os menos utilizados. Estes encerram enormes reservas de produtos valiosos substitutos de fibras e de petróleo. Um exemplo é a Palmeira Babassu (Orbingnya phalerata amazonas), uma plantação de 500 árvores produz 125 barris de azeite ao ano.
A perda atual da biodiversidade é muito rápida porque não pode ser equilibrada por uma formação de novas espécies, já que se necessita entre 2.000 a 100.000 gerações para que evolua uma nova espécie. A taxa de extinções induzidas pelo homem está se acelerando. A pressão mais forte tem sido exercida sobre ambientes ilhados ou fisicamente limitados (ilhas, lagoa ,etc).
A redução da biodiversidade se vê ameaçada pelas mudanças climáticas. Considera-se possível uma mudança climática em direção aos pólos a um ritmo de 100 km por século, o que arrasaria reservas naturais e áreas de distribuição de espécies inteiras, muitas classes não poderiam migrar com a rapidez suficiente para permanecer.
Da importância da biodiversidade surge a necessidade de que as autoridades políticas de cada país assumam a responsabilidade indelegável da conservação de sua biodiversidade. Por isso surge a necessidade de realizar ações conjuntas entre os diferentes níveis políticos, econômicos e ambientais que tenham intervenção ou interesse criado na mesma área, podendo ser estas nacionais ou locais. Compartilhando-se as responsabilidades entre as distintas jurisdições que intervenham, em resposta à falta de uma harmonização geográfica natural e não por limites já existentes, os requisitos ou características internacionais vigentes estariam mais próximos da sustentabilidade, se esta ainda resistir ao tempo.
O uso sustentável reflete-se no emprego dos componentes da diversidade biológica em modo e ritmo tais que não se produza, ao longo do tempo, qualquer redução da biodiversidade, com o que se mantém seu potencial para satisfazer as necessidades e aspirações das atuais e futuras gerações
Como retardar o processo de extinção da diversidade biológica é um desafio que cabe a todos nós, por ações espontâneas ou induzidas.
Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais. Fonte: Revista Eletrônica Ecodebate