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Informativo 75 – Terraços, Amazônia e extinção

1 – A terapia dos terraços verdes

2 – A Amazônia em números

3 – Espécies surgem em uma era de extinção

 

1 – A terapia dos terraços verdes

 

México, 27 de julho (IPS/IFEJ).- Um hospital, um jardim de infância e um escritório do governo da capital do México experimentaram, nos últimos dois anos, a instalação de terraços verdes. Agora, trabalhadores e usuários gozam dos benefícios. Há oito meses, foi instalado o primeiro telhado verde no Hospital Belisario Dominguez, em Iztapalapa, município metropolitano da capital mexicana. Com 1,8 milhão de habitantes, a área é a mais densamente povoada do país. Neste hospital de três andares, são dois terraços verdes: o maior fica no primeiro e o menor no terceiro. “Ter contato direto ou visual com uma área verde ajuda muito na recuperação dos pacientes. No Japão, quase todo hospital tem um teto com vegetação”, explicou ao Terramérica Tania Muller, responsável pelo projeto.
Segundo o diretor do Hospital, Osvaldo González La Riviere, “os funcionários desfrutam do espaço. No começo era usado pelos fumantes, mas pudemos controlar isso. Alguns pacientes souberam do terraço e pediram para dar um passeio por ele, com ajuda de seus familiares”. A instalação exige um impermeabilizante que contém um inibidor de raízes, em seguida um material de polietileno chamado dren, para evitar que a água escorra, e um produto geotêxtil que impede que as partículas finas do substrato cheguem ao teto. Finalmente, é colocado o substrato, mistura de materiais pétreos vulcânicos, mais leves do que a terra, e matéria orgânica para nutrir as plantas, que são plantadas em seguida. Não é necessário regá-las.
Uma seção do terraço verde do Hospital fica junto à área de ginecologia e obstetrícia. Para as mulheres que acabam de dar à luz, “é mais agradável ir à janela e ver a natureza, em lugar de um vendedor ambulante ou um caminhão soltando fumaça”, disse a subdiretora médica, Evangelina Sandoval. Além disso, “trabalhar com pacientes e enfrentar a morte causa estresse. Agora, em lugar de utilizar a saída habitual, muitos funcionários usam as saídas de emergência para passar pelo terraço”, acrescentou. No local trabalham mil pessoas.
O telhado verde mede mil metros quadrados, um décimo da superfície do Hospital. De solo de cimento passou a área verde com abelhas, borboletas e pássaros, contrastando com o denso tráfego de veículos e o concreto das redondezas. Foram plantadas três espécies nativas do Vale do México. “Todas são sedums, do gênero das crasuláceas”, explicou Müller, diretora de Reflorestamento Urbano, Parques e Ciclovias da cidade do México. O calor em “um terraço normal pode chegar aos 80 graus, contribuindo para o efeito ilha de calor (o aumento da temperatura em centros urbanos com poucas áreas verdes e muita pavimentação), ainda mais em uma cidade tão urbanizada com esta”, acrescentou.
Com a vegetação, a temperatura no terraço se mantém em 25 graus, muda o microclima, a umidade é devolvida ao ambiente e são retidos o pó e as partículas suspensas que afetam as vias respiratórias, disse a diretora. Além do mais, não é preciso impermeabilizar de novo o teto antes de 80 anos. Por isso, a Secretaria de Saúde deu luz verde para que o governo do Distrito Federal coloque terraços verdes nos 28 hospitais da cidade. Isto “é viável, mas precisamos de recursos. No mundo é preciso reajustar orçamentos, e é o que estamos avaliando”, afirmou Muller.
Semear um terraço custa US$ 95 por metro quadrado, tanto no México como na Europa ou nos Estados Unidos. Os resultados positivos são evidentes. É o caso do Centro de Desenvolvimento Infantil (Cendi), localizado no centro histórico, que atende 400 filhos de funcionárias do metrô da cidade. “Nas ruas próximas se concentra 50% da produção de frangos da cidade, o que causa forte contaminação do solo e do ar. Além disso, há muito tráfego e um alto índice de delitos”, explicou sua diretora, Nadia Tapia.
Ainda assim, deste jardim de infância surgem muitos dos modernos programas que mais tarde serão implementados no país. Por isso, em meados de 2008, o governo municipal inaugurou neste edifício de dois andares um telhado verde de 1.190 metros quadrados. Desde então, ao completarem dois anos, as crianças sobem para conhecê-lo. Os maiores, entre três e seis anos, trabalham em uma pequena horta, onde fazem compostagem (adubo orgânico) e cultivam tomate, batata, salsa, maçã e cactos. As crianças “relaxam, se distraem e ficam mais tranquilas e mais cooperativas no momento de passar à área pedagógica, aumentando sua capacidade de aprendizado”, disse ao Terramérica a pediatra do Cendi, Araceli Becerra.
A diretora explicou que “estas crianças são filhas de mães com baixa renda, 75% delas vivem em apartamentos muito pequenos e, devido à insegurança, não podem ir aos parques”. Ao conhecerem o terraço “se emocionam e querem tocar e observar”, contou a professora Rosa Muñoz. Segundo Muller, os terraços verdes são uma “alternativa de desenvolvimento urbano sustentável, sobretudo em uma cidade como esta, onde já não há lugar para fazer um parque ao nível do chão”.
Nas cidades da América Latina, a média de áreas verdes é de 3,5 metros quadrados por pessoa, quando a Organização Mundial da Saúde recomenda entre nove e 12 metros quadrados. “a cidade do México teríamos nove milhões de metros quadrados verdes a mais se colocássemos um metro quadrado verde em cada telhado” disse Alberto Fabela, responsável pelo terraço da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduvi). Desde abril de 2008, foram destinados para áreas verdes 900 metros quadrados do terraço deste prédio público de seis andares. A técnica usada é a hidroponia, ou cultivo em água.
Até agora, foram produzidas cerca de 21 mil plantas ornamentais, doadas às localidades de Coyoacán e Azcapotzalco, onde enfeitam jardins e eixos centrais de bulevares. Gerânio, cravo de defunto, kalanchoe, petúnia, todas elas são espécies “ortes, que resistem ao estresse de uma área com carros, ruídos, fumaça, gente” disse Fabela. As plantas são produzidas com a ajuda dos 800 empregados da Seduvi, que têm a opção de dedicar uma hora semanal para manter, plantar e transportar. Ensinamos a retirar folhas secas, colocar sementes. Obviamente, é um tipo de terapia. Damos uma hora a eles, mas o tempo passa rápido. Os mais receptivos são os jovens de 18 a 25 anos e as mulheres com mais idade” disse Fabela.
O governo da capital espera que os mais de oito mil metros quadrados de terraços verdes instalados até agora em prédios públicos se convertam em um exemplo a ser seguido pelos empresários. No momento, estuda exigir das empresas que solicitem uma autorização de construção, para que entre 10% e 20% dos telhados sejam verdes, em troca de benefícios fiscais.
* Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.complusalliance.org). Fonte: Verônica Díaz Favela, IPS/IFEJ de 27.07.2009

2 – A Amazônia em números

 

Raio X da Ocupação da Amazônia
Região da bacia amazônica: região compreendida pela grande bacia do rio Amazonas, a maior bacia hidrográfica do planeta. São 25 mil quilômetros de rios navegáveis.
A área abrange seis países: Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia Venezuela.
No Brasil, o conceito de Amazônia Legal foi criado em 1966. Atualmente inclui: Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão, Goiás e Tocantins.
A Amazônia Legal tem 5 milhões de quilômetros quadrados.
A Amazônia Legal abrange 59% do território brasileiro, distribuído por 775 municípios.
Representa 67% das florestas tropicais do mundo.
Se fosse um país, a Amazônia Legal seria o 6º maior do mundo em extensão territorial.
Um terço das árvores do mundo estão na região, além de 20% das águas doces.
De acordo com o último censo demográfico da região (IBGE 2000), a região tem 20,3 milhões de moradores, sendo 68,9% residentes na área urbana e 31,1% na área rural.
A Amazônia Legal abriga 12,3% da população brasileira (Estimativa IBGE 2004).
O Estado mais desmatado (em comparação à extensão total do Estado) é Rondônia, onde o percentual de área desmatada é de 28,5%. Até 1978, a área desmatada no Estado era de 1,76%, chegando a 24% em 1999. O crescimento da população é apontado como responsável pelo desmatamento: entre 1970 e 1980, esse crescimento foi de 324%.
O número de imóveis rurais na região Norte do país, onde se encontra a maior parte da Amazônia Legal, cresceu 163% de 1992 a 2003, chegando a 30,4 milhões de imóveis. Foi a região que mais cresceu no período (Incra). Segundo o Incra, esse aumento é consequência principalmente da incorporação de novas terras. Além disso, a taxa de crescimento foi concentradora, pois a taxa de crescimento de área foi duas vezes superior à taxa de aumento do número de estabelecimentos
Na Amazônia Legal, em 2003, as áreas de “posses” totalizavam 35 milhões de hectares, o que correspondia a 19,8% da área total dos imóveis da região e 52,8% da área total dos imóveis de “posse” do Brasil.
No Brasil, os grilos somam 36,7 milhões de hectares, sendo 25,4 milhões de hectares na Amazônia Legal.
De 1996 a 2006, a área destina a lavouras na região Norte cresceu 275%, chegando a 7,4 milhões de hectares. Já as pastagens cresceram 33% no mesmo período.
Programa Terra Legal (fruto da MP 458)
Área total: 67,4 milhões de hectares (ou 67 mil quilômetros quadrados). São terras públicas federais ocupadas por pessoas que não têm a documentação.
Desse total, 283 mil (95,5%) têm até 400 hectares.
Cerca de 1,2 milhões de pessoas vivem nessa área (estimativa do governo).
Estudos da ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia)
Em 2003, o cadastro do Incra continha 302 mil registros de posse somando aproximadamente 42 milhões de hectares ou 23,7% da área dos imóveis da Amazônia cadastrados no Incra.
Em 2007, as áreas protegidas (terras indígenas e unidades de conservação) e reservas militares somavam aproximadamente 43%3 do território da Amazônia Legal ou em torno de 209 milhões de hectares.
Ainda segundo o Imazon, mais de metade (53%, ou cerca de 2,6 milhões de quilômetros quadrados) da Amazônia Legal possui situação fundiária incerta.
Em 2002, aproximadamente 47% da Amazônia brasileira estava sob algum tipo de pressão humana, incluindo desmatamento, zonas de influência urbana, assentamentos de reforma agrária, áreas alocadas para prospecção mineral e reserva garimpeira, bem como áreas sob pressão indicadas pela incidência de focos de calor (queimadas) em florestas.
Aproximadamente 80% da área desmatada está até 30 km das estradas oficiais (número referente a 2002).
Dados da FAO revelam que, de 2000 a 2005, o Brasil respondeu por 42% da perda florestal líquida global – dos quais, a maior parte ocorreu na Amazônia brasileira.
Entre 1990 e 2003, o rebanho bovino na Amazônia Legal Brasileira aumentou de 26,6 milhões para 64 milhões de cabeças, o que representa um aumento de 140 % (IBGE 2005).
O numero de cabeças de gado no Estado do Amazonas saiu de 733,9 mil em 1995 para 1,2 milhão em 2006 (Censo Agropecuário IBGE).
Entre 1960 e 2001, a população total da Amazônia Legal aumentou de cerca de 4 milhões para mais de 20 milhões (IBGE 2002).
Produto Interno Bruto
Em 2002, o Produto Interno Bruto (PIB) da Amazônia Legal era de R$ 82 bilhões (US$ 27,5 bilhões) (Ipea, 2002). Na época, esse valor correspondia a 6,1% do PIB nacional. Os Estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso representavam conjuntamente 70% do PIB da região.
O PIB per capita da Amazônia Legal, em 2002, era igual a R$ 7,4 mil, ou US$ 2,1 mil; o PIB per capita médio brasileiro era de R$ 12,9 mil, ou US$ 3,65 mil.
Cobertura Vegetal
As florestas (densas, abertas e estacionais) cobrem 64% da Amazônia Legal. As formações não-florestais – compostas por cerrados, campos naturais e campinaranas – cobrem outros 22%. O restante, 14% da cobertura vegetal da Amazônia, foi desmatado até 2004.
Aproximadamente 24% da Amazônia Legal é composta por áreas privadas (IBGE, 1996).
Estimativa da Imazon, com base em imagens de satélites, aponta a existência de 95,4 km de estradas clandestinas na Amazônia Legal, a maior parte no Estado do Pará. Fonte: Fabrícia Peixoto, BBC Brasil

3 – Espécies surgem em uma era de extinção

Desenvolvimento leva à descoberta de novos tipos de animais
No Museu Nacional de História Natural do Smithsonian Institute, Kristofer M. Helgen, diretor do departamento de mamíferos, abriu um dos milhares de armários de metal, mostrando uma dezena de roedores secos. Abre outros, com morcegos com cara de raposa, um mamífero do tamanho de uma doninha e outro morcego com asas translúcidas e manchadas, como um paraquedas.
Esses animais vieram de Nova Guiné, Ilhas Salomão, Sulawesi,Quênia, mas todos têm um traço comum: são espécies novas para a ciência, algumas tão novas que nem têm nome. E esses espécimes no Smithsonian são apenas parte de algo muito mais amplo.
Fabio Rohe, da Wildlife Conservation Society, em Nova York, e seus colegas anunciaram a descoberta de um novo macaco no Amazonas, um sagui, de pelo cinzento e pintas douradas batizado de sagui-de-cara-suja de Mura. Outros cientistas descobriram recentemente novos primatas na Bolívia, Índia e Tanzânia.
Desde o último recenseamento de mamíferos, em 2005, computando cerca de 5,4 mil espécies conhecidas, cerca de 400 novas foram acrescentadas. “Estamos em plena era de descobertas de mamíferos”, disse Helgen.
Mas estamos também numa era de extinção de animais e nós, humanos, somos os grandes culpados. As estimativas sobre a perda anual das espécies variam, mas muitos pesquisadores concordam que, por causa da destruição do hábitat, da volatilidade do clima, do uso de pesticidas, do lixo jogado nos oceanos, das espécies invasivas e outros efeitos “antropogênicos” sobre o ambiente, a taxa de extinção é muitas vezes superior ao que seria uma extinção crônica da natureza.
Uma razão de os cientistas descobrirem espécies em número maior do que há algumas décadas é que, com o desenvolvimento, lugares antes impenetráveis foram abertos.
Scott E. Miller, do departamento de ciências do Smithsonian, chama a atenção para o fato de que as flores colhidas hoje no Quênia podem chegar à sua floricultura amanhã, trazendo larvas de espécies não caracterizadas e possivelmente indesejáveis. “As próximas espécies de insetos invasivos podem vir de qualquer local”, afirma.
Mas, se é por meio das alterações no hábitat que muitas novas espécies são descobertas, cientistas argumentam que seu reconhecimento formal pode ser a salvação de uma espécie debutante.
Jean Boubli, que dirige os programas da Wildlife Society no Brasil, pretende usar o sagui recém-descoberto como argumento em favor da sua luta para impedir a construção de estradas pavimentadas na região ainda virgem da floresta amazônica, a cerca de 100 quilômetros de Manaus.
“Foi um feliz acaso descobrir essa subespécie agora e provar para as autoridades que a abertura de novos acessos para a floresta será um desastre”, disse.
Naturalmente, a maioria dos habitantes misteriosos são insetos e outros invertebrados. Dos 85 milhões de espécimes biológicos que se encontram no Smithsonian, 35 milhões são de insetos, e esse número vem aumentando. “Essa coleção cresce em 500 mil a cada ano.”
Além disso, insetos e seus parentes artrópodes sofrem com a perda do seu hábitat. Como observou May Berenbaum, da Universidade de Illinois, é difícil para as pessoas se identificarem com uma criatura que tem os ossos do lado de fora. “Se encontrarmos uma nova espécie de besouro ou mesmo uma família inteira, quem se importa?”, diz Boubli. “Mas macacos são grandes, bonitos e peludos.”
“No geral, estamos perdendo muitas espécies”, diz John Robinson, vice-presidente da Wildlife. “Mas também estamos conseguindo manter espécies grandes. Há muitos conservacionistas empenhados em garantir que não seja perdida a nossa megafauna simbólica e culturalmente importante, muitas próximas da extinção.”
Mesmo nossos mascotes mais queridos – como pandas e baleias – ainda são um mistério para nós. “Achamos que conhecemos muito bem os mamíferos, mas temos informações mais básicas só de 6% deles”, diz Miller.
Os conservacionistas também estão empenhados em descobrir onde e em que condições essa megafauna preciosa sobrevivente estará daqui a 5, 10 ou 50 anos. “Se você não sabe o que existe em termos de biodiversidade, como vai conservá-la?”, diz Vick A. Funk, curadora do National Herbarium. Talvez em conservas, cuidadosa e eternamente mantidas em arquivos.
(Natalie Angier, do The New York Times)
(O Estado de SP, 29/7)