1 – Concurso Público UFRRJ (02 vagas para Biólogos)
2 – Um fim para os cabelos brancos
3 – Seca faz Amazônia liberar mais CO2 que Europa e Japão juntos
4 – RJ avança em pesquisas com células-tronco
1 – Concurso Público UFRRJ (02 vagas para Biólogos)
Estão abertas inscrições para Concurso Público da UFRRJ, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, destinado a seleção de candidatos para a Carreira do Magistério Superior, Campus de Seropédica. As vagas para Biólogos (professor adjunto) são nas áreas de: 1) Biologia Aquática, Processos Biológicos, Dinâmica de Populações e Ecologia em Sistemas Aquáticos; 2) Anatomia Animal. A remuneração mensal é de R$6.497,15. As inscrições deverão ser feitas mediante acesso ao website www.ufrrj.br , até o dia 18 de março de 2009 (quarta-feira). Para acessar o edital do concurso, clique no link: http://www.ufrrj.br/concursos/edital04_2009.pdf .
Estudo revela acúmulo de água oxigenada na raiz e indica forma de recuperar a cor
Não vai mais ser possível culpar os filhos, o cônjuge ou o estresse diário pelo surgimento dos fios brancos. Um novo estudo realizado por especialistas de três universidades europeias revela que os cabelos ficam brancos com o passar dos anos pelo mesmo motivo que morenas se tornam louras falsas: devido à água oxigenada. A pesquisa abre um inédito caminho para a descoberta de métodos para recuperação da cor natural e ainda oferece uma nova abordagem para o estudo do vitiligo.
Os cientistas já sabiam há muito tempo que os fios ficavam brancos devido ao desaparecimento gradativo da melanina – o pigmento natural que dá cor aos cabelos. Mas a razão para isso acontecer era desconhecida.
Agora, os especialistas revelaram que o embranquecimento acontece devido a um acúmulo maciço de peróxido de hidrogênio (H2O2, popularmente conhecido como água oxigenada) provocado pelo desgaste do folículo capilar. O excesso de peróxido acaba por bloquear a fabricação de melanina.
– Não são apenas as (falsas) louras que mudam a cor do cabelo com peróxido de hidrogênio – afirmou Gerald Weissman, editor da revista da Federação das Sociedades Americanas de Biologia Experimental, onde o estudo foi publicado. – Todas as nossas células capilares produzem uma pequena quantidade de peróxido de hidrogênio, mas, à medida que envelhecemos, esse pouquinho se transforma em muito. Nós descolorimos o pigmento do nosso cabelo de dentro para fora e os fios vão ficando cinzentos e, depois, brancos.
Produção de melanina cai
A produção de peróxido de hidrogênio pelo organismo é natural. A substância participa de diferentes processos, sendo naturalmente eliminada sem provocar danos. Alterações rompem esse balanço, provocando o acúmulo.
Os cientistas descobriram o processo ao examinar culturas de células extraídas de folículos capilares humanos. Segundo eles, o acúmulo da substância é causado pela redução da produção das enzimas responsáveis por quebrá-la, MSR A e B, transformando-a em água e oxigênio.
O estudo revelou ainda que, também por conta da redução da enzima, os folículos capilares não conseguem reparar o dano causado pelo peróxido de hidrogênio. Com isso, a produção de melanina cai, criando um ciclo vicioso.
Como a melanina é responsável não só pelo pigmento dos cabelos, mas também da cor dos olhos e da pele, o estudo sugere que um processo similar poderia estar por trás do vitiligo – uma doença que resulta na descoloração de partes da pele causando sérios danos psicológicos, e para a qual não há tratamento eficiente.
O estudo foi coordenado por Karin Schallreuter, da Universidade de Bradford, no Reino Unido. Cientistas das universidades de Mainz e Luebeck, na Alemanha, também participaram da pesquisa.
(O Globo, 5/3)
3 – Seca faz Amazônia liberar mais CO2 que Europa e Japão juntos
Fenômeno anula a capacidade de a floresta absorver carbono
Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:
A seca que atingiu a Floresta Amazônica em 2005 reduziu drasticamente a sua capacidade de absorver CO2 – um dos mais importantes serviços que a floresta presta ao clima do planeta. O fato foi comprovado por um estudo global, feito por 68 cientistas de 40 instituições de diversos países, incluindo o Brasil.
O trabalho, coordenado pela Universidade de Leeds, na Inglaterra, publicado na revista “Science”, confirmou que, ao matar árvores, interrompendo a chamada sucessão ecológica, a seca reverteu esse mecanismo, fazendo com que toneladas de CO2 fossem liberadas no ambiente – agravando potencialmente o aquecimento global -, diminuindo assim a capacidade de floresta ser um sumidouro de carbono.
– A seca de 2005 matou muitas árvores – conta o engenheiro florestal e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Niro Higuchi, que participou do estudo. – Isso, abalou o equilíbrio entre a mortalidade e o desenvolvimento ou, como chamamos, o recrutamento de novas árvores, que é o que determina se a floresta vai sequestrar ou emitir carbono. Na seca, a taxa de mortalidade ficou maior do que a de recrutamento.
Seca de 2005 matou árvores e causou desequilíbrio
Como ressalta o estudo, a floresta absorve em torno de dois bilhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente, por causa da fotossíntese. Por causa da seca de 2005, essa capacidade foi amplamente invertida, com cinco bilhões de toneladas de CO2 liberadas no ambiente, um valor que supera as emissões anuais da Europa e Japão combinadas.
– No momento em que morre, a árvore coloca à disposição da atmosfera o CO2 que acumulou durante sua vida – explica o pesquisador do Inpa. – Esse valor representa o número de árvores que foram mortas. Isso não quer dizer que o CO2 foi liberado imediatamente para a atmosfera.
Tem árvores que levam um ano para se decompor, outras levam bem mais tempo. O que importa é que, mais cedo ou mais tarde, essa quantidade de CO2 vai realmente para a atmosfera.
Durante a pesquisa, foram monitoradas cerca de 100 áreas em diversos pontos da floresta, sendo analisadas mais de 100 mil árvores, entre novas e velhas. Padrões climáticos também foram incorporados ao estudo que começou há trinta anos, tendo outros objetivos.
– Inicialmente, o foco do trabalho era o manejo da floresta, feito com parceiros do Peru, Colômbia e Bolívia, entre outros – lembra Higuchi.
– Mais tarde, porém, o foco passou para as mudanças climáticas, já contando com pesquisadores da Europa e dos Estados Unidos.
Foi quando surgiu a Rede Amazônica de Inventários Florestais (RAINFOR, na sigla em inglês). Foi graças aos pontos de monitoramento dessa rede que pudemos ter um panorama apurado do que ocorreu na floresta nos últimos anos.
Floresta de pé amenizaria impactos negativos
Para o pesquisador, há fortes indícios que a seca – causada, entre outros fatores, pelo aquecimento anormal das águas do Atlântico Norte naquele ano – tenha ligação com o aquecimento global.
– É difícil dizer que a seca tenha sido causada diretamente pelo aquecimento e, portanto, por razões antropogênicas, mas é impossível não notar a bagunça no clima. E essa imprevisibilidade certamente é causada pela ação humana. Já houve uma grande seca na região há quarenta anos. Mas desde 1997, os fenômenos climáticos têm ficado mais frequentes, não apenas ali, mas em todo o Brasil, com tempestades, ciclones tropicais e a própria seca.
Prever secas é impossível, diz Higuchi, mas os especialistas sabem que a melhor forma de amenizar seus impactos é manter a floresta de pé.
– A floresta de pé filtra o carbono que está circulando na biosfera, melhora o balanço hídrico da região e mantém a biodiversidade, que é o tesouro da Amazônia.
(O Globo, 6/3)
4 – RJ avança em pesquisas com células-tronco
Três estudos estão sendo desenvolvidos pelo Instituto de Ciências Biomédicas e pela Coppe, da UFRJ
Vilma Homero escreve para o “Boletim da Faperj”:
Quando o assunto é células-tronco e o enorme potencial de possibilidades terapêuticas que elas significam, o Rio de Janeiro abriga um grande número de pesquisas. No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desenvolvem-se dois estudos diferentes, e um terceiro toma forma na Coppe (Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia). São todos complementares e têm a participação do pesquisador Stevens Rehen, do Programa de Neurociência Básica e Clínica do ICB/UFRJ.
Cada um desses estudos já é, em si, revolucionário: em um deles, desenvolve-se a técnica japonesa de reprogramar células do organismo para que elas venham a se tornar pluripotentes. Ou, em outras palavras, capazes de se tornar tecido de qualquer parte do corpo. E, espera-se, com futura aplicação biotecnológica e terapêutica em um sem-número de problemas.
As células pluripotentes induzidas, ou iPS (do inglês induced pluripotent stem cells), são em tudo semelhantes às células-tronco embrionárias e poderão atuar como tal. Embora siga o protocolo japonês para produzir as iPS, Rehen introduziu algumas modificações na técnica. Para começar, diferente do método original, que emprega fibroblastos (células da pele), o pesquisador usou células renais humanas para fazer a reprogramação. E também utilizou o ácido valpróico, reagente que facilita o processo de reorganização do DNA.
“Esses resultados poderiam ter sido obtidos na metade do ano passado, o que não ocorreu devido a problemas burocráticos para a importação. Algumas solicitações para aquisição de reagentes levaram mais de nove meses até que o produto chegasse às nossas mãos”, lamenta o pesquisador.
A equipe de Rehen realizou paralelamente a experiência tanto com células humanas quanto com as de camundongos. O processo propriamente dito foi realizado em etapas, tanto num caso quanto no outro. Mantidas em cultura, as células receberam genes embrionários em seu DNA, o que é feito por meio de vírus atenuados, produzidos em laboratório. São eles que carregam os genes para o interior das células e os inserem em seu genoma nuclear. Um para cada um dos quatro genes necessários à transformação. Uma vez no núcleo, os genes dão início à reprogramação que faz a célula retornar a seu estado indiferenciado original. Ou seja, semelhante às embrionárias.
É aí também que reside um dos maiores desafios à técnica. São necessárias cinco cópias de cada vírus para que ocorra a reprogramação. “Começamos com milhares de células, algo em torno de 250 mil para conseguirmos de 40 a 50 colônias com características das células pluripotentes. Dessas, selecionamos duas linhagens reprogramadas, uma humana e outra de camundongos”, explica o pesquisador.
A médio prazo, a principal aplicação das iPS está no auxílio à identificação de medicamentos. “Podemos, por exemplo, reprogramar células da pele de um paciente para em seguida transformá-las em células do coração e empregá-las para identificar novos medicamentos com potencial na recuperação de cardiopatias. Assim, poderíamos avaliar a eficiência específica de certas substâncias para determinado paciente em uma placa de cultura. É uma considerável redução de riscos”, explica.
A criação das células reprogramadas só foi possível graças a uma parceria entre o grupo de Rehen no ICB/UFRJ e Martin Bonamino, pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O trabalho contou ainda com a participação dos estudantes de pós-graduação Bruna Paulsen e Leo Chicaybam.
A multiplicação das células e os testes em doença de Parkinson
Outra pesquisa em curso está na aplicação de biorreatores para multiplicar células-tronco, sejam elas embrionárias ou iPS. A ideia é promover a produção em larga escala, capaz de alimentar os mais diversos laboratórios no país. “Na verdade, o modelo clássico de biorreator busca a produção de substâncias secretadas por células (biofármacos). Nossa pesquisa apenas está adaptando essa tecnologia para que o produto final seja a própria célula viva, no caso células-tronco”, explica. Dessa forma, pode-se chegar a um resultado 70 vezes maior do que o obtido pelo método convencional.
“Além disso, consegue-se também maior rapidez, custos menores e menor possibilidade de contaminação”, diz. A pergunta agora é se, com a técnica, as iPS e as células embrionárias genuínas se multiplicam na mesma proporção.
“Estamos falando em milhões de células. Agora vamos comparar se a produção em grande escala é equivalente nos dois casos. Esperamos ter essas respostas em dois anos”, planeja. A utilização de biorreatores para o cultivo de células-tronco é uma parceria entre o grupo de Rehen no ICB/UFRJ e Leda Castilho, pesquisadora da Coppe/UFRJ, que conta com a participação dos alunos de pós-graduação Aline Marie Fernandes e Paulo André Marinho.
Nesse meio tempo, paralelamente, outro trabalho está sendo desenvolvido. Rehen e sua equipe estão testando a atuação de três diferentes tipos de células-tronco: as embrionárias, as iPS (originadas da pele) e as extraídas de polpa de dente para tratamento da doença de Parkinson. Os pesquisadores comparam os três tipos procurando identificar qual deles será o mais eficaz para o tratamento da doença em modelo animal.
“Já sabemos que células derivadas da polpa dentária secretam fatores que favorecem a sobrevivência de células-tronco embrionárias transplantadas”, fala o pesquisador. O desenvolvimento do modelo pré-clínico da Doença de Parkinson é uma parceria entre o grupo de Rehen e de Jean-Christophe Houzel, neurocientista do ICB/UFRJ. O trabalho conta com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a participação do aluno Fabio Conceição.
Essas células estão sendo aplicadas em modelos animais, nos quais foram induzidos os sintomas da doença. “Nos Estados Unidos, os primeiros testes realizados em humanos com células-tronco embrionárias começaram esse mês. Serão testadas em pacientes com lesão de medula espinal. Acredito que em cinco anos, saberemos se o potencial terapêutico de células-tronco embrionárias, observado em animais, é uma realidade”, diz.
Para Rehen, igualmente importante é saber que todos esses trabalhos de cientistas brasileiros contribuem para reduzir a distância entre a pesquisa que é produzida no país e a de países de Primeiro Mundo. “Estamos cada vez mais competitivos.”
(Boletim da Faperj, 5/3)