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10º Informativo – Pingüins, Ártico, espécies, cavernas e Amazônia

1 – Mudanças climáticas na costa argentina ameaçam população de pingüins

2 – Ártico “deixará de existir” em duas décadas, diz grupo

3 – Espécies idênticas habitam Oceano Ártico e Antártica

4 – Estudo contesta uso de teste genético

5 – Terapia gênica é fraca contra vírus da Aids

6 – Governo lista plantas que poderão virar fitoterápicos

7 – Mecânica da infecção

8 – A dieta dos homens das cavernas

9 – Desmate faz nuvem “seca” proliferar na Amazônia

10 – Desmatamento na Amazônia extingue 26 espécies e ameaça 644, diz ONU

11 – O novo cérebro humano

12 – Instituto francês diz que consumir álcool causa câncer

 

1 – Mudanças climáticas na costa argentina ameaçam populações de pingüins

Estudo mostra que, quando se trata de aquecimento global, essas aves são o canário da mina, sinalizando perigo eminente

Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:

A marcha dos pinguins esta virando uma maratona pela sobrevivência. O desequilíbrio causado no seu habitat pelas mudanças climáticas, em associação com poluição e sobrepesca, tem feito esses animais ampliarem dramaticamente a sua jornada em busca de alimentos, levando sua população ao declínio.

É o que revela um estudo feito pela bióloga americana Dee Boersma, da Universidade de Washington, com pinguins que habitam a costa da Argentina, nas proximidades da Patagônia. O trabalho mostra que, quando se trata de aquecimento global, essas aves são o canário da mina, sinalizando perigo eminente.

– Os pinguins estão percorrendo distâncias maiores em busca de alimentos e isso revela um grande desequilíbrio no seu habitat – disse ela, em palestra durante o encontro anual da Associação Americana pelo Desenvolvimento da Ciência (AAAS), na sigla em inglês, em Chicago. – Imagine que você mora num estado e tem que ir até outro, bem mais longe, em busca de trabalho e sustento. É o que está acontecendo quando você encontra um pinguipinguinm na costa do Brasil, seja no sul do país, no Rio ou, às vezes, até mesmo na Bahia.

A pesquisadora estudou uma colônia de pinguins da reserva biológica de Punta Tombo, na Argentina, durante 25 anos. Seu trabalho mostra que a extensão dos deslocamentos dos animais em busca de alimento dobrou em mais de uma década. Boa parte dessa maratona se deu por causa da sobrepesca da anchova, um dos seus alimentos prediletos.

– Uma consequência drástica desses deslocamentos é que os pinguins estão botando seus ovos em áreas fora da reserva, onde eles e seus filhotes encontram-se desprotegidos – alerta.

Segundo o estudo de Dee Boersma, a população de pinguins naquela reserva apresentou um declínio de 20% nos últimos 15 anos.

– Esse é o resultado de uma combinação de mudanças climáticas, poluição e sobrepesca. E todas elas, claro, tem a mão do homem por trás – assegura a pesquisadora, lembrando que das 17 espécies de pinguins existentes no mundo, 12 apresentam sinais de declínio.
(O Globo, 14/2)

2 – Ártico “deixará de existir” em duas décadas, diz grupo

Especialistas reunidos nos EUA dizem que aquecimento já causa reação em cadeia e preveem degelo do polo até 2030

Eduardo Geraque escreve para a “Folha de SP”:

O atestado de óbito do Ártico está assinado. Nas próximas duas décadas, a região, pelo menos na forma como ela é conhecida hoje, deixará de existir.

Por causa do aquecimento global, uma reação em cadeia já é percebida todos os anos na região, afirmaram especialistas em ciência polar reunidos ontem em Chicago, na 175ª Reunião Anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência). Nada indica, dizem eles, que se trate de um mero ciclo passageiro. A temperatura na região norte do globo pode aumentar em até 7 C até o meio deste século.

“Teremos um verão sem gelo no Ártico em 2030 ou antes disso”, calcula Mark Serreze, da Universidade de Colorado (Boulder). Segundo o pesquisador, o que tem acontecido recentemente em toda a área já pode ser explicado pela ciência.

Enquanto o ar próximo à superfície marinha aquece, causando o derretimento da camada de gelo sobre o mar -e também sobre a terra-, o oceano Atlântico, que também está mais quente, tem jogado esse calor para o norte.

A consequência é que esquenta tanto por cima quanto por baixo, explica Serreze. E isso é que tem causado a diminuição do gelo em toda a região, com números recordes nos últimos verões principalmente.

Com menos gelo, a preocupação com uma certa ocupação da região ártica também deve aumentar, disse Serreze durante sua conferência.

Para ele, pode aumentar não apenas a navegação em toda a área -e nos últimos anos algumas rotas antes bloqueadas por gelo ficaram navegáveis- como a exploração de petróleo. E, sobre isso, também existem vários projetos em curso, principalmente nos Estados Unidos.

Todo cuidado é importante, disse o cientista, porque na verdade o “Ártico está mais quente em todas as estações do ano, não apenas no verão”.

A questão, se passa pelo problema do urso-polar e de toda a fauna, é muito mais ampla que isso, disse Serreze. “Já temos problema de erosão costeira em algumas zonas. Sem gelo, o vento movimenta mais a água.”

Ciclo de carbono

A mudança de comportamento registrada em todo o Ártico é tão crítica, na visão do pesquisador, que o ciclo de carbono também pode ser drasticamente alterado.

Com o calor, a tendência é que toda a matéria orgânica congelada no solo do Ártico libere o carbono para a atmosfera. “Toda a região que antes ficava coberta de gelo está sendo exposta dez dias antes do previsto e ficando sem gelo até nove dias depois do esperado”, disse na conferência Matt Sturm, do Laboratório de Pesquisa e Engenharia de Regiões Frias do Exército dos EUA.

Segundo o especialista, essa alteração tem significados importantes para a tundra ártica, ecossistema formado por uma vegetação bastante rasteira, alimentada principalmente pela água do degelo.

“O que está ocorrendo é um aumento da quantidade de vegetação arbustiva na tundra, por causa do aquecimento”, afirma Sturm. Segundo ele, além dessa mudança de vegetação, existe outra em andamento por motivo idêntico.

A probalidade de uma mesma área da floresta boreal queimar aumentou em mais de 30%, disse o especialista. O resultado dessas queimadas, e do aumento de matéria vegetal sobre toda a região ártica, também vai alterar o ciclo da carbono, segundo Sturm.

O pesquisador, por morar no Alasca, tem também outra preocupação. “Todas essas mudanças afetam o ecossistema, mas também alteram a vida das pessoas que moram no Ártico.” Existem aproximadamente 4 milhões de pessoas que vivem na região hoje.
(Folha de SP, 14/2)

3 – Espécies idênticas habitam Oceano Ártico e Antártica

Entre elas estão aves, vermes, crustáceos e caracóis

Cientistas do Censo da Vida Marinha (Coml, na sigla original em inglês) anunciaram ontem a descoberta de 235 espécies idênticas que vivem tanto no Oceano Ártico quanto nas águas que cercam a Antártica, apesar dos 11 mil quilômetros de distância que os separam.

Entre as espécies descobertas estão baleias cinzas e aves. Os cientistas também identificaram vermes, crustáceos e caracóis pterópodes que parecem ser os mesmos em ambas as águas polares.

A diversidade e o grande número de espécies semelhantes deixaram os cientistas perplexos. A pesquisadora Bodil Bluhm, da Universidade Fairbanks do Alasca (EUA) é uma das cientistas que participaram das expedições árticas do Coml. Ela disse esperar pela confirmação das descobertas. “Não temos certeza do que tudo isso significa. Se for confirmado, deveremos estudar os mecanismos de distribuição”, disse Bodil.

Outra descoberta são as provas de que espécies que preferem águas frias estão emigrando para os polos para escapar do aquecimento das águas oceânicas. O Censo da Vida Marinha emitirá seu primeiro relatório em 4 de outubro de 2010 e revelará que os oceanos são habitados por entre 230 mil e 250 mil espécies. Cerca de 7,5 mil vivem nas águas da Antártida e 5,5 mil se encontram no Ártico.

O cientista alemão Julian Gutt, do Instituto Alfred Wegener e líder de uma das principais expedições do programa à Antártida, acrescentou que as perguntas mais interessantes que essa descoberta sobre as espécies coloca são: “Por que vivem a tanta distância?” e “Como podemos explicar?”

Ron O’Dor, diretor científico do programa, disse que o trabalho está na “etapa de síntese, tentando reunir todos os 17 diferentes projetos para dar ao mundo uma imagem da biodiversidade dos oceanos do planeta”. “Estes dois grupos, que chamamos de oceanos gelados, o Ártico e a Antártica, estão entre os primeiros a desenvolver seu censo” acrescentou O’Dor.

Riqueza

Gutt disse que as pesquisas realizadas nos dois últimos anos revelam uma riqueza da vida marinha insuspeitada. Segundo ele, ao contrário das teorias dominantes desde os anos 70, o fundo marinho que cerca a Antártica forma uma só região biológica, embora os lados opostos do continente estejam a 8,5 mil quilômetros de distância.

Ao mesmo tempo, graças aos resultados da análise de DNA de polvos, os cientistas acreditam que as águas da Antártida servem para revitalizar a fauna oceânica no resto do mundo.

Sua teoria é que novas espécies aparecem durante épocas de crescimento do gelo na Antártida. Quando o gelo se retira, essas espécies começam a se propagar para o norte, colonizando novas áreas.

Enquanto isso, no Ártico, Bodil também constatou que espécies marinhas de reduzido tamanho estão substituindo outras maiores em algumas águas árticas, o que pode estar relacionado à mudança climática.
(EFE)
(O Estado de SP, 16/2)

4 – Estudo contesta uso de teste genético 

Prática não tem comprovação científica e comercialização no País é considerada antiética por órgão regulador

Karina Toledo escreve para “O Estado de SP”:

O estudo do genoma com o objetivo de identificar predisposição a doenças como diabete e hipertensão ainda não está avançado o suficiente para garantir exames precisos, indica pesquisa publicada este mês na revista Public Library of Science Genetics.

Segundo pesquisadores das universidades americanas de Pittsburgh e da Califórnia, as informações levantadas pelos estudos genômicos de associação (GWA, em inglês) – que analisam marcadores genéticos para apontar predisposição a doenças – por enquanto são mais relevantes para entender a biologia das enfermidades do que para prever o risco individual de desenvolvê-las.

Eles analisaram a validade clínica de testes para diabete tipo 2, câncer de próstata, problemas cardíacos, degeneração macular relacionada à idade e doença de Crohn. Concluíram que os resultados não aumentaram a capacidade de predição das doenças se comparado à análise de fatores de risco tradicionais.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica, Salmo Raskin, “esse tipo de teste será fantástico daqui a uns dez anos”. “Até lá, a gente deve conhecer todos os genes envolvidos nessas doenças complexas (mais informações nesta pág.) e saber qual é o peso da genética e o do ambiente para sua manifestação.” No Brasil ainda não há regulamentação sobre o uso desse tipo de exame, mas o Conselho de Medicina considera antiética sua comercialização.

No início deste mês, a rede brasileira de clínicas Anna Aslan, que oferece comercialmente esse tipo de serviço, teve uma filial interditada pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) e pela Vigilância Sanitária. A interdição ocorreu pela realização de procedimentos sem comprovação científica, uso de medicamentos sem registro e emissão de laudos por profissionais não habilitados. A unidade foi reaberta ontem por decisão da Justiça.

A rede oferece testes preditivos para diversas doenças, a um custo de R$ 900 a R$ 1.900. Segundo a assessoria do Cremers, a interdição ética continua valendo e os médicos que atuarem na clínica podem sofrer processo ético. “Eles se propõem a fazer terapêuticas que não têm comprovação e podem trazer risco à saúde”, diz o presidente do Cremers, Cláudio Franzen. “Nós comunicamos a todos os conselhos do País e é provável que isso se repita nos outros Estados.” A clínica tem unidades em São Paulo, Rio, Curitiba e Brasília.

O conselho de São Paulo (Cremesp) informou que abriu sindicância para investigar a filial paulista. “Se for constatado que as práticas verificadas em Porto Alegre também estão sendo feitas aqui, vamos tomar providências”, disse o presidente do Cremesp, Henrique Gonçalves.

Segundo ele, a comercialização de testes preditivos genéticos é uma prática antiética. “O conselho é extremamente favorável à pesquisa. Mas é preciso fazer projeto, pedir aprovação de um conselho de ética e fazer a pesquisa sem que a pessoa tenha de pagar”, diz.

“Quando você pega um produto que não tem comprovação científica e entra no mercado, está fazendo pesquisa em humanos sem aprovação, está enganando o paciente que paga pelo serviço.”

O médico Antônio Teixeira, um dos sócios da rede, diz que a clínica não faz pesquisa, apenas atua como ponte entre pacientes e o laboratório americano Genova, responsável pelos testes.

“Firmamos uma parceria há um ano. Colhemos o sangue e mandamos para lá. Eles mandam o resultado após um mês. Interpretamos e orientamos o paciente, por exemplo, a praticar atividade física, evitar fumo, álcool e manter a alimentação adequada.”

Para Teixeira, não há problema ético ou contraindicação para realizar os exames. “É preciso por em prática o conhecimento adquirido. Esse exame sozinho não vai dar um diagnóstico, mas dará pistas que podem ser essenciais para você tratar e prevenir doenças no futuro. Isso é a medicina preventiva”. diz. “Ético é tudo aquilo que você pode fazer para o bem-estar do paciente.”
(O Estado de SP, 14/2)

 

5 – Terapia gênica é fraca contra vírus da Aids

 

Primeiro teste para avaliar eficiência de tratamento mostra que não há redução significativa da carga viral de pacientes

Afra Balazina escreve para a “Folha de SP”:

A terapia gênica no tratamento da Aids é promissora, mas na prática ainda está longe de poder substituir o uso de antirretrovirais. É o que mostram os resultados do primeiro teste clínico para avaliar a eficácia da terapia gênica no combate ao HIV, publicados em artigo de Ronald Mitsuyasu, da Universidade da Califórnia (EUA), e colegas na revista científica “Nature Medicine”.

Houve uma pequena melhora nos níveis de linfócito T CD4+ (células que coordenam a defesa do organismo e que são ao mesmo tempo destruídas pelo HIV) nos indivíduos tratados, em comparação àqueles que receberam placebo. Porém, não houve redução da carga viral nos pacientes.

O teste foi feito com 74 pacientes. Eles receberam ou placebo ou células-tronco de sangue (glóbulos brancos em estágios iniciais de desenvolvimento) contendo uma sequência de RNA -espécie de auxiliar do DNA. Essa sequência de RNA, chamada pelos médicos de OZ1, atua como uma enzima que ataca o RNA do HIV, impedindo-o de produzir duas proteínas-chave.

A OZ1 se mostrou segura, e não causou efeitos adversos durante o tratamento -ao contrário dos antirretrovirais, que costumam provocar efeitos colaterais nos pacientes. Segundo o artigo, o estudo indica que a terapia gênica é segura para tratar pessoas com HIV e pode ser desenvolvida como uma terapia convencional para Aids. Os autores do trabalho, animados, afirmam no documento publicado que o estudo é o “maior avanço na área”.

Para o infectologista Esper Kallás, pesquisador da Universidade de São Paulo, “os resultados obtidos, embora modestos, mostram que a manipulação genética das células é uma forma viável de tentar tratar doenças humanas”.

Para ele, que não demonstra a mesma empolgação dos autores, existe a expectativa teórica de a terapia gênica substituir o tratamento com antirretrovirais. Porém, os resultados do teste “mostram que ainda estamos longe disso”. “A melhora da contagem de linfócitos T CD4+ foi discreta.

Por outro lado, o estudo não foi capaz de demonstrar que esse tratamento reduziu significativamente a quantidade do HIV”, afirmou o médico.

Segundo ele, o fato mais importante é que o tratamento foi seguro e bem tolerado pelos voluntários. “Existem muitas outras formas de atuar geneticamente nas células, e vários pesquisadores estão discutindo essas alternativas.”

Vacina

A terapia gênica é mais uma esperança para curar a Aids, uma vez que a criação de uma vacina não tem sido bem sucedida até o momento. Em 2007, o teste mais avançado de uma vacina, criada pela farmacêutica Merck, foi suspenso depois que 82 voluntários expostos ao vírus (49 vacinados e 33 do grupo de controle) acabaram contaminados. Mesmo assim, os pesquisadores tentam se manter otimistas.

“Embora os resultados anunciados em 2007 tenham sido desapontadores, os pesquisadores têm se empenhado em descobrir e propor novas formas para desenvolver uma vacina eficaz. Isso deve demorar mais do que gostaríamos, mas há muitos grupos trabalhando para abreviar esse tempo”, afirmou Kallás, cujo grupo trabalha na pesquisa de vacinas contra a Aids há aproximadamente dez anos.

“Uma vacina eficaz e segura contra a Aids pode ser a única forma de controlarmos de forma significativa o avanço da epidemia, principalmente em países com recursos limitados.” (Colaborou Rafael Garcia)
(Folha de SP, 16/2)

 

6 – Governo lista plantas que poderão virar fitoterápicos
 
 

 

 

São 71 espécies, que servirão de base para o desenvolvimento de remédios

Angela Pinho e Matheus Pichonelli escrevem para a “Folha de SP”:

O Ministério da Saúde divulgou uma lista com 71 plantas medicinais que poderão ser usadas como medicamentos fitoterápicos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

A ideia é que a relação sirva de base para uma ampliação do número de fitoterápicos que hoje são financiados com verba federal. Atualmente, só dois, feitos à base de guaco (para tosse) e espinheira-santa (para úlcera e gastrite), são bancados pela pasta. A previsão é chegar a oito até o final do ano.

De acordo com o governo, a relação inclui plantas nativas que já são tradicionalmente usadas pela população com fins terapêuticos e que poderão ser cultivadas em pelo menos uma macrorregião do país.

Foram selecionadas plantas com potencial para serem utilizadas no combate a inflamações, hipertensão, infecções na garganta, úlceras, aftas, vermes, diarreia, osteoporose, sintomas da menopausa e do diabetes, entre outros problemas de saúde.

Entre elas, estão produtos como babosa, usada no combate à caspa e à calvície, camomila (para dermatites), alho (anti- inflamatório), caju (cicatrizante), abacaxi (para secreções), carqueja (para problemas estomacais), pitanga (para diarreia) e soja (para sintomas da menopausa e da osteoporose).

Pesquisas

“A lista vem para orientar estudos e pesquisas”, afirma José Miguel do Nascimento Júnior, diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica da pasta. “É preciso que a academia nos retorne que essas plantas poderão gerar produtos e ser agregadas no âmbito do sistema de saúde.”

Entre os aspectos que têm que estar definidos antes da inclusão dos produtos na lista de compras do ministério estão a parte das plantas que deve ser utilizada para a obtenção do medicamento (caule, folha, semente, fruto etc.) e o estabelecimento dos parâmetros de toxicidade, já que, como qualquer produto alopático, os fitoterápicos também apresentam efeitos colaterais.

Comprovada a eficácia e a segurança das substâncias, o governo poderá bancar medicamentos produzidos na indústria ou plantas in natura para serem distribuídas pelas secretarias de Saúde. Em Cuiabá, já existe um programa municipal que utiliza 20 plantas e orienta os moradores a fazerem hortas em casa.

Segundo Isanete Bieski, supervisora do Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterapia, da Secretaria da Saúde de Cuiabá, parte das plantas que constam da lista já é cultivada em quintais e utilizada rotineiramente pela população. “O número de plantas da relação nacional não é suficiente, mas viabilizará o começo do desenvolvimento de várias atividades em programas já existentes”, afirma a supervisora.

Prefeituras

Nos últimos dois anos, o número de prefeituras que disponibilizam medicamentos fitoterápicos pelo SUS subiu de 116 para 350, chegando a 6,3% dos municípios em 2008.

O governo, que anunciou em dezembro a aprovação de um programa nacional de plantas medicinais e fitoterápicos, estuda a criação de uma linha especial de financiamento para as pesquisas relacionadas às 71 plantas. Outra ideia é que haja um incentivo para que o plantio seja feito por meio da agricultura familiar.
(Folha de SP, 14/2)

 

7 – Mecânica da infecção
 
 
 

 

 

Estudo descobre maneira por meio da qual as bactérias se programam para atingir o homem com mais eficiência

Um grupo de pesquisadores do Canadá, Austrália e Estados Unidos descobriu uma nova maneira por meio da qual as bactérias evoluem na forma de algo capaz de fazer adoecer o homem com mais eficiência.

Os cientistas identificaram que as bactérias se desenvolvem em patógenos, ou agentes causadores de doenças, pela reprogramação de seu DNA regulatório, o material genético que controla os genes causadores de doenças.

Até então, achava-se que a evolução de tais infecções ocorria principalmente pela adição ou subtração de genes no organismo. O estudo será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

De acordo com os autores, o trabalho tem implicações em como identificar e estabelecer risco para doenças emergentes.

“As células bacterianas contêm cerca de 5 mil genes diferentes, mas apenas uma fração deles é usada a cada vez. Essa é a diferença entre ser capaz ou ser incapaz de causar doença, ou quando e quais genes são ligados”, disse o canadense Brian Coombes, professor do Departamento de Bioquímica e Ciências Biomédicas da Universidade McMaster, principal autor do estudo.

“Descobrimos como as bactérias evoluem para ligar apenas a combinação certa de genes de modo a causar doença em um hospedeiro. É um processo semelhante a tocar um instrumento musical: é preciso tocar as notas certas na ordem correta, de modo a fazer música”, destacou.

Com o crescente aumento de doenças infecciosas em todo o mundo, a descoberta tem consequências importantes para a identificação de novos patógenos no ambiente. Atualmente, os cientistas monitoram o risco de novas doenças pela análise do conteúdo genético de bactérias encontradas na água, em alimentos ou em animais.

“Os resultados abrem também novos e importantes desafios para nossa pesquisa, à medida que continuaremos com a ideia de poder identificar o risco de novos patógenos. Agora, sabemos que a questão não está apenas no conteúdo genético, mas no conteúdo genético somado à regulação desses genes”, disse Coombes.

O artigo Pathogenic adaptation of intracellular bacteria by rewiring a cis-regulatory input function, de Suzanne Osborn e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em http://www.pnas.org
(Agência Fapesp, 17/2)

 

8 – A dieta dos homens das cavernas
 
 
 

 

 

Hábitos alimentares pré-históricos ajudam a entender distúrbios modernos como obesidade

Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:

Não espere ver um nutricionista das celebridades de Hollywood anunciar a dieta do homem das cavernas como a grande novidade para perder peso em pouco tempo.

Mas o estudo dos hábitos alimentares dos nossos ancestrais pré-históricos pode, de fato, nos ensinar muito sobre distúrbios típicos do homem moderno, como a obesidade e o diabetes, que já atingem níveis epidêmicos.

É o que garantem especialistas como os antropólogos William Leonard, da Universidade do Noroeste, de Chicago, e Richard Wrangham, da Universidade de Harvard.

– A obesidade e o diabetes são doenças típicas da nossa civilização – disse Leonard, durante um simpósio sobre a evolução da dieta humana, realizado no encontro anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS, na sigla em inglês). – Assim como as altas taxas de colesterol, elas representam um desequilíbrio entre o nosso balanço energético, entre o que precisamos consumir e o que precisamos gastar para nos manter ativos.

Segundo Leonard, um olhar evolucionista é fundamental para entendermos as origens dos atuais problemas alimentares e podermos controlá-los.

– Um traço fundamental da nossa evolução ao longo de dois milhões de anos foi a nossa capacidade de encontrar alimentos nos mais variados ambientes, já que nos espalhamos pelos quatro cantos do planeta a partir do continente africano – explicou o pesquisador, que apresentou no encontro da AAAS o trabalho intitulado “O que os humanos evoluíram para comer”.

A dieta do homem ocidental, rica em gorduras e açúcares, teria pouco a ver com o corpo e os genes que herdamos dos nossos parentes da Idade da Pedra, caçadores e coletores de alimentos. Aliada a comportamentos sedentários, isso explicaria boa parte das chamadas “doenças da civilização”.

No simpósio, Leonard e outros especialistas ressaltaram que a dieta humana evoluiu em torno de alimentos mais calóricos para poder atender as demandas de um cérebro maior e também as necessidades energéticas criadas pela nossa expansão pelo planeta.

– Enquanto alguns dos nossos parentes, como os chimpanzés, podem, ainda hoje, se alimentar de frutas e sementes, nós evoluímos em direção a uma alimentação mais rica em calorias para atender às nossas demandas energéticas, principalmente àquelas do nosso cérebro em evolução – disse Leonard. – E, para obter esses alimentos, nossos antecessores percorriam grandes distâncias.

Hoje, basta pegar o telefone e uma pizza está na sua porta em alguns minutos. Ou seja, quando nos estabelecemos e ficamos sedentários, criamos um desequilíbrio energético que nos assombra até hoje.

Para exemplificar isso, Wrangham, especialista no estudo dos hábitos alimentares dos chimpanzés, tentou, durante um período, se alimentar da mesma forma que esses primatas.

– Foi um teste menor, paralelo ao meu trabalho principal com os chimpanzés africanos, mas que se revelou bastante curioso, já que eu ficava sempre morrendo de fome – contou ele, no simpósio. – De certa forma, a experiência mostrou que não sobreviveríamos hoje se voltássemos à selva e tentássemos nos alimentar como nossos parentes evolutivos, os demais primatas.

Para Leonard, as epidemias de obesidade e diabetes não podem ser analisadas exclusivamente a partir do ponto de vista do consumo.

– Obviamente, sempre fomos atraídos pelos alimentos doces, até porque nossa resistência à insulina era grande, já que precisávamos passar dias sem comer direito e o cérebro não funciona sem glicose – afirmou o especialista. – Mas essa vantagem evolutiva se tornou uma desvantagem quando nos tornamos sedentários e aumentamos ainda mais o nosso consumo de açúcar. A origem do diabetes esta nesse ponto.

Leonard, porém, é crítico de uma corrente que defende uma espécie de retorno às origens, segundo a qual deveríamos nos alimentar como nossos ancestrais do paleolítico para combater os males atuais.

– A chave da nossa

evolução e da nossa sobrevivência sempre foi a flexibilidade alimentar. Não pode existir apenas uma dieta padrão – sustentou o antropólogo. – Como ela se aplicaria, por exemplo, aos habitantes das regiões mais extremas do planeta, aquelas mais frias? Eles precisam de muita gordura para sobreviver. O que precisamos é encontrar o melhor de cada dieta, seja ela, por exemplo, a mediterrânea que, aliás, é excelente. Mas acima de tudo, precisamos mudar nosso comportamento e fugir do sedentarismo, que é o grande fantasma a pairar sobre a nossa mesa.
(O Globo, 16/2)

 

9 – Desmate faz nuvem “seca” proliferar na Amazônia
 
 
 

 

 

Estudo ajuda a explicar como alterações na terra afetam o regime de chuvas. Imagem de satélite mostra que perda de vegetação muda tipo de distribuição de vapor nos céus da floresta; pesquisa uniu Brasil e EUA

Afra Balazina escreve para a “Folha de SP”:

Um estudo que monitorou os tipos de nuvens que cobrem a floresta amazônica mostra que o desmatamento parece estar causando tanto alterações na terra quanto no céu. Usando imagens de satélites e dados obtidos por balões meteorológicos, cientistas brasileiros e norte-americanos comprovaram a teoria de que a derrubada de árvores favorece a formação de nuvens “rasas”, em contraposição a nuvens “profundas”, mais chuvosas.

A conclusão ocorreu após análise de imagens e informações de Rondônia. O novo estudo ajuda a explicar por que o desmatamento faz a floresta ficar mais seca e corrobora com os estudos que preveem a conversão da Amazônia em savana.

“No momento em que temos uma floresta que retém bastante água, temos um ciclo da água, um ciclo de energia. Quando retiramos a floresta e a cobertura vegetal, mudamos esse ciclo. Certamente vai se criar outro cenário climático na região”, afirma o meteorologista Luiz Augusto Machado, um dos autores do estudo. Ele é pesquisador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O trabalho foi publicado ontem na revista “PNAS”, da Academia Nacional de Ciências dos EUA. O climatologista do Inpe Carlos Nobre, que não participou da pesquisa, diz que “uma generalização destes resultados vai na direção de apoiar a hipótese de savanização”. Mesmo não sendo possível afirmar ainda que isso vale para toda a Amazônia, Nobre diz que os resultados “são fisicamente consistentes e indicam que as chuvas poderiam diminuir com o aumento do desmatamento”.

Segundo Machado, a brasileira Elen Cutrim foi, em 1995, uma das primeiras a descrever esse fato de forma empírica e artesanal. “Agora, comprovamos com uma longa série de dados o estudo dela”, disse.

Rafael Bras, da Universidade da Califórnia em Irvine, coautor do estudo, explicou o fenômeno em e-mail para a Folha. Segundo ele, nuvens rasas sobre desmatamentos ocorrem por mudanças na convecção, o movimento de massa de ar por diferença de calor -mesmo princípio físico que faz um balão de ar quente subir.

Oceano verde

“Se a região de desmatamento aumentar, a intensidade desta circulação pode diminuir e, mais importante, ficar mais seca e limitar o desenvolvimento de precipitação sobre a floresta”, diz Bras. “No artigo, nós chamamos isso de “efeito do oceano verde”.

Para ele, a floresta funciona como um oceano fornecendo vapor d’água para alimentar nuvens profundas. “Se o “oceano” desaparecer, o vapor d’água, a energia e a precipitação também desaparecem”, diz.

Jingfeng Wang, coautor do estudo ligado ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), diz que o tamanho e forma da terra desmatada influenciam na possibilidade de recuperação da floresta. “O que não sabemos é quanto desmatamento é demais para que o “oceano verde” entre em colapso e suma para sempre”, diz.

Enio Pereira de Souza, professor da Universidade Federal de Campina Grande, diz que o estudo confirma resultados de pesquisa que ele realizou há dez anos. Ele é ex-colaborador de Nilton Rennó, da Universidade do Arizona, um dos autores do estudo na “PNAS”.

Souza conta que, na época, os estudos que indicavam o aumento das nuvens rasas sobre regiões desmatadas não eram muito aceitos por falta de provas. Segundo ele, sempre se deu mais importância às nuvens profundas. Mas agora, diz, o mapeamento das nuvens rasas se tornou “central na compreensão de todo esse mecanismo ligado à troca de energia entre a superfície e a atmosfera e como isso se relaciona com o clima global e eventos extremos de precipitação”.

Mudança na chuva já ocorre na área do arco de desmatamento

“Na época de chuva, chove o dia todo e, na época de seca, chove todos os dias”, diz a piada corrente sobre o clima da Amazônia. As mudanças vistas na floresta, porém, podem acabar fazendo com que esse trocadilho perca o significado. Segundo o meteorologista Luiz Augusto Machado, do Inpe, em muitos lugares do chamado arco do desmatamento (no sul e no leste da Amazônia) chuvas já não são tão constantes.

“Do ponto de vista climático, a região do arco de desflorestamento já apresenta uma característica de clima de savana, isto é, com períodos de seca e chuva bem marcados e com o período de seca com muitos dias sem chuva”, afirma.

Segundo ele, ainda não é possível dizer o que tem mais peso na savanização -se a mudança climática ou o desmatamento. “É muito difícil separar essas duas componentes.”

Ainda há controvérsia sobre a savanização da Amazônia. O meteorologista Peter Cox já previu que o colapso da floresta poderia ocorrer em 2050. Mas, neste mês, outro trabalho afirma que ela pode ser menos vulnerável ao aquecimento global do que se temia. O estudo diz que, mesmo com redução nas chuvas, haveria umidade para sustentar uma floresta.
(Folha de SP, 18/2)

 

10 – Desmatamento na Amazônia extingue 26 espécies e ameaça 644, diz ONU

 
 

 

 

Área devastada é equivalente a da Venezuela

O desmatamento da Amazônia provocou a extinção de 26 espécies de animais e plantas até 2006, segundo um relatório divulgado nesta quarta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

No mesmo período, outras 644 espécies entraram na lista de animais e plantas ameaçados de extinção. Das 26 espécies extintas, dez estão na parte brasileira da floresta amazônica. Entre as espécies ameaçadas estão o macaco-aranha (Ateles belzebuth), o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) e a lontra.

O relatório GEO Amazonia, que está sendo divulgado em um encontro do Pnuma em Nairóbi, no Quênia, destaca que o desmatamento da Amazônia continua acontecendo em ritmo acelerado. Até 2005, a Floresta Amazônica sofreu desmatamento equivalente a 94% do território total da Venezuela, dado que havia sido antecipado no mês passado pelo jornal francês Le Monde e noticiado pela BBC Brasil.

O relatório do Pnuma afirma que até 2005 a Amazônia acumulou uma perda de 17% da sua vegetação total nos nove países que possuem trechos da floresta tropical. A área total desmatada no período foi de 857.666 quilômetros quadrados.

Cenários pessimistas

O relatório afirma que três fatores vão influenciar na forma como a Amazônia vai se desenvolver no futuro: as políticas públicas, o funcionamento do mercado e o desenvolvimento de novas tecnologias.

Baseado nesses três fatores, o relatório traça quatro cenários diferentes para o futuro da Amazônia no longo prazo, e nenhuma das hipóteses apresenta uma situação ideal.

“Isso significa que os protagonistas amazônicos não conseguiram imaginar um futuro no qual as políticas públicas, o mercado, a ciência e a tecnologia se desenvolvam, simultaneamente, de uma maneira suficientemente positiva de forma a promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, diz o documento.

Os quatro cenários traçados pelo Pnuma são:

– Amazônia emergente: um cenário em que o governo e as forças do mercado geram benefícios à região, mas a ciência e a tecnologia não avançam o suficiente para melhorar o aproveitamento de recursos naturais.

– À beira do precipício: o governo agiria para combater o desmatamento, mas a demanda do mercado por recursos e a falta de tecnologia apropriada seriam mais fortes do que o esforço público.

– Luz e sombra: ação pública e investimentos em tecnologias colaborariam contra o desmatamento, mas as forças do mercado exigiriam cada vez mais recursos naturais.

– Inferno ex-verde: um cenário em que a floresta ficaria submetida às demandas do mercado, sem ação governamental ou avanço tecnológico favorável ao desenvolvimento sustentável.

Savanização

Segundo o relatório, fatores internos e externos em cada um dos países estão provocando o desmatamento. Entre os fatores internos está o crescimento da urbanização da região e a exploração de recursos naturais. O Pnuma destaca que em quatro dos países da região, mais de 50% da população amazônica é urbana.

Externamente, o aquecimento global continua afetando o ciclo de chuvas e afetando o equilíbrio do ecossistema. O relatório cita previsões feitas em outros estudos de que 60% da Amazônia pode se tornar em savana ainda neste século, devido ao aumento da temperatura média global – uma afirmação questionada por um novo estudo publicado na Grã-Bretanha na semana passada.

O relatório também afirma que a articulação de grupos e instituições que atuam na Amazônia ainda está apenas no começo.

“Na maioria dos países da região, a Amazônia ainda não faz parte do ‘espaço ativo’ nacional, no entanto eles estão lentamente começando a articular a Amazônia no sistema político-administrativo, na sociedade e na economia nacional”, diz o relatório do programa da ONU.

“O Brasil é o país que mais mostrou progresso nesta área. Por outro lado, o processo contínuo de descentralização, com diferentes níveis de progresso, visa a melhorar a governança ambiental por governos regionais e locais.”
(BBC Brasil, 18/2)

 

11 – O novo cérebro humano
 
 

 

 

Cientistas brasileiros derrubam mitos arraigados sobre a composição do órgão

Roberta Jansen escreve para “O Globo”:

Um trabalho apresentado esta semana por cientistas brasileiros derruba, definitivamente, três grandes mitos relacionados ao cérebro humano, perpetuados há décadas pelos mais renomados especialistas do mundo inteiro.

Para começar, o cérebro não tem 100 bilhões de neurônios – um “número mágico” que ninguém consegue rastrear de onde saiu -, mas sim 86 bilhões. Em segundo lugar, não apenas 10% das células do cérebro são neurônios, mas 50% delas. Por último, e talvez mais importante, o homem é quem apresenta o maior número de neurônios dentre os primatas sim, mas seu cérebro está longe de ser excepcional em relação ao de seus parentes mais próximos, os macacos.

O estudo a ser publicado na “Journal of Comparative Neurology” é assinado por Frederico Azevedo, Roberto Lent e Suzana HerculanoHouzel, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, dentre outros pesquisadores do Banco de Cérebros da USP. O trabalho mostra, pela primeira vez, o número oficial de neurônios no cérebro humano, calculado em 86 bilhões. Para alcançar tal feito, os cientistas desenvolveram uma tecnologia que permitisse contar, ou, ao menos, estimar com grande precisão, a cifra.

– Como a distribuição dessas células no cérebro é muito heterogênea, era difícil chegar a um cálculo por amostragem. Precisávamos superar isso – contou Roberto Lent, diretor do instituto.

Sopa de células para contar neurônios

Suzana Herculano-Houzel foi quem conseguiu superar o obstáculo, criando uma solução tão simples quanto engenhosa.

– Desenvolvemos um método de contar núcleos, não células – explicou. – Usando os tecidos do cérebro e os banhando em detergente, conseguimos destruir as membranas celulares e obtivemos, em laboratório, uma sopa de cérebro, um líquido com núcleos livres. Claro que não contamos um por um, mas fizemos o cálculo de quantos núcleos estavam presentes por mililitro e chegamos a uma estimativa, uma vez que a solução, diferentemente do cérebro, era homogênea.

A ideia de tentar buscar o número mais exato possível começou a povoar a mente dos cientistas quando Lent publicou o livro “Cem bilhões de neurônios”.

– Suzana começou a me perturbar, perguntando de onde tinha saído esse número mágico que todos repetiam, que aparecia em todos os livros – relembrou o cientista. – Ela começou a pesquisar e acabou concluindo que a fonte original não existia. Agora veja a situação delicada em que me encontro: vou ter que mudar o título do meu livro.

Com base nesta conta, um outro mito bastante disseminado, a de que os homens teriam até 16% mais neurônios do que as mulheres, deverá ser rapidamente revisto. Este percentual foi alcançado com base num cálculo por amostragem que, agora, se mostrou impreciso. O grupo brasileiro se dedica, agora, a fazer esta conta.

Outra ideia profundamente arraigada entre os que estudam o cérebro humano é de que ele seria composto de um neurônio para cada dez glias – células responsáveis, basicamente, pela sustentação das estrelas maiores, os neurônios.

Esta cifra também aparece em vários livros técnicos e em estudos de toda parte do mundo, sem que a sua fonte original tampouco possa ser rastreada. O fato é que, pelas contas dos brasileiros, são 84 bilhões de glias para 86 bilhões de neurônios. Desta proporção de 1 para 10, lembra Suzana, pode ter saído um outro mito extremamente arraigado e completamente falso: o de que usamos apenas 10% da capacidade de nosso cérebro.

– A primeira implicação é tentar entender essa relação funcional entre neurônios e glias, como se sustentam metabolicamente – explicou Suzana. – Com essa descoberta, podemos ter que rever outros conceitos também, como a gênese da epilepsia, que pode não ser exclusivamente neuronal, por exemplo. Sobretudo, eu acho que o estudo mostra como mesmo os números considerados totalmente verdadeiros devem ser revistos periodicamente.

Um primata como qualquer outro

Mas talvez a maior implicação do estudo dos neurocientistas tenha a ver com a posição do homem entre os primatas.

O número total de neurônios encontrados no cérebro do homem é superior ao dos demais primatas – orangotangos e gorilas teriam, em média, 32 bilhões de neurônios – o que pode explicar por que não são eles, neste momento, a estudar o cérebro humano.

Entretanto, aplicando o número total de neurônios encontrados à função de escala que descreve o crescimento evolutivo do cérebro dos primatas, os especialistas descobriram que ele é totalmente coerente com os demais.

– Isso significa que o cérebro humano não é especial, não é um ponto fora da curva, mas que tem o número de neurônios e células gliais que seria de se esperar para um primata com um cérebro dessa dimensão. O homem, nesse sentido, é um primata como outro qualquer, seguindo a evolução. Não precisa de Deus para ter sido criado – afirmou Lent.

As ideias mais disseminadas

Os cientistas não sabem explicar por que, mas há algumas ideias extremamente arraigadas no que diz respeito ao cérebro. Algumas delas não encontram respaldo em estudos, mas, ainda assim, são disseminadas em publicações sérias. Parte delas foi derrubada pelo novo estudo.

Cem bilhões de neurônios: Ninguém sabe de onde surgiu o chamado “número mágico”. Especialistas não conseguiram chegar à origem do número. O novo estudo, o primeiro a chegar a uma cifra oficial, revela que o cérebro humano tem, na verdade, 86 bilhões de neurônios.

Mulheres têm menos neurônios: Estudo publicado há quase dez anos na “Journal of Neuroscience” mostrou que os homens teriam até 5 bilhões de neurônios a mais do que as mulheres. A conta, na ocasião, foi feita por amostragem de apenas uma região do cérebro e os cientistas brasileiros acham que ela pode estar errada. Nova contagem, agora com a nova tecnologia, está em andamento.

A proporção de neurônios e glias: Acreditava-se que havia dez células gliais (responsáveis pela sustentação) para cada neurônio. O novo estudo mostrou que a proporção é de praticamente um para um.
(O Globo, 18/2)

 

12 – Instituto francês diz que consumir álcool causa câncer
 
 

 

 

Documento distribuído no país orienta profissionais de saúde a lutar até contra a taça diária de vinho

Andrei Netto escreve para “O Estado de SP”:

O mito de que uma taça diária de vinho não faz mal caiu por terra na França. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) no país publicou um documento que orienta os profissionais de saúde a combater o hábito de beber diariamente, que concerne 13,7% da população. O motivo: em qualquer medida, bebidas alcoólicas podem causar câncer.

O relatório se ampara nas conclusões de três institutos: o National Alimentation Cancer Research, o Fundo Mundial de Pesquisa contra o Câncer e o Instituto Americano para a Pesquisa sobre o Câncer. O Inca coordena na França os estudos, além de orientar médicos na luta contra a doença.

Segundo o texto, o consenso acadêmico sobre os riscos do álcool são suficientes para que campanhas de esclarecimento sejam realizadas. “O consumo de bebidas alcoólicas está associado ao aumento do risco de diversos cânceres: de boca, de faringe, de laringe, de esôfago, colo-retal, do sangue e do fígado.”

O documento alerta que o porcentual de aumento do risco está estimado tendo como base cada copo de álcool consumido por dia. O risco varia entre 9% a 168%. “Em particular, o aumento do risco de cânceres de boca, de faringe e de laringe é estimado em 168% por copo de álcool consumido por dia.” O relatório descarta até a ingestão diária de pequenas doses, tradição no país. “O aumento do risco é significativo a partir do consumo médio de um copo por dia. O efeito depende do volume consumido, não da bebida alcoólica.”

Dominique Maraninchi, presidente do Inca, e Didier Houssin, diretor-geral de saúde, autores do texto, alertam que o etanol é metabolizado em acetaldeído (etanal), que pode gerar mutações no DNA.

Na França, a recomendação tem peso de choque cultural. Desde 1960, o volume de consumo de bebidas alcoólicas vem caindo, mas o nível atual – de 12,9 litros por habitante por ano – é dos mais elevados. Em 2006, a Organização Mundial da Saúde indicou que 20,3% dos homens e 7,3% das mulheres com idades entre 12 e 75 anos bebem todos os dias no país.
(O Estado de SP, 18/2)