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3º Informativo – Mar, dinossauro, mosca, biobancos, dengue e iguana

 

 1 – Nível do mar sobe 0,5 cm em cinco anos

2 – Cientistas descobrem duas espécies novas de dinossauro no Deserto do Saara 

3 – Rinoceronte encabeça lista de mamíferos mais ameaçados

4 – Gene “egoísta” pode dividir espécie de mosca em duas

5 – Bactéria transgênica elimina poluentes

6 – Avançam ‘biobancos’ para estudo de doenças

7 – Declínio sem precedentes

8 – Infestação por mosquito da dengue é mascarada, afirma pesquisadora 

9 – Infectar mosquito com bactéria é nova ideia para atacar dengue 

10 – Icebergs ‘fertilizam’ oceano com ferro

11 – Iguana ignorada por Darwin é nova espécie, dizem biólogos

12 – Pesquisa avalia potencial oleaginoso da inajá

13 – Captura e sequestro de CO2: Desafio para o futuro, artigo de Antonio Pralon 

14 – Formiga dada como extinta reaparece em universidade de Minas Gerais 

15 – Enigma no ar, consequências na terra

16 – A relação entre gordura, longevidade e reprodução 

17 – “Ciência Hoje On-line”: Radiação ultravioleta afeta camarões

 

1 – Nível do mar sobe 0,5 cm em cinco anos 

Aumento foi provocado pelo derretimento de 2 trilhões de t de gelo; 2008 foi o 10.º ano mais quente, diz ONU

Jamil Chade escreve para “O Estado de SP”:

Em apenas cinco anos, 2 trilhões de toneladas de gelo da Groenlândia, Alasca e Antártida derreteram e elevaram o nível do mar em 0,5 centímetro. Os dados, da Nasa, a agência espacial americana, foram apresentados simultaneamente ao anúncio das Nações Unidas de que 2008 será o 10º ano mais quente já registrado no planeta – desde que os cálculos começaram a ser feitos em 1850 – e que a década será a mais quente de que se tem notícia, com impacto também para o Brasil.

Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM, braço da ONU), alerta que o ano de 2007 foi o pior em termos de perda de cobertura de gelo no Ártico, abrindo rotas marítimas pelo Pólo Norte e possibilitando o início de uma corrida pelo petróleo e gás na região. No ano passado, o gelo ártico cobria 4,3 milhões de km2. “Estamos vendo que a camada de gelo é cada vez mais fina”, disse Jarraud.

Segundo a ONU, 200 milhões de pessoas que vivem em regiões costeiras estariam ameaçadas pelo fenômeno nas próximas três décadas. O governo das Ilhas Maldivas, por exemplo, já começa a pensar em soluções como a pura e simples realocação de sua população.

Liberação de metano

Mais da metade do derretimento de gelo dos últimos cinco anos ocorreu na Groenlândia, região que começa a experimentar uma verdadeira revolução natural. Só o Alasca perdeu 400 bilhões de toneladas de gelo terrestre. Partes do Ártico teriam registrado temperaturas quase 10°C mais quentes que em 2007. Na Sibéria, o temor é com a emissão de metano, que estava congelado em lagos. Agora, o gás pode começar a se desprender se as temperaturas continuarem elevadas.

Parte da redução da cobertura de gelo ocorre pelo aquecimento, acelerando graças às emissões de CO2. Dados divulgados há duas semanas mostraram que nunca a concentração de CO2 na atmosfera foi tão elevada como agora.

Recordes repetidos

O ano de 2008 registrou uma temperatura média de 14°C, 0,3 grau acima da média entre 1961 e 1990. Já 2005 foi o ano mais quente já registrado, com 14,8°C na média do planeta.

O que preocupa a OMM é que a tendência não parece estar mudando e, a cada ano, há novos recordes. Na Austrália, por exemplo, foi registrado o calor mais intenso da série histórica, com uma máxima superior a 35°C durante duas semanas inteiras.

“O que estamos vendo é que fenômenos meteorológicos extremos estão sendo cada vez mais freqüentes”, disse Jarraud.

Em todo o mundo, o impacto dessas mudanças climáticas vem sendo sentido de forma diferente. Alguns países europeus vivem verões tropicais, enquanto o inverno foi menos frio na Escandinávia. Já na América do Sul, a Argentina registrou as temperaturas mais baixas.

Os fenômenos extremos ainda são exemplificados na ONU com a alta em julho deste ano de 3 graus Celsius na Argentina, Paraguai, Bolívia e sul do Brasil em relação à média climática do mês de julho. No Caribe, os furacões continuam a aumentar de intensidade.
(O Estado de SP, 17/12)

2 – Cientistas descobrem duas espécies novas de dinossauro no Deserto do Saara

Acredita-se que as espécies tenham vivido há quase 100 milhões de anos

A Universidade de Portsmouth informou nesta terça-feira que um grupo de cientistas encontrou duas possíveis espécies novas de dinossauro durante uma expedição ao Deserto do Saara. De acordo com os pesquisadores, trata-se de uma das descobertas “mais apaixonantes registradas na paleontologia na África nos últimos 50 anos”.

Os especialistas dizem que as espécies são um até agora desconhecido saurópode, um dinossauro vegetariano com proporções enormes, e um novo tipo de pterossauro, o primeiro réptil a desenvolver a habilidade de voar. Acredita-se que tenham vivido há quase 100 milhões de anos.

Os fósseis das duas espécies pré-históricas foram achados por uma equipe conjunta de pesquisadores da Universidade de Portsmouth, Reino Unido, do University College de Dublin e da Universidade Hassan II, de Casablanca, Marrocos.

A descoberta aconteceu no sudeste do Marrocos, perto da fronteira com a Argélia, e os pesquisadores destacaram que é “extremamente raro” encontrar restos com estas características.

Os fósseis achados correspondem a um grande fragmento do bico do pterossauro e a um osso de um metro de comprimento do saurópode, que indica que pertenceu a um animal de 20 metros de comprimento.

O trabalho no Deserto do Saara foi chefiado pelo professor Nizar Ibrahim, do University College de Dublin, que destacou em comunicado que “encontrar dois espécimens em uma expedição é surpreendente, principalmente levando em conta que podem representar espécies completamente novas”.

David Martill, paleobiólogo da Universidade de Portsmouth, destacou que “os animais vegetarianos são pouco comuns nessa região, por isso encontrar um deste tamanho é muito emocionante”.

A busca começou em 1984, quando uma tempestade de areia impediu os pesquisadores de escavar no local onde agora foram encontrados os restos.
(O Globo Online, 16/12)

3 – Rinoceronte encabeça lista de mamíferos mais ameaçados

Restam menos de 60 indivíduos do rinoceronte-de-java, na Indonésia e no Vietnã

O rinoceronte-de-java, a vaquita (ou boto-do-pacífico) e o gorila-do-rio-cruz são os três mamíferos mais ameaçados do mundo, segundo a ONG WWF.

Restam menos de 60 indivíduos do rinoceronte-de-java, na Indonésia e no Vietnã. Já a vaquita conta com cerca de 150 exemplares, que tentam sobreviver no alto golfo da Califórnia, no México. Há 300 exemplares do gorila-do-rio-cruz na Nigéria e em Camarões, que sofrem com a expansão de madeireiras e com a caça, que é ilegal.

A lista dos animais mais ameaçados da WWF possui no total nove espécies. Aparecem também o tigre-de-sumatra, a baleia franca, o toirão-americano, o elefante-asiático, o panda-gigante e o urso-polar. (Da France Presse)
(Folha de SP, 17/12)

4 – Gene “egoísta” pode dividir espécie de mosca em duas

Descoberta alimenta discussão sobre origem de novas categorias de seres vivos; biólogos encontram trecho de DNA que torna macho de insetos híbridos estéreis; efeito semelhante também foi visto em camundongos

Rafael Garcia escreve para a “Folha de SP”:

Dois grupos independentes de cientistas mostraram que uma alteração em um único gene é capaz de fazer uma espécie de animal se dividir em duas. Em estudos separados publicados na edição atual da revista “Science”, biólogos trabalhando com moscas e com roedores mostram que as forças que levam as categorias de seres vivos a se subdividirem não estão somente no ambiente, e podem emergir do DNA.

No primeiro dos dois trabalhos, os biólogos Nitin Phadnis e Allen Orr, da Universidade de Rochester (EUA), descrevem um gene da mosca-das-frutas Drosophila pseudoobscura batizado com o nome Overdrive. Comparando uma variedade colombiana do inseto com uma americana, os cientistas descobriram que diferenças neste gene atrapalham a miscigenação das duas populações.

Phadnis e Orr viram que quando moscas das duas variedades cruzam, quase não nascem machos, e os poucos que nascem são estéreis. Para saber se o Overdrive era mesmo o culpado por essa incompatibilidade, os biólogos alteraram esse gene na espécie colombiana, e as moscas passaram a se reproduzir normalmente.

“O Overdrive é um gene egoísta porque ele mata o esperma que não o contém, e isso significa que ele está se propagando com custos para seu portador”, explica Phadnis à Folha. “Além disso, a distorção na proporção entre os sexos causada pelo Overdrive pode, em tese, levar a um desequilíbrio populacional tão grande, pendendo para as fêmeas, que é capaz até de levar a espécie à extinção por falta de machos.”

Esse efeito bizarro acontece, em parte, porque o Overdrive está no cromossomo X, um dos que determinam o sexo (fêmeas têm dois cromossomos X e machos têm um X e um Y). O “egoísmo” do gene descrito por Phadnis se manifesta fazendo com que nasçam mais fêmeas, aumentando o estoque de cromossomos X contidos na prole.

Híbridos em conflito

O estudo sobre as moscas saiu na “Science” junto de um trabalho sobre camundongos, mostrando um efeito semelhante. Um gene também pode causar esterilidade em indivíduos que são híbridos de duas subespécies do roedor.

“Identificar genes que causam problemas em híbridos é uma tarefa difícil”, diz Phadnis. “Após várias décadas de trabalho duro feito por vários grupos, menos de dez genes foram encontrados.”

Phadnis não se refere, claro, ao tipo de incompatibilidade que ocorr
nos cruzamentos entre cavalos e jumentos, por exemplo, onde toda a prole é estéril. Segundo o conceito de espécie mais usado, essa incompatibilidade total já permite dizer que esses dois animais são duas espécies distintas.

As novas descobertas com moscas e roedores, porém, parecem estar flagrando a divisão de uma espécie no meio do caminho e incendeiam uma discussão antiga entre biólogos.

Alguns teóricos dizem que espécies novas surgem mais como reação a mudanças no ambiente. Populações de um mesmo animal em habitats diferentes, por exemplo, podem evoluir divergindo até ficarem tão distintas que se tornam geneticamente incompatíveis. Phadnis, porém, mostra que o processo pode ser mais direto: uma mudança espontânea no DNA é capaz de causar a ruptura, independentemente do ambiente.
(Folha de SP, 16/12)

5 – Bactéria transgênica elimina poluentes

Micróbio criado pela USP absorve metais pesados presentes na água e pode servir para tratar efluente de mineradoras. Trabalho foi financiado pela Vale; empresa abriu mão de patente em troca de receber exclusividade para uso da técnica em suas instalações

Eduardo Geraque escreve para a “Folha de SP”:

O apetite de uma bactéria de água doce por metais pesados é a base de uma nova estratégia de despoluição criada num laboratório da USP (Universidade de São Paulo). Alterando o DNA do micróbio, os cientistas conseguiram aumentar em 200% seu potencial de eliminação de resíduos, e a criatura poderá vir a servir para tratar efluentes de mineração.

Foi ao saber que a bactéria Cupriaviuds metallidurans vive na natureza em águas próximas a minas -ingerindo e eliminando metais pesados- que o engenheiro químico Ronaldo Biondo optou por usar técnicas de engenharia genética para melhorar o processo. Ele passou, então, a tentar fazer o micróbio aumentar sua capacidade de grudar nos íons metálicos para não deixá-los livres, poluindo o ambiente.

“Construímos um mecanismo sintético de expressão [ativação] de um gene que aumentou o número de âncoras [proteína que captura o metal] na membrana da bactéria”, disse Biondo à Folha. O pesquisador trabalhou sob orientação da bióloga Ana Clara Schenberg.

Uma pequena alteração no genoma na bactéria, de menos de 1%, foi capaz então de aumentar o número de proteínas grudadas do lado de fora da membrana externa. Com mais “ganchos” protéicos, os metais pesados ficaram com mais superfície livre para grudar.

“Na comparação entre a bactéria normal e a transgênica, aumentou em 219%, por exemplo, a captura do zinco”, afirma Biondo. No caso do chumbo, outro metal pesado tóxico, o aumento da taxa de eficiência foi de 210%. “Esses foram os dois metais que apresentaram maior rendimento [em termos de captura]”, diz.

Patente universitária

De acordo com Schenberg, o trabalho todo demorou quatro anos para ser concluído por causa do atraso burocrático na importação da colônia de bactérias usada na pesquisa, entre outros motivos. Mas um fato inesperado ajudou os cientistas. “Mesmo com tanto metal aderido às bactérias, a sobrevivência delas foi de 100%”, diz.

Como os tóxicos metais pesados soltos na água em geral são efluentes de mineração, Schenberg explica que uma das aplicações imediatas dessa técnica biotecnológica transgênica é exatamente nesse setor. Tanto é verdade que o projeto – já premiado pela Agência Nacional de Águas- contou com recursos da mineradora Vale.

A empresa abriu mão das duas patentes feitas para a bactéria autolimpante, que estão em nome da USP, desde que ela tenha o direito de usar o invento sem custos. A Vale também pediu que os direitos de uso do micróbio não sejam repassados para outras mineradoras.

Biondo afirma que, além do ganho ambiental, quando houver metais nobres grudados nas bactérias pode ocorrer a recuperação dessas substâncias. O método mais eficaz para isso, diz a dupla de cientistas, é a incineração. A queima dos organismos deixaria os metais capturados livres outra vez.

Novo micróbio não deverá ser jogado em rios

Com a técnica de desenvolvimento de uma bactéria transgênica que retira metais pesados da água azeitada, o passo seguinte é tentar driblar os problemas de segurança.

Para isso, Ronaldo Biondo, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, já estuda desenvolver um biorreator que evitaria com que as bactérias modificadas fossem colocadas diretamente na natureza. “Essa é a próxima parte do projeto”, diz Biondo, que é engenheiro químico.

De acordo com ele, é possível projetar um recipiente fechado, com as bactérias dentro, por onde passará o efluente líquido das mineradoras. “Não haverá contato com o ambiente.”
(Folha de SP, 18/12)

6 – Avançam ‘biobancos’ para estudo de doenças

Arquivamento em massa associa genes, fatores ambientais e enfermidades

Entidades médicas de todo o mundo começaram a conservar sangue e tecidos de centenas de milhares de pessoas nos chamados “biobanks”. O objetivo é descobrir o nexo entre os genes, o meio ambiente e as doenças, afirma Kathy Hudson, diretora do Centro de Genética e Política Pública da Universidade Johns Hopkins.

Para isso, os pesquisadores armazenam glóbulos brancos e tecidos em que se leem o genoma das pessoas, que é a informação codificada do DNA.

A ideia não é usá-los para curar doenças do doador – como se faz com as células-tronco recolhidas nos bancos de sangue de cordão umbilical -, mas sim para o combate coletivo das doenças com um entendimento maior dos genes. “Tem havido uma explosão de bancos biológicos porque a tecnologia é suficientemente barata e é fácil recolher amostras”, afirma Teri Manolio, assessora do Instituto Nacional de Investigação sobre o Genoma Humano dos Estados Unidos.

A China já conta com amostras de 500 mil pessoas. A Islândia já acumulou mais de 200 mil, mesmo com uma população de apenas 320 mil habitantes. Nos EUA, entidades privadas têm recolhido centenas de milhares de amostras e o banco biológico do Reino Unido, lançado com financiamento público, pretende chegar também a 500 mil amostras.

Hoje, muitos estudos analisam algum determinante genético para uma doença, porém a vantagem dos bancos biológicos é que não se fixam em um gene em particular. “Pelo grande número de participantes não só se veem os vínculos óbvios entre genética e enfermidades, mas também as relações tênues, que indicam os atores moleculares que são responsáveis pelas doenças”, diz Hudson.

Dilema ético

A proliferação dos “biobanks”, no entanto, também tem gerado novos dilemas éticos. A questão principal é quem tem acesso à informação do banco de dados, que inclui a historia clínica do doador.

A lei americana apresenta lacunas e em outros países simplesmente não existe, afirma Isaac Kohane, diretor do banco biológico do Children’s Hospital, em Boston.

Não está claro, por exemplo, se a polícia tem o direito de checar as características genéticas de uma pessoa, ou mesmo se o próprio doador deve saber. O genoma pode indicar, por exemplo, a propensão a alguma doença incurável.

Para Kohane, a motivação é a perspectiva de descobrir melhores métodos de prevenção e tratamento do câncer, Alzheimer e doenças cardiovasculares. A grande base de dados permite também entender doenças raras, que afetam poucas pessoas, afirma Kohane. (EFE)
(O Estado de SP, 2/1)

7 – Declínio sem precedentes

Crescimento de corais na Austrália atingiu seu menor índice dos últimos 400 anos

O crescimento de corais na Grande Barreira, na Austrália, atingiu o seu menor índice nos últimos 400 anos. Pesquisadores do Instituto Australiano de Ciências Marinhas, que estudaram o fenômeno, acreditam que ele seja causado pelo aquecimento global e pela poluição.

O impacto das mudanças climáticas na Grande Barreira – um santuário da vida marinha, habitado por milhares de espécies de animais, que ali encontram alimento e proteção – já era conhecido dos cientistas, mas essa foi a primeira vez que os pesquisadores comprovaram de fato o declínio do seu crescimento.

No trabalho, publicado na revista “Science”, os cientistas analisaram 328 colônias de corais e descobriram que a calcificação desses animais – extremamente sensíveis às variações de temperatura – diminuiu cerca de 13% em toda a Grande Barreira desde 1990, fato sem precedentes nos últimos quatro séculos.

– Esse estudo nos oferece a primeira avaliação rigorosa da forma como a calcificação desses animais está em declínio por causa do aumento da temperatura do oceano e da acidificação – diz o biólogo marinho Ove Hoegh-Guldberg, da Universidade de Queensland, após analisar os dados.

Aquecimento reduz calcificação

Os recifes de corais constroem seus esqueletos a partir de minerais, como o carbonato de cálcio, presentes na água do mar. O aumento das temperaturas dos oceanos – causado pelo aquecimento global – dissolve esses minerais, ameaçando a sobrevivência dos recifes de corais.

Recentes relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU já haviam alertado que a acidificação dos oceanos poderia levar os recifes a desaparecerem até o fim do século.

Porém, um estudo realizado por cientistas da Universidade de Chicago, divulgado em novembro, sugeriu que essa previsão fosse revista, já que o aumento dos níveis globais de dióxido de carbono (CO2) elevou a acidez dos oceanos dez vezes mais depressa do que o previsto pelo IPCC.

Os oceanos absorvem aproximadamente um terço de todo o CO2 liberado na atmosfera por atividades humanas. Quando o CO2 se dissolve na água, ela forma o ácido carbônico, que altera o delicado equilíbrio químico dos mares.

Os recifes de corais, por exemplo, são típicos de águas rasas, onde ocorre penetração da luz, necessária às atividades de fotossíntese. Além da luminosidade, as águas devem ser limpas e ter uma temperatura em torno dos 25 graus Celsius.

Foram analisadas 328 colônias

A equipe liderada pelo biólogo Glenn De’ath tomou um tipo específico de coral, do gênero Porites, como referência para verificar diferenças no ritmo de crescimento.

Esse coral desenvolve-se – durante anos ou até mesmo séculos – em camadas, formando estruturas que atingem até seis metros de altura.

O estudo dessas camadas permite que se entenda o ritmo do crescimento do coral, relacionando o com a temperatura do mar.

A equipe de De’ath cortou essas camadas e, com ajuda de equipamentos de raios X e de uma técnica chamada densitometria gama, conseguiu medir o seu crescimento anual e também a densidade do seu esqueleto calcário.

Os cientistas australianos descobriram que as taxas de calcificação de 189 colônias havia diminuído desde 1990. Depois, ampliaram o raio de ação, analisando um total de 328 colônias, descobrindo um declínio em torno de 13%.

– O declínio do crescimento dos recifes de corais não é algo que pode acontecer no futuro. Isso está acontecendo agora, bem debaixo dos nossos narizes – alerta o biólogo Clive Wilkinson, coordenador da Rede Global de Monitoração dos Recifes de Corais.
(O Globo, 2/1)

8 – Infestação por mosquito da dengue é mascarada, afirma pesquisadora

Projeto-piloto coordenado pela entomologista Leda Regis, da Fiocruz-PE, detecta índice muito superior ao oficial

Angela Lacerda escreve para “O Estado de SP”:

Santa Cruz do Capibaribe, no agreste pernambucano, e Ipojuca, no litoral sul, municípios de cerca de 70 mil habitantes, têm em comum a forte presença do mosquito da dengue.

Isso só foi descoberto depois que suas prefeituras implantaram, neste ano, um projeto-piloto que utiliza o Sistema de Monitoramento e Controle Populacional do Vetor da Dengue (SMCP-Aedes), desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco. O SMCP revelou que 93% das residências de Ipojuca e 100% das de Santa Cruz do Capibaribe são também moradias do mosquito.

Pela estratégia usada pelo Programa Nacional de Controle da Dengue, a pesquisa larvária – os agentes de saúde visitam as casas para procurar visualmente as larvas do mosquito -, esse porcentual não chegava a 5% em Ipojuca e a 12% em Santa Cruz do Capibaribe.

“Além de maior sensibilidade para detectar o inseto, o sistema indica a quantidade de mosquitos e aponta as áreas mais críticas, onde há mais possibilidade de as pessoas serem infectadas pelo vírus”, explica a coordenadora do projeto, Leda Regis, pesquisadora do Departamento de Entomologia da Fiocruz-PE. Para ela, o problema do vetor da dengue no País “é mascarado”. “Não há informação correta que ajude o gestor de saúde a enfrentar o problema.”

O projeto-piloto, parceria da Fiocruz com o governo do Estado, avalia custos e viabilidade do SMCP. A estimativa é de que em um ano e meio será possível concluir uma avaliação consistente da nova estratégia, que poderá então ser estendida a outros municípios.

Funcionamento

O SMPC-Aedes utiliza armadilhas, chamadas ovitrampas, compostas por um pequeno balde preto de plástico, com duas palhetas de eucatex (ou tecido em algodão), alfafa para atrair as fêmeas do mosquito e larvicida biológico.

A cada quatro semanas as palhetas são recolhidas e os ovos depositados são incinerados depois de contados por meio de um software desenvolvido pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os registros entram em um banco de dados que gera mapas do espaço urbano – todas as ovitrampas são localizadas por GPS – apontando as áreas críticas de concentração.

A cada retirada, novas palhetas são repostas na armadilha para serem trocadas quatro semanas depois, num processo contínuo de monitoramento e acompanhamento. Ipojuca e Santa Cruz contam atualmente com 834 ovitrampas – 524 e 310 respectivamente. Desde maio, uma média de 1.590 ovos são retirados por mês das ovitrampas em Santa Cruz, com picos de 3 a 6 mil ovos, e de 561 ovos/mês em Ipojuca.

O sistema foi criado e testado durante quatro anos em cinco bairros do Recife antes de sua tecnologia ser repassada à Secretaria Estadual de Saúde.

“Há quatro tipos de vírus, sem vacina”, observa o secretário-executivo de Saúde de Pernambuco, Cláudio Duarte, que se diz empenhado em apoiar o desenvolvimento de estratégias mais apuradas. “Para se ter dengue tem que ter o mosquito e o método antigo de identificação de larvas nos depósitos não é efetivo, especialmente para epidemias”, afirma, ressaltando que o País não tem conseguido evitar epidemias e convive com o aumento da mortalidade por dengue.

Pacto

Para funcionar, o sistema depende de uma nova forma de envolvimento da população. Além de cuidar do seu espaço, não deixando água exposta, é preciso que cada família receba a ovitrampa onde as fêmeas vão depositar seus ovos. A presença do Estado, por meio dos agentes de saúde, também muda. Em vez de entrar no domicílio para procurar o mosquito em depósitos com água, a principal missão do agente é instalar as armadilhas, recolhê-las e recolocar as palhetas substitutas.

As comunidades entram em contato mais “didático” com a presença do Aedes, porque veem os ovos depositados e os mosquitos. Passam, assim, de uma atitude passiva para ativa.

Fumacê

O SMCP-Aedes elimina a população já estabelecida de mosquitos adultos com uso de aspiradores, eliminando o emprego de inseticidas e do fumacê. Para os idealizadores do sistema, esse recurso reforçaria a conscientização da comunidade, que vê o produto da aspiração.

“É um sistema capaz de ser pactuado com a população”, acredita Leda. Na fase preparatória do projeto-piloto, os agentes de saúde dos dois municípios pernambucanos foram treinados e as comunidades foram “apresentadas” ao mosquito nas suas várias fases, ao vivo e por meio de vídeos educativos.

A implantação do sistema não invalida a antiga estratégia utilizada pelo Programa Nacional de Controle da Dengue, que é criticado por Leda. “O que se faz hoje é botar inseticida tóxico nas águas armazenadas, organofosforado (substância química que contêm carbono e fósforo), para matar larvas”, afirma. Em sua avaliação, o veneno não consegue reduzir a população do mosquito. “Há 12 anos a população está exposta a um organofosforado e o consumo médio no País já é de seis mil toneladas por ano.”

O fumacê – lançado nas ruas, próximo às casas, nas áreas de maior concentração do Aedes aegypti – também não funciona, garante a coordenadora do projeto. “Os adultos dos mosquitos vivem dentro das casas, se alimentam e se reproduzem e não vão para as ruas”, explica. “São ações sem resultado ou com muito pouco resultado.”

O SMCP-Aedes prevê, por enquanto, o controle e monitoramento do vetor da dengue apenas em cidades de pequeno e médio porte. Ainda está sendo estudada sua aplicação em grande escala, nas metrópoles. A estratégia foi desenvolvida pelo Sistema de Apoio Unificado para Detecção e Acompanhamento em Vigilância Epidemiológica (Rede Saudável).

Essa rede engloba pesquisadores da Fiocruz-Pernambuco, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), do Instituto de Informação Científica e Tecnológica e do Programa de Computação Científica (Procc) da Fiocruz, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e das universidades federais de Pernambuco (UFPE), Minas Gerais (UFMG) e Paraná (UFPR).

Segundo Cláudio Duarte, depois de validar cientificamente o modelo, ele será apresentado ao Ministério da Saúde para, a partir daí, se identificar “uma tecnologia massiva”. O Estado de Pernambuco fez convênio com um grupo de mulheres da Ilha de Deus, comunidade pobre do Recife, para a fabricação, a partir de fevereiro, de um total de 120 mil ovitrampas (10 mil por semana). As armadilhas serão feitas com material reciclável – garrafas pet farão as vezes do balde.
(O Estado de SP, 2/1)

9 – Infectar mosquito com bactéria é nova ideia para atacar dengue

Micróbio é capaz de afetar expectativa de vida e fertilidade do inseto. Com vida curta, Aedes teria menos tempo para transmitir doença

Reinaldo José Lopes escreve para o “G1”:

Esqueça os inseticidas: a bactéria Wolbachia pode se tornar a mais nova esperança na luta contra o Aedes aegypti, principal transmissor dos vírus da dengue e da febre amarela no mundo. Essa, ao menos, é a proposta de pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, em artigo na revista especializada americana “Science”.

Ao infectar o mosquito com o micróbio, eles conseguiram reduzir a menos da metade sua expectativa de vida, o que poderia diminuir significativamente a chance do A. aegypti transmitir os vírus que carrega.

A Wolbachia infecta naturalmente diversas espécies de insetos, mas, no caso do mosquito transmissor da dengue, ela teve de ser introduzida na espécie. A bactéria costuma cooptar o sistema reprodutivo e ciclo de vida dos insetos que invade para seus próprios fins.

Ao reduzir a expectativa de vida do inseto, ela dificultaria a multiplicação do vírus da dengue, que precisa de um tempo de aclimatação no organismo do mosquito para ser transmitido quando o inseto pica um ser humano. Com a média dos mosquitos morrendo mais cedo, haveria menos cópias do vírus prontas para invadirem pessoas.

Os pesquisadores apostam que seria possível, por meio de cruzamentos, tornar a bactéria muito comum na população selvagem dos insetos. Mais testes precisam ser feitos, no entanto, antes de pôr a ideia em prática nos locais onde a dengue e a febre amarela são comuns.
(Portal G1, 2/1)

10 – Icebergs ‘fertilizam’ oceano com ferro

Pesquisadores britânicos a bordo do navio HMS Endurance descobriram que icebergs fertilizam o oceano em torno do Polo Sul com partículas que contêm ferro

O ferro, em conjunto com outros nutrientes, como o nitrogênio, permite que plâncton e algas se formem. Essas plantas absorvem CO2 e ajudam a desacelerar o aquecimento global.
(Der Spiegel)
(O Estrado de SP, 3/1)

11 – Iguana ignorada por Darwin é nova espécie, dizem biólogos

Réptil foi visto pela primeira vez em 1986 e, desde então, encontrado poucas vezes

A iguana-rosa, que passou despercebida por Charles Darwin quando o naturalista visitou as ilhas Galápagos em 1835, foi alçada à categoria de nova espécie. O réptil foi visto pela primeira vez em 1986 e, desde então, encontrado poucas vezes.

Pesquisadores liderados por Gabriele Gentile, da Universidade de Roma Tor Vergata, na Itália, disseram que a iguana-rosa também pode ajudar a entender a evolução das espécies em ilhas remotas. Ela é diferente da iguana-amarela (Conolophus subcristatus), que habita o mesmo local. “Nós não fomos os primeiros a vê-la, mas os primeiros a dizer que se tratava de uma nova espécie”, afirmou Gentile.

Uma análise genética mostrou que o réptil rosa provavelmente se originou nas Galápagos, no Pacífico, e se separou de outras populações de iguana há cerca de 5 milhões de anos, quando o arquipélago ainda estava se formando. A espécie chega a um metro de comprimento e pode pesar até 12 kg.

As criaturas parecem viver perto de um único vulcão na ilha de Isabela nos últimos 350 mil anos. Em dois anos, os pesquisadores documentaram menos de 40 iguanas, e Gentile disse que esforços de conservação e recursos são urgentemente necessários para manter a espécie viva. “A população é muito pequena e corre um grande risco de extinção.” (Da Reuters)
(Folha de SP, 6/1)

12 – Pesquisa avalia potencial oleaginoso da inajá

Palmeira ocupa posição privilegiada na lista das oleaginosas promissoras

Por meio do Programa de Pós-graduação em Botânica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o pesquisador Otoniel Ribeiro Duarte, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-Roraima), concluiu sua tese de doutorado com um tema de alto interesse para o Programa de Biocombustíveis sob a orientação da pesquisadora do Inpa Ires Paula de Andrade Miranda.

A pesquisa permitiu o conhecimento do potencial oleaginoso da palmeira inajá (Maximiliana maripa Aublet Drude). Os resultados mostraram que a referida palmeira passa a ocupar posição privilegiada na lista das oleaginosas promissoras, tornando-se estratégica dentro do Programa Nacional de Produção e usos de Biocombustíveis e preenchendo quesitos relativos ao desenvolvimento regional, inclusão social e preservação ambiental.

O estudo sobre a produtividade da fruta estabelecida no presente trabalho, conclui um número médio de frutos por cacho em torno de 2.117 e uma concentração de óleo na semente de 62 a 67 %, o inajá figura dentre as oleaginosas como uma espécie promissora para o seu aproveitamento sustentável no Estado de Roraima, o qual possui grande abundância dessa palmeiras nas áreas antropizadas (desmatadas pelo homem).

Além dessa especificidade da produção de óleos para atender a demanda governamental na Amazônia, o inajá por meio de seus resíduos das sementes e frutos, também aponta grandes possibilidades de inserção na dieta de aves e suínos em mistura nas rações tradicionais desses animais.

Duarte, enfatiza em sua tese que o manejo desta palmeira oleaginosa em pastagens e roçados se torna uma alternativa interessante, pois devido à alta regeneração que ocorre nestes ambientes abertos, adaptação em solos pobres quimicamente, ausência de espinhos e à alta produtividade em óleos permite um manejo barato e fácil, gerando renda aos pequenos produtores rurais.

O pesquisador também explica que esta palmeira tem potencial para produzir mais de 3.500 litros de óleo por hectare, baseado apenas na seleção de plantas promissoras existentes na região.

De acordo com Miranda, responsável pelo Laboratório de Estudos em Palmeiras da Amazônia (Labpalm) do Inpa, o grupo vem desenvolvendo pesquisas de identificação, mapeamento com coordenadas geográficas e estudos ecológicos de palmeiras. A inajá tornou-se, segundo o pesquisador, a palmeira indicada ao aproveitamento racional, oferecendo possibilidades para a fixação do homem no campo e com isso evitando o êxodo e o aumento do desmatamento na Amazônia.
(Assessoria de Comunicação do Inpa)

13 – Captura e sequestro de CO2: Desafio para o futuro

“Diante dos altos custos requeridos para a captura, transporte e estocagem de CO2, resta saber até que ponto novos projetos de grande porte participarão do mercado de créditos de carbono, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento sustentável dos países menos poluidores”

Antonio Pralon é professor da Universidade Federal da Paraíba e bolsista Capes em estágio pós-doutoral no Instituto Francês do Frio Industrial, em Paris. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Uma das alternativas mais promissoras para reduzir as emissões de gás carbônico industrial e de centrais térmicas consiste na sua captura no local de produção e posterior armazenagem em camadas profundas do subsolo ou oceano. As outras são a melhoria do rendimento energético da geração termoelétrica e a substituição de combustíveis com alto teor de carbono (carvão e petróleo) por fontes renováveis de energia.

O CO2 recuperado na fonte de emissão pode ser transportado por gasodutos ou via marítima, mediante sua prévia liquefação, e, então, injetado em reservatórios geológicos (poços mortos de petróleo e aqüíferos salinos) ou oceânicos. Essa última alternativa tem sido objeto de pesquisa – especialmente nos Estados Unidos e no Japão – em razão de possíveis danos à fauna e flora marítimas, resultantes da acidificação da água pelo excesso de CO2. A capacidade total de estocagem geológica e oceânica é estimada entre 800 e 12.000 bilhões de toneladas.

Nos países mais industrializados, os principais emissores de CO2 são usinas termoelétricas, siderúrgicas, refinarias e fábricas de cimento. Na Polônia, cerca de 95% da eletricidade é produzida a partir da queima de carvão, e em vários outros países esse índice é alto, como na Alemanha (~60%) e Estados Unidos (~50%).

As técnicas disponíveis e em desenvolvimento

As diferentes técnicas de captura existentes são elegíveis basicamente em função do tipo da fonte emissora e podem ser enquadradas em três grandes grupos: pós-combustão (captação do CO2 na fumaça após a queima do combustível), oxi-combustão (injeção de oxigênio para aumentar a concentração de CO2) e pré-combustão (principalmente na produção de gás de síntese).

A captura de CO2 requer procedimentos complexos devido, entre outros fatores, à sua baixa concentração nos efluentes gasosos. O gás carbônico é um dos produtos da combustão, além do vapor d’água, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e outros gases. A integração tecnológica e energética do processo de captação na fonte de emissão de CO2 tem sido objeto de pesquisa em vários países, visando reduzir custos operacionais e de investimento.

As principais técnicas em desenvolvimento são a absorção físico-química (lavagem dos gases pós-combustão com solventes orgânicos), a separação (uso de membranas minerais ou orgânicas) e a adsorção (uso de materiais adsorventes tais como o carvão ativado e a zeolita).

Atualmente, a técnica mais empregada é a da absorção com solventes a base de aminas, devido à larga experiência industrial com o uso desse procedimento. No entanto, numa escala de captura de CO2 planetária, a simples extrapolação desse método parece econômica e ambientalmente inviável, dada a quantidade de solvente consumida no processo.

Dados do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica, na sigla em francês) revelam que, para uma central de 300 MW, cerca de 6,5 toneladas de amina são consumidas por dia. Por outro lado, a captura de CO2 por separação está longe de tornar-se comercialmente viável, uma vez que as membranas mais eficientes ainda limitam-se aos laboratórios de pesquisa.

Assim, a adsorção apresenta-se como uma alternativa potencialmente viável para capturar CO2 em grande escala. Duas técnicas de adsorção têm sido investigadas: o ciclo térmico (similar ao ciclo de absorção) e o ciclo de pressão. Esse último é análogo ao procedimento usado na produção industrial de hidrogênio e tem a vantagem de não requerer substância auxiliar para o transporte de calor, ou seja, utiliza apenas energia mecânica de compressão.

A França se destaca na pesquisa dessa técnica aplicada à captura de CO2, tanto pelo desenvolvimento de novos materiais como no aprimoramento de ciclos térmicos e de pressão.

As técnicas de sequestro derivam da injeção de CO2, comumente usada na exploração de petróleo – via processo EOR (“Enhanced Oil Recovery”) – para aumento de sua produtividade. No Brasil, a Petrobras desenvolve vários projetos para a estocagem de carbono baseada nessa técnica.

Trabalhos apresentados na 9ª Conferência Internacional sobre Efeito Estufa e Tecnologias de Controle de Gás (GHGT-9, na sigla em inglês), ocorrida em Washington em novembro de 2008, revelam que problemas de logística (da compressão, transporte e injeção do CO2 no local de armazenagem) e de impacto ambiental ainda requerem estudos.

As grandes instalações piloto

Apenas algumas dezenas de instalações de captura e estocagem de carbono (CCS, na sigla em inglês) estão em funcionamento no mundo, mas sua disseminação parece inevitável no contexto da atual regulamentação das emissões de carbono, que deve tornar-se ainda mais restritiva após a próxima convenção mundial do clima, no final do ano em Copenhague.

Desde 1996 a Statoil, maior empresa de petróleo da Noruega, desenvolve projetos de CCS de grande porte, com instalações-piloto em plataformas de petróleo e gás no Mar do Norte, no Mar de Barents e na Argélia.

Em Esbjerg, Dinamarca, foi inaugurada no ano passado a maior instalação de CCS do mundo, financiada pela União Européia, através do projeto CASTOR (CO2 from Capture to Storage).

A empresa francesa Alstom firmou recentemente um acordo com a polonesa PGE para instalar até 2011 em Belchatow, Polônia, uma usina com capacidade para capturar 100 mil toneladas de CO2 por ano. Trata-se de uma tecnologia de captura avançada, baseada no uso de aminas, a custos energéticos bem menores do que as técnicas tradicionais de absorção. Outros três projetos-piloto da Alstom estão em curso na Alemanha, Suécia e Estados Unidos.

Perspectivas futuras

Para Ashleigh Hildebrand e Howard Herzog, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), centrais elétricas equipadas com dispositivos de CCS tem custos iniciais 30 a 60% maiores, além de uma diminuição de eficiência na geração, o que implica num kWh final mais caro. Os dados constam do trabalho “Optimization of Carbon Capture Percentage for Technical and Economic Impact of Near-Term CCS Implementation at Coal-Fired Power Plants”, apresentado na GHGT-9.

Os autores do estudo defendem que a melhor estratégia para viabilizar a implantação em larga escala da tecnologia de CCS é proceder por etapas, o que significa equipar as usinas progressivamente, em termos de capacidade de captura de CO2.

Na ótica dos pesquisadores do MIT, a idéia predominante de que a captação total de CO2 na fonte de emissão torna-se economicamente vantajosa em larga escala está equivocada. Eles afirmam que procedimentos de captura parcial permitem reduzir a emissão de CO2 em centrais a carvão a níveis equivalentes aos de centrais a gás, com custos de investimento bem inferiores e menor perda de eficiência.

Segundo dados da companhia francesa Gaz de France – que opera diversas instalações piloto na Europa – os custos atuais de captura de CO2 para uma central termoelétrica de 500 MW variam entre 30 e 60 euros por tonelada, dependendo da tecnologia adotada.

Considerando que as emissões termoelétricas e industriais respondem por cerca de um terço do total de emissões antrópicas de gás carbônico (~23 bilhões de toneladas por ano), a implantação generalizada de sistemas de CCS representaria cifras econômicas consideráveis. A agência de consultoria global McKinsey estima para 2030 uma redução equivalente a 15% da taxa atual de emissões mundiais, com a implantação em larga escala desses sistemas.

Diante dos altos custos requeridos para a captura, o transporte e a estocagem de CO2, resta saber até que ponto novos projetos de grande porte participarão do mercado de créditos de carbono, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento sustentável dos países menos poluidores.

14 – Formiga dada como extinta reaparece em universidade de Minas Gerais

Inseto era considerado primeiro de seu grupo a ser eliminado pelo homem. Descoberta mostra como é difícil determinar extinção de formigas

Reinaldo José Lopes escreve para o “G1”:

Extinção é para sempre — menos quando é registrada por engano, claro. A formiguinha brasileira Simopelta minima chegou a ser citada mundo afora como o único exemplo de extinção desses insetos causada pelo homem, mas voltou a ser detectada por cientistas. E não podia ser num lugar mais impressionante: o campus de uma universidade de Minas Gerais.

“É claro que a gente ficou muito surpreso”, declarou ao G1 Rodrigo Feitosa, doutorando do Museu de Zoologia da USP e um dos autores do artigo científico que anuncia a redescoberta do bicho. “Ainda mais por achar a espécie num campus de universidade, numa área degradada, aberta, que estava sendo usada para experimentos.”

O pedaço de terra em questão é um fragmento de floresta na Universidade Federal de Viçosa, que passou por um incêndio há nove anos e só agora está se recuperando. Os exemplares de Simopelta minima foram capturados com uma armadilha no subsolo.

Antes disso, a espécie só tinha sido vista uma vez, em 1986, numa velha plantação de cacau sombreado (com árvores de outras espécies) de Ilhéus (BA). “Era um habitat muito diferente, de mata fechada, com pouca iluminação e serrapilheira [camada de folhas no solo] muito densa”, diz Feitosa. A plantação acabou sendo eliminada, e o fato de nenhum outro levantamento ter achado exemplares de S. minima levou o Ministério do Meio Ambiente a declarar que a espécie estava extinta.

Todos tinham tanta certeza desse desaparecimento, aliás, que no começo nem os pesquisadores que assinam o novo estudo eram capazes de acreditar na redescoberta. “Os colegas meus que coletaram os espécimes chegaram a identificar as formigas como Simopelta minima, mas inicialmente mudaram de idéia porque acreditavam que o bicho estava extinto”, diz Feitosa, referindo-se a Fernando Augusto Schmidt e Ricardo Ribeiro de Castro Solar, da Universidade Federal de Viçosa.

Pequena bárbara

Apesar do tamanho — menos de 2,5 mm –, a S. minima provavelmente são um bocado temidas por outras formigas. Isso porque as espécies do gênero Simopelta normalmente são nômades guerreiras, que vivem de invadir e saquear o ninho de outras formigas. “Elas viajam o tempo todo e devoram os ovos e indivíduos jovens dos formigueiros que invadem”, explica Feitosa. “Ocasionalmente, podem ocupar troncos de árvore, por exemplo.”

Os hábitos nômades, mais o fato de eles passarem quase o tempo todo debaixo da terra, dificultam o estudo da biologia e dos hábitos dessas formigas. De qualquer maneira, o pesquisador da USP diz que é provável que outras espécies muito raras de formiga, as quais parecem correr risco de extinção, são apenas muito crípticas, ou seja, difíceis de achar, por causa de seus hábitos.

“Estudá-las em laboratório seria muito difícil justamente por causa do nomadismo, precisaríamos de uma estrutura enorme. Para conhecê-las melhor, são necessários mais estudos de campo mesmo”, afirma ele.

A pesquisa foi publicada no periódico científico “Revista Brasileira de Entomologia”.
(G1, 7/1)

15 – Enigma no ar, consequências na terra

Fenômeno de atuação pouco conhecida causa a instabilidade do clima

Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:

Ainda é nebuloso para os cientistas como um fenômeno de nome esquisito (ZCAS, de zona de convergência do Atlântico Sul) pode estar por trás das chuvas que têm causado tragédias nas regiões Sul e Sudeste desde setembro. O que é certo, dizem, é que as enchentes que castigaram Santa Catarina em novembro do ano passado não podem ser atribuídas ao aquecimento global.

– Isso é a primeira coisa que podemos descartar, dizer que isso é uma das consequências do aquecimento global. É precoce afirmar isso porque não temos dados suficientes para analisar – explica o climatologista Jose Marengo, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CP-TEC/Inpe). – O que aconteceu em Santa Catarina foi o que chamamos de bloqueio, que ajudou a formar aquelas chuvas de tanta intensidade e por tantos dias.

Esse bloqueio, explica, foi formado pelas zonas de convergência do Atlântico Sul , um encontro das massas de ar tropical que vêm do Atlântico Norte e da região amazônica, com outras massas que vêm do Atlântico Sul.

– Quando você olha no satélite, vê essa massa de nuvens que começa no oceano e se estende até o Espírito Santo – conta Marengo. – É um fenômeno típico do verão, mas ainda pouco explicado.

De acordo com Isimar de Azevedo Santos, professor de meteorologia da UFRJ, o que causa a ZCAS e a razão de sua vigência ainda são desconhecidas dos pesquisadores.

– As ZCAS são processos ligados a outros fenômenos globais, como a circulação atmosférica, mas elas ainda não são bem entendidas. O que sabemos é que elas dividem o ar quente do ar frio e costumam durar entre cinco a 20 dias, em média.

Segundo ele, o Rio, por exemplo, estaria sob uma zona de convergência, causando chuvas não contínuas e tempo nublado e abafado.

– Não temos explicações concretas sobre a forma como essas ZCAS atuam, mas elas têm uma dinâmica que faz com que não se dissipem e permaneçam vários dias sobre um lugar, trazendo nuvens e chuvas não contínuas. É o que está acontecendo no Rio nesses dias.

La Niña estaria atuando de forma moderada

Para Marengo, o país também estaria sob influência moderada da La Niña (esfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico).

– Isso ampliaria a influência do Oceano Atlântico, cujas águas estão levemente mais aquecidas, no clima das regiões Sul e Sudeste. Um oceano mais quente, causa mais evaporação, que gera mais umidade no ar, que é levada pelos ventos para o continente. Isso poderia explicar as chuvas intensas em algumas regiões.
(O Globo, 8/1)

16 – A relação entre gordura, longevidade e reprodução

“Foi descoberto um sistema hormonal que regula tanto a longevidade quanto a capacidade reprodutiva por meio do controle da quantidade de gordura”

Fernando Reinach (fernando@reinach.com) é biólogo e colunista de “O Estado de SP”, onde foi publicado este texto:

Sabemos que a falta de gordura prejudica a capacidade reprodutiva dos animais. E que é possível aumentar a duração da vida limitando a quantidade de alimento ingerido. A novidade é que aparentemente os fenômenos estão relacionados. Foi descoberto um sistema hormonal que regula tanto a longevidade quanto a capacidade reprodutiva por meio do controle da quantidade de gordura.

Mulheres com quantidade baixa de gordura deixam de ovular e têm o ciclo menstrual interrompido. O fenômeno é conhecido entre corredoras de longa distância, em populações subnutridas e em tribos indígenas em que a amamentação exaure as reservas de gordura das mães. O mesmo ocorre em mamíferos como vacas e éguas, que deixam de ovular até que tenham recomposto um mínimo de suas reservas de gordura.

Esse mecanismo faz sentido do ponto de vista evolutivo. Como o processo reprodutivo necessita de muita energia, iniciar uma gestação sem reservas pode levar mãe e feto à morte.

Mais difícil de compreender é a descoberta de que uma dieta pobre em calorias aumenta a duração da vida. Essa observação, feita inicialmente em moscas-das-frutas, foi repetida em macacos. Fotos de macacos magros e longevos ao lado de seus primos gordos e de vida curta foram divulgadas. Nos EUA, há grupos de pessoas que se mantêm magras na esperança de viver uma vida mais longa, ainda que sofrida e faminta.

Agora uma série de experimentos de cientistas americanos levou à identificação de mecanismos hormonais que interligam esses três sistemas, o de acumulação de gordura, o reprodutivo e o da longevidade. Os experimentos foram feitos utilizando o C. elegans, verme de alguns milímetros de comprimento. Como é fácil manipulá-los, é possível alterar neles o número reduzido de células reprodutivas, adicionar ou remover genes e descobrir como essas manipulações alteram a longevidade e a capacidade reprodutiva.

Foi então descoberto que as células da linhagem reprodutiva (que darão origem a óvulos e espermatozoides) produzem pelo menos dois tipos de hormônios que agem sobre as células que acumulam gordura. Se as células reprodutivas param de se dividir, aumentam as enzimas que degradam gorduras (com a diminuição dos estoques) e a longevidade. Mas o aumento das enzimas que degradam gordura é suficiente para aumentar a longevidade? Para testar essa ideia, colocaram mais cópias dos genes dessas enzimas. Esses animais têm menos gordura e vida mais longa, mesmo se alimentando bem.

Após diversos experimentos foi identificado o mecanismo de regulação que interconecta o acúmulo de gordura, a longevidade e a capacidade reprodutiva. Os mesmos genes desses vermes existem em mamíferos e provavelmente um mecanismo semelhante existe em humanos. É provável que esses estudos sejam repetidos em mamíferos e então poderemos entender como nosso corpo regula a interação entre gordura, reprodução e longevidade.

Mais informações: Fat metabolism links germline stem cells and longevity in C. elegans. Science, vol. 322.
(O Estado de SP, 8/1)

17 – “Ciência Hoje On-line”: Radiação ultravioleta afeta camarões

Pesquisadores brasileiros encontraram problemas visuais e alterações celulares nos crustáceos

Uma pesquisa brasileira acaba de apontar mais um impacto negativo da destruição da camada de ozônio: a radiação ultravioleta que passa hoje pelos buracos dessa camada afeta embriões de camarões de água doce. Os animais podem nascer com alterações celulares e na forma e pigmentação dos olhos, o que reduziria suas chances de atingir a vida adulta.

A pesquisa, que faz parte do doutorado da bióloga Evelise Nazari no Programa de Pós-graduação em Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisou amostras de ovos de camarões obtidas em aquário e submetidas a radiação ultravioleta B (UVB) em laboratório durante quatro dias. A quantidade de radiação utilizada foi semelhante à que incide hoje sobre o estado de Santa Catarina, onde foram coletados os camarões adultos que puseram os ovos.

Leia a matéria completa na “CH On-line”, que tem conteúdo exclusivo atualizado diariamente: http://cienciahoje.uol.com.br/135556