Fechar menu lateral

Entrevista com Jordan Rocha

 

Jordan na Biblioteca Central da UFJF. Fonte: Instagram da UFJF

 

Jordan Marcos Rocha, desde o ensino médio, gosta muito de História. Segundo ele, ainda no IFET, produziu seu primeiro artigo científico, com tema relacionado à Guerra Fria. Fez graduação, bacharelado e mestrado na UFJF e, atualmente, é doutorando pela mesma instituição. Desde que conheceu o fundo Odilon Braga, se interessou, ainda mais, por entender a formação da República no Brasil e suas transformações, que levaram a uma participação crescente da população, interrompida pelo Golpe de 1964 e seus desdobramentos. Desde o mestrado, Jordan faz pesquisas no arquivo de Odilon Braga, que se encontra no Arquivo Central da UFJF.

A entrevista foi feita por escrito.

1.Por que é importante conhecer Odilon Braga?

Odilon Braga é importante para nós porque seu arquivo representa uma rica amostra da atividade política regional mineira, na Primeira República, bem como da política nacional a partir da Revolução de 1930, da qual participa de maneira significativa como secretário de segurança e assistência pública de Minas Gerais. Ele também participa de discussões econômicas importantes como ministro da agricultura no tempo do governo constitucional de Vargas (1934-1937), influenciando os primeiros estudos em busca do petróleo e nas decisões tomadas a respeito do desenvolvimento siderúrgico do país, dentre outras questões.

Seu pensamento defendia a viabilidade financeira e de execução, a criação de empresas mistas e a participação de capital estrangeiro, em contraposição ao pensamento mais nacionalista. Demite-se do ministério por incompatibilidade com o regime autoritário do Estado Novo (1937-1945) e, nesse período, assume oposição ao governo, escrevendo a primeira fórmula do Manifesto dos Mineiros, considerada como a primeira manifestação pública de oposição direta ao regime. A partir de então, é um dos principais nomes de oposição a Vargas na República de 1946. Odilon Braga é um dos raros nomes com um arquivo bem preservado, rico e que remonta aos seus primeiros anos de atuação política, em Rio Pomba, até o fim dessa atuação, durante a década de 1950. Ou seja, dentre outros estudos, por meio desse arquivo, é possível remontar e acessar as dinâmicas de poder desde os anos 1920 até a década de 1950.

2.Qual é o seu método para pesquisar documentos em suporte de papel em arquivos?

No meu caso, poucas informações foram dadas sobre a figura do Odilon Braga antes da primeira visita ao Arquivo Central da UFJF. Fiquei conhecendo seu nome ao ter curiosidade a respeito da existência de movimentos e políticos liberais no decorrer da década de 1930, e de que forma interpretavam o passado oligárquico da Primeira República. Então, quando fui ao Arquivo, pela primeira vez, nem mesmo tive contato prévio com o inventário do fundo Odilon Braga. Recomendo que, antes da atividade de pesquisa no Arquivo Central da UFJF, tenham em mente possíveis metodologias que serão empregadas e uma preferência de recorte temporal. Em seguida, consultem os inventários, para uma seleção prévia dos arquivos a serem consultados.

Durante a consulta, é imprescindível registrar quais são os arquivos e as séries que foram consultados, mesmo que seja possível guardá-los em mente, pois boas pesquisas demoram um longo tempo para terminar e, nesse caso, vocês podem esquecer. No meu caso, faço esse registro por meio da fotografia. Primeiramente, fotografo a série (pasta) documental a ser aberta, depois a nota do arquivista que identifica o documento e, por fim, o documento propriamente dito. Após isso, ao passar as fotos para o computador, separo por pastas cada série documental. Acredito que esse método poupa tempo, que sempre é pequeno para a análise de arquivos tão ricos como o de Odilon Braga.

3.Quais têm sido as pessoas ou fontes mais importantes para o fornecimento de dados à sua pesquisa?

As fontes utilizadas e as pessoas envolvidas em uma pesquisa dependem muito da metodologia e do recorte temporal. Gosto do conceito de cultura política, pois permite traçar conexões entre a política e a sociedade. As políticas adotadas por um governo dependem de uma mentalidade, formada pelas redes de sociabilidade, conjuntos de valores e relações econômicas.

Na pesquisa do mestrado, que envolveu a trajetória política de Braga no Estado Novo, utilizei, como fontes primárias, rascunhos de discursos, discursos e correspondências do arquivo Odilon Braga, pois ajudam a perceber as redes de sociabilidade, com seus diversos interesses e objetivos, bem como a formação da narrativa política, com a qual nosso objeto de pesquisa se apresenta. É com base na historiografia que realizamos uma análise contextualizada dessa narrativa, localizando-a e problematizando-a dentro das conclusões e conceitos já existentes.

No mestrado, utilizei autores já bastante conhecidos, como João Almino, Maria Vitória Benevides e Ângela de Castro Gomes, bem como de historiadores mais recentes, como Jorge Gomes de Souza Chaloub e Flávia Salles Ferro. Também utilizei obras de autores da área do direito e da ciência política como forma de analisar o caráter da Constituição do Estado Novo e da crítica jurídica de Odilon Braga a essa Constituição.

No processo de pesquisa, foi imprescindível a ajuda do meu orientador do mestrado, Leandro Pereira Gonçalves, e de todos os funcionários do Arquivo Central da UFJF, que sempre foram muito receptivos.

4.O que Odilon Braga diria aos políticos de hoje?

Essa é uma questão bastante complexa. Se considerarmos seu discurso,  um dos pontos mais marcantes dele é o apreço pela democracia e pelo legalismo liberal. Braga demonstra apreço pela base jurídica da Constituição da Primeira República, embora considere que a natureza e os costumes dos homens a corromperam. Em uma carta sua contra a represália que sofreu ao ser signatário do Manifesto dos Mineiros Braga critica a vassalagem de correligionários, presente na política brasileira da combatida Primeira República, e que afetava até mesmo o Supremo Tribunal Federal. Ele também apreciava o federalismo e tendia a defendê-lo, frente ao centralismo, ideia em ascensão política durante a década de 1930.

O problema é que o federalismo possibilitou o poder das elites locais ao longo do período da Primeira República. Odilon Braga, apesar de ter ascendido politicamente com o auxílio dessas elites, representava uma renovação geracional no Partido Republicano Mineiro (PRM) e não defendia questões como a valorização do café, de agrado das elites, principalmente, de São Paulo.  Essas ideias estão de acordo com as análises desse período feitas pela historiadora Cláudia Viscardi.

A questão é complexa também  porque Braga se mostra pouco crítico em relação a essas elites. Enfim, percebo que ele teria, hoje, um discurso valorizador dessas ideias e crítico em relação aos desvios legais e à interferência entre os poderes da República, bem como ao endividamento público. Mas suas ideias não podem ser naturalizadas e devem estar em constante debate.

 

Seguimos conectados!

Canal do LAPHARQ

Instagram

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.