
Carolina Saporetti com a placa, que recebeu da Prefeitura de Juiz de Fora, por ter sido agraciada no 19a. versão do Prêmio Amigo do Patrimônio, em 11.11.2024.
Carolina Martins Saporetti é doutora em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), membra do Laboratório de Patrimônios Culturais (LAPA) da UFJF e integrante do grupo de pesquisa Cnpq – Patrimônio e Relações Internacionais. Atualmente é funcionária do Centro de Conservação da Memória da UFJF e suplente da cadeira de Patrimônio e Memória no Conselho Municipal de Cultura de Juiz de Fora.
Esta entrevista foi feita por escrito.
1. Você tem uma grande experiência como pesquisadora. Quais são os momentos marcantes de sua trajetória?
Acredito que os momentos mais marcantes da minha trajetória estão relacionados à minha pesquisa para o projeto de mestrado, em 2014, e, posteriormente, anos depois para o desenvolvimento da tese de doutorado. Ambas as pesquisas foram realizadas no Arquivo Central do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – Seção Rio de Janeiro, porém tiveram desafios diferentes. No primeiro caso, precisava realizar um levantamento para ver a viabilidade da realização da dissertação. Então, fui ao Arquivo e digitalizei tudo que encontrei sobre o ex-diretor do IPHAN Renato Soeiro. Esse foi um momento mágico para mim, vi que era possível através das fontes primárias escrever sobre a gestão de Soeiro no IPHAN, algo inédito até então. Em relação ao doutorado, realizei a pesquisa durante o período da pandemia de Covid-19. Os arquivos, no período inicial da pandemia, estavam fechados, depois começaram a atender realizando digitalização, e posteriormente agendando poucos pesquisadores para pesquisas presenciais. O levantamento que precisava realizar era considerável, visto que a pesquisa estava vinculada às relações internacionais do IPHAN, no período da gestão do Renato Soeiro como diretor da instituição, momento no qual eu havia identificado ter ocorrido um processo de internacionalização do órgão. Mesmo sendo uma grande demanda, os funcionários me atenderam e digitalizaram uma quantidade enorme de documentos, o que possibilitou que iniciasse a pesquisa. Retornei a este Arquivo em duas outras oportunidades durante o doutorado após a reabertura. As fontes novamente me impressionaram. Como retorno, de todo o trabalho e atendimento incrível, fiz a catalogação de todas as fontes e enviei uma cópia ao Arquivo como agradecimento. É impressionante tudo o que é possível descobrir em acervo. Sou uma historiadora apaixonada por arquivos.
2. Sua orientação aos pesquisadores é notável. No CECOM, quais são os documentos mais procurados? Que outros documentos seriam de interesse para os usuários do Arquivo Central da UFJF?
A maior demanda de pesquisa do CECOM está relacionada aos livros da biblioteca do Dormevilly Nóbrega, pois ela contém livros raros relacionados à história de Juiz de Fora e região, literatura, cinema, artes, dentre outras temáticas. Muitas vezes eles são os únicos exemplares disponíveis considerando as bibliotecas da UFJF. Ademais, tem-se procura nos documentos e na hemeroteca que também fazem parte do acervo do Dormevilly Nóbrega, geralmente ligados à biografia de grandes personalidades da cidade, como o poeta Belmiro Braga. Além dos documentos do fundo Dormevilly Nóbrega, desperta o interesse, de usuários do Arquivo Central, os documentos do diretório Central de Estudantes da UFJF (DCE) e os arquivos digitalizados, por meio do projeto História da UFJF, que são acervos de pessoas que fizeram parte da trajetória da instituição, como o ex-reitor Renê Matos.
3. Em quais projetos você está trabalhando agora?
Como funcionária do CECOM da UFJF atuo em quatro projetos como coordenadora executiva: dois projetos do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Artística (PIBIART) – Patrimônios Negros de Juiz de Fora e Preservando e Difundindo Memórias -, um projeto de extensão, História da UFJF, e o programa Conservação da Memória. Dentre as atividades relacionadas a esses projetos estão a orientação de bolsistas, a realização de entrevistas com metodologia de história oral, a conservação de acervos documentais, o atendimento a pesquisadores, a difusão de acervos (postagens nas redes sociais, exposições…), oficinas e minicursos, pesquisa, produção de artigos, cartilhas.
No dia 24 de março de 2025 (segunda-feira), inaugurou-se no CECOM da UFJF a exposição Exposição Vozes em Tempos de Silêncio: Cenas do Movimento Estudantil da UFJF durante a Ditadura Civil-Militar, que contou com a parceria do Arquivo Central da UFJF. Alguns documentos expostos pertencem a esse setor. Eu mesma fiz a sua digitalização, o que me proporcionou agilidade no uso desses documentos.
Externamente ao trabalho do CECOM UFJF, coordeno, juntamente com a Danielle Arruda e a Isadora Ribeiro, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Relações Culturais, Patrimônio e Educação.
4. Qual é a sua dica para quem está começando uma pesquisa?
Primeiramente realizar uma delimitação do tema, com a temática, recorte temporal e objetivos bem definidos. Em segundo lugar, mapear os lugares onde possivelmente precisará pesquisar. Após o levantamento, deve-se entrar em contato com os setores para verificar a disponibilidade de agendamento, se realmente tem algum material que poderá ser útil, se possui acervo digitalizado, se o acesso é gratuito, horário de funcionamento, dentre outras informações pertinentes. Em terceiro lugar, realizar bastantes leituras sobre o tema escolhido, isso ajudará a esclarecer e colocar as ideias em ordem. Depois agendar a ida aos arquivos necessários. Ao ir ao trabalho in loco, deve-se digitalizar todo material levantado, quando possível, e deixar para realizar a análise em outro momento. Além disso, fazer um backup dos arquivos. Isso otimiza o tempo. Por último, esquematizar suas fontes levantadas, isso auxiliará a ter uma ideia geral das fontes disponíveis. Ao começar a leitura das fontes, realizar fichamentos. Pedir ajuda a outros pesquisadores sempre que necessário. No início, costuma-se ficar um pouco perdido, mas com o tempo pega-se o jeito.